Contrafatual

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Contrafactual é a situação ou evento que não aconteceu, mas poderia ter acontecido. Diz respeito à metafísica e à lógica modal. A situação ou evento que aconteceu é chamada de atual. O evento contrafactual faz parte de um mundo possível que contradiz algo do mundo real, enquanto o evento atual faz parte do mundo real.[1]

Forma lógica[editar | editar código-fonte]

“Se fosse o caso que A, então seria o caso que B”.[1]

Num mundo possível contracfatual, A e B são proposições. O antecedente, A, pode ser verdadeiro num mundo possível mesmo que seja falso em relação aos fatos do mundo real. Por sua vez, se A é verdadeiro em um mundo possível, então não pode ser falsa a proposição B nesse mesmo mundo.

Exemplos[editar | editar código-fonte]

  • "Se a família real não tivesse vindo ao Brasil, então o território se desintegraria."
  • "Se o Império Britânico não tivesse sido forçado a entrar em guerra no verão de 1914, uma possível vitória do Império Alemão evitaria o surgimento da Alemanha Nazi em 1933."[2]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Há metafísicas que aceitam contrafactuais e há metafísicas que não as aceitam. Contudo, contrafractuais são frequentemente pressupostos em experimentos mentais, como, por exemplo, aqueles construídos por Saul Kripke para estabelecer se um designador - um nome próprio ou uma descrição definida - é rígido ou não. Isso acontece, por exemplo, em seus ataques ao descritivismo. Costuma-se defender que designadores rígidos preservam a referência em situações contrafactuais. Por exemplo, o nome próprio "Aristóteles" refere a Aristóteles, não importando se ele foi ou não aluno de Platão, e por isso é um designador rígido. A descrição definida "O discípulo mais famoso de Platão" refere a Aristóteles no mundo atual, e a alguma outra pessoa ou a nenhuma pessoa em outros mundos possíveis, e por isso não é um designador rígido.[3]

Após um famoso artigo de Saul Kripke de 1963 onde cria as bases da Semântica de Mundos Possíveis para lógicas modais, surgiram autores como David Lewis que, utilizando-se desse modelo semântico, definiu a dependência causal entre dois eventos enquanto uma dependência contrafactual. Isso foi definido aproximadamente como: um evento é causalmente dependente de outro se e somente se se o primeiro ocorresse, o outro tivesse ocorrido e, se o primeiro não ocorresse, o outro também não teria ocorrido.[1][4] Nesse sentido, causação passa a ser uma cadeia (chain) de dependências causais que pode ser necessária ou contingente.[5] No primeiro caso, em todas as circunstâncias possíveis em que houver a causa segue o efeito; enquanto, no segundo caso, em algumas circunstâncias se o segue, em outras, não, observando-se, porém, nesse último cenário (de causação contingente), que uma cadeia causal contingente por ter graus diferentes de instabilidade e, portanto, de confiabilidade em relação ao efeito esperado.[6] A abordagem contrafactual da causalidade tem impacto direto em outros tópicos da filosofia da história e mesmo no método e nos campos da historiografia, pois autoriza em ciências históricas análises controladas baseadas em perguntas hipotéticas acerca de passados plausíveis partindo de "se tal coisa tivesse ocorrido, então...", o que tem exercido influência, de modo geral, no debate acerca da explicação de fenômenos históricos envolvendo agentes cujas ações não são totalmente determinadas, e exercido influência também na metodologia da área da história contrafactual ou história virtual, em particular, que se propõe a um estudo histórico acerca de passados contrafactuais plausíveis sem simplesmente se confundir com o usual gênero literário da ficção histórica.[7][8][9]

Referências

  1. a b c Lewis 1986, p. 159.
  2. Lane 1998.
  3. Blackburn 2008, p. 318.
  4. Maar 2016, p. 350.
  5. Maar 2014, p. 106.
  6. Maar 2014, p. 97.
  7. Climo & Howells 1976, p. 4.
  8. Maar 2014, p. 87.
  9. Hawthorn 1991, p. 15.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Climo, T.A.; Howells, P.G.A. (1976). «Possible Worlds in Historical Explanation». History and Theory. 15 (1). 20 páginas 
  • Hawthorn, Geoffrey (1991). Plausible Worlds: possibility and understanding in history and the social sciences (em eng). Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0521403596 
  • Lane, Allen (1998). The Pity of War: Explaining World War I. [S.l.]: Penguin Press. ISBN 0140275231 
  • Lewis, David (1986). Philosophical Papers (em eng). Oxford: Oxford University Press 
  • Blackburn, Simon (2008). Oxford Dictionary of Philosophy. [S.l.]: Oxford University Press Press 
  • Maar, Alexandre (2014). «Possible Uses of Counterfactual Theory of Causation to the Philosophy of Historiography». Principia. 18 (1). 23 páginas 
  • Maar, Alexandre (2016). «Applying D.K.Lewis's Counterfactual Theory of Causation to the Philosophy of Historiography». Journal of the Philosophy of History. 10. 20 páginas 

Ver também[editar | editar código-fonte]

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