Convento de Santo António (Loulé)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Convento de Santo António (Loulé)
Convento de Santo António (Loulé)
Ruínas do convento e igreja, em 2008.
Nomes alternativos Convento capucho de Santo António de Loulé
Estilo dominante Barroco
Construção 1675 a 1692
Religião Cristianismo
Diocese Diocese do Algarve
Património Nacional
Classificação  Imóvel de Interesse Público
(Em vias de classificação)
DGPC 72815
SIPA 1321
Geografia
País Portugal Portugal
Coordenadas 37° 08' 29.6" N 8° 1' 53.9" O
Mapa
Localização do monumento em mapa dinâmico

O Convento de Santo António, igualmente conhecido como Convento capucho de Santo António de Loulé, é um monumento religioso na cidade de Loulé, na região do Algarve, em Portugal. Foi inaugurado em 1692, substituindo um convento anterior, situado a curta distância, e que tinha sido fundado em 1546.[1] Sofreu alguns danos no Sismo de 1755,[2] tendo sido depois alvo de obras de reconstrução e expansão.[3] Foi encerrado em 1834, como parte do processo da extinção das ordens religiosas, e reutilizado como uma fábrica e várias residências, entre outras funções.[3] O monumento foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 4 de Janeiro de 1984, e nessa década foi restaurada a igreja, que passou a ter funções culturais.[3]

Descrição[editar | editar código-fonte]

O convento está situado na Rua de Nossa Senhora da Piedade, na zona limítrofe da cidade de Loulé, no sentido de Boliqueime.[3] Localiza-se perto do Santuário da Mãe Soberana.[4] É considerado um dos principais testemunhos da história conventual em Loulé.[5]

A maior parte do complexo está em ruínas, salvo a antiga igreja, que foi recuperada e funciona como um espaço cultural.[3] O convento segue principalmente as linhas do estilo chão, apresentando uma grande sobriedade, de acordo com as orientações da Ordem Franciscana.[3] Isto é mais evidente na fachada principal, com uma simetria rigorosa e poucos pormenores decorativos.[5] No edifício são visíveis alguns sinais das obras de ampliação na segunda metade do século XVIII[3] como a presença da cúpula oitavada sobre uma antiga capela lateral, onde foram igualmente descobertos alguns vestígios de pinturas murais, em estilo rococó.[5] O claustro manteve-se na sua aparência original,[3] sendo igualmente de linhas sóbrias, com reduzida decoração.[5] Apresenta três arcos por banda, suportados por pilares quadrangulares em pedra, tendo no piso inferior arcos de volta perfeita, enquanto que os do primeiro andar são de arco abatido.[3] Originalmente ambos os pisos tinham abóbadas, mas apenas sobreviveram as do rés-do-chão, de penetração.[3] As abóbadas do primeiro andar seriam provavelmente de berço, uma vez que este tipo era principalmente utilizado nos edifícios dos frades capuchos.[3]

A igreja, no estilo barroco, tem uma fachada de um só pano, com ângulos em contraforte, e com remate em semi-círculo.[6] O portal abre-se num arco de volta perfeita sem moldura, e é encimado por um janelão rectilíneo.[6] Do lado direito da fachada está o campanário, enquanto que na face oposta encontra-se um corpo de planta octogonal, com uma cúpula.[6] A igreja tem uma nave alongada, e diversos retábulos com imagens de São Francisco de Assis, Santo António, Santa Úrsula e Nossa Senhora dos Remédios.[5]

História[editar | editar código-fonte]

Séculos XVI e XVII[editar | editar código-fonte]

Na obra Portugal antigo e moderno, publicada em 1873 por Pinho Leal, refere-se que o Convento de Santo António foi «fundado em 1546 por Nuno Rodrigues Barreto e sua mulher, D. Leonor de Milão».[1] Nuno Rodrigues Barreto construiu o convento com autorização do Papa Paulo III.[3] Foi construído para albergar uma uma irmandade de frades capuchos da Província da Piedade, parte da Ordem dos Franciscanos.[3] Pinho Leal descreve o edifício original como estando mais «em uma planície junto à vila»,[1] a uma cota mais baixa do que o edifício definitivo, e dentro da mesma cerca.[7] As obras iniciaram-se ainda nesse ano, mas pouco tempo depois o edifício revelou-se demasiado pequeno e em más condições de conservação, motivo pelo qual a comunidade pediu para construir um novo convento noutro local.[3] Em 11 de Agosto de 1675 foi feita a cerimónia de lançamento da primeira pedra do novo edifício, por D. Francisco Barreto II, Bispo do Algarve, em terrenos que foram doados para este efeito por André de Ataíde.[3] Segundo um documento antigo transcrito por Ataíde de Oliveira na sua obra Monografia do concelho de Loulé, a povoação foi muito atingida por uma grande cheia no dia 1 de Janeiro de 1692, que provocou danos na cerca do convento: «por santo Ant.° foi tanta a agua que levou a cerca dos frades capuxos e a ponte da estrada que vae para a Snra da piedade».[8] Os trabalhos do novo convento foram concluídos em 22 de Junho desse ano,[3] e os monges passaram para as novas instalações ainda nesse Verão.[5] Os terrenos onde se situava o complexo original transitaram depois para outros proprietários, que os reutilizaram para fins agrícolas, levando ao total desaparecimento das ruínas.[7]

Outra vista da igreja, em 2008.

Séculos XVIII e XIX[editar | editar código-fonte]

A obra Santuario Mariano, publicada em 1716 pelo Fr. Agostinho de Santa Maria, incluiu uma lenda que envolve o Convento de Santo António e a Ermida de Nossa Senhora da Piedade, que foi transcrita por Ataíde de Oliveira: «havia na villa um Mouro, tão tenaz na sua cegueira, que nada o reduzia. Era escravo de um cavalleiro, ao qual desapparecera o cavallo, havia dias; por isso o amo criminava o escravo na perda do cavallo, e o Mouro o buscava com cuidado. Succedeu um dia chegar o Mouro á meia ladeira do monte da Senhora da Piedade e lembrando-se da grande devoção dos christãos cora a Senhora, disse entre si: Se a Senhora da Piedade me descobrisse o meu cavallo seria também christão. Ditas estas palavras, viu o cavallo. Batizou-se, recebendo o nome de Antonio, por estar ali proximo o convento de Santo Antonio, e por sobre nome, Piedade, da Senhora que operara o milagre. Depois casou e teve filhos que ainda hoje (1716) vivem e ha ainda pessoas que conheceram o Antonio da Piedade.»[9]

O edifício foi muito danificado pelo Sismo de 1755, como ficou registado num auto municipal, transcrito por Oliveira de Ataíde: «Em dia 1 de Novembro das 9 para as 10 horas do dia foi Deus Nosso Senhor servido mandar um terremoto tão valente e duração de 10 minutos té um quarto de hora, que derrubou quasi todas as casas desta villa, e as que não caíram ficaram inhabitaveis; padeceu a Egreja Matriz estrago grande e não caiu de todo, o mesmo a Egreja de S. Francisco e a dos Capuxos, e Santo Antonio».[2] O imóvel foi alvo de obras após o sismo, durante as quais foi ampliado,[3] incluindo a instalação de uma cúpula sobre uma antiga capela lateral.[5] Oliveira de Ataíde relata igualmente que ainda no século XVIII, os irmãos terceiros da Venerável Ordem de Penitência de São Francisco instalaram-se na Ermida de São Sebastião, em Loulé, tendo entrado em conflito com a irmandade do Convento de São Francisco, que também era uma ordem terceira de São Francisco, questão que chegou a envolver uma petição ao Papa Leão XII, e que só terminou no século XIX, com a extinção das ordens religiosas,[10] em 1834.[3] Com o fim das ordens religiosas, o convento foi encerrado, tendo sido depois reutilizado de várias formas, incluindo como uma fábrica de cortumes e como habitação.[3] Ainda assim, o complexo entrou num profundo processo de abandono desde o seu encerramento,[5] estando já em ruínas nos princípios do século XX, como descrito por Ataíde de Oliveira: «no convento, em ruinas, de Santo Antonio, em Loulé, encontram-se muitas lapides funerárias, umas espalhadas a granel pelos compartimentos do convento, levantadas do seu primitivo logar, e outras partidas, servindo de poiaes de casas hoje pertencentes a inquilinos, que moram nas dependências do mesmo convento. Muitas das inscrições já não podem ser lidas por se acharem gastas, e outras porque as lapides foram partidas e pertencem a diversos poiaes. Em uma lemos: Sepultura de Fernão Lopes e de sua mulher. Em a parede de uma das capellas lê se a seguinte inscrição: Aqui estão depositados os ossos de S. Francisco Brixa».[11]

Séculos XX e XXI[editar | editar código-fonte]

Em 19 de Dezembro de 1983 foi emitido o despacho para a abertura do processo para a classificação do monumento, que foi oficialmente protegido como Imóvel de Interesse Público por um despacho de 4 de Janeiro de 1984.[5] A igreja foi restaurada na década de 1980, passando a servir como espaço cultural.[3] Por exemplo, albergou a peça teatral Na Leprosaria em 2015,[12] a exposição de fotografia Mãe Soberana: A Força do Amor em 2017,[13] e em 2021 as exposições Bota Filipe, o pioneiro, sobre o artista plástico António Bota Filipe,[14] e Telhados de Vidro, com obras dos alunos de Artes Visuais da Universidade do Algarve.[15]

Nos princípios do século XXI o antigo convento ainda se encontrava em ruínas, salvo a igreja, tendo a autarquia planeado a sua recuperação e transformação numa unidade hoteleira de qualidade, que iria contar com vários espaços culturais.[5] Em 2018, estava prevista a criação de um centro interpretativo ao culto religioso da Mãe Soberana, nas antigas instalações do Convento de Santo António.[4] De acordo com a directora municipal Dália Paulo, o propósito deste centro seria «explicar a Mãe Soberana, a festa, os homens do andor, no fundo tudo o que está à volta do culto».[4] O convento iria igualmente albergar um Centro de Conservação e Restauro dedicado à escultura e pintura sacra, que seria promovido pela Diocese do Algarve.[4] Em 2019, o filme britânico Miss Willoughby and Bentley foi parcialmente filmado em Loulé, tendo o convento sido utilizado como um dos principais cenários.[16][17]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c LEAL, 1873:445-446
  2. a b OLIVEIRA, 1905:61
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t «Convento de Santo António». Câmara Municipal de Loulé. Consultado em 1 de Outubro de 2021 
  4. a b c d LEMOS, Pedro (12 de Abril de 2018). «Mãe Soberana tem «todas as caraterísticas» para ser Património Cultural e Imaterial da Humanidade». Sul Informação. Consultado em 2 de Outubro de 2021 
  5. a b c d e f g h i j «Convento de Santo António». Património Cultural. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 3 de Outubro de 2021 
  6. a b c NETO, João; XAVIER, António (1998) [1991]. «Convento de Santo António». SIstema de Informação para o Património Arquitectónico. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 4 de Outubro de 2021 
  7. a b OLIVEIRA, 1905:118-199
  8. OLIVEIRA, 1905:65-66
  9. OLIVEIRA, 1905:120
  10. OLIVEIRA, 1905:111-115
  11. OLIVEIRA, 1905:277
  12. «Peça «Na Leprosaria» tem exibição única no Convento de Santo António em Loulé». Sul Informação. 7 de Julho de 2015. Consultado em 2 de Outubro de 2021 
  13. «Loulé: Três décadas de festas da Mãe Soberana em exposição fotográfica». Foz - Guadiana Digital. 6 de Abril de 2017. Consultado em 2 de Outubro de 2021 
  14. «Exposição em Loulé recorda "Bota Filipe, o pioneiro"». Sul Informação. 16 de Setembro de 2021. Consultado em 2 de Outubro de 2021 
  15. «Loulé e Quarteira acolhem exposições de alunos de Artes Visuais». Sul Informação. 17 de Junho de 2021. Consultado em 2 de Outubro de 2021 
  16. PIEDADE, Francisco (4 de Novembro de 2019). «Produção britânica escolhe Loulé para rodagem». Diário Online / Região Sul. Consultado em 2 de Outubro de 2021 
  17. BRUXO, Michael (24 de Fevereiro de 2020). «Brits invest €60 million to build film studios in Loulé». Portugal Resident (em inglês). Consultado em 2 de Outubro de 2021 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre o Convento de Santo António

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Leitura recomendada[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


Ícone de esboço Este artigo sobre Património de Portugal é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.