Cristãos ortodoxos
Parte da série sobre o |
Cristianismo |
---|
![]() |
![]() |
Os cristãos ortodoxos são duas famílias de Igrejas cristãs, que não estão em comunhão com a Igreja Católica Romana e que nem estão em comunhão entre si desde o tempo do Concílio de Calcedônia em 451.
O termo ortodoxia (com letra minúscula) pode significar conformidade com os princípios de qualquer doutrina geralmente aceita. Fala-se, por exemplo, da ortodoxia marxista.[1] E em vez de indicar falta de conformidade com a Igreja Católica, o termo ortodoxia (sempre com minúscula) pode significar precisamente conformidade com o dogma católico.[2]
O termo "Ortodoxo", com O maiúsculo, é comummente aplicado como denominação distinta a dois grupos específicos de igrejas cristãs conhecidas como Igrejas Ortodoxas, assim chamadas mesmo por aqueles que questionam a sua reivindicação de serem exclusivamente ortodoxas.[3]
As duas famílias dos Ortodoxos[editar | editar código-fonte]
Distinguem-se as duas famílias de Igrejas Ortodoxas de acordo com a respectiva atitude a respeito do Concílio de Calcedónia com a sua definição "Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único que devemos reconhecer em duas naturezas". As Igrejas que aceitam o concílio e a sua doutrina do diofisismo são chamadas de calcedonianas;[4] as que rejeitam o concílio, preferindo a doutrina do miafisismo são chamados de orientais ortodoxos. Usam-se diversas denominações para cada uma das duas famílias de Igrejas.[5]
Em busca de neutralidade, nas línguas alemã e inglesa geralmente empregam-se duas palavras sinónimas do significado "oriental". Assim em inglês, as Igrejas calcedonianas são chamadas "Eastern Orthodox", as não calcedonianas "Oriental Orthodox".[6] Os correspondentes nomes em alemão são "östlich-orthodoxe"[7] e "orientalisch-orthodoxe".[8]
Em espanhol os nomes geralmente usados são respectivamente "ortodoxas bizantinas"[9] e "ortodoxas orientales";[10] e em francês "orthodoxes chalcédoniennes"[11] e "orthodoxes orientales".[12]
Na Wikipédia portuguesa empregam-se os seguintes nomes:
- Para as Igrejas ortodoxas que aceitam o Concílio de Calcedónia: Igreja Ortodoxa (nome principal), ou Igreja Católica Ortodoxa, Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, Cristianismo Ortodoxo, ou Catolicismo Ortodoxo;
- Para as Igrejas ortodoxas que rejeitam o Concílio de Calcedónia: Igrejas Orientais Ortodoxas (nome principal), ou Igreja Ortodoxa Oriental ou Ortodoxia Oriental.
Ortodoxos calcedonianos ou bizantinos[editar | editar código-fonte]

As Igrejas ortodoxas calcedonianas aceitam somente os primeiros sete concílios ecumênicos. Por ser de tradição oriental, se distinguem de outras Igrejas que também aceitam somente os mesmos sete concílios ecumênicos: por exemplo, a Velha Igreja Católica.
Por vezes os ortodoxos calcedonianos são definidos como os cristãos que estão em comunhão com o patriarca ecumênico de Constantinopla.[13] Alguns escritores consideram esta definição inadequada. Na teologia ortodoxa, Constantinopla poderia caducar da comunhão ortodoxa.[14] E houve tempos nos quais algumas igrejas ortodoxas não estavam em comunhão com Constantinopla, por exemplo, o patriarcado de Moscou em 1966.[15][16] O patriarca de Constantinopla tem, entre os chefes das outras Igrejas a posição de primus inter pares.[17]
Todas as jurisdições desta família ortodoxa têm o rito bizantino como o rito ordinário, apesar de haver minorias praticantes de outros ritos, como os ocidentais.[18]
Ortodoxos orientais[editar | editar código-fonte]

As Igrejas Orientais Ortodoxas aceitam três Concílios Ecumênicos, o de Nicéia, Constantinopla e Éfeso.
São unidas pela profissão de fé no miafisismo, afirmando, de acorde com a expressão de Cirilo de Alexandria, "uma natureza do Verbo de Deus encarnado", que na pessoa una de Jesus Cristo, a divindade e a humanidade estão unidas em uma única ou singular natureza, unidas sem separação, sem confusão e sem alteração.
Não há para estas Igrejas uma figura correspondente à do Patriarca de Constantinopla para as Igrejas ortodoxas calcedonianas, e têm uma grande variedade de formas litúrgicas.
O Conselho Mundial de Igrejas dá a seguinte lista das seis Igrejas Orientais Ortodoxas:[19]
- Igreja Ortodoxa Copta
- Igreja Ortodoxa Síria
- Igreja Apostólica Armênia
- Igreja Ortodoxa Etíope
- Igreja Ortodoxa Eritreia
- Igreja Ortodoxa Indiana
Passos em direção a um acordo[editar | editar código-fonte]
Após um acordo sobre a cristologia assinado em 20 de maio de 1973 pelo Papa Paulo VI e o Papa da Igreja Ortodoxa Copta Shenouda III de Alexandria[20], uma comissão de teólogos das duas famílias ortodoxas chegaram a um acordo semelhante em 1989, no qual declaravam que a palavra physis na fórmula de Cirilo de Alexandria se referia ao hipóstase de Cristo, uma das três hipóstaseis ou prosopa (pessoas) da Trindade, que "se encarnou do Espírito Santo e da bem-aventurada Virgem Maria Teótoco e assim se tornou homem, consubstancial a nós em Sua humanidade, mas sem pecado. Ele é ao mesmo tempo Deus verdadeiro e verdadeiro homem, perfeito em sua divindade, perfeito em sua humanidade. Porque o Hijo que a Virgem Maria teve era ao mesmo tempo tanto Deus quanto homem a chamamos Teótoco. Ao falarmos da hipóstase composta de nosso Senhor Jesus Cristo, não dizemos que Nele se uniram uma hipóstase divina e uma hipóstase humana: é que a hipóstase eterna da Segunda Pessoa da Trindade assumiu a nossa natureza humana criada e no nesse ato a uniu à Sua própria natureza divina não criada, para formar um verdadeiro ser divino-humano real, unido inseparavelmente e sem confusão, assim que as naturezas se distinguem uma da outra apenas no pensamento".
No ano seguinte, em 1990, se publicou outra declaração acordada que afirmou: "Os ortodoxos [bizantinos] concordam que os ortodoxos orientais continuarão a manter a sua terminologia tradicional cirílica de “uma natureza do Logos encarnado” (μία φύσις τοῦ θεοῦ λόγου σεσαρκωμένη), ao reconhecerem a dupla consubstancialidade do Logos, que Êutiques negou. Também os ortodoxos [bizantinos] usam essa terminologia. Os ortodoxos orientais concordam que os ortodoxos [bizantinos] podem com razão usar a fórmula "duas naturezas", ao reconhecerem que a distinção existe “apenas no pensamento” (τῇ θεωρίᾳ μόνῃ). [...] Entendemos agora claramente que ambas as famílias sempre mantêm fielmente a mesma fé autêntica ortodoxa cristológica e a continuidade ininterrupta da tradição apostólica, apesar de ter usado os termos cristológicos de maneira diferente. É sobre essa fé comum e sobre a lealdade contínua à Tradição Apostólica que deve ser fundada a nossa unidade e a nossa comunhão. Comissão Conjunta do Diálogo Teológico entre a Igreja Ortodoxa e as Igrejas Ortodoxas Orientais, Segunda Declaração Acordada (1990).
Estas recomendações, se colocadas em vigor, significaria o restabelecimento da plena comunhão entre as duas famílias de Igrejas. Porem, até 2020 as aceitaram, de parte bizantina, apenas os patriarcas de Alexandria, Antioquia e Romênia, e do outro lado las Igrejas Copta, Siríaca e de Malankara. O patriarcado russo pediu esclarecimentos sobre alguns pontos. A comunidade monástica do Monte Athos rejeita qualquer forma de diálogo. Outros não tiveram interesse ativo.[carece de fontes]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ Ana Maria Jacó-Vilela, Leny Sato, Diálogos em psicologia social (SciELO - Centro Edelstein 2012 ISBN 978-85-7982060-1), p. 475
- ↑ «Michaelis: Significado de "ortodoxia"»
- ↑ Hexham, Irving (20 de setembro de 2009). Pocket Dictionary of New Religious Movements: Over 400 Groups, Individuals & Ideas Clearly and Concisely Defined (em inglês). [S.l.]: InterVarsity Press
- ↑ «Églises orthodoxes (chalcédoniennes) — Conseil œcuménique des Églises». www.oikoumene.org
- ↑ Afirmação do Conselho Mundial de Igrejas em espanhol, inglês, francês e alemão
- ↑ World Council of Churches, "Orthodox churches (Eastern)" e [https://www.oikoumene.org/en/church-families/orthodox-churches-oriental World Council of Church, "Orthodox churches (Oriental)"
- ↑ «Östlich-orthodoxe Kirchen — Ökumenischer Rat der Kirchen». www.oikoumene.org
- ↑ «Orientalisch-orthodoxe Kirchen — Ökumenischer Rat der Kirchen». www.oikoumene.org
- ↑ «Iglesias ortodoxas (bizantinas) — Consejo Mundial de Iglesias». www.oikoumene.org
- ↑ «Iglesias ortodoxas (orientales) — Consejo Mundial de Iglesias». www.oikoumene.org
- ↑ «Églises orthodoxes (chalcédoniennes) — Conseil œcuménique des Églises». www.oikoumene.org
- ↑ «Églises orthodoxes orientales — Conseil œcuménique des Églises». www.oikoumene.org
- ↑ Por exemplo, Random House Dictionary, "Orthodox Church"
- ↑ Aidan Nichols, Rome and the Eastern Churches (Ignatius Press 2010 ISBN 978-1-58617282-4), p. 144
- ↑ Serge Keleher, "Orthodox Rivalry in the Twentieth Century: Moscow versus Constantinople", em Religion, State & Society, Vol. 25, No. 3 (1997), p. 135
- ↑ Russian Orthodox Church, "Statement of the Holy Synod of the Russian Orthodox Church, 8 November 2000"
- ↑ «Papa e patriarca ortodoxo rezam em Istambul pela unidade de cristãos - Brasil - BOL Notícias». noticias.bol.uol.com.br
- ↑ «A History of the Orthodox Church: The Church of Imperial Byzantium». orthodoxinfo.com
- ↑ «Oriental Orthodox Churches — World Council of Churches». www.oikoumene.org
- ↑ «Common declaration of Paul VI and Shenouda III». www.vatican.va. Consultado em 17 de agosto de 2020
Ligações externas[editar | editar código-fonte]