Encruzilhada (filme)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Crossroads (1986))
Crossroads
Encruzilhada[1] (PRT)
A Encruzilhada,[2] ou Encruzilhada[3] (BRA)
EUA
1986 •  cor •  96 min 
Género drama
Direção Walter Hill
Roteiro John Fusco
Elenco Ralph Macchio
Joe Seneca
Jami Gertz
Robert Judd
Idioma inglês

Encruzilhada (em inglês: Crossroads) é um longa-metragem de 1986 estrelado por Ralph Macchio, Joe Seneca, é Jami Gertz, escrito por John Fusco e dirigido por Walter Hill, com música de Ry Cooder e participação do guitarrista Steve Vai (que aparece no filme como Jack Butler, o guitarrista virtuoso do diabo no duelo de guitarra climático) e do gaitista Sonny Terry. É, ao mesmo tempo, um sucesso de público e crítica e um cult movie.

Trata-se de um filme do tipo coming-of-age de drama musical inspirado na lenda do músico de blues Robert Johnson.

Fusco era um músico itinerante de blues antes de frequentar a Escola de Artes Tisch da Universidade de Nova York, onde escreveu este filme como uma tarefa em uma master class liderada por Waldo Salt e Ring Lardner Jr. O roteiro estudantil conquistou o primeiro lugar do FOCUS Awards nacional (Films of College e University Students) e foi vendido para a Columbia Pictures, enquanto Fusco ainda era um estudante.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

O filme conta a história de um jovem e talentoso estudante de música clássica, Eugene Martone (interpretado por Ralph Macchio), que é aficcionado por blues.

Mesmo reprimido pelo seu professor, um purista, o jovem não se intimida e descobre que Robert Johnson, lendário violonista de blues, tinha um contrato para gravar 30 músicas, tendo, contudo, gravado somente 29 até sua morte. Com a intenção de gravar a música perdida e iniciar sua carreira com chave de ouro, ele ajuda na fuga de Willie Brown (Joe Seneca), um antigo gaitista de blues e amigo íntimo de Robert Johnson, de um asilo-prisão.

Assim começa a busca de ambos pela "Encruzilhada", local onde Johnson e Brown teriam vendido suas almas ao Diabo para se tornarem famosos cantores de blues.

O desfecho do filme se dá com um glorioso duelo de guitarras entre o jovem estudante de música clássica e o guitarrista do Diabo, Jack Butler (ninguém menos do que o guitarrista Steve Vai). Durante o filme, a maior parte das dedilhadas de Ralph Macchio foram dubladas pelo guitarrista Ry Cooder.

Elenco[editar | editar código-fonte]

Escolha do guitarrista para o papel de Jack Butler e gravação de duelo de guitarras[editar | editar código-fonte]

Arlen Roth, colunista e co-criador da série de vídeos instrucionais “Hot Licks”, foi contratado para servir como consultor do filme, e também para ajudar a dar um tom de realidade à performance do ator Ralph Macchio, que interpretava o guitarrista Eugene Martone, mas não sabia como tocar o instrumento.[4]

O primeiro cotado para o papel foi Ry Cooder (que dublou as performances do personagem de Ralph Macchio). Coder atuou como diretor musical do filme e gravou a trilha sonora do filme. O duelo de guitarra clímax entre Eugene e Butler foi originalmente planejado para ser um concurso de blues slide-guitar, com Cooder aparecendo na tela como Jack Butler, e com Arlen Roth dublando a parte de Eugene. A cena de Coder interpretando Jack Butler chegou a ser gravada, mas o diretor Walter Hill não gostou muito.[4] Anos mais tarde, Roth colocou o som da gravação do duelo final planejado, entre ele e Cooder, em seu canal SoundCloud.[5]

Arlen Roth, então, pensou nos seguintes músicos para o papel[4]: Stevie Ray Vaughan, Keith Richards, Frank Zappa, e Steve Vai.

Sobre a escolha de Steve Vai para interpretar Jack Butler, John Fusco deu a seguinte declaração[6]:

"Arlen Roth e Ry Cooder estavam em uma reunião falando sobre quem iria interpretar o papel de Jack Butler. Ry conversou com vários guitarristas para ver quem estaria interessado em fazê-lo. Todo mundo queria participar. Keith Richards queria fazê-lo, Johnny Winter, Jimmy Page, todos eles queriam desempenhar esse papel. Então Ry trouxe Steve Vai, que à época era o menos famoso deles, mas assim como sabemos, assustadoramente ótimo. Seria ótimo ter Keith Richards, seria ótimo ter Johnny Winter ou Jimmy Page, mas isso poderia ser um tiro pela culatra e parecer um dublê de elenco e estaríamos assistindo Keith Richards e não Jack Butler. Considerando que com Steve Vai ele não era conhecido o suficiente, mas ele entende o que é isso, ele pode trazê-lo através de sua música e Ry teve a total confiança para praticamente colocá-lo no comando do duelo e compor o duelo."
John Fusco, escritor do filme, sobre a escolha do guitarrista para interpretar Jack Butler.

A música neoclássica intitulada “Eugene's Trick Bag”, com a qual Eugene Martone derrota Jack Butler e vence o duelo, também foi composta por Steve Vai. A canção foi composta inspirada no Estudo N.2 de Villa-Lobos (um estudo só de arpejos),[7] e baseada em Caprice No. 5, de Niccolò Paganini.[8] Reza a lenda que Paganini teria vendido sua alma ao diabo por suas habilidades musicais.[9] Talvez por isso, e sabendo do roteiro do filme, Steve Vai tenha baseado esta sua composição numa canção de Paganini.[10]

O diretor chegou a gravar um duelo adicional, que deveria aparecer antes do confronto entre Jack Butler e Eugene Martone. Na cena, Jack Butler apareceria em um duelo contra um guitarrista de blues interpretado por Shuggie Otis; Otis perderia essa batalha, estabelecendo o quão ameaçador Butler era.[11][12] Os produtores decidiram não usar esta filmagem no filme final.[11]

Cooder relata que o duelo final envolvendo Steve Vai "teve que ser todo mapeado, já que tivemos que coreografar cuidadosamente a chamada e resposta daquele duelo de guitarra e usá-lo como reprodução durante as filmagens. Steve Vai é tremendamente científico quando se trata de tocar guitarra, e foi capaz de se adaptar a esse processo."[13]

A identidade da guitarra superstrat vermelha que Steve Vai usa no filme se tornou um mistério. A revista Guitar World descobriu mais tarde que era um Charvel personalizado, construído por Grover Jacksonou o construtor de Charvel Mike Shannon, e equipado com captadores DiMarzio e um tremolo Floyd Rose.[14] A guitarra era do próprio Vai e, quando Butler a deixou cair pesadamente no chão, a equipe de produção rapidamente construiu instrumentos de maquete para a cena.[14] A guitarra original, assinada por Vai, está agora na coleção da empresa Hard Rock Cafe.[14]

Prêmios e indicações[editar | editar código-fonte]

Prêmios[editar | editar código-fonte]

Ano Festival Prêmio Categoria Indicados Resultado Ref.
1986 Bélgica Festival Internacional de Cinema da Flandres-Gent Prêmio Georges Delerue Melhor música original Ry Cooder Venceu [15]

Trilha sonora[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Crossroads (trilha-sonora)
Crossroads OST
Álbum de estúdio de Ry Cooder, Steve Vai, Arlen Roth
Lançamento 1986
Gênero(s) Rock
Rock instrumental
Duração 37:06
Idioma(s) Inglês
Gravadora(s) Warner Bros. Records
Produção Tom Whalley
Críticas profissionais
Avaliações da crítica
Fonte Avaliação
Allmusic 3 de 5 estrelas.[16]

Um álbum com a trilha sonora do filme foi lançado, contendo 37 minutos de música. O álbum não apresenta a execução clássica de Eugene (que foi interpretada por William Kanengiser) nem o duelo final com Jack Butler. A execução de Steve Vai, incluindo o duelo, é apresentada em seu álbum The Elusive Light and Sound, Vol. 1.

Faixas[editar | editar código-fonte]

N.º TítuloCompositor(es) Duração
1. "Crossroads"  Ahmad Jamal, Robert Johnson, Traditional 4:24
2. "Down in Mississippi"  J. B. Lenoir 4:25
3. "Cotton Needs Pickin'"  Frank Frost, Richard "Shubby" Holmes, John Price, Otis Taylor 2:58
4. "Viola Lee Blues"  Noah Lewis 3:11
5. "See You in Hell, Blind Boy"  Ry Cooder 2:10
6. "Nitty Gritty Mississippi"  Fred Burch, Don Hill 2:57
7. "He Made a Woman Out of Me"  Fred Burch, Don Hill 4:12
8. "Feelin' Bad Blues"  Ry Cooder 4:16
9. "Somebody's Callin' My Name"  Traditional 1:45
10. "Willie Brown Blues"  Ry Cooder, Joe Seneca 3:45
11. "Walkin' Away Blues"  Ry Cooder, Sonny Terry 3:37
Duração total:
37:06

Recepção pela crítica[editar | editar código-fonte]

Crossroads foi, em geral, bem recebido pela crítica. O site Rotten Tomatoes deu-lhe uma classificação de 79%.[18] O critico estadunidense Roger Ebert escreveu que "Crossroads (...) é um lembrete de tantos outros filmes e é um pouco surpreendente, no final, para perceber o quão eficaz é este filme e como é original e consegue-se senti-lo, apesar de todas as pilhagens".[19]

Curiosidades[editar | editar código-fonte]

  • O roteiro original terminava com o personagem de Joe Seneca morrendo em um ônibus Greyhound.[20] O pai do diretor Walter Hill morreu pouco antes do início da produção, e ele achou difícil filmar essa cena, então ele também filmou um final mais feliz.[20] Ambos foram testados com o público; o final feliz foi escolhido.[20] Both were tested with audiences; the happy ending was chosen.[21][22]
  • Esse foi o último papel de Robert Judd no cinema. Ele morreu de câncer de estômago em janeiro de 1986, dois meses antes do lançamento do filme nos cinemas.

Referências

  1. Encruzilhada no SapoMag (Portugal)
  2. A Encruzilhada no AdoroCinema
  3. Encruzilhada no CinePlayers (Brasil)
  4. a b c guitarload.com.br/ Stevie Ray Vaughan quase esteve no lugar de Steve Vai no filme “Crossroads”
  5. Arlen Roth; Ry Cooder (1985), «Crossroads Ist Original Main Duel, Arlen Roth and Ry Cooder 1985», SoundCloud 
  6. bluesrockreview.com/ John Fusco Interview
  7. kleberk.pro.br/ Solos: Eugene's Trick Bag
  8. unirioja.es/ Técnicas de guitarra aplicadas ao Capriccio nº 5 de Niccolò Paganini reescrito por Steve Vai para o filme Crossroads, por Alexsander Vanzela
  9. estacaomusical.com.br/ Arquivado em 2 de março de 2016, no Wayback Machine. Vendendo a alma ao diabo
  10. imdb.com/
  11. a b Arlen Roth. «Crossroads». Arlen Roth's website. Consultado em 22 de junho de 2021 
  12. «The Elusive Light and Sound (2001) - liner notes». Steve Vai's website 
  13. Schweiger, Daniel (dezembro de 1996). «Partners in Crime». Film Score Monthly. 1 (76). p. 17 
  14. a b c Eric Kirkland (17 de junho de 2021). «Tracking down Steve Vai's elusive "Crossroads" Jackson – the most famous guitar that was never heard». Guitar World. Consultado em 22 de junho de 2021 
  15. Winnner & Jury 1985-2012 Flandres International Film Festival Gent
  16. allmusic.com/
  17. allmusic.com. «Top Independent Albums Awards» (em inglês). Consultado em 22 de novembro de 2012 
  18. Crossroadas (1986)
  19. Reviews - Crossroads
  20. a b c JD Nash (12 de março de 2020). «10 Things You Didn't Know About the Film 'Crossroads'». American Blues Scene. Consultado em 22 de junho de 2021 
  21. Pond, Steve (6 de fevereiro de 1986). «Too Much Springsteen». The Washington Post. p. C7 
  22. Goldstein, Patrick (21 de março de 1986). «Joe Seneca Arrives at His Moment of Truth». Los Angeles Times. p. I1