Décimo Cerco de Gibraltar

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Décimo Cerco de Gibraltar
Data 1506
Local Gibraltar
Desfecho Vitória de Castela
Beligerantes
Duque de Medina Sidônia Coroa de Castela
Comandantes
João Afonso Peres Garcilaso da Vega

O Décimo Cerco de Gibraltar em 1506 foi uma pequena ação militar na qual o duque de Medina Sidônia, João Afonso Peres tentou, mas não conseguiu recuperar a fortaleza de Gibraltar das tropas que a mantinham em nome das coroas recém-unidas de Castela e Aragão.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em 3 de junho de 1469, o rei Henrique IV de Castela fez uma doação de Gibraltar a Henrique de Gusmão, em troca do esforço e das despesas que sua família havia feito para capturar esta fortaleza dos mouros e, em seguida, providenciar colonos e uma guarnição.[1] Em 30 de setembro de 1478, os sucessores de Henrique IV, Fernando e Isabel, concederam ao duque o título de marquês de Gibraltar.[2] No entanto, em 22 de dezembro de 1501, um decreto real foi emitido ordenando que Garcilaso da Vega assumisse Gibraltar para o rei. Viajou para a Rocha, onde formalmente tomou posse das autoridades locais no início de janeiro de 1502.[3] Fernando e Isabel atenderam ao pedido do povo de Gibraltar por um brasão, que foi desenhado como um castelo com um pingente de chave de ouro, a chave que representa o papel do castelo na defesa da Espanha.[4]

Após a morte de Isabel em 1504, o reino tornou-se instável.[5] Isabel foi sucedida no trono de Castela por sua filha Joana, mentalmente instável,[a] cujo marido era Filipe, arquiduque da Áustria. Fernando foi nomeado regente de Castela até que o filho de Joana e Filipe, Carlos, que mais tarde seria imperador, atingisse a maioridade.[7] Filipe disputou a regência, mas morreu em Burgos em 1506. Um conselho de nobres castelhanos assumiu o controle, já que Joana não o faria, e eventualmente Fernando retornou a Castela e assumiu a regência em 1507. João Afonso Peres de Gusmão decidiu reafirmar à força sua reivindicação de Gibraltar durante o vácuo de poder de 1506.[8]

Cerco[editar | editar código-fonte]

O duque de Medina Sidônia, que estava em Sevilha, enviou instruções a seu filho Henrique para fazer o que fosse necessário para recuperar a fortaleza.[8] O duque considerou que Gibraltar pertencia por direito à sua família e esperava que os seus amigos na fortaleza arranjassem uma rendição. Isso não aconteceu.[5] A notícia da ação planejada chegou rapidamente ao povo de Gibraltar, e todos foram alistados em uma força para defender o sítio. Foi solicitada ajuda ao capitão-general de Granada, Inhigo Lopes de Mendonça, Conde de Tendilha.[8][9] É significativo na recente mudança na estrutura de poder que o pedido foi para um oficial do rei, em vez de um nobre rival.[10]

O "cerco" durou quatro meses, com as forças de Medina tentando bloquear a fortaleza em vez de atacá-la. Houve pouca luta e nenhuma perda de vidas além de doenças. Sem esperança de sucesso, o duque cedeu ao conselho do arcebispo de Sevilha.[8] Se retirou, pagando uma indenização às pessoas na área que haviam sofrido danos por suas forças.[5] Dos muitos cercos de Gibraltar, este foi o único que terminou sem derramamento de sangue.[10]

Rescaldo[editar | editar código-fonte]

João de Gusmão obstinadamente manteve seu direito a Gibraltar, afirmando que o rei Filipe I o havia devolvido a ele.[9] Em junho de 1507, retornou ao seu reduto de Sevilha, de onde havia deixado para evitar um surto de peste, determinado a lançar outro cerco. Antes que pudesse agir, em 10 de julho de 1507 morreu aos quarenta anos.[11] Fernando morreu em 1516 e foi sucedido por seu neto, filho de Joana, Carlos.[b] Em 1519, Carlos tornou-se o sacro imperador romano-germânico. Compreendendo a importância estratégica de Gibraltar, nomeou Rodrigo Bazan comandante civil e militar do Rochedo em 1520.[12] Sob o longo e pacífico governo de Bazan, que durou até 1535, os distúrbios civis terminaram. Os edifícios foram reparados e novas construções foram realizadas.[13] No entanto, as defesas foram negligenciadas, principalmente as do sul. A próxima ameaça a Gibraltar veio desta direção, com um ataque devastador em 1540 por um dos capitães do corsário turco Barba-Ruiva.[14]

Notas

  1. Joana de Castela, tecnicamente rainha de Castela de 1504 a 1555, é popularmente chamada de Joana, a Louca. Ao longo de seu longo governo, o reino sempre esteve sob uma regência, e frequentemente ficava confinada a um convento.[6]
  2. Tecnicamente Joana e Carlos foram proclamados cogovernantes, mas na verdade Joana era incapaz.[12]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Aiala 1845, p. 99.
  2. Aiala 1845, p. 101.
  3. Aiala 1845, p. 106.
  4. Gilbard 1881, p. 4.
  5. a b c Aiala 1845, p. 110.
  6. Gómez 2008, p. 1ff.
  7. Sayer 1862, p. 83.
  8. a b c d Sayer 1862, p. 84.
  9. a b Gallagher 1968, p. 232.
  10. a b Stephens 1873, p. 210.
  11. Gallagher 1968, p. 233.
  12. a b Sayer 1862, p. 85.
  13. Sayer 1862, p. 86.
  14. Sayer 1862, p. 87-90.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Aiala, Inácio Lopes de (1845). The History of Gibraltar: From the Earliest Period of Its Occupation by the Saracens: Comprising Details of the Numerous Conflicts for Its Possession Between the Moors and the Christians, Until Its Final Surrender in 1642: and of Subsequent Events: with an Appendix Containing Interesting Documents. Londres: William Pickering 
  • Gallagher, Patrick (1968). The Life and Works of Garci Sánchez de Badajoz. Londres: Tamesis Books. ISBN 978-0-900411-00-7 
  • Gilbard, George James (1881). A popular history of Gibraltar, its institutions, and its neighbourhood on both sides of the Straits, and a guide book to their principal places and objects of interest. Gibraltar: Garrison Library Printing Establishment 
  • Gómez, María A.; Juan-Navarro, Santiago; Zatlin, Phyllis (2008). Juana of Castile: History and Myth of the Mad Queen. Levisburgo: Associated University Presse. ISBN 978-0-8387-5704-8 
  • Sayer, Frederick (1862). The history of Gibraltar and of its political relation to events in Europe. Londres: Chapman and Hall 
  • Stephens, F. G. (1873). A History of Gibraltar and Its Sieges. Londres: Provost