Cochonilha

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Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Hemiptera
Subordem: Sternorryncha
Superfamília: Coccoidea
Família: Dactylopiidae
Género: Dactylopius
Espécie: D. coccus
Nome binomial
Dactylopius coccus
Costa, 1835
Sinónimos

Cochonilha (Dactylopius coccus) é um pequeno hemíptero do grupo das cochonilhas, originário do México, com apenas de 3 a 5 milímetros de comprimento corporal e coloração acastanhada ou amarela, que se alimenta parasitando a seiva de cactos. Como defesa contra a predação por outros insectos, produz ácido carmínico, que extraído de seu corpo e ovos é utilizado para fazer o corante alimentício conhecido por carmesim-cochonilha (ou simplesmente cochonilha).[1]

Biologia[editar | editar código-fonte]

Cochonilhas fêmea (à esq.) e macho (à dir.)

Mede de 3 a 5 milímetros de comprimento, é geralmente marrom ou amarelo e se alimenta parasitando a seiva de cactos e plantas e da umidade ali presente. Dentro da classe dos insetos, as cochonilhas são classificadas na ordem Hemiptera, sendo parentes próximas das cigarrinhas, cigarras e dos pulgões. São conhecidas mais de 67 500 espécies de Hemiptera.

Para defender-se da predação por outros insetos, produz ácido carmínico, que extraído de seu corpo e ovos é utilizado para fazer o corante alimentício que leva seu nome.

No Brasil, a cochonilha é também uma praga de jardim, diminuindo consideravelmente a produção de hortas caseiras. A primeira evidência de que a planta está infestada é o aparecimento de bolinhas brancas que parecem ser de algodão nos caules, próximos às folhas. Elas sugam a planta, roubando sua seiva, alojando-se principalmente na parte inferior das folhas e dos brotos. As cochonilhas secretam uma substância pegajosa, que deixa as folhas com a aparência de que estão enceradas, e que facilita o ataque de fungos como o fungo fuliginoso. Costuma atrair também as formigas doceiras. Seu predador natural é a joaninha, assim como alguns tipos de vespas.

Algumas cochonilhas têm uma casca dura que impede a penetração de inseticidas. Neste caso, é preciso fazer uso de soluções à base de óleo mineral e sabão que, uma vez grudadas à carapaça, impedem que o inseto respire. As melhores alternativas são a emulsão de óleo mineral ou a calda de fumo. Caso o controle natural não produza os resultados esperados, a utilização de um inseticida organofosforado ou a reintrodução de predadores naturais pode ser efetiva no balanceamento dos números dessa espécie.

O corante[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Carmim

Usos[editar | editar código-fonte]

O ácido carmínico é um corante natural de cor vermelho-escura extraído na exploração dos corpos secos de cochonilhas fêmeas[2]. O corante é utilizado em larga escala pela indústria cosmética e alimentícia na composição de biscoitos, geleias, sobremesas, sendo também utilizado em medicamentos e roupas, normalmente especificado como "Corante natural carmim de cochonilha", C.I. 75470 ou E120 nas composições dos produtos.[3]

História[editar | editar código-fonte]

O corante cochonilha é conhecido e utilizado desde a antiguidade clássica,[4] tendo sido também utilizado pelas civilizações asteca e maia. A história relata que onze cidades conquistadas por Montezuma no século XV pagaram-lhe um tributo em forma de dois mil cobertores de algodão e quarenta sacos de corante cada uma.[5] Durante o período colonial mexicano, a produção do corante cochonilha (conhecido por grana fina) cresceu rapidamente. Produzido quase exclusivamente em Oaxaca, por produtores indígenas, a cochonilha se tornou o segundo produto em valor exportado do México, superado apenas pela prata.[6] O corante era consumido em larga escala na Europa e seu valor era tão alto no mercado industrial que seu preço chegou a ser negociado na Bolsa de Mercadorias de Londres e Amsterdam.

Após a Guerra da Independência do México, entre 18101821, o monopólio da produção de cochonilha chegou ao fim. Produções em larga escala começaram a ser feitas na Guatemala e nas Ilhas Canárias. Introduzido na ilha da Madeira no século XIX, através de uma planta chamada tabaibeira, cedo galgou terreno e tornou-se uma praga que no verão produz um saboroso fruto chamado tabaibo. A demanda por cochonilha diminuiu ainda mais quando surgiu no mercado, em 1869, a alizarina, derivada das raízes da garança (Rubia tinctorum), e durante o resto do século XIX com os corantes sintéticos. Isto representou um grande choque para a Espanha, já que diversas fábricas produtoras de corante cochonilha, com seu processo praticamente artesanal de cultivo do inseto, faliram por não conseguirem competir com a escala industrial dos corantes sintéticos, com seus preços em queda devido ao aumento na produção.

Devido à forte concorrência dos produtos industrializados, a produção deste corante praticamente parou durante o século XX e foi mantida apenas com o propósito de manter a tradição indígena mexicana.[7]

Apenas nos últimos anos a cochonilha voltou a ser comercialmente viável,[8] ainda que muitos consumidores não saibam que a expressão "corante natural" se refere à tinta derivada de um inseto, ou pelo menos ao vermelho-escuro deste.

Uma das razões que trouxeram o corante cochonilha de volta ao mercado é o fato de que ele não é tóxico ou cancerígeno como muitos outros corantes vermelhos artificiais. No entanto, há evidências de que uma pequena porcentagem de pessoas, quando exposta à cochonilha, pode ter uma reação de choque anafilático.[9]

Questões éticas[editar | editar código-fonte]

Organizações de defesa dos direitos dos animais e pessoas adeptas do veganismo criticam a prática de obtenção do corante a partir do inseto cochonilha. Tais grupos alegam que é antiético, cruel e fútil matar milhões de animais para tal finalidade — é necessário matar cerca de setenta mil insetos para se conseguir cerca de meio quilo de corante. Veganos frequentemente realizam campanhas para divulgar o processo de fabricação do corante carmim, além de promover o boicote aos produtos que o contêm.[10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Liberato Portillo M.; Ana Lilia Vigueras G. «Natural Enemies of Cochineal (Dactylopius coccus Costa): Importance in Mexico» (PDF). Consultado em 14 de Julho de 2005. Arquivado do original (PDF) em 26 de março de 2009 
  2. Cabrera, R.B. (2005). Downstream processing of natural products: Carminic acid. Doctoral Thesis. International University Bremen, School of Engineering and Science
  3. Juliana de Moraes, Sebrae de Santa Catarina. «Carmim: corante do sorvete vem de inseto». Consultado em 24 de Abril de 2007 
  4. Rodrigues, Sérgio. Vermelho da cor do verme. Publicado em 07 de abril de 2015.
  5. Threads In Tyme, LTD. «Time line of fabrics». Consultado em 25 de abril de 2007. Arquivado do original em 28 de outubro de 2005 
  6. Jeff Behan. «The bug that changed history». Consultado em 26 de junho de 2006 
  7. Octavio Hernández. «Cochineal». Mexico Desconocido Online. Consultado em 15 de julho de 2005 
  8. «Canary Islands cochineal producers homepage». Consultado em 14 de julho de 2005 
  9. Food & Drug Administration. «Listing of Color Additives Exempt From Certification; Food, Drug, and Cosmetic Labeling: Cochineal Extract and Carmine Declaration». Federal Register. Consultado em 25 de abril de 2007. Arquivado do original em 4 de maio de 2007 
  10. Centro Vegetariano. «Cochonilha e Carmim». Consultado em 22 de abril de 2009