Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies

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Danses macabres, squelettes et autres fantaisies
Título internacional Danses macabres, skeletons, and other fantasies
 França/Portugal Portugal/ Suíça [1]
2019 •  cor •  110 min 
Género arte
filosofia
Direção Rita Azevedo Gomes[2]
Jean-Louis Schefer [fr]
Pierre Léon [fr]
Produção Consuelo Frauenfelder
Rita Azevedo Gomes
François Martin Saint Léon[3]
Baseado em Squelettes et autres fantaisies, de Jean-Louis Schefer
Elenco Rita Azevedo Gomes
Jean-Louis Schefer
Pierre Léon
Música Kurt Weill
Wolfgang Amadeus Mozart
Hugues Cuénod
Guillaume de Machaut
Cinematografia Acácio de Almeida
Edição Pierre Léon
Companhia(s) produtora(s) Barberousse Films
Basilisco Filmes
Garidi Films
Distribuição Barberousse Films
Lançamento
  • 21 de outubro de 2019 (2019-10-21) (Portugal)
Idioma francês

Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies é um documentário franco-luso-suíço de 2019[4] realizado por Rita Azevedo Gomes, com Jean-Louis Schefer e Pierre Léon.[5] O filme retrata o encontro destes três autores em Portugal para uma expedição pela teoria de cinema e imagem de Schefer, abordando momentos da história da representação alegórica ocidental.[6]

A longa-metragem fez parte da programação do 30º Festival International du Documentaire de Marseille, onde estreou a 12 de julho de 2019[7] e recebeu uma Menção Especial no Grande Prémio da Competição Nacional.[8] Sem ter beneficiado de uma distribuição comercial, em Portugal, Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies estreou a 21 de outubro de 2019 no Grande Auditório da Culturgest, no âmbito do 17º Doclisboa.[9]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

Jean-Louis Schefer é filósofo e passou a sua vida a pensar sobre o que é uma imagem. Pierre Léon é ator e cineasta, nascido na Rússia, mora em França. Rita Azevedo Gomes é uma das cineastas mais destacadas da tradição portuguesa. Os três são pessoas curiosas, unidas pela amizade, gosto de conversar e interesse por cinema. Encontram-se numa casa no norte de Portugal onde passam alguns dias de férias.[10]

A conversa entre Schefer, Léon e Gomes flui livremente, envolvendo os restantes membros da equipa do filme. Em passeios por locais históricos e bucólicos, os intervenientes exploram o pensamento de Schefer, ouvindo o seu julgamento de certas pinturas como As Tentações de Santo Antão de Hieronymus Bosch, excertos de Virginia Woolf, gravuras pré-históricas do Vale do Coa ou hipóteses teóricas, como a de que a representação pictórica da Dança Macabra encena a morte da Idade Média e a invenção da Europa moderna em meados do século XV.[11]

Produção[editar | editar código-fonte]

Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies é uma longa-metragem de 2019, com a produção de Barberrousse Films (França), Basilisco Filmes (Portugal), em co-produção com Garidi Fillms (Suíça)[12]. A obra contou com a participação financeira de Procirep e de Angoa.[13] O filme foi rodado em Portugal, e usa o Rio Douro e Vila Nova de Foz Côa como a sua paisagem predominante.

Intervenientes[editar | editar código-fonte]

Equipa técnica[editar | editar código-fonte]

Temática[editar | editar código-fonte]

Pormenor do fresco Dança Macabra de Janez iz Kastva na Igreja da Santíssima Trindade (Hrastovlje,Eslovénia).

O documentário explora a perspetiva de Jean-Louis Schefer, transposta no seu livro de 2016 Squelettes et Autres Fantaisies, acerca das Danças Macabras, um género artístico que surgiu no final da Idade Média como uma representação alegórica da morte. De modo geral, estas imagens apresentam uma personificação da Peste Negra e dos seus efeitos. A morte é desenhada a encaminhar à sepultura indivíduos de todos os estratos sociais ou fases da vida.[18] Este fenómeno artístico sobreviveu desde então em várias formas e meios, podendo ser encontrado na literatura, pintura, escultura, gravura, música. e cinema. São os exemplos da pintura e cinema que prevalecem no documentário.

Uma figura sempre nesta alegoria é a do esqueleto. Jean-Louis Schefer considera-a uma figura totalmente anónima e livre, razão pela qual dança, com a responsabilidade de escrever a história. Jean-Louis Schefer utiliza o contexto histórico desta expressão artística para abordar a evolução e natureza da imagem como um conceito abstrato, a intenção do ser humano ao criá-la e a sua conexão espiritual com ela.[19]

Continuidade artística[editar | editar código-fonte]

As três longa-metragens de não-ficção de Rita Azevedo Gomes são dedicadas a conversas. A 15ª Pedra (2007) acompanha uma conversa filmada entre Manoel de Oliveira e João Bénard da Costa, enquanto falam sobre arte desde os tempos egípcios até o filme que se seguiria na carreira de Oliveira. Em Correspondências (2016), transforma-se em conversa filmada as cartas e poemas trocados entre Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena. Também Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies é composto por uma longa conversa, explorando a partir das pinturas medievais de Dança Macabra questões da história da arte. O diálogo flui naturalmente, de modo a que as divagações sucedam outras divagações de discurso, perdendo-se o ponto de partida.[20]

Em todos estes filmes, a câmara é mantida acima de tudo num tripé, movendo-se apenas para ocasionais planos mais fechados sobre os rostos dos intervenientes, para que o movimento não distraia e permita aos espetadores concentrarem-se nos tons e palavras. Rita Azevedo Gomes participa nestas conversas como intermediadora. Por exemplo, é a sua voz que dá início ao diálogo de A 15ª Pedra ou o seu corpo que ajusta elementos no enquadramento de Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies, sempre com a preocupação potenciar as palavras.[21]

O filme de 2019 diferencia-se dos anteriores pela predominância de sequências em cenários naturais. Há também uma correspondência visual perante a palavra de Schefer, apresentando-se planos de gravuras e textos mediavais, mas também citações cinematográficas de obras do irmãos Auguste e Louis Lumière, Carl Theodor Dreyer, Jean Renoir e Kenji Mizoguchi. Ainda que se aproxime de um estilo de filme-ensaio, Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies distancia-se completamente de uma rigidez historicista.[22]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies foi selecionado para a programação do 30º Festival International du Documentaire de Marseille, em França, onde se estreou a 12 de julho de 2019.[23] O filme não integrou um circuito comercial, mas despoletou o interesse de vários programadores de festivais, dos quais se destacam:

A longa-metragem integrou também várias exibições de arte em 2020, de entre as quais em Numax Corunha (a 12 de outubro) e Museo Universidad de Navarra (a 30 de outubro) em Espanha e a propósito do Journées Internationales du Film sur l'Art no Museu do Louvre, em França.

Receção crítica[editar | editar código-fonte]

O documentário foi geralmente bem recebido pela crítica especializada, tendo recebido uma Menção Especial no Grande Prémio da Competição Nacional do 30º Festival International du Documentaire de Marseille aquando a sua estreia.[30] Christopher Small (Film Comment) considerou Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies a melhor estreia desse festival, uma vez que a obra "não funciona como uma investigação sobre questões pré-determinadas; o espaço em torno das palavras parece incubar o próprio pensamento e guia-nos por esse terreno. Isso é raro no documentário contemporâneo, onde o impulso muitas vezes é editorializar".[31]

Em Portugal, Maggie Silva escreve para Magazine HD uma crítica positiva na qual comenta as temáticas do filme e o apelida de interessante e estimulador do sentido crítico.[32] Na Argentina, Roger Koza (La Voz del Interior) elogia os autores pelo engenho com que filmaram o pensamento filosófico: "a grande beleza do filme está nas pausas e silêncios que estimulam o pensamento e na corrente afetiva que circula entre os personagens. Se os filósofos eram para Platão os amigos da sabedoria, a fraternidade que se nota na conversa e na escuta atenta constitui a condição pela qual a sabedoria é aqui apreensível e agradável; assim se conjura a frieza da erudição, assim se democratiza o desejo de saber".[22]

A crítica espanhola também escreveu textos elogiosos sobre o documentário. Manu Yáñez (Otros Cines Europa) destaca o uso da montagem: "Num momento brilhante do filme, Schefer reflete sobre o caráter “fluido” das pictóricas Danças Macabras, com os seus fundos descontextualizados e a sua relutância ao moralismo, ao que Léon (o editor) responde inserindo algumas imagens de O Discreto Charme da Burguesia de Buñuel".[33] Escrevendo para Cinema Maldito, Ramón Rey apresenta uma perspetiva mais moderada, considerando Danses Macabres, Squelettes et Autres Fantaisies "uma master class sobre a natureza da imagem e a sua influência na nossa perceção do mundo que transcende o cinematográfico, embora revele as suas próprias fragilidades no processo", nomeadamente ao revelar o seu potencial desperdiçado quando o texto é combinado pouco frequentemente com planos de pinturas, arte rupestre ou excertos de filmes, dando-se prioridade à palavra num filme sobre a imagem.[34]

Referências

  1. «Film card». Torino Film Fest (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2023 
  2. «Portugal Film - Portuguese Film Agency». www.portugalfilm.org. Consultado em 22 de abril de 2023 
  3. AdoroCinema, Danças Macabras, Esqueletos e Outras Fantasias, consultado em 22 de abril de 2023 
  4. «Danses macabres, squelettes et autres fantaisies (2019)». The A.V. Club (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2023 
  5. «Danses Macabres, Squelettes Et Autres Fantaisies». Cinéma Paris - L'Archipel (em francês). Consultado em 22 de abril de 2023 
  6. Mourinha, Jorge. «"Raposa" e "Danses Macabres": duas produções portuguesas premiadas no FIDMarseille». PÚBLICO. Consultado em 22 de abril de 2023 
  7. «Over 125 films to be showcased at FIDMarseille». Cineuropa - the best of european cinema (em inglês). Consultado em 21 de abril de 2023 
  8. «Filmes portugueses premiados no FID Marseille - Notícias». ICA. Consultado em 22 de abril de 2023 
  9. a b «Danses macabres, squelettes et autres fantaisies». Doclisboa 2019. Consultado em 21 de abril de 2023 
  10. Danses Macabres, Skeletons, and Other Fantasies, consultado em 21 de abril de 2023 
  11. Danses Macabres, Skeletons, and Other Fantasies | watch online - dafilms.com (em inglês), consultado em 21 de abril de 2023 
  12. «Danses macabres, squelettes et autres fantaisies (2019)». en.unifrance.org (em inglês). Consultado em 21 de abril de 2023 
  13. «Danses macabres». barberousse-films (em francês). Consultado em 22 de abril de 2023 
  14. «Danses Macabres, Skeletons, and Other Fantasies (2019) - Elenco e Equipe no MUBI». mubi.com. Consultado em 21 de abril de 2023 
  15. «Danças Macabras, Esqueletos e Outras Fantasias – Papo de Cinema». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 22 de abril de 2023 
  16. AdoroCinema, Todo o elenco do filme Danças Macabras, Esqueletos e Outras Fantasias, consultado em 22 de abril de 2023 
  17. «Danses Macabres, Skeletons, and Other Fantasies (Danses macabres, squelettes et autres fantaisies)». Cineuropa - the best of european cinema (em inglês). Consultado em 21 de abril de 2023 
  18. «CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: Dance of Death». www.newadvent.org. Consultado em 26 de abril de 2023 
  19. Rey, Ramón. «Danses Macabres, Skeletons, and Other Fantasies (Pierre Léon, Rita Azevedo Gomes, Jean-Louis Schefer)» (em espanhol). Consultado em 22 de abril de 2023 
  20. «Danses macabres, squelettes et autres fantaisies | Images en bibliothèques». imagesenbibliotheques.fr. Consultado em 22 de abril de 2023 
  21. «Três conversas filmadas de Rita Azevedo Gomes». À pala de Walsh. 26 de maio de 2022. Consultado em 22 de abril de 2023 
  22. a b «DANZAS MACABRAS, ESQUELETOS Y OTRAS FANTASÍAS / DANSES MACABRES, SQUELETTES ET AUTRES FANTAISIES». CON LOS OJOS ABIERTOS. 17 de julho de 2021. Consultado em 22 de abril de 2023 
  23. «DANSES MACABRES, SQUELETTES, ET AUTRES FANTAISIES». FIDMarseille (em francês). Consultado em 22 de abril de 2023 
  24. «DANSES MACABRES, SKELETONS AND OTHER FANTASIES | Festival de Cine de Sevilla». Festiva de Sevilla (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2023 
  25. «DANSES MACABRES, SQUELETTES, ET AUTRES FANTAISIES / DANSES MACABRES, SKELETONS AND OTHER FANTASIES». #CINEUROPA33 (em galego). Consultado em 22 de abril de 2023 
  26. «Danses Macabres, Skeletons, and Other Fantasies (2019) Premiações e Festivais». mubi.com. Consultado em 21 de abril de 2023 
  27. «Meeting with Rita Azevedo Gomes and screening of the film Danses Macabres, Skeletons, and Other Fantasies». www.newhollandsp.ru. Consultado em 22 de abril de 2023 
  28. «Danses Macabres - Documentary Film | Watch Online». guidedoc.tv (em inglês). Consultado em 22 de abril de 2023 
  29. «DANSES MACABRES, SQUELETTES ET AUTRES FANTAISIES – Frontera Sur Festival». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 21 de abril de 2023 
  30. «I Never Climbed the Provincia and Mittelmeer come out on top at FIDMarseille». Cineuropa - the best of european cinema (em inglês). Consultado em 21 de abril de 2023 
  31. «Dispatch: FIDMarseille 2019». Film Comment (em inglês). 1 de agosto de 2019. Consultado em 21 de abril de 2023 
  32. Silva, Maggie (24 de outubro de 2019). «DocLisboa '19 | Danses Macabres, em Análise». MHD. Consultado em 22 de abril de 2023 
  33. «Crítica de "Danses macabres, squelettes et autres fantaisies" de Pierre Léon, Rita Azevedo Gomes y Jean-Louis Schefer». Otros Cines Europa. 12 de novembro de 2019. Consultado em 22 de abril de 2023 
  34. Rey, Ramón. «Festival de Sevilla 2019: del pasado, el presente y el futuro» (em espanhol). Consultado em 22 de abril de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]