Desastre Ferroviário de Chão de Maçãs - Fátima

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Desastre Ferroviário de Chão de Maçãs - Fátima
Desastre Ferroviário de Chão de Maçãs - Fátima
Estação de Chão de Maçãs-Fátima, em 2018.
Descrição
Data 11 de Setembro de 1981
Hora 21:48
Local Imediações da Estação de Chão de Maçãs - Fátima
País Portugal Portugal
Linha Linha do Norte
Operador Caminhos de Ferro Portugueses
Tipo de acidente Avaria, colisão e descarrilamento
Estatísticas
Comboios/trens 3
Mortos 7
Feridos Cerca de 70

O Desastre Ferroviário de Chão de Maçãs - Fátima foi um acidente ocorrido em 11 de Setembro de 1981 nas proximidades da Estação de Chão de Maçãs - Fátima, na Linha do Norte, em Portugal. Este acidente envolveu três comboios, tendo resultado em cinco mortos e cerca de setenta feridos.[1]

Acidente e socorros[editar | editar código-fonte]

Por volta das 21:45 do dia 11 de Setembro de 1981, o comboio nº 28 da operadora Caminhos de Ferro Portugueses imobilizou-se em plena via devido a uma avaria eléctrica, quando estava a circular na zona das Pedreiras de Fátima, no lanço da Linha do Norte entre as estações de Paialvo e Estação de Chão de Maçãs - Fátima.[1] O comboio era formado por duas unidades, e tinha cerca de duzentos passageiros a bordo.[1] De acordo com os horários de 1980, aquele serviço era da categoria de directo, e saía de Porto-Sâo Bento às 18:45, tendo como destino a estação de Santa Apolónia, em Lisboa, com chegada prevista às 22:55.[2]

A tripulação já tinha conhecimento que dentro de momentos iria passar um comboio pela mesma linha, mas como não dispunham de rádio a bordo para comunicar com a estação de Fátima, fizeram uma fogueira na via férrea, com o apoio dos passageiros.[1] Porém, isto foi em vão, e às 21:48 o comboio avariado foi abalroado por uma outra composição, que fazia um serviço especial, o directo 80/28, com origem no Porto.[1] Um dos eixos do primeiro comboio saltou para a via contrária, provocando o descarrilamento do comboio regional 145, oriundo de Santa Apolónia, e que tinha como destino Vila Nova de Gaia.[1] Os socorros foram prestados por várias corporações de bombeiros, tendo a primeira a chegar ao local sido a de Vila Nova de Ourém.[1] Os feridos para o Hospital de Vila Nova de Ourém, tendo alguns sido depois transferidos para os hospitais de São José e Santa Maria, em Lisboa, e de Tomar.[1] As equipas de socorros levaram várias horas a retirar os corpos dos escombros dos comboios, tendo as operações de resgate prosseguido até perto das três horas da madrugada.[1] Como ambas as vias ficaram bloqueadas por este acidente, a circulação ferroviária entre Paialvo e Chão de Maçãs foi temporariamente encerrada, tendo sido substituída por serviços de autocarros.[1]

Este acidente provocou cinco mortos e cerca de setenta feridos, dos quais trinta em estado grave, fazendo deste acidente como um dos mais graves em território nacional nos últimos anos.[1] A maior parte das vítimas estavam dentro do comboio que avariou, tendo uma destas sido atropelada pelo comboio de Lisboa para Gaia, enquanto tentava fugir.[1] Um dos feridos foi o revisor do comboio avariado, Abílio Martins Nunes Matos, enquanto que entre as vítimas mortais encontrava-se o ajudante de maquinista do comboio especial, Mário Duarte de Oliveira.[1] Foi o quinto acidente ferroviário nesse ano em Portugal, e o primeiro a fazer vítimas mortais.[1]

Investigação[editar | editar código-fonte]

No local esteve o Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, José Viana Baptista, tal como o Secretário de Estado dos Transportes Internos, Abílio Rodrigues, que comentou que tinha sido «um milagre não ter havido um maior número de vítimas».[1] Uma opinião semelhante foi manifestada por um funcionário da C.P. entrevistado pelo jornal Diário de Lisboa, que afirmou que «teria sido uma desgraça ainda maior», caso tivesse ocorrido ao Domingo.[1] Abílio Rodrigues acrescentou que já tinha nomeado uma comissão de inquérito a este acidente.[1]

Em 26 de Outubro, o jornal Diário de Lisboa noticiou que a operadora Caminhos de Ferro Portugueses tinha emitido um comunicado onde declarou que a sinalização estava em boas condições, e apontou que o acidente foi causado por alguém na estação de Fátima, que tinha «provocado inadvertidamente a alteração do sinal vermelho para verde.[3] Absolveu igualmente a tripulação dos comboios de qualquer culpa.[3] Esta conclusão foi contestada por várias partes, incluindo o Sindicato dos Maquinistas, que admitiu que poderia ter ocorrido uma falha na luz de tráfego, tendo denunciado que a sinalização da rede ferroviária portuguesa não tinha «a segurança que a CP quer fazer crer».[3] Segundo Jorge Godinho, da direcção do sindicato, os motoristas já tinham participado por diversas vezes à operadora que apesar do sinal estar verde, a via estava ocupada, geralmente por comboios em manobras.[3] Desmentiu igualmente a afirmação que a operadora tinha feito sobre a forma como o sinal passava automaticamente para vermelho em caso de avaria ou redução na tensão eléctrica, explicando que isso era «apenas em teoria», uma vez que «a experiência do dia-a-dia dos maquinistas mostra que isso nem sempre é verdade».[3] O sindicato exigiu uma maior eficácia na sinalização ferroviária portuguesa, e que deveria estar acompanhada de um equipamento de reforço, conhecido como Controlo Automático de Velocidade, que já era utilizado noutros países, e que parava automaticamente o comboio caso ultrapassasse um sinal vermelho.[3] Em resposta, o chefe dos Serviços de Sinalização dos Caminhos de Ferro Portugueses, Ferreira Alves, afirmou que não era obrigatória a instalação deste sistema nas velocidades que então eram praticadas na rede ferroviária portuguesa, cuja velocidade máxima era de 140 Km/h, na Linha do Norte, e negou que os maquinistas tenham feito quaisquer relatos sobre a via estar ocupada apesar do sinal estar verde.[3] Os resultados do inquérito também foram criticados pelo chefe da estação de Fátima, Januário Abreu, que descartou quaisquer responsabilidades no acidente, e confirmou que realmente viu que o sinal estava aberto na sua bancada automática, mas que não tinha a capacidade de o alterar.[3]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q «Tragédia na Linha do Norte». Diário de Lisboa. Ano 61 (20651). Lisboa. 12 de Setembro de 1981. p. 1, 20. Consultado em 27 de Janeiro de 2023 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares 
  2. «Linha do Norte: Serviço Directo e Regional - Circulações Descendentes» (PDF). Horário de Verão 1980. Lisboa: Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. 21 de Julho de 1980. p. 7. Consultado em 27 de Janeiro de 2023 – via O Comboio em Portugal 
  3. a b c d e f g h «Inquérito absolve maquinistas no descarrilamento de Fátima». Diário de Lisboa. Ano 61 (20687). Lisboa. 26 de Outubro de 1981. p. 16. Consultado em 5 de Março de 2024 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares 


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