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Dez pragas do Egito

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Quadro "A Sétima Praga", de John Martin

Na tradição judaico-cristã-muçulmana, as pragas do Egito (em hebraico: מכות מצרים; romaniz.: Makot Mitzrayim), por vezes referidas como as dez pragas do Egito, foram dez calamidades que, de acordo com o livro bíblico do Êxodo (7-11), o Deus de Israel infligiu no Egito para convencer o faraó a libertar os hebreus (ou israelitas), maltratados pela escravidão. O faraó aceitou as condições de libertação de Deus (ou seja, desistiu) após a décima praga, provocando o êxodo do povo hebreu, que seguiram pelo deserto a caminho da terra de Canaã.

Os estudiosos concordam amplamente que o Êxodo não é um relato histórico. As tentativas de encontrar explicações naturais para as pragas foram rejeitadas pelos estudiosos bíblicos com base em que seu padrão, tempo, rápida sucessão e, acima de tudo, o controle por Moisés as tornam sobrenaturais.[1][2][3]

Motivação das Pragas

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No âmbito natural, algumas tentativas de explicação propuseram a hipótese de que as pragas são catástrofes ecológicas, motivadas principalmente pela explosão do vulcão na ilha grega de Santorini.[4]

No âmbito religioso, a Bíblia diz que as pragas serviram para contrastar o poder do Deus de Israel com os deuses egípcios, invalidando-os. Associação de várias das pragas com julgamento sobre deuses específicos, associados ao rio Nilo, fertilidade e fenômenos naturais.[5] De acordo com Êxodo 12:12, todos os deuses do Egito seriam julgados até à décima e última praga: "Naquela mesma noite Eu passarei pela terra do Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei Juízo sobre todos os deuses do Egito."

Moisés transforma a água do Egito em sangue, por James Tissot, c. 1895-1900
Praga das moscas, por Tissot
Lamento pela morte do primogênito, por Charles Sprague Pearce
  1. As águas do Rio Nilo tingem-se de sangue: Toda a água do Egito foi transformada em sangue e até mesmo os rios foram contaminados, vindo a morrer todos os peixes;
  2. Rãs cobrem a terra: Esta praga surgiu após Aarão (irmão de Moisés, que o acompanhou durante todo o processo) estender a mão sobre o Egito e, sob intercessão do Deus dos hebreus, fez surgir rãs de todos os lugares;
  3. Piolhos (ou mosquitos) atormentam homens e animais: Da mesma forma que o Egito foi infestado por rãs, desta vez vieram piolhos (ou mosquitos) a encobrir a população e todos os animais. Desencadeada também após Aarão estender as mãos sobre o Egito;
  4. Moscas escurecem o ar e atacam homens e animais: Bem semelhante às anteriores, a quarta praga deixou o Egito infestado de moscas. O Faraó concordou em libertar o povo e o Senhor retirou a praga, mas assim que percebeu que a praga havia cessado, o faraó voltou atrás na sua decisão, aprisionando o povo hebreu;
  5. A morte dos animais: Desta vez Moisés estendeu a mão sobre o Egito e por ordem do Senhor surgiu uma praga nos animais em que muitos morreram e grande foi a perda para os egípcios;
  6. Pústulas cobrem homens e animais: Diante da resistência do faraó, que a cada praga aceitava libertar o povo, mas assim que elas cessavam voltava a reter os hebreus como escravos, o Senhor ordenou a Moisés e a Aarão que enchessem suas mãos de cinzas e as jogassem para os céus. Assim o fizeram e as cinzas se transformaram em úlceras em todo o Egito, tanto nos animais como nas pessoas;
  7. Chuva de granizo destrói plantações: A resistência por parte do faraó se repetiu e assim, o Senhor pediu a Moisés para estender seu cajado por todo o Egito (exceto a região onde vivia o povo escolhido, o povo a ser liberto), e foi assim que uma chuva de pedras destruiu toda a plantação;
  8. Nuvem de gafanhotos ataca plantações: Nesta praga, pela oitava vez o Senhor tocou no povo egípcio a fim de fazer justiça e libertar seu povo; enviou um vento que passou seguido de inúmeros gafanhotos devorando muito do que possuía o faraó. Mais uma vez ele cedeu, mas somente até a praga cessar;
  9. Escuridão encobre o Sol por três dias: Desta vez, todo o céu do Egito se tornou trevas e passaram dias na escuridão (menos onde estavam os filhos de Israel). O que também não foi suficiente para convencer o faraó a libertar o povo de vez, dado que era o Senhor que fazia com que o faraó não cedesse.
  10. Os primogênitos de homens e animais morrem: Esta foi a última praga, em que todos os primogênitos foram mortos, desde os animais até os servos, inclusive o filho do próprio faraó. Houve grande comoção no Egito quando por fim, após muita insistência, o faraó concordou em deixar o povo sair. De acordo com as escrituras, o faraó chegou a arrepender-se, indo atrás do povo, tentando capturá-lo de novo, porém sem sucesso, sendo que os soldados morrem afogados. Essa passagem bíblica ficou popularmente conhecida como “Deus abriu o mar vermelho”.

Associação das Pragas e o Julgamento dos Deuses

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No âmbito religioso, a Bíblia diz que as pragas serviram para subjugar deuses egípcios específicos:
As águas do Rio Nilo tingem-se de sangue: Humilhação do deus-Nilo, Hápi. A morte dos peixes foi também um golpe contra a religião egípcia, pois certas espécies de peixes eram veneradas (Êx 7:19-21).[6]
Rãs cobrem a terra: Humilhação da deusa-rã, Heqt. A rã é o símbolo da fertilidade e da ressurreição no conceito egípcio (Êx 8:5-14).[6]
Piolhos (ou mosquitos) atormentam homens e animais: Humilhação ao deus Tot. Referente à invenção da magia ou das artes secretas. A praga resultou em os sacerdotes-magos reconhecerem a derrota, quando se viram incapazes de transformar o pó em piolhos (ou mosquitos), por meio da magia (Êx 8:16-19).[6]
Moscas atacam homens e animais: Humilhação do deus Ptah, criador do universo, novamente Tot, senhor da magia (Êx 8:23,24).[6]
A morte dos animais: Humilhação de vários deuses, tais como: Seráfis (Ápis) — deus sagrado de Mênfis do gado —, a deusa-vaca, Hator e a deusa-céu, Nut, imaginada como uma vaca, com as estrelas afixadas na sua barriga (Êx 9:4 e 7).[6]
Pústulas cobrem homens e animais: Humilhação da deusa-rainha do céu do Egito, Neite (Êx 9:11).[6]
Chuva de granizo destrói plantações: Humilhação dos deuses que controlam os elementos naturais; tais como: deus da água, Íris e deus de fogo, Osíris (Êx 9:13-35).[6]
Nuvem de gafanhotos ataca plantações: Humilhação dos deuses responsáveis pela abundante colheita. O deus do ar, Xu e deus-inseto, Sebeque (Êx 10:12-15).[6]
Escuridão encobre o Sol por três dias: Humilhação do deus principal do Egito, Rá, o deus-sol que foi escondido por trevas (Êx 10:23).[6]
Os primogênitos de homens e animais morrem: Resultou na maior humilhação para os deuses egípcios, os governantes do Egito — que chamavam a si mesmos de deuses, filhos de Rá ou Amom-Rá (Êx 12:12).[6]

Referências

  1. Moore, Megan Bishop, 1972-. Biblical history and Israel's past : the changing study of the Bible and history. Grand Rapids, Mich.: [s.n.] OCLC 693560718 
  2. Meyers, Carol L. (2005). Exodus. Cambridge: Cambridge University Press. OCLC 252512778 
  3. Berlin, Adele; Brettler, Marc Zvi; Fishbane, Michael A.; Jewish Publication Society (2004). The Jewish study Bible : Jewish Publication Society Tanakh translation. [S.l.]: Oxford ; New York : Oxford University Press 
  4. Gray, Richard (27 de março de 2010). «Biblical plagues really happened say scientists» (em inglês). The Telegraph. Consultado em 18 de setembro de 2015 
  5. Commentary on Exodus 7, The Jewish Study Bible, 2004. Berlin A and Brettler M, eds., Oxford University Press. ISBN 0-19-529751-2
  6. a b c d e f g h i j «O que representavam as 10 pragas do Egito e quais são os deuses que estão relacionados com elas?». Portal Biblia. Consultado em 23 de fevereiro de 2016 
Collins, John J. (2005). The Bible After Babel: Historical Criticism in a Postmodern Age. [S.l.]: Eerdmans. ISBN 9780802828927 
Faust, Avraham (2015). «The Emergence of Iron Age Israel: On Origins and Habitus». In: Thomas E. Levy; Thomas Schneider; William H.C. Propp. Israel's Exodus in Transdisciplinary Perspective: Text, Archaeology, Culture, and Geoscience. [S.l.]: Springer. ISBN 978-3-319-04768-3 
Greifenhagen, F.V. (2000). «Plagues of Egypt». In: Freedman, David Noel; Myers, Allen C. Eerdmans Dictionary of the Bible. [S.l.]: Amsterdam University Press. ISBN 9789053565032 
Herzog, Ze'ev (29 de outubro de 1999). «Deconstructing the walls of Jericho». lib1.library.cornell.edu. Ha'aretz. Consultado em 9 de fevereiro de 2019. Arquivado do original em 10 de novembro de 2001 
Johnstone, William D. (2003). «Exodus». In: Dunn, James D. G.; Rogerson, John William. Eerdmans Commentary on the Bible. [S.l.]: Eerdmans. ISBN 9780802837110 
Leon, Donna (2011). Handel's Bestiary: In Search of Animals in Handel's Operas. [S.l.]: Grove Press. ISBN 978-0802195616 
Meyers, Carol (2005). Exodus. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521002912 
Moore, Megan Bishop; Kelle, Brad E. (2011). Biblical History and Israel's Past. [S.l.]: Eerdmans. ISBN 9780802862600 
Redmount, Carol A. (2001) [1998]. «Bitter Lives: Israel In And Out of Egypt». In: Coogan, Michael D. The Oxford History of the Biblical World. [S.l.]: OUP. ISBN 9780199881482 
Rogerson, John W. (2003b). «Deuteronomy». In: Dunn, James D. G.; Rogerson, John William. Eerdmans Commentary on the Bible. [S.l.]: Eerdmans. ISBN 9780802837110 
Tigay, Jeffrey H. (2004). «Exodus». In: Berlin, Adele; Brettler, Marc Zvi. The Jewish Study Bible. [S.l.]: Oxford University Press 
Van Seters, John (2015). The Pentateuch: A Social Science Commentary. [S.l.]: Bloomsbury. ISBN 9780567658807