Educação dialógica

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Educação dialógica é a educação que tem por base o diálogo. Defendida por Paulo Freire, tal modelo se opõe à "educação bancária" ou antidialógica, na qual o professor transmite conhecimentos, "faz depósitos" nos alunos, emite comunicados.[1][2] Na educação bancária, o ato cognoscente do professor (o único sujeito na relação pedagógica) incide sobre um objeto a ser conhecido e esgota-se nele mesmo. Já na educação dialógica, há comunicação entre dois sujeitos, mediatizada pelo objeto a ser discutido. Em outras palavras, o objeto (que pode ser um problema social, um conteúdo curricular) serve de ponte, de intermediário entre dois sujeitos: aluno e professor. Por este motivo, a educação dialógica supera a dicotomia professor-aluno.[3]

O que a educação dialógica não é[editar | editar código-fonte]

Vale observar que, apesar de defender uma educação baseada no diálogo, Freire não condenou a aula expositiva. Nesse sentido, é relevante citar um trecho de um livro escrito por Freire e Ira Shor, reproduzido no Dicionário Paulo Freire:[4]

Mas é importante dizer, Ira, que ao criticar a educação “bancária”, temos que reconhecer que nem todos os tipos de aulas expositivas podem ser considerados educação “bancária”. Você pode ser muito crítico fazendo preleções. A questão, para mim, é como fazer com que os alunos não durmam, porque eles nos ouvem como se estivéssemos cantando para eles! A questão não é se as preleções são “bancárias” ou não, ou se não se deve fazer preleções. Porque o caso é que os professores tradicionais tornarão a realidade obscura, quer dando aulas expositivas, quer coordenando discussões. O educador libertador iluminará a realidade mesmo com aulas expositivas. A questão é o conteúdo e o dinamismo da aula, a abordagem do objeto a ser conhecido. Elas re-orientam os estudantes para a sociedade de forma crítica? Estimulam seu pensamento crítico ou não?
— Paulo Freire no livro Medo e ousadia (p. 31), escrito com Ira Shor

A educação dialógica também não é – não deve ser – mero "papo furado". Escreve Freire em Pedagogia da Esperança:

O diálogo, na verdade, não pode ser responsabilizado pelo uso distorcido que dele se faça. Por sua pura imitação ou por sua caricatura. O diálogo não pode converter-se num "bate-papo" desobrigado que marche ao gosto do acaso entre professor ou professora e educandos
Freire, Paulo (1997). Pedagogia da esperança. [S.l.]: Paz e Terra, 

Outro equívoco comum em relação é que tal educação ela implica uma absoluta horizontalidade entre educador e educando. Escreve freire, na mesma obra:

O diálogo entre professoras ou professores e alunos ou alunas não os torna iguais, mas marca a posição democrática entre eles ou elas. Os professores não são iguais aos alunos por n razões, entre elas porque a diferença entre eles os faz ser como estão sendo. Se fossem iguais, um se converteria no outro. O diálogo tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro. O diálogo, por isso mesmo, não nivela, não reduz um ao outro. Nem é favor que um faz ao outro. Nem é tática manhosa envolvente, que um usa para confundir o outro. Implica, ao contrario, um respeito fundamental dos sujeitos nele engajados, que o autoritarismo rompe ou não permite que se constitua. Assim também a licenciosidade, de forma diferente, mas igualmente prejudicial.
Freire, Paulo (1997). Pedagogia da esperança. [S.l.]: Paz e Terra, 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Márcia Mariana Bittencourt Brito. «CONCEITO DE DIALOGICIDADE PRESENTE NA OBRA DE PAULO FREIRE» 
  2. Ivanilde Apoluceno de Oliveira. «228Movimento-Revista de Educação, Niterói, ano 4, n.7, p.228-253, jul./dez. 2017.A DIALOGICIDADE NA EDUCAÇÃO DE PAULO FREIRE E NAPRÁTICA DO ENSINO DE FILOSOFIA COM CRIANÇAS» 
  3. Freire, Paulo (1970). Pedagogia do oprimido. [S.l.]: Paz e Terra 
  4. Streck, Danilo R.; Redin, Euclides; Zitkoski, Jaime José (22 de dezembro de 2015). Dicionário Paulo Freire. [S.l.]: Autêntica 
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