Do varão nasceu a vara

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Do varão nasceu a vara,
Da vara nasceu a flor,
E da flor nasceu Maria,
De Maria o Redentor![1]

(Cultura Popular)

"Do varão nasceu a vara" ou "Do tronco nasceu a rama" é o incipit de uma quadra popular incluída em diversas canções de Natal portuguesas.[1]

Datação e interpretação[editar | editar código-fonte]

Árvore de Jessé por Gil de Siloé (1486-1492) na Catedral de Burgos. Seguindo a iconografia tradicional, uma árvore cresce brotando de Jessé adormecido.

A quadra é datada do século XVI, época em que se começou a espalhar também pelo Brasil.[1] De facto apresenta várias semelhanças com uma cantiga quinhentista presente no Auto da Feira de Gil Vicente, a Branca estais colorada:

A simbologia utilizada, aparentemente pouco clara, é evidente quando se analisam versões como a de Minas Gerais que principia "De Jessé nasceu a vara".[1] Assim, a letra alude, muito provavelmente à tradicional iconografia cristã da árvore de Jessé. Esta representação deriva, por sua vez, de duas narrativas bíblicas: a sequência da genealogia de Jesus e, principalmente, da promessa de descendência a Jessé:

Et egredietur virga de radice Iesse et flos de radice eius ascendet
Original (em latim): E sairá uma vara do tronco de Jessé e uma flor brotará da sua raiz.

 (em latim)

Do varão nasceu a vara (Beira Litoral)[editar | editar código-fonte]

A canção tradicional Do varão nasceu a vara, recolhida na Beira Litoral, será porventura a mais conhecida versão musical dos versos. Foi trabalhada por Fernando Lopes-Graça[2] e publicada no seu Cancioneiro Português (1953).[1] É possível que Lopes-Graça a tenha coligido diretamente[1], ou, mais provavelmente, tenha utilizado a recolha de Pedro Fernandes Tomás que surge na coletânea Canções portuguesas (do século XVIII à atualidade) (1934).[3] De qualquer forma a adaptação de Lopes-Graça, que foi incluída na sua Primeira Cantata do Natal (1950)[2], é hoje uma suas mais famosas obras.

Na verdade, como aponta Pedro Fernandes Tomás, a melodia é uma adaptação popular do famoso hino natalício francês Les Anges dans nos campagnes[3] (hoje conhecida pelo mundo inteiro através da sua versão inglesa Angels We Have Heard on High). Apesar de também esta música ter, segundo alguns autores, origem quinhentista[4], a combinação das duas em Portugal parece ser posterior ao século XVIII como sugere Tomás.[3]

Outros compositores portugueses também criaram os seus próprios arranjos como Maria de Lourdes Martins[5] e Eugénio Amorim.[6]

Discografia[editar | editar código-fonte]

  • 1956Cantos Tradicionais Portugueses da Natividade. Coro de Câmara da Academia de Amadores de Música. Radertz. Faixa 3.[2]
  • 1978Primeira Cantata do Natal. Grupo de Música Vocal Contemporânea. A Voz do Dono / Valentim de Carvalho. Faixa 3.[2]
  • 1990Canções tradicionais de Natal. Fernando Cardoso. Polygram. Faixa 3.[7]
  • 1994Lopes Graça. Grupo de Música Vocal Contemporânea. EMI / Valentim de Carvalho. Faixa 3.[2]
  • 1997Os melhores coros amadores da região - Lisboa : vol. III. Lisboa Cantat. Public-art. Faixa 8.[8]
  • 20001ª Cantata do Natal Sobre Cantos Tradicionais Portugueses de Natividade. Coral Públia Hortênsia. Edição de autor. Faixa 3.[2]
  • 2001Vozes e espaços. Coro Académico da Universidade do Minho. CAUM. Faixa 9.[9]
  • 2003Um Natal português. Vários. Numérica. Faixa 3.[6]
  • 2008Dormindo está um menino. Coro Académico da Universidade do Minho. Numérica. Faixa 4.[10]
  • 2012Fernando Lopes-Graça - Obra Coral a capella - Volume II. Lisboa Cantat. Numérica. Faixa 6.[2]
  • 2013Fernando Lopes-Graça - Primeira Cantata de Natal. Coro da Academia de Música de Viana do Castelo. Numérica. Faixa 3.[2]
  • 2017Primeira Cantata de Natal: Fernando Lopes-Graça. Coral de Letras da Universidade do Porto. Tradisom. Faixa 3.

Do tronco nasceu a rama (Safara)[editar | editar código-fonte]

Do tronco nasceu a rama ou "Menino de Safara" é um cante ao Menino recolhido por Michel Giacometti na freguesia mourense de Safara durante as suas campanhas etnomusicológicas em 1968.[1] O fonograma foi posteriormente transcrito em partitura por Fernando Lopes-Graça para a sua publicação no livro "Cancioneiro Popular Português".[11]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g Sá Júnior, Lucrécio Araújo de (2010). Tradições Discursivas nas culturas populares (pdf). correspondências trocadas entre Câmara Cascudo e Mário de Andrade. Natal, Rio Grande do Norte: [s.n.] p. 10 
  2. a b c d e f g h Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Primeira Cantata do Natal». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 7 de agosto de 2015 
  3. a b c Tomás, Pedro Fernandes (1934). Canções Portuguesas. Do século XVIII à actualidade 1 ed. Coimbra: Imprensa da Universidade 
  4. «Fêtes. Soixante crèches de Noël du monde à la Chaume». Ouest France (em francês). 25 de dezembro de 2014 
  5. Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «12 Harmonizações de Canções Tradicionais». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 8 de agosto de 2015 
  6. a b «Um Natal português». Fonoteca Municipal de Lisboa. 2003. Consultado em 6 de agosto de 2015 
  7. «Canções tradicionais de Natal». Fonoteca Municipal de Lisboa. 1990. Consultado em 6 de agosto de 2015 
  8. «Lisboa : vol. III». Fonoteca Municipal de Lisboa. 1997. Consultado em 6 de agosto de 2015 
  9. «Vozes e espaços». Fonoteca Municipal de Lisboa. 2001. Consultado em 6 de agosto de 2015 
  10. «Dormindo está um menino». Fonoteca Municipal de Lisboa. 2008. Consultado em 6 de agosto de 2015 
  11. Giacometti, Michel; Fernando Lopes-Graça (1981). Cancioneiro Popular Português 1 ed. Lisboa: Círculo de Leitores