Dom Sébastien (ópera)

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Dom Sébastien, roi de Portugal
Dom Sebastião, rei de Portugal
Dom Sébastien (ópera)
Ato III na primeira produção, no momento em que o grande inquisidor Juan de Sylva dá ordens de prisão a Dom Sebastião (gravura de L'Illustration)
Idioma original francês
Compositor Gaetano Donizetti
Libretista Eugene Scribe
Número de atos 5
Ano de estreia 1843
Local de estreia Opera Le Peletier, Paris.

Dom Sébastien, roi de Portugal, é uma grande ópera francesa em cinco atos de Gaetano Donizetti. Eugene Scribe escreveu o libreto baseado na peça Don Sébastien de Portugal de Paul Foucher (1838)[1], uma ficção histórica sobre o rei D. Sebastião (1554-1578) e a fatídica expedição de 1578 em Alcácer Quibir. A estreia teve lugar a 13 de novembro de 1843 na Ópera Le Peletier em Paris. Esta foi a última ópera de Donizetti concluída antes de manifestar sinais de loucura como resultado da sífilis.

À época, Donizetti estava tentando compor uma ópera para rivalizar com as óperas históricas, como as de Auber, Halévy e Meyerbeer. Um crítico chamou a Dom Sébastien  "um funeral em cinco atos"[2]. Por outro lado, Winton Dean disse que a ópera foi caracterizada por uma "honestidade dramática sem compromisso", ao comentar sobre as facetas dramáticas incomuns da obra[3]. Em 2005, Mary Ann Smart publicou uma edição crítica da lírica em francês, o que inclui em apêndices as variações e acréscimos que Donizetti fez para uma produção da ópera em alemão, apresentada na Ópera de Viena em 1845[4][5].

Produção da ópera[editar | editar código-fonte]

A história de D. Sebastião chegou a Eugène Scribe (o principal criador de libretos da Ópera de Paris durante os anos 1830-40's), através de um monumental drama de Paul Foucher, "Dom Sébastien de Portugal", representado no Teatro de la Porte Sait-Martin em Paris, em 1838. A peça tinha sido um estrondoso sucesso e Léon Pillet, o director da Ópera de Paris, pediu a Scribe que preparasse um libreto para uma ópera de cinco actos sobre o tema. Inicialmente o libreto foi oferecido a Mendelssohn e a Meyerbeer, que não trabalharam nele. Finalmente Leon Pillet apresentou o libreto a Donizetti, que começaria logo a pensar no assunto, mesmo antes de assinar o contrato que confirmaria o compromisso de Donizetti para com a Ópera de Paris. Em Julho de 1843, Donizetti escrevia ao seu professor, Giovanni Simone Mayr:[6]

«Neste momento estou a escrever uma nova ópera em cinco actos para Paris. É "D. Sebastiano di Portogallo" - você vai reconhecer a história da mal fadada expedição organizada pelo rei contra os mouros, a perda do seu exército e a sua morte que ainda hoje permanece misteriosa. O assunto resume-se a isto. Vai ainda incluir o grande poeta Camões - a inquisição que trabalha secretamente para tornar Portugal num escravo de Espanha - um pouco de tudo na realidade.»

Donizetti entrou em frequentes discussões com Eugène Scribe sobre o libreto, acusando-o de descurar as motivações dos personagens, e os ensaios antes da estreia tiveram crises de paranóia, ataques de fúria, esquecimentos súbitos, tremores, e explosivos ataques de mau génio. Donizetti esperava que a ópera fosse um verdadeiro triunfo na Ópera de Paris e a ansiedade que então o consumia deixava-o muito sensível à crítica. A estreia correu muito bem e a ópera foi bem recebida, no entanto não foi o triunfo que Donizetti esperava, provocando-lhe uma certa amargura. Foi então feita uma versão italiana - Don Sebastiano, re di Portogallo - que permaneceu nos palcos da pátria amada de Donizetti durante muito tempo.[6]

Personagens[editar | editar código-fonte]

Papel[7] Voz Estreia de 13 de novembro de 1843
Dom Sebastião, rei de Portugal tenor Gilbert Duprez
Dom António, seu tio, regente do reino na sua ausência tenor Jean-Baptiste Octave
Juan de Sylva, grande inquisidor baixo Nicolas-Prosper Levasseur
Camões, soldado e poeta barítono Paul Barroilhet
Dom Henrique, tenente de D. Sebastião baixo Ferdinand Prévost
Ben-Selim, governador de Fez baixo Hippolyte Brémont
Abayaldos, chefe de tribos árabes, o noivo de Zayda barítono Eugène Massol
Zayda, filha de Ben-Selim meio-soprano Rosine Stoltz
Don Luis, enviado de Espanha tenor
Soldado (baixo), primeiro inquisidor (tenor), segundo inquisidor (tenor), terceiro inquisidor (baixo)[8]
Refrão : Senhores e senhoras da corte de Portugal, soldados e marinheiros portugueses, soldados e mulheres árabes, membros da inquisição, homens e mulheres do povo

Argumento[editar | editar código-fonte]

Ano: 1578, Locais: Lisboa e Marrocos (no 2º ato)[9].

Acto I[editar | editar código-fonte]

Lisboa

O rei cristão D. Sebastião, deixa o seu tio D. António, como regente de Portugal, enquanto ele parte em cruzada contra os Árabes. A comitiva de D. Sebastião integra o poeta Camões e a princesa Zayda, do norte de África, condenada a morrer na fogueira por ter tentado escapar do convento depois da sua conversão ao cristianismo (coro dos inquisidores: Justiça Celeste quer o seu tormento). Salva da fogueira pela intervenção de D. Sebastião (que comutou a sentença para o exílio com seu pai, Ben-Selim) Zayda louva o rei (Ó meu Deus! Na terra) .

Acto II[editar | editar código-fonte]

Fez, em Marrocos

O reencontro entre Zayda e Ben-Selim é um pouco afetuoso: ela recusa-se a casar com o chefe árabe Abayaldos.

A planície de Alcácer-Quibir após a batalha

Abayaldos comanda os Árabes na batalha contra as forças de D. Sebastião, exterminadas na sua maior parte. A vida de D. Sebastião, ferido, é salva apenas porque o seu tenente, Dom Henrique, se apresenta a Abayaldos fingindo ser D. Sebastião̹̹̹̹̹̟, antes de morrer dos ferimentos, e porque Zayda roga para salvar o cristão (o verdadeiro D. Sebastião) em troca do seu consentimento para casar com Abayaldos. Sebastião, destroçado, é abandonado no campo de batalha e lamenta-se (Sozinho na terra).

Acto III[editar | editar código-fonte]

Praça principal de Lisboa

Camões sobrevive à batalha e volta para Lisboa (Ó minha pátria!). Sabe então que António, ajudado pelo grande inquisidor espanhol Dom Juan de Sylva[10], havia usurpado o trono. Camões encontra Sebastião quando passa o seu cortejo fúnebre, do rei morto ( Requiem). Camões semeia a desordem pela sua indignação, e Sebastião é reconhecido pelo povo quando intervém. Abayaldos, vindo a Lisboa, para entregar o corpo do rei português, reconhece o humilde cristão de quem salvou a vida. Sebastião é preso por impostura pelo grande inquisidor Dom Juan da Sylva.

Acto IV[editar | editar código-fonte]

Uma sala da Inquisição em Lisboa

No julgamento de Sebastião, Zayda prova o seu amor para com ele, ao testemunhar a verdadeira identidade do preso, e de como ele escapou à morte. Abayaldos acusa Zayda de adultério, e os inquisidores condenam tanto Sebastião, quanto Zayda, de morrerem pela espada, e pelo fogo.

Acto V[editar | editar código-fonte]

O tribunal de Lisboa

Sebastião e Zayda, presos juntos numa torre sobre o mar, vivem alguns dias de felicidade antes da execução. Ansioso por legitimar o seu negócio com a Espanha, Dom António oferece-se para poupar a vida de Sebastião se Zayda o convencer a assinar um documento oficial, transferindo o reino de Portugal para Espanha. Sebastião, depois de recusar, assina. Zayda livre, mas indefesa, tenta lançar-se da torre para morrer afogada.

Numa torre adjacente às prisões da Inquisição

Sebastião agarra Zayda no topo da torre. Vêem chegar Camões num barco, procurando salvá-los. Descem a escada de corda que os conduzirá à liberdade, mas são descobertos a meio do caminho. Os perseguidores cortam a corda, o casal afoga-se e Camões é morto. Quando cai a cortina, a frota espanhola aparece no horizonte. Portugal perdeu a sua independência.

Registos[editar | editar código-fonte]

Ano Papéis

(Zayda, D. Sebastião, Camões, Juan de Silva)

Maestro,

Ópera & orquestra

Etiqueta[11]
1984 Klára Takács,

Richard Leech,
Lajos Miller,
Sergei Koptchak

Eve Queler,

Opera Orchestra of New York & Schola Cantorum of New York
(gravação do concerto no Carnegie Hall, em 23 de março)

CD de áudio : Legato Classics.

LCD 190-2

1998 Monica Minarelli,

Robert Woroniecki,
Ettore Kim,
Randall Jakobsh

Elio Boncompagni,

Sinfonie Orchester Aachen, & Aachener Städische Teatro Chorus

CD de áudio : Kicco Classic.

KCO18CD-1/2

2005 Vesselina Kasarova,

Giuseppe Filianoti,
Carmelo, Corrado-Caruso,
Alastair Quilômetros

Mark Elder,

Orquestra & coro do Royal Opera House, Covent Garden[12]

CD de áudio : Opera Rara

ORC 33

Notas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Paul Foucherul, Don Sébastien de Portugal : tragédie en cinq actes, Paris, J. N. Barba ; Delloye ; Bezou, 1838. A estreia da peça teatral ocorreu no Théâtre de la Porte-Saint-Martin em 9 de novembro de 1838.
  2. Donal Henehan, « Donizetti's Dom Sebastien », New York Times, 24/03/1984.
  3. Winton Dean, "Donizetti's Serious Operas". Proceedings of the Royal Musical Association, vol. 100, 1973, p. 123-141.
  4. « Dom Sebastien, roi de Portugal » University of Chicago Press (Distributed for Casa Ricordi)
  5. Gaetano Donizetti, Mary Ann Smart et Eugène Scribe, Dom Sébastien, roi de Portugal : opéra en cinq acts, Ricordi, 2005
  6. a b Antena 2ː ARGUMENTOS DE ÓPERAS. Don Sebastião, Rei de Portugal. Ópera em cinco atos.(21/07/2011)[1]
  7. Os papéis e os tipos de voz são definidos na partitura para voz e piano da edição crítica (Donizetti, Smart 2005, p. VII)
  8. Estes pequenos papéis podem ser cantados por membros do Coro.
  9. Osborne, p. 297.
  10. Versão ficcionalizada de Juan de Silva, nobre que não era Inquisidor mas que teve um importante papel no processo da União Ibérica
  11. Fonte dos dados nas gravações: operadis-opera-discography.org.uk.
  12. Tim Ashley, « Donizetti: Dom Sébastien, Kasarova/ Filianoti/ Keenlyside/ Miles/ Royal Opera House Chorus and Orchestra/ Elder », The Guardian, 11/05/2007
  • William Ashbrook, Donizetti and his operas, Cambridge University Press, 1982 ISBN 0-521-23526-X ISBN 0-521-23526-X.
  • Gaetano Donizetti: Mary Ann Smart (ed.) & Eugene Scribe, Dom Sébastien, Roi de Portugal : ópera em cinco atos (partitura reduzida para voz e piano, com base na edição crítica da partitura para voz e orquestra). Milão, Ricordi, 2005 ISBN 978-88-7592-751-6.
  • Amanda Holden (ed), The New Penguin Opera Guide, New York: Penguin Putnam, 2001, ISBN 0-14-029312-4.
  • Charles Osborne,  The Bel Canto Operas of Rossini, Donizetti and Bellini. Portland, Oregon, Amadeus Press, 1994 ISBN 0-931340-71-3.
  • Herbert Weinstock, Donizetti and the World of Opera in Italy, Paris and Vienna, in the First Half of the Nineteenth Century. Methuen, First British Edition, 1964 ASIN B0000CM5Y9.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]