Eduardo Mendoza
Eduardo Mendoza | |
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Nome completo | Eduardo Mendoza Garriga |
Nascimento | 11 de janeiro de 1943 (81 anos) Barcelona, Espanha |
Prémios | Prémio Franz Kafka (2015) Prémio Cervantes (2016) |
Género literário | Romance, conto |
Movimento literário | Pós-modernismo |
Magnum opus | A cidade dos prodígios |
Eduardo Mendoza Garriga (Barcelona, 11 de janeiro de 1943) é um escritor Catalão.[1] Em geral, o estilo narrativo de Eduardo Mendoza é singelo e directo, sem fazer abandono do uso de cultismos, arcaísmos bem como da linguagem popular em sua mais pura expressão. Gosta de personagens marginais que olham a sociedade com estranheza enquanto lutam por sobreviver permanecendo fora dela.
A sua obra literária, que começou com a publicação em 1975 de La verdad sobre el caso Savolta, está geralmente ambientada na sua Barcelona natal, combinando a descrição da cidade em épocas anteriores à Guerra Civil Espanhola e na actualidade.[2][3] Llàtzer Moix fala de "realidade bifronte" ao referir-se à narrativa de Mendoza e estabelece uma distinção entre suas novelas sérias ou maiores, e os seus divertimentos ou novelas menores. Porém, a divisão entre romances sérios e humorísticos, que se correspondem com as obras maiores e menores , não mostra a riqueza narrativa e estilística de suas obras paródicas nem do humorismo presente nos romances sérios: estudos atuais[4] apontam à seriedade, críticidade e transcendência nos seus romances de humor e ao humorismo transversal nos seus romances sérios, resultado do efeto paródico característico do romance pós-moderno.
Ainda que seu principal género literário seja o romance, Mendoza tem escrito ao longo de sua trajectória profissional ensaios como Baroja, la contradicción, e mais recentemente contos como Tres vidas de santos. Recebeu em 2010 o Prémio Planeta pelo seu romance Riña de gatos. Madri 1936.[5]
Biografia
[editar | editar código-fonte]1975-1990: Primeiras obras
[editar | editar código-fonte]Filho de um promotor, Eduardo Mendoza Arias-Carvajal, e de uma dona-de-casa, Cristina Garriga Alemany, estudou um ano numa escola das freiras de Nossa Senhora de Loreto, outro numa das Mercedarias e, finalmente, a partir de 1950, no colégio dos Irmãos Maristas. Após licenciar-se em Direito em 1965, viaja pela Europa e no ano seguinte consegue uma bolsa em Londres para estudar Sociologia.[6] Com o seu regresso em 1967 exerce advocacia na assessoria jurídica do Banco Condal, que abandona em 1973 para ir para Nova Iorque como tradutor da ONU.[6]
Estando em Estados Unidos publica em 1975 o seu primeiro romance La verdad sobre o caso Savolta. O seu título original era Los soldados de Cataluña, mas viu-se obrigado a mudá-lo devido a problemas com a censura franquista. Esta ópera prima, na que se pode observar a capacidade de Mendoza na utilização de diferentes discursos e estilos narrativos, lança-o na fama. Considerada por muitos como a precursora da mudança que se daria na sociedade espanhola e como o primeiro romance da transição democrática, o romance narra o panorama das lutas sindicais de princípios do século XX, mostrando a realidade social, cultural e económica da Barcelona da época. Após uns meses da sua publicação morre Francisco Franco e ao ano seguinte La verdad sobre o caso Savolta recebe o Prêmio da Crítica.
El misterio de la cripta embrujada, uma paródia com momentos hilariantes que mistura rasgos da novela negra com a gótica, foi publicada em 1979 e marca o começo de uma tetralogia protagonizada por uma personagem peculiar, uma espécie de detective encerrado num manicómio, de nome desconhecido. El laberinto das azeitonas, 1982, o segundo romance protagonizado pelo detective sem nome, consolida-o como um dos autores com mais sucesso de vendas. A saga protagonizada por esta personagem continuou em 2001 com um terceiro volume, La aventura del tocador de señoras e El enredo de la bolsa y la vida, quarto volume publicado em 2012.
Em 1983 Mendoza regressa a Barcelona depois de várias viagens a Genebra, Viena e outras cidades, continuando a ganhar a vida fazendo tradução simultânea em organismos internacionais. Em 1986 publica La ciudad de los prodigios, romance em que se mostra a evolução social e urbana de Barcelona entre as duas exposições universais de 1888 e 1929. La ciudad de los prodigios é considerada pela crítica literária como sua obra cimeira e foi eleita pela revista francesa Lire como o melhor livro de 1988. Em 1999 foi adaptada ao cinema por Mario Camus e protagonizada por Emma Suárez e Olivier Martínez.
A sua seguinte obra, La isla inaudita, foi publicada em 1989 e dispensa a narração habitual nos romances de Mendoza, usando a cidade de Veneza como principal palco. Um ano depois começa a publicar no diário El País uma história em fascículos de um extraterrestre que aterra na Barcelona prévia aos Jogos Olímpicos de 1992. A história foi publicada ao ano seguinte por Seix Barral com o título de Sin notícias de Gurb. Também em 1991 faz a sua primeira incursão no teatro com a inauguração da obra em catalão Restauraciò no Teatro Romea de Barcelona. A sua adaptação ao espanhol representou-se um ano depois em Madri.
1992-actualidade: Consolidação na narrativa espanhola
[editar | editar código-fonte]Em 1992 publicou El año del diluvio, ambientado num povo catalão regido por um cacique franquista e protagonizada pela freira Constanza Briones. O romance ganhou a terceira edição do Prêmio Literário da revista Elle em 1993. Dois anos depois começou a dar aulas na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona. Compartilhando seu trabalho como professor e seu trabalho literário, publicou em 1996 Una comedia ligera, ambientada na Barcelona do pós guerra espanhol. O romance venceu o Prêmio de Melhor Livro Estrangeiro, outorgado em França em 1998.
La aventura del tocador de señoras, o seu primeiro romance no novo século, foi publicada em janeiro de 2001 e consiste no terceiro volume das aventuras do detective anónimo, expulso do manicómio em que residia e tornado em cabeleireiro. O livro foi galardoado pelo Grémio de livreiros de Madrid com o Prêmio de Melhor Livro de 2002. Em agosto do mesmo ano repete a fórmula de Sin noticias de Gurb, publicando por fascículos com Espanha O último trajecto de Horacio Dois, uma fábula sarcástica em modo de diário pessoal que trata de uma viagem no espaço. Em novembro publicou com a editorial Omega Baroja, la contradicción, um ensaio biográfico em torno da figura do escritor Pío Baroja.
Em 2003 publicou Barcelona modernista, um ensaio sobre a cidade de Barcelona num período compreendido entre a Exposição Universal de 1888 e a Primeira Guerra Mundial. Além disso, contribuiu como roteirista na adaptação cinematográfica da sua própria obra No ano do diluvio, dirigida por Jaime Chávarri.
Em 2006, a editorial Seix Barral publicou Mundo Mendoza, uma biografia realizada por Llatzer Moix, e Mauricio o las elecciones primarias, um romance não paródico de Mendoza ambientado em Barcelona que narra uma história de amor a três bandas com uma profundidade política posterior à Transição Espanhola, entre as eleições de 1984 e a nomeação de Barcelona como sede olímpica. A obra obteve o VI Prêmio de Novela Fundação José Manuel Lara Hernández.
Dois anos depois estreou Glòria, a sua segunda obra teatral em catalão, posteriormente adaptada ao espanhol, e publicou El asombroso viaje de Pomponio Flato, uma paródia do género epistolar que narra as aventuras de Pomponio Flato, um filósofo romano, em terras de Nazaret, onde é contratado pelo menino Jesus para salvar da pena de morte o seu pai José. A novela, mistura de género policíal e novela negra, narra acontecimentos da vida de Jesus sem rigor histórico em modo de paródia de romances de intriga como O código Da Vinci de Dan Brown.[7] Em 2009 publicou Tres vidas de santos, um livro formado por três contos que consiste na sua primeira incursão neste género literário.
A 16 de outubro de 2010, o escritor Eduardo Mendoza, oculto com o pseudónimo Ricardo Medina, ganhou a 59ª edição do Premeio Planeta de novela, com 601 000 euros, pela obra Riña de gatos. Madri 1936. O ponto de partida do romance vencedor é a chegada a Espanha na primavera de 1936 de um jovem inglês, especialista em pintura espanhola, reclamado para avaliar um possível quadro desconhecido de Velázquez.[8]
Com El enredo de la bolsa y la vida, publicado a 10 de abril de 2012, Mendoza volta a dar vida ao anónimo detective protagonista de El misterio de la cripta embrujada, El laberinto de las aceitunas e La aventura del tocador de señoras numa sátira ambientada na Barcelona actual.[9]
Obras
[editar | editar código-fonte]Romance
[editar | editar código-fonte]- 1975: La verdad sobre el caso Savolta
- 1978: El misterio de la cripta embrujada (1º romance da colecção do detective anónimo)
- 1982: El laberinto de las aceitunas (2º romance da colecção do detective anónimo)
- 1986: La ciudad de los prodigios
- 1989: La isla inaudita
- 1991: Sin noticias de Gurb (publicado em fascículos no diário El País)
- 1992: El año del diluvio
- 1996: Una comedia ligera
- 2001: La aventura del tocador de señoras (3º romance da colecção do detective anónimo)
- 2002: El último trayecto de Horacio Dos (publicado em fascículos no diário El País)
- 2006: Mauricio o las elecciones primarias
- 2008: El asombroso viaje de Pomponio Flato
- 2010: Riña de gatos. Madrid 1936 (Prémio Planeta)
- 2012: El enredo de la bolsa y la vida (4º romance da colecção do detective anónimo)
- 2015: El secreto de la modelo extraviada (5º romance da colecção do detective anónimo)
Contos
[editar | editar código-fonte]- 2009: Tres vidas de santos (La ballena, El final de Dubslav e El malentendido)
- 2011: El camino del cole (literatura infantil)
Teatro
[editar | editar código-fonte]- 1990: Restauración
- 2008: Gloria
Ensaios
[editar | editar código-fonte]- 1986: Nueva York
- 1989: Barcelona modernista, em coautoria com a sua irmã Cristina
- 2001: Baroja, la contradicción (ensaio biográfico)
- 2007: ¿Quién se acuerda de Armando Palacio Valdés?
Prémios
[editar | editar código-fonte]- 1975: Prémio de Crítica por La verdad sobre el caso Savolta.
- 1987: Prémio Ciudad de Barcelona por La ciudad de los prodigios.
- 1988: Prémio de Melhor Livro do Ano da Revista "Lire" (França) por La ciudad de los prodigios.
- 1988: Finalista do Prémio Grinzane Cavour na categoria de Narrativa extrangeira (Itália) por La ciudad de los prodigios.
- 1988: Finalista do Prémio Médicis y Femina (França) por La ciudad de los prodigios.
- 1992: Vencedor da III Edição das leitoras da revista "Elle" com El año del diluvio.
- 1998: Prémio de Melhor Livro Estrangeiro (França) por Una comedia ligera.
- 2002: Prémiode Melhor Livro do Ano, entregue pelo Grémio de Livreiros de Madrid, por La aventura del tocador de señoras.
- 2007: Prémio Fundação José Manuel Lara por Mauricio o las elecciones primarias.
- 2009: Prémio Pluma de Plata por El asombroso viaje de Pomponio Flato.
- 2010: Prémio Planeta por Riña de gatos. Madrid 1936.
- 2015: Prémio Franz Kafka
Adaptações cinematográficas
[editar | editar código-fonte]- 1980: La verdad sobre el caso Savolta - Dirigida por Antonio Drove (coprodução Espanha, França e Itália)
- 1981: La cripta - Dirigida por Cayetano del Real (Espanha).
- 1999: La ciudad de los prodigios - Dirigida por Mario Camus (Espanha).
- 2004: El año del diluvio - Dirigida por Jaime Chávarri (coprodução Espanha, França e Itália)
Referências
- ↑ Instituto Cervantes (28 de outubro de 2011). «Eduardo Mendoza visita la biblioteca que lleva su nombre en el Cervantes de Cracovia». Consultado em 11 de abril de 2012
- ↑ Círculo Lateral. «Los últimos pícaros de Mendoza». Consultado em 11 de abril de 2012. Arquivado do original em 29 de abril de 2012
- ↑ España es cultura. «Eduardo Mendoza. Literatura.». Consultado em 11 de abril de 2012
- ↑ Boto Bravo, Miguel Ángel (2017). Humor y posmodernidad: el humorismo en la narrativa de Eduardo Mendoza Garriga. Madrid: UNED. pp. 255–265. Consultado em 21 de abril de 2018
- ↑ Planeta de Libros. «Eduardo Mendoza | PlanetadeLibros.com». Consultado em 11 de abril de 2012
- ↑ a b Página oficial de Eduardo Mendoza. «Cronología». Consultado em 11 de abril de 2012. Arquivado do original em 5 de junho de 2013
- ↑ Público. «Mendoza se burla de las novelas de intriga con tintes históricos en su última obra». Consultado em 11 de abril de 2012
- ↑ Público. «Eduardo Mendoza aterriza en el Planeta». Consultado em 29 de março de 2012
- ↑ Página oficial de Eduardo Mendoza. «El enredo de la bolsa y la vida, Seix Barral». Consultado em 11 de abril de 2012. Arquivado do original em 31 de maio de 2012