Eleição presidencial na Coreia do Sul em 2025
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Titular Eleito |
Uma eleição presidencial antecipada foi realizada na Coreia do Sul no dia 3 de junho de 2025. Originalmente agendada para 3 de março de 2027, a eleição foi adiantada para ocorrer em ou antes de 3 de junho de 2025, após o impeachment de Yoon Suk-yeol.[1][2] A data se deve à exigência da constituição da Coreia do Sul de que uma eleição seja realizada dentro de 60 dias de uma vacância presidencial permanente.
Desde a democratização e o estabelecimento da Sexta República, esta foi a nona eleição presidencial, a segunda eleição após um impeachment presidencial e a primeira realizada num ano diferente do originalmente programado.[3]
Lee Jae-myung, do Partido Democrático da Coreia, liberal centrista, foi eleito presidente, derrotando Kim Moon-so, do Partido do Poder Popular, conservador de direita, e Lee Jun-seok, do Partido da Reforma, conservador moderado.[4][5][6]
Contexto
[editar | editar código-fonte]Após a declaração de lei marcial pelo presidente Yoon Suk-yeol, do Partido do Poder Popular, em 3 de dezembro de 2024, a Assembleia Nacional votou pelo seu impeachment em 14 de dezembro de 2024, com o apoio de 204 dos 300 legisladores, e assim afastou Yoon do cargo, que foi assumido interinamente pelo primeiro-ministro Han Duck-soo.[7] Menos de duas semanas depois, em 27 de dezembro, Han também foi afastado em outro processo de impeachment, iniciado após ele bloquear a indicação de três juízes para a Corte Constitucional da Coreia nomeados pela Assembleia Nacional, e se recusar a sancionar duas leis que nomeariam procuradores para investigar e processar Yoon e a primeira-dama Kim Keon-hee, levando o vice-primeiro-ministro e ministro da Economia e Finanças Choi Sang-mok à presidência interina.[8]
Ambos os processos de impeachment foram julgados em definitivo pela Corte Constitucional: em 24 de março de 2025, o tribunal rejeitou a destituição de Han por 5 votos a 1, restaurando-o ao cargo interino.[9] Por sua vez, o impeachment de Yoon foi deferido e confirmado no dia 4 de abril de 2025 por 8 votos a 0 em decisão unânime, deixando a presidência oficialmente vaga.[1][10][11] De acordo com a constituição do país, em caso de vacância presidencial, uma eleição deve ser realizada dentro de 60 dias para determinar o novo presidente.[11] Em 8 de abril, Han Duck-soo anunciou 3 de junho como a data da eleição.[12]
Em 1.º de maio, ambos Han e Choi renunciaram a seus cargos: Han renunciou à presidência interina e ao cargo de primeiro-ministro para tentar obter a nomeação do Partido do Poder Popular e concorrer a presidente,[13] e Choi renunciou minutos antes da votação de uma moção para seu impeachment, suspendendo os procedimentos e deixando a presidência interina com o ministro da Educação Lee Ju-ho.[14] No entanto, a primária do partido já estava em andamento sem a participação de Han, e resultou na escolha do ex-ministro do Emprego e Trabalho, Kim Moon-soo, como candidato. A liderança do partido chegou a anunciar o cancelamento da nomeação de Kim e sua substituição por Han,[15] mas após forte reação negativa, a manobra foi cancelada em poucas horas quando uma pesquisa entre os filiados apontou grande rejeição à troca, confirmando a candidatura de Kim.[16] Kim, ex-governador de Gyeonggi, havia sido um ativista de movimentos trabalhistas e estudantis marxistas radicais durante os períodos de autoritarismo militar do país, participando de protestos contra os governos ditatoriais e chegando a ser preso e torturado repetidas vezes nas décadas de 1970 e 1980.[17] Mesmo se tornando um político conservador após o colapso da União Soviética, sua candidatura foi vista como um desafio às elites do Partido do Poder Popular.[18] Ele se opôs aos impeachments de Park Geun-hye e Yoon Suk-yeol.[18][17]
Por sua vez, as primárias do Partido Democrático foram vencidas por Lee Jae-myung,[19] também ex-governador de Gyeonggi, conhecido por ter perdido a eleição de 2022 para Yoon Suk-yeol, ter pulado a cerca da Assembleia Nacional para votar a derrubada do decreto de lei marcial de Yoon, e por ter sobrevivido a um esfaqueamento em Busan em janeiro de 2024.[20] Ainda assim, ele teve sua elegibilidade contestada nos tribunais devido a processos por acusações de corrupção, recebimento de propina, um escândalo imobiliário e violações de leis eleitorais em pleitos anteriores, que ele alega não possuírem evidências e terem motivação política.[21] Em 1.º de maio de 2025, a Suprema Corte da Coreia anulou um veredito que havia o inocentado nas instâncias inferiores da acusação de ter conscientemente realizado declarações falsas durante um debate presidencial em 2022, e ordenou um novo julgamento.[21] No entanto, o Tribunal Superior de Seul adiou o novo julgamento para depois da eleição, que Lee venceu, e com a imunidade que ele possui enquanto ocupa a presidência, este só deverá ser retomado após o fim de seu mandato, em 2030.[20]
Sistema eleitoral
[editar | editar código-fonte]O presidente da Coreia do Sul é eleito por meio de um sistema de votação plural em turno único, para um mandato de cinco anos. O presidente em exercício e ex-presidentes não são elegíveis para concorrer.[3] Ao contrário das eleições presidenciais regularmente programadas, a posse do vencedor de uma eleição antecipada ocorre imediatamente após os resultados serem confirmados pela Comissão Eleitoral Nacional, sem um período de transição de dois meses, como é habitual.[22]
Pesquisas de opinião
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Resultados
[editar | editar código-fonte]Candidato | Partido / Coligação | Votos | % | |
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Lee Jae-myung | Partido Democrático da Coreia | 17 287 513 | 49,42 | |
Kim Moon-soo | Partido do Poder Popular | 14 395 639 | 41,15 | |
Lee Jun-seok | Partido da Reforma | 2 917 523 | 8,34 | |
Kwon Yeong-guk | Partido Democrático Trabalhista | 344 150 | 0,98 | |
Song Jin-ho | Independente | 35 791 | 0,1 | |
Total | 34 980 616 | 100 | ||
Votos válidos | 34 980 616 | 99.27 | ||
Votos inválidos/em branco | 255 881 | 0.73 | ||
Votos totais | 35 236 497 | 100 | ||
Eleitores registrados/Participação | 44 391 871 | 79.38 | ||
Fonte: [4] |
Reações
[editar | editar código-fonte]Em seu discurso de posse em 4 de junho, dia seguinte à eleição, Lee Jae-myung afirmou que a vitória pertence ao povo e agradeceu aos eleitores por demonstrarem sua vontade democrática em tempos de incerteza política. Lee se comprometeu a cumprir fielmente as responsabilidades confiadas a ele, expressou seu compromisso em construir "uma nação para os cidadãos comuns" e afirmou que o poder presidencial deve ser exercido não para ganho pessoal, mas apenas para o bem-estar do povo e o futuro do país.[23][24]
Kim Moon-soo admitiu a derrota e parabenizou Lee, afirmando que "A Coreia continuou a realizar grandes progressos com o poder do povo, independentemente das crises que enfrentou".[25]
Lee Jun-seok assumiu a responsabilidade pelo resultado abaixo do esperado do Partido da Reforma.[26]
Em uma declaração à Yonhap após a eleição, um oficial não nomeado da Casa Branca escreveu que "Enquanto a Coreia do Sul teve uma eleição livre e justa, os Estados Unidos permanecem preocupados e contrários à interferência e influência chinesa em democracias ao redor do mundo".[27][28]
Referências
- ↑ a b «Após impeachment, Presidente da Coreia do Sul é destituído do cargo». Agência Brasil. 5 de abril de 2025. Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Choe Sang-Hun, John Yoon, Yan Zhuang e Jin Yu Young (4 de abril de 2025). «Jubilation in South Korea After President Who Declared Martial Law Is Ousted». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 7 de abril de 2025
- ↑ a b «Republic of Korea: Election for President». IFES. Cópia arquivada em 21 de janeiro de 2025
- ↑ a b «개표진행상황» [Progresso da contagem]. Comissão Eleitoral Nacional (em coreano). Consultado em 3 de junho de 2025
- ↑ Omena, Matheus. «Lee Jae-myung, da oposição, é eleito presidente da Coreia do Sul após meses de caos na lei marcial». Exame. Consultado em 3 de junho de 2025
- ↑ Barini, Filipe (3 de junho de 2025). «Eleito presidente, Lee Jae-myung herda Coreia do Sul polarizada e com questões urgentes a resolver». O Globo. Consultado em 3 de junho de 2025
- ↑ Rashid, Raphael; McCurry, Justin (14 de dezembro de 2024). «South Korean parliament votes to impeach president». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 14 de dezembro de 2024. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2024
- ↑ «Parlamento da Coreia do Sul aprova impeachment do presidente interino Han Duck-soo». BBC News Brasil. 27 de dezembro de 2024. Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Haye-ah, Lee (24 de março de 2025). «Constitutional Court dismisses impeachment of Prime Minister Han | Yonhap News Agency». Yonhap News Agency (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Yoonjung Seo, Gawon Bae, Mike Valerio e Jessie Yeung (4 de abril de 2025). «South Korea's impeached president is removed from office, four months after declaring martial law». CNN (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ a b «Yoon Suk Yeol: Cheers and boos as SK president's impeachment upheld by court». BBC (em inglês). 4 de abril de 2025. Consultado em 7 de abril de 2025
- ↑ «South Korea to hold presidential election on 3 June after impeachment turmoil». BBC (em inglês). 8 de abril de 2025. Consultado em 3 de junho de 2025
- ↑ Burke, Kieran (1 de maio de 2025). «South Korea's acting President Han Duck-soo resigns». Deutsche Welle (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Jung Min-hee (2 de maio de 2025). «Choi Sang-mok Resigns as Deputy Prime Minister Amid Impeachment Threat». Businesskorea (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ «PPP to remove Kim Moon-soo as presidential candidate, replace him with Han Duck-soo». Korea JoongAng Daily (em inglês). 10 de maio de 2025. Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Kim, Jack; Yang, Heekyong (10 de maio de 2025). «South Korea's conservatives settle on Kim Moon-soo after nomination turmoil exposes rifts». Reuters (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ a b Cho Jung-woo (16 de maio de 2025). «From tortured leftist to right-wing hopeful: The reinvention of Kim Moon-soo». Korea JoongAng Daily (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ a b Hanjin Lew (15 de maio de 2025). «PPP's accidental candidate: born-poor leftist turned conservative». Asia Times (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ «민주당 대선후보 이재명 "압도적 정권 탈환 통해 구시대 청산"» [Candidato presidencial do Partido Democrático, Lee Jae-myung: “Eliminar a velha era por meio da retomada esmagadora do poder”]. Dong-a Ilbo (em coreano). 27 de abril de 2025. Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ a b «Novo presidente da Coreia do Sul sobreviveu a ataque a faca e processos; quem é Lee Jae-myung». Estadão. 3 de junho de 2025. Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ a b Jessie Yeung, Yoonjung Seo e Gawon Bae (4 de junho de 2025). «He survived an assassination attempt. Now South Korea's new president has to lead a divided nation and tread cautiously with Trump». CNN (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Yonhap (4 de abril de 2025). «Acting president discusses snap election process with NEC chief». The Korea Herald (em inglês). Consultado em 7 de abril de 2025
- ↑ Yim, Hyunsu; Park, Ju-min (4 de junho de 2025). «South Korea's new President Lee vows to revive democracy from 'near demise'». Reuters (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ «Lee Jae-myung assume a Presidência da Coreia do Sul logo após vitória eleitoral». SIC Notícias. 4 de junho de 2025. Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Kim, Sarah (4 de junho de 2025). «PPP's Kim Moon-soo concedes in presidential election». Korea JoongAng Daily (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Yi Wonju (3 de junho de 2025). «Minor party's Lee says takes responsibility as exit polls fall short of expectations». Yonhap. Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Song Sang-ho (4 de junho de 2025). «White House affirms 'ironclad' alliance after Lee's win». Yonhap News Agency (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025
- ↑ Mason, Jeff; Brunnstrom, David (4 de junho de 2025). «White House calls South Korea election 'fair,' expresses concern about Chinese influence». Reuters (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2025