Eliana Zugaib

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Eliana Zugaib
Eliana Zugaib
Zugaib em sabatina para
embaixada irlandesa (2017)
Encarregada de negócios do Brasil nos
 Emirados Árabes Unidos
Período novembro de 2022
até novembro de 2023
Dados pessoais
Nascimento 10 de agosto de 1951
Marília, São Paulo
Nacionalidade  Brasil
Prêmio(s)

Eliana Zugaib (Marília, 10 de agosto de 1951) é uma diplomata brasileira. Foi representante do Brasil na UNESCO entre 2011 e 2014, embaixadora do Brasil junto à República da Irlanda de 2017 a 2021 e desempenhou a função de encarregada de negócios do Brasil nos Emirados Árabes Unidos por um ano até novembro de 2023.

Considerando a grande presença de pessoas do sexo masculino na carreira diplomática, Elaine Zugaib se destaca por ser uma das poucas mulheres que alcançaram o mais alto grau da carreira, conforme apontou pesquisa publicada em 2018 pela socióloga brasileira Karla Gobo, doutora em sociologia pela UNICAMP[1], sendo apontada pela Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras (AMDB) como uma das mulheres que marcaram a história da diplomacia brasileira.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Nasceu na cidade de Marília, São Paulo, filha de Bechara Zugaib e Vera Yazbek Zugaib.[3]

Formação Acadêmica[editar | editar código-fonte]

Em 1973, graduou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.[4][5]

Carreira Diplomática[editar | editar código-fonte]

Ingressou na carreira diplomática em 1982, no cargo de Terceira Secretária, após ter concluído o Curso de Preparação à Carreira de Diplomata do Instituto Rio Branco.[3][4]

Foi inicialmente lotada na Divisão de Energia e Recursos Minerais. Em 1986, passou a trabalhar no gabinete do Ministro de Estado, na função de assessora. Em 1987, foi promovida a segunda-secretária. No ano de 1988, foi removida para a Embaixada do Brasil em Paris, onde permaneceu até 1991, quando foi removida para a Embaixada do Brasil em Praga. Em seu segundo posto no exterior, chegou a assumir, em 1993, a função de encarregada de negócios.[3][4]

No ano de 1995, regressou ao Brasil, a fim de assumir o cargo de assessora no Departamento de Europa. Foi, ainda, promovida a primeira-secretária. Em 1996, foi igualmente assessoria no Departamento de Temas Especiais. Mudou-se para Londres em 1998, onde trabalhou na Embaixada do Brasil junto ao Reino Unido.[5]

Ao regressar ao Brasil, no ano de 2001, passou a exercer a função de subchefe da Assessoria de Comunicação Social. Em 2002, foi designada assessora do ministro de Estado das Relações Exteriores e promovida a conselheira.[5]

No ano de 2003, foi transferida para a Embaixada do Brasil em Buenos Aires, onde exerceu a função de conselheira até 2006, quando retornou ao Brasil para ocupar o cargo de chefe da Coordenação de Divulgação do Itamaraty. Defendeu, em 2005, tese no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, intitulada “A Hidrovia Paraguai-Paraná e seu Significado para a Diplomacia Sul-Americana do Brasil"”, um dos requisitos necessários para a ascensão funcional na carreira diplomática. Foi aprovada com louvor. Em 2006, foi promovida a ministra de Segunda Classe. Já no ano de 2008, assumiu o cargo de Diretora do Departamento Cultural.[3]

Em 2011, foi promovida a ministra de Primeira Classe, além de ter sido convidada a assumir o cargo de chefe de Gabinete do secretário-geral das Relações Exteriores, função que ocupou até 2014. Foi, em seguida, nomeada representante da Delegação Permanente do Brasil junto à UNESCO.[3]

Na condição de representante do Brasil na UNESCO, entre diversas ações desenvolvidas, Zugaib foi a responsável pela defesa da candidatura do Conjunto Moderno da Pampulha, situado em Belo Horizonte (Minas Gerais), como Patrimônio Mundial da Humanidade, conforme reportagem do Valor Econômico.[6]

Em 2017, foi designada embaixadora do Brasil junto à República da Irlanda, cargo que ocupou até 2021[7], quando retornou ao Brasil para assessorar a senadora Kátia Abreu na Presidência da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, cargo que manteve até março de 2022.[8]

A partir de Novembro de 2022, Eliana Zugaib foi designada para atuar como encarregada de negócios do Brasil nos Emirados Árabes Unidos,[9][10] atuando como embaixadora de facto durante a transição de embaixadores efetivos, ficando à posto até novembro do ano seguinte, quando Sidney Leon Romeiro assumiu efetivamente a embaixada do Brasil em Abu Dhabi.[11][12]

Contribuição nas Relações Internacionais[editar | editar código-fonte]

A diplomata Zugaib é também uma teórica da área das relações internacionais com obras que são referências no campo da diplomacia do Brasil na América do Sul com destaque para o seu livro "A Hidrovia Paraguai-Paraná", publicado em 2007 pela Fundação Alexandre de Gusmão e que tem a pretensão de expor a importância geopolítica da Hidrovia Paraguai-Paraná (HPP) para a diplomacia brasileira no que se refere à integração física do país com o resto da América do Sul.[13]

Trata-se de um livro que aborda um tópico da história recente das relações internacionais no Cone Sul no qual há um diálogo com as ideias de teóricos como Amado Cervo, Pandiá Calógeras e Luiz Alberto Moniz Bandeira.[13]

A obra "A Hidrovia Paraguai-Paraná" apresenta um estudo do direito da integração colocando em destaque o componente ambiental que, a despeito da ênfase estar na navegabilidade da Bacia do Prata[13], constitui uma questão ainda pouco priorizada pelo referido ramo do direito que também é um dos campos das relações internacionais, visto que o direito da integração tende a dar precedência para as questões relacionadas com o comércio internacional e assuntos aduaneiros.

Este livro tem sido uma referência para estudiosos de distintos campos das relações internacionais do Brasil como Pilar Carolina Villar, jurista brasileira especializada em direito internacional do meio ambiente, professora doutora de direito da UNIFESP, e Fernanda Mello Sant'Anna, professora doutora de relações internacionais na UNESP, que citam Zugaib em um artigo científico publicado na revista espanhola "America Latina Hoy"[14]; como Fernando Seabra, professor doutor de economia internacional na UFSC, em trabalho em coautoria apresentado em evento científico de relações internacionais[15]; como Fernando Raphael Ferro de Lima, doutor em geografia pela UFPR, em artigo científico sobre o processo de ocupação da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai[16]; e também de historiadores como Luiz Eduardo Pinto Barros, doutor em história pela UNESP em artigo científico publicado sobre diplomacia na Bacia do Prata durante as décadas de 1960 e 1970.[17]

A referida obra também tem influenciado trabalhos no exterior, com destaque para o cientista político uruguaio Gerardo Caetano que afirma em seu texto acadêmico "Notas sobre un desafio integracionista: cuentas pendientes y reformas institucionales a propósito del manejo integrado de la cuenca del río de la Plata" que:

Una posición similar fue manejada por Eliana Zugaib, estableciendo que un acuerdo en verdad profundo y consistente no resultaba entonces viable, en función de la diversidad de visiones de los dos grandes en relación a las mejores formas de manejar los principales asuntos involucrados en la gestión de la Cuenca (navegación, trasporte en general, corredores de ejes de exportación y el diseño de sus ejes, aprovechamiento hidroeléctrico, respeto al medio ambiente, complementación productiva, etc.). Su hipótesis central era la de que la iniciativa de revalorización de la Cuenca del Plata y de la Hidrovía, por cierto anterior al Mercosur, debía ser fundada desde la visión brasileña, más que en un acercamiento bilateral a la Argentina, en una reformulación de su perspectiva de análisis sobre Sudamérica como factor central de su política exterior. Más aún, Zugaib no vacilaba en señalar que “la integración de América del Sur (era) la condición esencial para la sustentabilidad de la Cuenca del Río de la Plata”.[18]
— Gerardo Caetano

Condecorações[3][editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. GOBO, Karla (2018). «Da Exclusão à Inclusão Consentida: negros e mulheres na diplomacia brasileira» (PDF). Política & Sociedade. doi:10.5007/2175-7984.2018v17n38p440. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  2. «Mulheres que marcaram história na Diplomacia Brasileira». Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras (AMDB). Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  3. a b c d e f Nunes Ferreira, Aloysio (3 de abril de 2017). «Mensagem nº 17, em que submete à apreciação do Senado Federal, de conformidade com o art. 52, inciso IV, da Constituição Federal, e com o art. 39 da Lei nº 11.440, de 29 de dezembro de 2006, o nome da Senhora Eliana Zugaib, Ministra de Primeira Classe da Carreira de Diplomata do Ministério das Relações Exteriores, para exercer o cargo de Embaixadora do Brasil junto à República da Irlanda.». Senado Federal. Consultado em 25 de abril de 2020 
  4. a b c «Mariliense é indicada para embaixada na Irlanda». Marília Notícia. 9 de maio de 2017. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  5. a b c Agripino, José (26 de abril de 2017). «Relatório Legislativo». Senado Federal. Consultado em 25 de abril de 2020 
  6. «Por segurança, comitiva brasileira deixará Turquia antes do planejado». Valor Econômico. 16 de julho de 2016. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  7. 83ª Sessão Deliberativa, Plenário (8 de junho de 2017). «Aprovação da indicação da senhora Eliana Zugaib para exercer o cargo de Embaixadora do Brasil Junto à República da Irlanda». Senado Federal. Consultado em 25 de abril de 2020 
  8. «DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO - Seção 2 | Nº 55, terça-feira, 22 de março de 2022». Imprensa Nacional. 22 de março de 2022. p. 52. Consultado em 19 de janeiro de 2024 
  9. «Brasil se destaca na IDEX com tecnologias avançadas e soluções inovadoras, diz embaixadora». Defesa Aérea e Naval. 22 de fevereiro de 2023. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  10. «DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO - Seção 2 | Nº 217, sexta-feira, 18 de novembro de 2022». Imprensa Nacional. 18 de novembro de 2022. p. 41. Consultado em 19 de janeiro de 2024 
  11. «Mensagem (SF) n° 30, de 2023». Senado Federal. Consultado em 19 de janeiro de 2024 
  12. «DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO - Seção 2 | Nº 222, quinta-feira, 23 de novembro de 2023». Imprensa Nacional. 23 de novembro de 2023. p. 49. Consultado em 19 de janeiro de 2024 
  13. a b c Zugaib, Eliana (2007). «A Hidrovia Paraguai-Paraná». Fundação Alexandre de Gusmão. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  14. MELLO SANT’ANNA, Fernanda; VILLAR, Pilar Carolina (2015). «GOBERNANZA DE LAS AGUAS TRANSFRONTERIZAS: FRAGILIDADES INSTITUCIONALES EN AMÉRICA DEL SUR» (PDF). America Latina Hoy. Universidade de Salamanca. doi:10.14201/alh2015695374. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  15. SEABRA, Fernando; VAZ, Gabriella Sommer; BERLANDA, Larissa Steinhorst (2013). «Integração Regional: O papel estratégico da Hidrovia Paraná-Paraguai no desenvolvimento socioeconômico e político da região» (PDF). Anais do 4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais. Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI). Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  16. LIMA, Fernando Raphael Ferro de (2015). «REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA TRÍPLICE FRONTEIRA – BRASIL, ARGENTINA E PARAGUAI». Revista de Geografia (UFPE). UFPE. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  17. BARROS, Luiz Eduardo Pinto (2021). «Preocupações ambientais? A Argentina e suas ações no contexto do projeto hidro energético de Itaipu entre o Brasil e o Paraguai (1966-1979)». Em Tempo de Histórias. Universidade de Brasília. doi:10.26512/emtempos.v1i38.37048. Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  18. CAETANO, Gerardo (2013). «Notas sobre un desafio integracionista: cuentas pendientes y reformas institucionales a propósito del manejo integrado de la cuenca del río de la Plata» (PDF). Perspectivas para la integración de América Latina. IPEA. doi:10.26512/emtempos.v1i38.37048. Consultado em 18 de janeiro de 2024 

Postos diplomáticos
Precedido por
Afonso José Sena Cardoso
Embaixador do Brasil na Irlanda
2017 — 2020
Sucedido por
Marcel Fortuna Biato