Eliezer Batista

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Eliezer Batista
Eliezer Batista
Nome completo Eliezer Batista da Silva
Nascimento 4 de maio de 1924
Nova Era, MG
Morte 18 de junho de 2018 (94 anos)
Rio de Janeiro, RJ
Nacionalidade brasileiro
Filho(a)(s) Eike Batista
Alma mater Universidade Federal do Paraná
Ocupação Empresário

Eliezer Batista da Silva (Nova Era, 4 de maio de 1924Rio de Janeiro, 18 de junho de 2018) foi um engenheiro brasileiro, que se notabilizou na presidência da Companhia Vale do Rio Doce, que exerceu por duas vezes, e por sua atuação no Projeto Grande Carajás, a primeira iniciativa de exploração das riquezas da província mineral dos Carajás, abrangendo áreas do Pará até o Xingú, Goiás e Maranhão. É filho de José Batista da Silva e de Maria da Natividade Pereira, e pai do empresário Eike Batista que, em 2012, chegou a ser o sétimo homem mais rico do mundo.[1]

Diplomou-se pela Escola de Engenharia da Universidade do Paraná, em 1948.[2] Engenheiro ferroviário, em 1949 foi contratado pela Vale — então uma empresa inexpressiva — e tornou-se seu primeiro presidente oriundo dos quadros da empresa, tendo assumido sua presidência em 1961. Coube a Eliezer Batista transformar a mineradora em uma das maiores companhias do planeta, presidindo-a de 1961 a 1964 e de 1979 a 1986.[3]

Poliglota autodidata, aprendeu sozinho russo, inglês, alemão, francês, italiano e espanhol, e adquiriu noções básicas de grego.[4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

É formado pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Paraná em Engenharia Civil, onde se graduou em 1948. No ano seguinte passou a trabalhar na Companhia Vale do Rio Doce, inicialmente como engenheiro ferroviário, galgando vários postos ao longo de sua carreira, até ser nomeado seu presidente por Jânio Quadros (em seu último ato oficial antes da renúncia), cargo que assumiu em 1961.

Percebendo a necessidade dos japoneses de expandir seu parque siderúrgico, grandemente danificado pela Segunda Guerra Mundial, criou o conceito, então inédito, de "distância econômica", o que permitiu à Vale entregar minério de ferro, através do Porto de Tubarão, ao Japão - antípoda do Brasil - a preços competitivos com o das minas da Austrália, sua vizinha.

Isso lhe valeu a fama de "engenheiro ferroviário que ligou a Vale ao resto do mundo", e lhe rendeu a mais alta condecoração do Japão, por ter causado uma verdadeira 'revolução' no sistema de transporte marítimo-ferroviário de granais sólidos e líquidos mundial.[5] Em 1962, graças ao conceito de "distância econômica", foram assinados contratos de exportação, válidos por 15 anos, com 11 siderúrgicas japonesas, num total de cinco milhões de toneladas/ano - o que representava mais do dobro da até então produção da Vale, que era de 2 milhões de toneladas/ano.

Foi ministro das Minas e Energia do gabinete Hermes Lima (1962–1963) no governo do presidente João Goulart (1961–1964).[7] Neste período foi a mola propulsora do projeto do Porto de Tubarão, capitaneando sua construção, no que contou com o apoio irrestrito de San Tiago Dantas, então ministro da Fazenda.[8]

Ainda como ministro de João Goulart, exerceu o cargo de presidente do Conselho Nacional de Minas e Energia e da Comissão de Exportação de Materiais Estratégicos. Com a deposição de João Goulart, pelo golpe militar de março de 1964 foi sumariamente demitido da presidência da Vale e acusado, por alguns grupos militares, de ser "comunista", e esteve ameaçado de ser preso; salvou-o o Presidente Castelo Branco,[4] que entretanto "aconselhou" que ele deveria ser presidente da Caemi, uma mineradora privada: "Era Caemi, ou cadeia. Não foi difícil escolher".[4]

No ano de 1967, fundou a Aracruz Florestal, uma empresa de produtos florestais cuja origem e história são exploradas na entrevista de Eliezer concedida ao Museu da Pessoa[9]. Sua localização em Aracruz foi escolhida devido à proximidade com a costa e à possibilidade de transporte mais econômico. A empresa adquiriu um terreno e começou a crescer significativamente. Durante esse período, o entrevistado passou algum tempo na Europa, mas retornou ao Brasil em 1967, quando Erlin Lorentzen entrou na Aracruz Florestal e transformou-a em Aracruz Celulose, em 1972.

A Aracruz é um projeto modelo em 360 graus, porque não se descuidou de nenhum aspecto importante; desde do lado ético, do lado tecnológico. Ele é um projeto completo, ideal e modelo.
— Eliezer Batista

 Em entrevista ao projeto Memória Aracruz, do Museu da Pessoa

Exerceu, entre 1964 e 1968 os cargos de diretor-presidente da Minerações Brasileiras Reunidas S.A. (Rio de Janeiro) - resultado da fusão da Caemi com a Bethlehem Steel - e, logo em seguida, o de vice-presidente da Itabira International Company (Nova Iorque). Ainda em 1968, assumiu a diretoria da Itabira Eisenerz GmbH, em Düsseldorf, Alemanha Ocidental, posto no qual permaneceu até 1974. Quando da fundação da Rio Doce Internacional S.A., subsidiária da Vale em Bruxelas, tornou-se seu presidente.

A convite do presidente general João Figueiredo voltou a ocupar a presidência da Companhia Vale do Rio Doce, em 1979, cargo que exerceu até 1986. Após este mandato, retornou à Rio Doce Internacional.

Como presidente da Vale pela segunda vez, foi o responsável pelo Projeto Grande Carajás, oficialmente conhecido por Programa Grande Carajás (PGC), que passou a explorar as riquezas da província mineral dos Carajás - abrangendo uma área de 900.000 km², cortada pelos rios Xingu, Tocantins e Araguaia, e engloba terras do sudoeste do Pará, norte de Tocantins e oeste do Maranhão [10]

Em 1990 recusou um convite para fazer parte da equipe ministerial de Fernando Collor de Mello (1990-1992). Entretanto, em 1992 assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), onde direcionou a atuação da Secretaria para os problemas ligados ao desenvolvimento econômico do país, especialmente a crise do setor elétrico. Deixou este cargo ainda em 1992, no início do processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.

Em 1997 tornou-se um dos fundadores do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentado (CEBDS) deixando neste ano a Rio Doce Internacional e assumindo uma cadeira no Conselho Coordenador de Ações Federais do Rio de Janeiro, da Federação das Indústrias do estado (Firjan). No segundo governo de Fernando Henrique Cardoso (1998-2002), foi membro do Conselho Coordenador das Ações Federais no Rio de Janeiro, órgão ligado à presidência da República.

Casou-se com uma alemã natural de Hamburgo, Jutta Fuhrken, e desse casamento nasceram 7 filhos, dentre eles Eike Batista. Em 2009, já viúvo de Jutta, casou-se com a dentista, professora e ex-reitora da Universidade Federal de Pelotas, situada no estado do Rio Grande do Sul, Inguelore Scheunemann, com quem esteve unido até seu falecimento. [11]

Relação com Eike[editar | editar código-fonte]

Eliezer foi acusado de ter entregado a Eike um mapa com as minas que a Vale descartara, para que o filho as explorasse.[12] Especulação que nunca seria provada. Eike sempre rejeitou veementemente qualquer insinuação a esse respeito, argumentando que, em toda a sua carreira, o pai nunca permitira que ele se aproximasse da Vale.[13]

Eike Batista, contudo, se beneficiou da enorme rede de influência do pai. Por sugestão de Eliezer[14], Eike Batista e o filho de Dias Leite, ex-ministro de Minas e Energia, se associaram em 1982, e fundaram a Companhia de Minerações e Participações, a CMP. Eliezer indicou John Aoki, empresário japonês que tinha negócios com a Vale, para financiar a empresa.[15]

Eliezer ajudou Eike Batista nos contatos com o mundo político, conseguindo marcar reuniões com governadores para o filho apresentar projetos da empresa.[16]

Prêmios e honrarias[editar | editar código-fonte]

Em 1985 foi agraciado com o Prêmio Eminente Engenheiro do Ano.

Por ter desenvolvido o conceito de distância econômica para o transporte de granéis sólidos e líquidos - o que foi considerado como uma verdadeira abertura dos portos do Japão, já que tornou econômico o transporte de minério de ferro, uma mercadoria do mais baixo valor, na maior distância do globo - e ter concebido e construído o Porto de Tubarão,[5] foi agraciado com a condecoração da Ordem do Sol Nascente, segunda maior honraria concedida pelo governo japonês, que lhe foi entregue pessoalmente pelo imperador Hirohito

Recebeu o título de honoris causa da Academia Russa de Ciências. Foi professor catedrático da Escola Politécnica do Espírito Santo.

Documentário: Eliezer, o Engenheiro do Brasil[editar | editar código-fonte]

Em novembro de 2009 foi lançado um documentário denominado Eliezer, o Engenheiro do Brasil, dirigido pelo cineasta Victor Lopes baseado no livro Conversas com Eliezer de Luiz Cesar Faro, Claudio Fernandez e Carlos Pousa, tendo este último como produtor, ao lado da TV Zero. Editado pela Insight Engenharia de Comunicação em 2005, o livro Conversas com Eliezer conta a história de Eliezer Batista a partir de 80 horas de depoimentos do próprio.[17]

Eliezer Batista: o Engenheiro do Brasil é um filme que relata a trajetória daquele que ajudou a Companhia Vale do Rio Doce – hoje simplesmente Vale – a transformar-se numa multinacional. Eliezer trabalhou com quatro presidentes — João Goulart, João Figueiredo, Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor — e chegou a ser considerado comunista pelo regime militar, "entreguista" quando trabalhou na empresa privada Caemi, e foi o principal conselheiro do filho Eike.

Referências

  1. «Eike é o 7º mais rico do mundo, segundo a "Forbes"; veja». Uol 
  2. Biografias: Eliezer Batista Arquivado em 27 de setembro de 2007, no Wayback Machine.. Fundação Getúlio Vargas, CPDOC.
  3. Eliezer Batista: o engenheiro da nação brasileira: Um exemplo para administradores e políticos em todo o mundo.[ligação inativa] Webartigos.
  4. a b c FARO, Luís César; POUSA, Carlos; FERNANDEZ, Cláudio (2005), Conversas com Eliezer (distribuição dirigida), Insight .
  5. a b A revitalização das relações Brasil-Japão. Brasília. Embaixada do Japão. Arquivado em 29 de setembro de 2007, no Wayback Machine. Descrição da importância tecnológica do sistema do Porto de Tubarão
  6. FARO, Luiz Cesar, POUSA, Carlos e FERNANDEZ, Claudio. Apanhado de entrevistas com Eliezer Batista. Patrocínio Cia. Vale do Rio Doce e Sepetiba Tecon - Tiragem dirigida, 2005[ligação inativa]
  7. «Ministérios». Biblioteca. Consultado em 22 de novembro de 2020 
  8. Patrocínio Cia. Vale do Rio Doce e Sepetiba Tecon; FARO, Luiz Cesar, POUSA, Carlos e FERNANDEZ, Claudio (2005). «Apanhado de entrevistas com Eliezer Batista»  [ligação inativa]
  9. «Empresa de padrão mundial». Museu da Pessoa. 2 de dezembro de 2003. Consultado em 29 de maio de 2023 
  10. «TASSINARI, Colombo Celso Gaeta, MELLITO, Kátia Maria Mellito and BABINSKY, Marly. Age and origin of the Cu (Au-Mo-Ag) Salobo 3A ore deposit, Carajás Mineral Province, Amazonian Craton, northern Brazil. São Paulo: Centro de Pesquisas Geocronógicas, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, março de 2003» (PDF). Consultado em 20 de agosto de 2008. Arquivado do original (PDF) em 14 de julho de 2014 
  11. Eliezer Batista - Cinco vidas em uma: a história de um dos maiores empresários da história do Brasil Revista Trip, visto em 19/04/2014.
  12. «Ascensão e queda | Observatório da Imprensa – Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito». Observatório da Imprensa. Consultado em 27 de julho de 2015 
  13. http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=6&cid=233884
  14. Tudo ou Nada: Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X. [S.l.]: Record. 2014. p. 30. ISBN 978-85-0109-932-7  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  15. Tudo ou Nada: Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X. [S.l.]: Record. 2014. p. 31. ISBN 978-85-0109-932-7  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  16. Tudo ou Nada: Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X. [S.l.]: Record. 2014. p. 39. ISBN 978-85-0109-932-7  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  17. «ALMEIDA, Rodrigo de. Documentário retrata Eliezer Batista como construtor do Brasil Grande. iG, Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2009». Consultado em 4 de dezembro de 2009. Arquivado do original em 28 de novembro de 2009 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


Precedido por
João Mangabeira
Ministro de Minas e Energia do Brasil
1962
Sucedido por
Antônio Ferreira de Oliveira Brito