Enchentes no Brasil em 1979

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Enchentes no Brasil em 1979
Enchentes no Brasil em 1979
A cidade de Aimorés, Minas Gerais, inundada pelas águas do rio Doce durante as enchentes de 1979 (Revista Manchete, 24 de fevereiro de 1979).
Duração janeiro e fevereiro de 1979
Danos Estradas, pontes e muros destruídos;
Paralisação da EFVM e consequente bloqueio do escoamento da produção de minério de ferro;
Enchentes de rios, inundações, quedas de barreiras
Vítimas 74 (MG e ES)[1]
Áreas afetadas  Espírito Santo,  Minas Gerais e Bahia Bahia

As enchentes no Brasil em 1979 foram uma série de fenômenos que ocorreram, com maior destaque, nos estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo.

Em Minas e Espírito Santo, as enchentes após fortes chuvas atingirem os estados entre janeiro e fevereiro daquele ano. Foi o maior desastre natural já registrado na região, tendo um total de 47 776 desabrigados, 74 vítimas fatais e 4 424 residências atingidas.[1] Foram inundados 36 km de trechos da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), com tráfego de trens paralisado durante duas semanas e posterior interrupção da extração do minério de ferro, e rodovias como a BR-101 precisaram ser interditadas. Houve grande repercussão mundial.[1]

A sobrecarga do rio São Francisco também trouxe, naquele ano, enchentes em Minas Gerais e na Bahia. Neste último estado, o principal fenômeno também esteve relacionado com a sobrecarga da barragem de Sobradinho. Por consequência, vários municípios ribeirinhos do rio São Francisco foram inundados.

Chuvas[editar | editar código-fonte]

As enchentes foram causadas pelo grande acumulado de chuva entre janeiro e fevereiro do ano de 1979 no Espírito Santo e em toda a porção leste do estado de Minas Gerais, durante 35 dias seguidos de chuvas intensas e contínuas.[2] No dia 26 de janeiro, o acumulado foi de 100,8 mm em Bom Jesus do Galho,[3] 128 mm em Nova Era,[4] 109 mm em Dom Cavati[5] e 114 mm em Colatina.[6] Em 30 de janeiro, foram acumulados 132,1 mm em Aimorés[7] e 164 mm no município de Ipanema, onde também choveram 216,4 mm no dia 26 e o acumulado mensal de janeiro foi de 722,2 mm.[8] Em Itaguaçu o acumulado foi de 104 mm no dia 19 de janeiro e 127 mm em 31 de janeiro.[9] Em 1º de fevereiro, foram 81,6 mm em Ipanema[10] e 131,2 mm no município de Timóteo.[11] Em 2 de fevereiro, choveram 161,2 mm em Belo Oriente,[12] 117,4 mm em Dom Cavati[13] e 108 mm em Ferros.[14] Na capital mineira, Belo Horizonte, o acumulado de chuva entre janeiro e fevereiro chegou aos 1 239,8 mm.[15]

Impactos[editar | editar código-fonte]

Colatina, no Espírito Santo, inundada pelo rio Doce durante as enchentes de 1979 (Revista Manchete, 24 de fevereiro de 1979).

As cidades de Linhares, Colatina, Aimorés, Conselheiro Pena e Governador Valadares foram as mais atingidas às margens do rio Doce, além de Rio Piracicaba, Nova Era, Timóteo e Coronel Fabriciano, no rio Piracicaba; Caratinga, no rio Caratinga e córrego São João; Manhuaçu, no rio Manhuaçu; Ferros, no rio Santo Antônio; Mariana, no rio do Carmo; Frei Inocêncio, no rio Suaçuí Grande; e Itaguaçu, no rio Santa Joana.[1] Ao menos 37 cidades ficaram ilhadas.[2] Em Ipatinga, no Vale do Aço, os estragos atingiram proporções de tragédia: foram contabilizados cerca de 10 mil desabrigados e 42 mortos, a maioria soterrada por grande queda de encosta ocorrida em uma região do bairro Esperança denominada Grota do IAPI. Municípios como Tumiritinga, Galileia, Itueta, Resplendor, Antônio Dias, Baixo Guandu, Ponte Nova e Santana do Manhuaçu também foram afetados.[16]

Após as enchentes, uma série de estações pluviométricas e fluviométricas foi instalada em diversos municípios visando a alertar a população de uma possível enchente, tendo o sistema administrado pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).[17] Em 6 de abril de 1979, foi realizado no Estádio do Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro, um jogo de futebol amistoso entre o Atlético Mineiro e o Flamengo a fim de arrecadar dinheiro para as vítimas das enchentes. A partida foi vencida pelo time carioca, que teve participação especial de Pelé, por 5 a 1.[18][19]

Com a cheia do rio São Francisco, vários municípios mineiros e baianos foram inundados. Foram registrados casos em municípios como Pirapora, Montes Claros, Januária, São Romão,[20] Malhada, Paratinga[21] e Xique-Xique.[22]

Sucedentes[editar | editar código-fonte]

Em janeiro de 1997, novas enchentes de grandes proporções atingiram diversas cidades situadas entre Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, após chuvas contínuas. Nos três estados, registraram-se 82 mortes, 11 750 casas foram danificadas e outras 1 857 ficaram destruídas, afetando 175 municípios.[23] Em Governador Valadares grande parte da cidade foi inundada pelo rio Doce, sendo então a segunda pior enchente da história da cidade (perdendo para a de 1979) e em 2012 ocorreu a terceira pior, quando o rio atingiu quatro metros e treze centímetros acima do nível normal no dia 6 de janeiro daquele ano.[24]

Os danos causados pelas enchentes de 2013, no entanto, são comparáveis aos de 1979, tendo deixado mais de 40 mortos e 50 mil pessoas fora de suas casas. Mais de cem municípios nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo foram afetados, sendo decretado estado de emergência em todo o Espírito Santo.[25][26] Em cidades como Barra de São Francisco e Rio Bananal os estragos de 2013 foram superiores aos da década de 70.[27]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Castilho, Alice Silva (novembro de 2011). «Avaliação preliminar da viabilidade do uso de reservatórios previstos para geração de energia elétrica para minimização dos efeitos de cheias na bacia do rio Doce» (PDF). Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRHidro). XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos: 5. Consultado em 27 de dezembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 28 de dezembro de 2013 
  2. a b Folha de S. Paulo (17 de janeiro de 2003). «Pior enchente de Minas Gerais foi em 79». Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2013 
  3. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 01/1979 (Estação Bom Jesus do Galho)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 9 de fevereiro de 2010. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  4. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 01/1979 (Estação Nova Era)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  5. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 01/1979 (Estação Dom Cavati)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  6. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 01/1979 (Estação Serraria)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  7. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 01/1979 (Estação São Sebastião da Encruzilhada)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 9 de fevereiro de 2010. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  8. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 01/1979 (Estação Ipanema)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 9 de fevereiro de 2010. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  9. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 01/1979 (Estação Itaguaçu)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 9 de fevereiro de 2010. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2013 
  10. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 02/1979 (Estação Ipanema)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 9 de fevereiro de 2010. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  11. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 02/1979 (Estação Acesita)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 9 de fevereiro de 2010. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  12. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 02/1979 (Estação Cachoeira Escura)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 9 de fevereiro de 2010. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  13. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 02/1979 (Estação Dom Cavati)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  14. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Diárias – 02/1979 (Estação Ferros)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  15. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). «Chuvas - Médias Mensais – 1979 (Estação Caixa de Areia)». Agência Nacional de Águas (ANA). Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2013 
  16. Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (19 de abril de 2005). «Diagnóstico dos desastres relacionados a chuvas intensas». Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 2 de novembro de 2013 
  17. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) (12 de abril de 2009). «Relatório técnico da operação do sistema de alerta - período de dezembro de 2008 a abril de 2009» (PDF). p. 1; 5–7. Consultado em 27 de dezembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 12 de outubro de 2013 
  18. Placar (3 de abril de 2013). «Fotos: Pelé vestia a camisa do Flamengo há 34 anos». Consultado em 27 de agosto de 2014. Arquivado do original em 27 de agosto de 2014 
  19. Jovem Pan (6 de abril de 2013). «Memória do Plantão relembra o dia em que Pelé vestiu a camisa do Flamengo». Consultado em 27 de agosto de 2014. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2014 
  20. «Enchentes assolam o Brasil». Despertai!. Consultado em 1 de março de 2020 
  21. ABREU, Tiago (2019). Histórias de Paratinga. Goiânia: Cânone Editorial. p. 56. ISBN 9788580581126 
  22. Valedeci Teles de Souza. «A enchente desabriga o povo» (PDF). Irecê. Consultado em 1 de março de 2020 
  23. G1 (13 de janeiro de 2011). «Em vídeos, relembre outras tragédias causadas pela chuva no Brasil». Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2013 
  24. Rosa, Giuliano Martins (novembro de 2012). «Impacto das enchentes no bairro São Pedro em Governador Valadares -MG» (PDF). Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG). Consultado em 21 de julho de 2016. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016 
  25. O Globo (24 de dezembro de 2013). «Chuva não dá dá trégua no Espírito Santo e faz mais três vítimas». Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2013 
  26. Julia Chaib (27 de dezembro de 2013). «Chuva: passa de 40 número de mortos no Espírito Santo e em Minas Gerais». Correio Braziliense. Consultado em 27 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 27 de dezembro de 2013 
  27. Fiorella Gomes (21 de dezembro de 2013). «Com as fortes chuvas, enchentes podem ser maiores do que a de 1979, diz Incaper». A Gazeta. Consultado em 27 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 27 de dezembro de 2013 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Imagens de satélite