Espanta Espíritos (álbum)

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Espanta Espíritos
Espanta Espíritos (álbum)
Coletânea musical de Vários
Lançamento Novembro de 1995
Gravação Entre setembro e outubro de 1995 nos estúdios da Valentim de Carvalho, Lisboa
Gênero(s) Pop rock, hip hop, música popular
Duração 45:03
Idioma(s) português
Formato(s) CD
Gravadora(s) Dínamo Discos
Produção Manuel Faria
Singles de Espanta Espíritos
  1. "Espanta Espíritos [1]"

Espanta Espíritos é uma compilação de Natal lançada em novembro de 1995 pela editora independente Dínamo Discos com distribuição da BMG. A produção executiva foi de Manuel Faria e a programação de Simon Wadsworth. As misturas e masterização foram realizadas nos estúdios da Valentim de Carvalho, entre setembro e outubro de 1995, por Fernando Paulo.

O álbum é composto por nove temas originais e duas versões. Os temas foram gravados propositadamente para este projeto por alguns dos artistas portugueses mais mediáticos daquela altura. Espanta Espíritos conjuga as sonoridades do pop rock, hip hop e da música popular com a balada servida pela poesia, em agradáveis melodias. O disco não obteve grande sucesso comercial mas foi considerado, pela revista Time Out, um dos vinte melhores discos de Natal de todos os tempos editados em Portugal.

Antecedentes e desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

A celebração de Natal em Portugal, como a conhecemos hoje, teve a sua origem nos meados do século XIX com o rei D. Fernando II, que introduziu no ritual familiar a árvore de Natal e a distribuição de presentes às crianças. Com o passar dos anos o Natal português foi construindo muitas variantes e ligeiras diferenças nas tradições dos vários pontos do país, mas em todo o lado se festeja com decorações, prendas, com a união da família e refeições em comum. No dia 6 de janeiro, as festas terminam com as “Janeiras” que assinala, segundo a tradição cristã, o Dia de Reis. A cultura natalícia contempla também a vertente musical nas mais variadas formas, como é o caso das compilações discográficas de vários artistas.[2][3]

Árvore de Natal em Lisboa.

Manuel Faria, músico e produtor com vasta experiência no panorama musical português, é o grande mentor deste projeto natalino. Foi após a passagem pela banda Trovante, na qual desempenhou as funções de teclista e compositor entre 1976 e 1992, que o músico passou a concentrar a sua atividade maioritariamente em estúdio. Participou em trabalhos de nomes consagrados como José Afonso, António Variações ou Sérgio Godinho e produziu vários álbuns com maior destaque para Mafalda Veiga, Entre Aspas e Essa Entente.[4] Mas foi na BMG com o planeamento e produção da compilação Filhos da Madrugada cantam José Afonso (1994), de tributo a José Afonso, que o criativo produtor atingiu o mais alto patamar do sucesso.[5] A aposta fora extremamente bem sucedida, pois o álbum atingiu a certificação de dupla platina no próprio dia do lançamento.[6] Motivado pelo sucesso, Manuel Faria fundou em 1995 a editora independente Dínamo Discos, subsidiária da multinacional BMG, para assim poder potenciar vários projetos musicais.[7] Resolveu então apostar na concretização de uma compilação alusiva ao Natal como um dos primeiros discos da editora. Lançou o convite a amigos e a alguns dos artistas mais mediáticos na época para que criassem canções inéditas relacionadas com o Natal e propondo alguns duetos entre artistas de diferentes sensibilidades musicais. Foram convidados vários nomes da BMG como Miguel Ângelo, António Manuel Ribeiro, Xana, Vozes da Rádio, Viviane, Despe & Siga e João Aguardela. De outras editoras vieram Tim e Sérgio Godinho (EMI), Né Ladeiras (Alma Lusa) e Jorge Palma. Esteve prevista a inclusão de Luís Represas que deveria interpretar um tema tradicional de Natal. A cantora Filipa Pais foi outro dos nomes sondados, conforme é referido nos agradecimentos do encarte do disco, mas que também não chegou a gravar.[8]

O trabalho de produção envolveu, para além de Manuel Faria, os músicos Fernando Rascão, Boss AC e Pacman no tema "Apenas um Irmão", Carlos Tê e Mário Barreiros em "Jura", e ainda Jorge Quadros e João Aguardela na faixa "Natal dos Pequeninos".[9][10] Foi lançado um maxi single promocional, com o mesmo nome do álbum e capa a preto e branco, com os temas "Final do Ano (Zero a Zero)", "Uma Rocha Negra" e "A Lenda da Estrela".[1] Espanta Espíritos teve boa aceitação da crítica musical e funcionou como uma agradável radiografia do pop rock português de meados da década de noventa. Foi considerado, pela equipa da revista Time Out Lisboa, em 2012, um dos vinte melhores discos de Natal de todos os tempos editados em Portugal.[11]

Letras e temas[editar | editar código-fonte]

Dueto de António Manuel Ribeiro com Miguel Ângelo, tocado com guitarra acústica. Tornou-se o maior êxito da compilação.[12]

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A compilação apresenta 11 agradáveis melodias revestidas por uma eclética musicalidade, desde o pop rock ao hip hop passando pela música popular. O alinhamento abre com o tema "Final do Ano (Zero a Zero)", com música de Jorge Palma e interpretado por Xana, dos Rádio Macau. A letra, da autoria da cantora, faz um balanço do ano: "Muito ao longe sinto as horas/ E os minutos a correr/ Vejo as mágoas já passadas/ E os moinhos por mover", diz o trecho, para referir o marasmo e as frustrações que tomam conta dos dias, sem alcançar vitórias nem derrotas, apenas o cenário habitual, o empate a zero. Segue-se "Podia Ser Natal", da autoria de António Manuel Ribeiro, líder dos UHF, e interpretado em dueto com o vocalista dos Delfins, Miguel Ângelo. A canção fala em tornar o mundo melhor, sem crenças absolutistas, dogmáticas ou mortíferas do medo, como narra o autor: "Podia haver uma luz em cada mesa/ E uma família em cada casa/ Jesus em dezembro aqui na Terra/ Podia ser Natal e não ser farsa", ou seja, podemos celebrar a ancestral festa da Natal ou então guardamos a festa para o ano seguinte num baú de velharias e tudo permanecerá na mesma, agarrados ao ritual e à tradição, referido em: "Podia ser verdade o tom e o discurso/ Desse velho ator falando aos fiéis/ Mas nada se passa na noite do mundo/ Máscaras de dor, pequenos papéis". A canção transmite uma forte mensagem de apelo à conciliação social, rejeitando a imposta tradição da obrigatoriedade religiosa. Nas palavras do autor: "Nem grandes inocentes nem imensos culpados. O conhecimento liberta".[12]

Podia Ser Natal

Podia haver uma luz em cada mesa
e uma família em cada casa,

Jesus em dezembro, aqui na Terra
podia ser Natal e não ser farsa.

A história certa é Natal de porta aberta
A ceia servida é a vida do Criador.

Podia ser notícia, o fim da amargura
que divide os homens por trás dos canhões,
A fome e a miséria servem a loucura
que forja profetas e divide as nações.

A história certa é Natal de porta aberta
A ceia servida é a vida do Criador.

Podia ser verdade o tom e o discurso
desse velho ator falando aos fiéis,
Mas nada se passa na noite do mundo
máscaras de dor, pequenos papéis.

A história certa é Natal de porta aberta
A ceia servida é a vida do Criador,
A história certa, Natal de porta aberta
Podia ser Natal...

– António Manuel Ribeiro.[13]

"Podia Ser Natal" foi recuperado em 2000 para o segundo álbum de António Manuel Ribeiro e também para o extended play com o mesmo none e para o quinto álbum ao vivo, ambos dos UHF, de 2004 e 2014, respetivamente.[14][15][16] Sérgio Godinho escreveu a letra de "Apenas um Irmão" e foi desafiado para acompanhar Pacman, dos Da Weasel, numa interessante combinação vocal de hip hop. Por outro lado, Tim, vocalista dos Xutos & Pontapés, juntou-se a Andreia dos Valium Electric para interpretarem "Uma Rocha Negra" em mais uma canção pop rock.[17] Em 2012, o tema foi regravado por Tim no álbum Companheiros de Aventura ao Vivo.[18] A faixa "+ 1 Comboio" é uma crítica ao consumismo supérfluo praticado habitualmente na época do Natal: "Vejo tanto olhar encafuado/ Em automóveis bestiais/ Casos graves de bem estar/ Por mais que tenham, nunca têm a mais". Jorge Palma escreveu o tema no decorrer de uma noite após ter ouvido o arranjo musical de Flak, guitarrista dos Rádio Macau. Um tema perfeitamente atual.[19] Em 2011, a canção foi recuperada para uma nova gravação de Jorge Palma no álbum Com Todo o Respeito.[20]

A música de raízes populares com gotas de folk rock marca presença nas faixas "A Lenda da Estrela" e "Natal dos Pequeninos" nas vozes de Né Ladeiras e João Aguardela, respetivamente. "Jura", tema de autoria de Rui Veloso e Carlos Tê, representa o momento mais criativo do álbum, numa versão a cappella pelo sexteto Vozes da Rádio. A canção fora cantada por Né Ladeiras no Festival RTP da Canção, em 1986, com o título "Dessas Juras que se Fazem" e, com o título abreviado, gravada pela primeira vez por Lara Li no álbum Quimera (1987),[21][22] Em 1998, Rui Veloso recuperou o mesmo tema para o álbum Avenidas.[23] "Família Virtual", versão dos Despe & Siga, conta com a colaboração do fadista Alcindo Carvalho num tema em ritmo ska. O mesmo fadista encerra o alinhamento do disco com uma versão do tema "Minha Alma de Amor Sedenta", de António dos Santos, sendo acompanhado por Manuel Faria ao piano.[9]

Lista de faixas[editar | editar código-fonte]

O disco compacto é composto por onze faixas em versão padrão.[9]

CD
N.º TítuloCompositor(es)Cantor / Banda Duração
1. "Final do Ano (Zero a Zero)"  Xana / Jorge PalmaXana 4:11
2. "Podia Ser Natal"  António Manuel RibeiroAntónio Manuel Ribeiro e Miguel Ângelo 4:08
3. "Apenas um Irmão"  Sérgio Godinho / Pacman / Boss ACSérgio Godinho e Pacman 4:26
4. "Uma Rocha Negra"  TimTim e Andreia 5:32
5. "+ 1 Comboio"  Jorge Palma / FlakJorge Palma e Flak 4:08
6. "A Lenda da Estrela"  João Monge / João GilNé Ladeiras 3:25
7. "Jura"  Carlos Tê / Rui VelosoVozes da Rádio 4:10
8. "Natal dos Pequeninos"  João Aguardela / Sara / AndréJoão Aguardela / Sara / André 5:05
9. "São Nicolau"  Viviane / Tó ViegasViviane 3:34
10. "Família Virtual"  Luís Varatojo / João San PayoDespe & Siga / Alcindo Carvalho 4:25
11. "Minha Alma de Amor Sedenta"  António dos SantosAlcindo Carvalho 3:19
Duração total:
45:03

Desempenho comercial[editar | editar código-fonte]

Espanta Espíritos não ocupou posição relevante na tabela de vendas.

Créditos[editar | editar código-fonte]

A elaboração de Espanta Espíritos foi realizada entre setembro e outubro de 1995 e envolveu um leque de músicos consagrados da época. Lista-se abaixo os profissionais envolvidos de acordo com o encarte do disco compacto.[9]

Produção[editar | editar código-fonte]

Músicos (por tema)[editar | editar código-fonte]

"Final do Ano (zero a zero)"
"Podia Ser Natal"
"Apenas um Irmão"
"Uma Rocha Negra"
  • Tim – vocal, guitarra
  • Andreia – vocal
  • Manuel Faria – teclas
"Mais 1 Comboio"
  • Jorge Palma – vocal, sintetizador
  • Flak – vocal, guitarra acústica
  • Alex – baixo acústico
"A Lenda da Estrela"
  • Né Ladeiras – vocal
  • João Gil – guitarra
  • Nani Teixeira – baixo elétrico
  • Manuel Faria – teclas
  • João Nuno Represas – percussão
"Jura"
  • António Miguel – vocal
  • Jorge Prendas – vocal
  • Mário Alves – vocal
  • Nuno Aragão – vocal
  • Ricardo Fráguas – vocal
  • Rui Vilhena – vocal
"Natal dos Pequeninos"
  • João Aguardela – vocal, guitarra
  • João Cabrita – baixo elétrico
  • Manuel Faria – teclas
  • Ani Fonseca, Eduardo Cunha, Jorge Buco, João Marques, Sandra Baptista– vocais de apoio
"São Nicolau"
  • Viviane – vocal, flauta
  • Tó Viegas – guitarra
  • Katherine Ann Fiero – harpa
  • João Nuno Represas – percussão
"Família Virtual"
  • Luís Varatojo – vocal, guitarra
  • Nuno Rafael – guitarra solo
  • João San Payo – baixo elétrico
  • João Cardoso – teclas
  • Gui – saxofone
  • Alcindo Carvalho – vocal de apoio
  • Sérgio Nascimento – percussão
"Minha Alma de Amor Sedenta"
  • Alcindo Carvalho – vocal
  • Manuel Faria – piano

Referências

  1. a b «Espanta Espíritos (Maxi single)». Discogs. Consultado em 19 de maio de 2017 
  2. Alexandra Prado coelho (22 de dezembro de 2010). «O nosso Natal é como o dos príncipes do século XIX». Jornal Público. Consultado em 28 de maio de 2017 
  3. «Natal no mundo–Portugal». Junior–Grupo Leya. Consultado em 28 de maio de 2017 
  4. «Trovante». Sinfonias de Aço–Anos 80. Consultado em 28 de maio de 2017 
  5. «Quem seriam hoje os "Filhos da Madrugada"?». Sapo 24-Lusa. Consultado em 28 de maio de 2017 
  6. «Biografia-Mão Morta». Last FM. Consultado em 28 de maio de 2017 
  7. «Dínamo Discos». Rate Your Music. Consultado em 19 de maio de 2017 
  8. Jorge Dias (5 de setembro de 1995). «As edições até ao Natal». Jornal Público: Doc(19950905-115). Consultado em 28 de maio de 2017 
  9. a b c d «Espanta Espíritos (vários)». Discogs. Consultado em 11 de abril de 2014 
  10. «Espanta Espíritos». Fonoteca C.M.Lisboa. 1995. Consultado em 30 de setembro de 2014 
  11. Ana Patrícia Silva (2014). «Os 20 melhores discos de Natal». Time Out–Lisboa. Consultado em 19 de maio de 2017. Arquivado do original em 2014 
  12. a b Ribeiro, António (2005). Cavalos de Corrida–A Poética dos UHF. Quinta da Graça, Bela Vista, 1950-219 Lisboa: Setecaminhos. p. 265. ISBN 989-602-073-6 
  13. «Podia ser Natal (Letra)». Spirit Of Rock. Consultado em 19 de maio de 2017 
  14. «Sierra Maestra (CD)». Discogs. Consultado em 28 de maio de 2017 
  15. «Podia Ser Natal (EP)». Spirit Of Rock. Consultado em 26 de setembro de 2017 
  16. «Duas Noites em Dezembro (2CD)». Discogs. Consultado em 28 de maio de 2017 
  17. Rebelo, Rolando. Aqui, Xutos & Pontapés. Google Livros–Lulu.com. 2014. p.159
  18. «Companheiros de Aventura ao Vivo (CD)». Discogs. Consultado em 28 de maio de 2017 
  19. Nuno Pacheco (3 de novembro de 2011). «Jorge Palma: Ajustar contas com o mundo». Jornal Público. Consultado em 19 de maio de 2017 
  20. «Com Todo o Respeito (CD)». Discogs. Consultado em 28 de maio de 2017 
  21. Luís Santos (4 de março de 2017). «As canções que perderam o festival e venceram o tempo». Jornal Público. Consultado em 30 de maio de 2017 
  22. «Quimera (LP)». Discogs. Consultado em 28 de maio de 2017 
  23. «Avenidas (CD)». Discogs. Consultado em 28 de maio de 2017 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]