Vitoriano dos Anjos Figueiroa: diferenças entre revisões

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Desempregado, sem ter recebido todo o pagamento pelos seus serviços, Vitoriano dos Anjos dedicou-se a ministrar aulas de entalhe e a entalhar oratórios e peças de mobiliário sob encomenda. Em 1864 estava já tão empobrecido que era citado em ata de Sessão da Câmara de 15 de outubro por não poder prover o calçamento da via onde morava, a rua do Bom Jesus.<ref>FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro, '''Vitoriano dos Anjos Figueiroa, o Altar-mor da Sé de Campinas e a tradição retabilística baiana''', disponível em: [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-87752008000200007&script=sci_arttext '''Varia hist. vol.24 no.40 Belo Horizonte July/Dec. 2008''']</ref>
Desempregado, sem ter recebido todo o pagamento pelos seus serviços, Vitoriano dos Anjos dedicou-se a ministrar aulas de entalhe e a entalhar oratórios e peças de mobiliário sob encomenda. Em 1864 estava já tão empobrecido que era citado em ata de Sessão da Câmara de 15 de outubro por não poder prover o calçamento da via onde morava, a rua do Bom Jesus.<ref>FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro, '''Vitoriano dos Anjos Figueiroa, o Altar-mor da Sé de Campinas e a tradição retabilística baiana''', disponível em: [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-87752008000200007&script=sci_arttext '''Varia hist. vol.24 no.40 Belo Horizonte July/Dec. 2008''']</ref>


Em 1869 foi encontrado "estendido sobre o chão de uma rua" pelo conhecido pintor e dourador [[Francisco de Paula Marques]]<ref>''"diante da desdita daquele homem, na qual lhe parecia ver um sinistro presságio de seu próprio destino e dos destinos de seus confrades. Teve então a idéia generosa da fundação de uma sociedade que fosse amparo e auxílio dos artistas desvalidos. Essa idéia se consolidou em 19 de setembro de 1869 no Teatro São Carlos, com a fundação da Sociedade Artística Beneficente, sociedade esta que progrediu a ponto de quinze anos depois da sua instituição contava com cerca de oitocentos sócios e tinha perto de quarenta contos de réis em caixa".''- BRITTO, Jolumá. História da Catedral. Diário do Povo. Campinas: 8 jun.1974, p. XV.</ref>, o qual, certamente antevendo destino semelhante a outros vários artistas no final de vida, teve a idéia da fundação de uma instituição de amparo aos mesmos, a qual viria a se consolidar ainda em 1869, no [[Teatro São Carlos]], com o nome de '''Sociedade Artística Beneficente'''. Quinze anos depois, o progresso havia sido tanto que a instituição já contava com oitocentos sócios.
Em 1869 foi encontrado "estendido sobre o chão de uma rua" pelo conhecido pintor e dourador [[Francisco de Paula Marques]]<ref>''"diante da desdita daquele homem, na qual lhe parecia ver um sinistro presságio de seu próprio destino e dos destinos de seus confrades. Teve então a idéia generosa da fundação de uma sociedade que fosse amparo e auxílio dos artistas desvalidos. Essa idéia se consolidou em 19 de setembro de 1869 no Teatro São Carlos, com a fundação da Sociedade Artística Beneficente, sociedade esta que progrediu a ponto de quinze anos depois da sua instituição contava com cerca de oitocentos sócios e tinha perto de quarenta contos de réis em caixa".''- BRITTO, Jolumá. História da Catedral. Diário do Povo. Campinas: 8 jun.1974, p. XV.</ref>, o qual, certamente antevendo destino semelhante a outros vários artistas no final de vida, teve a idéia da fundação de uma instituição de amparo aos mesmos, a qual viria a se consolidar ainda em 1869, no [[Teatro Nacional de São Carlos]], com o nome de '''Sociedade Artística Beneficente'''. Quinze anos depois, o progresso havia sido tanto que a instituição já contava com oitocentos sócios.


É interessante notar que um artista do porte de Vitoriano, que se notabilizou por ser o mais importante entalhador que já esteve em Campinas, morreu na pobreza e acabou sendo quase que esquecido. Sua memória foi recuperada apenas em 1974, quando o ''[[Diário do Povo (Campinas)|Diário do Povo]]'', periódico campineiro, publicou uma série de reportagens sobre a Catedral Metropolitana de Campinas.
É interessante notar que um artista do porte de Vitoriano, que se notabilizou por ser o mais importante entalhador que já esteve em Campinas, morreu na pobreza e acabou sendo quase que esquecido. Sua memória foi recuperada apenas em 1974, quando o ''[[Diário do Povo (Campinas)|Diário do Povo]]'', periódico campineiro, publicou uma série de reportagens sobre a Catedral Metropolitana de Campinas.

Revisão das 15h50min de 13 de fevereiro de 2011

Vitoriano dos Anjos Figueiroa
Nome completo Victoriano dos Anjos Figueiroa
Nascimento 1765
Salvador, Bahia
Morte 30 de julho de 1871
Campinas
Nacionalidade brasileiro
Ocupação mestre entalhador

Victoriano dos Anjos Figueiroa (Salvador, 1765Campinas, 30 de julho de 1871) foi um mestre entalhador brasileiro, "professor de entalhes" e responsável por inúmeros altares, retábulos, peças de mobiliário e pequenas obras, na Bahia e em Campinas.

Vida e obras de um artista esquecido

Assim como vários artistas que não tiveram formação acadêmica completa, Vitoriano dos Anjos era um talentoso entalhador baiano, que exercia funções e lecionava entalhe junto ao Arsenal da Marinha ou ao Colégio dos Órfãos de São Joaquim.

Entre os anos de 1818 e 1820 executou quatro nichos para os quatro altares "colaterais" da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, recebendo 32$000 reis por este trabalho[1]. Em 1848-1849 executa o altar principal da Capela do Santíssimo Sacramento, da Igreja Matriz do Santíssimo Coração de Jesus, na cidade baiana de Valença.

Embora vários autores lhe atribuam inúmeros trabalhos na Bahia, foi na cidade de Campinas que ele realizou suas obras mais grandiosas, ou, pelo menos, melhor documentadas, especialmente na ornamentação da imponente Catedral Metropolitana.

Catedral Metropolitana de Campinas, vista noturna

Foi Antonio Francisco Lisboa, conhecido pelo apelido de "Baía", que no ano de 1853 pagou as despesas de viagem e trouxe da então província da Bahia um grupo de entalhadores, comandados por Vitoriano dos Anjos Figueroa e mais três oficiais, para se encarregarem da ornamentação interna da "matriz nova" de Nossa Senhora da Conceição.

Já em Campinas, Vitoriano era tratado por "professor de entalhe". Valendo-se desta prerrogativa, formou aqui um corpo de aprendizes, dos quais podemos citar Antonio Dias Leite, José Antunes de Assunção e Laudíssimo Augusto Melo,que era deficiente auditivo e tido pelos contemporâneos como muito habilidoso.[2]

Vitoriano foi o responsável pelos entalhes do altar-mor, das tribunas, dos púlpitos, da varanda do coro e até mesmo a condução das obras até 1862, quando foi dispensado pelo novo administrador, Antônio Carlos de Sampaio Peixoto, o "Sampainho".

Desempregado, sem ter recebido todo o pagamento pelos seus serviços, Vitoriano dos Anjos dedicou-se a ministrar aulas de entalhe e a entalhar oratórios e peças de mobiliário sob encomenda. Em 1864 estava já tão empobrecido que era citado em ata de Sessão da Câmara de 15 de outubro por não poder prover o calçamento da via onde morava, a rua do Bom Jesus.[3]

Em 1869 foi encontrado "estendido sobre o chão de uma rua" pelo conhecido pintor e dourador Francisco de Paula Marques[4], o qual, certamente antevendo destino semelhante a outros vários artistas no final de vida, teve a idéia da fundação de uma instituição de amparo aos mesmos, a qual viria a se consolidar ainda em 1869, no Teatro Nacional de São Carlos, com o nome de Sociedade Artística Beneficente. Quinze anos depois, o progresso havia sido tanto que a instituição já contava com oitocentos sócios.

É interessante notar que um artista do porte de Vitoriano, que se notabilizou por ser o mais importante entalhador que já esteve em Campinas, morreu na pobreza e acabou sendo quase que esquecido. Sua memória foi recuperada apenas em 1974, quando o Diário do Povo, periódico campineiro, publicou uma série de reportagens sobre a Catedral Metropolitana de Campinas.

Vitoriano, que morreu centenário, jamais regressou à Bahia, nunca chegou a receber a quantia exata que lhe era devida pelos seus inúmeros trabalhos e, pior do que tudo isto, sua memória repousou no limbo do esquecimento por quase cem anos após a sua morte.

Cronologia

  • 1765 - (data incerta) - Nasceu Vitoriano dos Anjos Figueiroa, em São Salvador, Bahia.
  • 1818-1820 - executou quatro nichos para os quatro altares "colaterais" da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, recebendo 32$000 reis por este trabalho.
  • 1848-1849 - executa o altar principal da Capela do Santíssimo Sacramento, da Igreja Matriz do Santíssimo Coração de Jesus, na cidade baiana de Valença.
  • 1853 - chegada a Campinas e início dos entalhes na Catedral em construção.
  • 1862 - o entalhador já havia realizado o altar-mor, tribunas, dois púlpitos, varanda para o coro, tapa-vento e algumas colunas para a capela do S.S. Sacramento.
  • 1862 - desentendimentos com o Dr. "Sampainho" que pede o afastamento de Vitoriano.
  • 1864 - Vitoriano é afastado das obras na Catedral, sendo substituído por Bernardino de Sena Reis e Almeida.
  • 1869 - Vitoriano, na miséria, é encontrado inerte por Francisco de Paula Marques que cria em 19 de setembro a Sociedade Artística Beneficente.
  • 1871, 30 de julho - Sepultado em Campinas, no antigo cemitério da matriz. Foi encomendado pelo vigário, padre José Joaquim de Sousa de Oliveira[5]
  • 1880 - morte do único filho de Vitoriano dos Anjos Figueiroa, de mesmo nome, que não deixou descendentes.

Posteridade

As razões do "esquecimento" de Vitoriano dos Anjos Figueroa encontram-se, em parte, no estilo adotado em suas obras:

"A estética colonial barroca sempre foi valorizada, historicamente, como o patrimônio nacional por excelência. O neoclássico, por sua vez, tende, ainda hoje, a ficar em segundo plano, mas possui um papel importante na história da arte brasileira, que começa a ser resgatado. Vencedor da edição de 2005 do Prêmio Clarival do Prado Valladares, concedido pela Fundação Odebrecht, Luiz Alberto Freire, professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), vem buscando, através do seu projeto de pesquisa sobre a talha neoclássica, trazer a público esse movimento artístico característico de todo o século XIX na Bahia.Freire participou do II Encontro de História da Arte que aconteceu, na semana passada, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O historiador apresentou um estudo sobre a inusitada relação entre o altar da Catedral Metropolitana de Campinas – construída entre 1807 e 1833 - e a tradição retabilística baiana, através do trabalho de Vitoriano dos Anjos Figueiroa, entalhador que é ícone dessa tradição no Brasil."[6]

Em 2006, passados mais de cem anos da sua morte, o grande entalhador foi finalmente (re)descoberto pela academia mas, infelizmente, continua desconhecido do grande público.

Galeria

Referências

  1. ACO-CEB-BIBCUFBA. OTT, Carlos. Ficha do entalhador Vitoriano dos Anjos - 1818-1820. Citado por Luiz Alberto Ribeiro Freire
  2. LEITE, Ricardo. Catedral Metropolitana de Campinas; um templo e sua história. Campinas: Editora Komedi, 2004, p. 18.
  3. FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro, Vitoriano dos Anjos Figueiroa, o Altar-mor da Sé de Campinas e a tradição retabilística baiana, disponível em: Varia hist. vol.24 no.40 Belo Horizonte July/Dec. 2008
  4. "diante da desdita daquele homem, na qual lhe parecia ver um sinistro presságio de seu próprio destino e dos destinos de seus confrades. Teve então a idéia generosa da fundação de uma sociedade que fosse amparo e auxílio dos artistas desvalidos. Essa idéia se consolidou em 19 de setembro de 1869 no Teatro São Carlos, com a fundação da Sociedade Artística Beneficente, sociedade esta que progrediu a ponto de quinze anos depois da sua instituição contava com cerca de oitocentos sócios e tinha perto de quarenta contos de réis em caixa".- BRITTO, Jolumá. História da Catedral. Diário do Povo. Campinas: 8 jun.1974, p. XV.
  5. Victoriano dos Anjos - Aos 30 de julho de 1871, no cemitério desta matriz, sepultou-se o cadáver de Vitoriano dos Anjos, idade de 106 anos, viúvo, natural da Bahia. Foi recomendado. E para constar, mandou-se fazer este assento, em que me assino. O registro, entretanto, não está assinado pelo vigário, que era o padre José Joaquim de Sousa de Oliveira.- BRITTO, Jolumá. História da Catedral. Diário do Povo. Campinas: 8 jun.1974, p. XV.
  6. Patrimônio, Revista eletrônica do IPHAN

Bibliografia

  • ACO-CEB-BIBCUFBA. OTT, Carlos. Ficha do entalhador Vitoriano dos Anjos – 1818-1820.
  • APEB. Orçamento apresentado pelo entalhador Vitoriano dos Anjos Figueiroa à Irmandade do Santíssimo Sacramento

da matriz do Santíssimo Coração de Jesus de Valença, Bahia, 04.09.1848.

  • APEB. Ofício ao presidente da Província agradecendo o envio de recursos para a construção do retábulo da

capela do Santíssimo Sacramento. 24.05.1849.

  • ALVES, Marieta. Dicionário de Artistas e Artífices na Bahia. Salvador: Universidade Federal da Bahia/Centro Editorial

e Didático, Núcleo de Publicações, 1976.

  • Ant. 1871, Bahia. Biblioteca Nacional-Rio de Janeiro-Secção de Manusritos. Noções sobre a procedencia d’arte

de pintura na provincia da Bahia. s/a, s/d,

  • BRITTO, Jolumá. História da Catedral. Diário do Povo. Campinas: 8 jun.1974,
  • BRITTO, Jolumá. História da Catedral. Diário do Povo. Campinas: 15 jun.1974,
  • LEITE, Ricardo. Catedral Metropolitana de Campinas; um templo e sua história. Campinas: Editora Komedi, 2004.
  • OTT, Carlos. Evolução das Artes Plásticas nas igrejas do Bomfim, Boqueirão e Saúde. Salvador: UFBA/Centro de

Estudos Baianos, 1979

  • QUERINO, Manoel Raymundo. Artistas Bahianos; indicações biographicas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,

1909. 207

Ligações externas