Jesus histórico: diferenças entre revisões

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{{nota:|Este artigo é sobre Jesus o homem, usando os métodos historiográficos para reconstruir a biografia de sua vida e tempo. Para disputas sobre visão cristã dele, veja [[Disputas cristológicas]], para uma visão geral sobre Ele veja [[Jesus]], para a representação do tema na arte veja [[Vida de Cristo]].}}
{{nota:|Este artigo é sobre Jesus o homem, usando os métodos historiográficos para reconstruir a biografia de sua vida e tempo. Para disputas sobre visão cristã dele, veja [[Disputas cristológicas]], para uma visão geral sobre Ele veja [[Jesus]], para a representação do tema na arte veja [[Vida de Cristo]].}}


[[Ficheiro:Millais - Christus im Hause seiner Eltern.jpg|thumb|300px|right|''Cristo na casa de seus pais,'' por [[John Everett Millais]]([[1850]]). Uma série de [[pintura]] da [[Irmandade Pré-Rafaelita]] reflete o interesse do [[século XIX]] na realidade histórica da vida de Jesus]]
[[Ficheiro:Spas vsederzhitel sinay.jpg|thumb|200px|right|O mais antigo painel [[ícone|iconográfico]] do ''[[Cristo Pantocrator]]'', datado do [[século VI]].]]


O termo '''Jesus histórico''' refere-se a uma tentativa de reconstruções acadêmica do [[século I|primeiro século]] da figura de [[Jesus de Nazaré]]<ref>D. G. Dunn. ''Jesus Remembered''. Vol. 1 of Christianity in the Making. Eerdmans Publishing, 2003 (p. 125-127);</ref>. Estas reconstruções são baseadas em [[Método histórico|métodos históricos]], incluindo a [[Crítica bíblica|análise crítica]] dos [[evangelhos canônicos]] como a principal fonte para sua biografia, juntamente com a consideração do contexto histórico e cultural em que Jesus viveu<ref>[[Bart D. Ehrman]]. ''The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings''. New York: Oxford University Press, 2003;</ref>.
O termo '''Jesus histórico''' refere-se a uma tentativa de reconstruções acadêmica do [[século I|primeiro século]] da figura de [[Jesus de Nazaré]]<ref>D. G. Dunn. ''Jesus Remembered''. Vol. 1 of Christianity in the Making. Eerdmans Publishing, 2003 (p. 125-127);</ref>. Estas reconstruções são baseadas em [[Método histórico|métodos históricos]], incluindo a [[Crítica bíblica|análise crítica]] dos [[evangelhos canônicos]] como a principal fonte para sua biografia, juntamente com a consideração do contexto histórico e cultural em que Jesus viveu<ref>[[Bart D. Ehrman]]. ''The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings''. New York: Oxford University Press, 2003;</ref>.
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Acredita-se que o Jesus histórico seja um [[judeu]] [[Galiléia|galileu]] que realizou pelo menos uma peregrinação a [[Jerusalém]] - então parte da província romanda da [[Judeia (província romana)|Judéia]] - durante o tempo da expectativa [[Messias|messiânica]] e apocalíptica no final do [[Segundo Templo|Segundo Templo Judaico]]<ref name="Sanders_Jesus">Sanders, EP. ''The historical figure of Jesus''. Penguin, 1993;</ref><ref>John Dickson. ''Jesus: A Short Life''. Lion Hudson, 2009 (p. 138-9);</ref>. Batizado por [[João Batista]], cujo exemplo Jesus pode ter seguido, começou sua própria pregação na [[Galileia]] depois da execução de João e cerca de dois ou três anos antes de sua morte. Ele era um profeta escatológico e um professor de ética autônoma<ref>[http://www.britannica.com/EBchecked/topic/303091/Jesus-Christ Jesus Christ]. In: [[Encyclopædia Britannica]] Online, 2011;</ref>. Ele contou [[parábolas]] surpreendentes e originais, muitas delas sobre a vinda [[Reino de Deus]]<ref name="Five_gospels">[[Robert Funk]], Roy Hoover e [[Jesus Seminar]]. ''The five gospels''. Harper: SanFrancisco, 1993 (''Introduction'', p. 1-30);</ref>. Alguns estudiosos creditam as declarações apocalípticas dos [[Evangelhos]] a Jesus, enquanto outros retratam o seu ''Reino de Deus'' como moral, e não de natureza apocalíptica<ref name="Gerd_Merz">Theissen, Gerd e Annette Merz. ''The historical Jesus: a comprehensive guide''. Fortress Press, 1998;</ref>. Durante um tempo, Ele enviou seus [[apóstolos]] a fim curar as pessoas e pregarem sobre o Reino de Deus<ref name="Crossan">[[John Dominic Crossan]]. ''The essential Jesus''. Edison: Castle Books, 1998;</ref>. Mais tarde, Jesus viajou para Jerusalém, onde causou uma perturbação no Templo<ref name="Sanders_Jesus"/>. Era a época da [[Páscoa]], quando as tensões políticas e religiosas eram altas em Jerusalém<ref name="Sanders_Jesus"/>. Os Evangelhos dizem que os ''guardas do templo'' (acredita-se serem [[saduceus]]) prenderam-no e entregaram-no ao governador romano [[Pôncio Pilatos]] para [[execução]]. O movimento inaugurado por Jesus sobreviveu a sua morte, sendo liderado por seu irmão [[Tiago, o Justo]] e pelos [[apóstolos]] que passaram a proclamar que Jesus havia ressuscitado<ref>E.P. Sanders. ''The Historical Figure of Jesus''. p.280;</ref>. Pouco depois, os seguidores de Jesus se dividiram do [[judaísmo rabínico]], dando origem ao que conhecemos como [[cristianismo primitivo]].
Acredita-se que o Jesus histórico seja um [[judeu]] [[Galiléia|galileu]] que realizou pelo menos uma peregrinação a [[Jerusalém]] - então parte da província romanda da [[Judeia (província romana)|Judéia]] - durante o tempo da expectativa [[Messias|messiânica]] e apocalíptica no final do [[Segundo Templo|Segundo Templo Judaico]]<ref name="Sanders_Jesus">Sanders, EP. ''The historical figure of Jesus''. Penguin, 1993;</ref><ref>John Dickson. ''Jesus: A Short Life''. Lion Hudson, 2009 (p. 138-9);</ref>. Batizado por [[João Batista]], cujo exemplo Jesus pode ter seguido, começou sua própria pregação na [[Galileia]] depois da execução de João e cerca de dois ou três anos antes de sua morte. Ele era um profeta escatológico e um professor de ética autônoma<ref>[http://www.britannica.com/EBchecked/topic/303091/Jesus-Christ Jesus Christ]. In: [[Encyclopædia Britannica]] Online, 2011;</ref>. Ele contou [[parábolas]] surpreendentes e originais, muitas delas sobre a vinda [[Reino de Deus]]<ref name="Five_gospels">[[Robert Funk]], Roy Hoover e [[Jesus Seminar]]. ''The five gospels''. Harper: SanFrancisco, 1993 (''Introduction'', p. 1-30);</ref>. Alguns estudiosos creditam as declarações apocalípticas dos [[Evangelhos]] a Jesus, enquanto outros retratam o seu ''Reino de Deus'' como moral, e não de natureza apocalíptica<ref name="Gerd_Merz">Theissen, Gerd e Annette Merz. ''The historical Jesus: a comprehensive guide''. Fortress Press, 1998;</ref>. Durante um tempo, Ele enviou seus [[apóstolos]] a fim curar as pessoas e pregarem sobre o Reino de Deus<ref name="Crossan">[[John Dominic Crossan]]. ''The essential Jesus''. Edison: Castle Books, 1998;</ref>. Mais tarde, Jesus viajou para Jerusalém, onde causou uma perturbação no Templo<ref name="Sanders_Jesus"/>. Era a época da [[Páscoa]], quando as tensões políticas e religiosas eram altas em Jerusalém<ref name="Sanders_Jesus"/>. Os Evangelhos dizem que os ''guardas do templo'' (acredita-se serem [[saduceus]]) prenderam-no e entregaram-no ao governador romano [[Pôncio Pilatos]] para [[execução]]. O movimento inaugurado por Jesus sobreviveu a sua morte, sendo liderado por seu irmão [[Tiago, o Justo]] e pelos [[apóstolos]] que passaram a proclamar que Jesus havia ressuscitado<ref>E.P. Sanders. ''The Historical Figure of Jesus''. p.280;</ref>. Pouco depois, os seguidores de Jesus se dividiram do [[judaísmo rabínico]], dando origem ao que conhecemos como [[cristianismo primitivo]].


A busca pelo Jesus histórico parte do pressuposto que o [[Novo Testamento]] não dá necessariamente uma imagem histórica precisa da vida de Jesus. Nesse contexto, a descrição bíblica de Jesus é conhecida como a do ''Cristo da Fé''. Dessa forma, o Jesus histórico é baseado em materiais históricos antigos que podem falar alguma coisa sobre sua vida, como os fragmentos dos Evangelhos. A finalidade da pesquisa sobre o Jesus histórico é examinar as evidências a partir de fontes diversas, tratando-as criticamente e em conjunto para criar uma imagem composta de Jesus<ref>Gary R. Habermas. ''The historical Jesus''. College Press, 1996 (p. 219);</ref><ref>Howard Marshall. ''I Believe in the Historical Jesus''. Regent College Publishing, 2004 (p. 214);</ref>. Para alguns, o uso do termo ''Jesus histórico'' implica que o Jesus reconstruído será diferente do que se apresentou no ensino dos [[Concílio ecuménico|concílios ecumênicos]] (o Cristo dogmático)<ref>"Quest of the Historical Jesus". Oxford Dictionary of the Christian Church, p. 775;</ref>. Para outros eruditos, não há nenhuma contradição entre o Jesus histórico e o Cristo retratado no [[Novo Testamento]]<ref>Craig Blomberg. ''Jesus e os Evangelhos''. São Paulo: Vida Nova, 2009;</ref><ref>DA Carson, Douglas Moo, Leon Morris. ''Introdução ao Novo Testamento''. São Paulo: Vida Nova, 1997;</ref>.
A busca pelo Jesus histórico parte do pressuposto que o [[Novo Testamento]] não dá necessariamente uma imagem histórica precisa da vida de Jesus. Nesse contexto, a descrição bíblica de Jesus é conhecida como a do ''Cristo da Fé''. Dessa forma, o Jesus histórico é baseado em materiais históricos antigos que podem falar alguma coisa sobre sua vida, como os fragmentos dos Evangelhos. A finalidade da pesquisa sobre o Jesus histórico é examinar as evidências a partir de fontes diversas, tratando-as criticamente e em conjunto para criar uma imagem composta de Jesus<ref>Gary R. Habermas. ''The historical Jesus''. College Press, 1996 (p. 219);</ref><ref>Howard Marshall. ''I Believe in the Historical Jesus''. Regent College Publishing, 2004 (p. 214);</ref>. Para alguns, o uso do termo ''Jesus histórico'' implica que o Jesus reconstruído será diferente do que se apresentou no ensino dos [[Concílio ecuménico|concílios ecumênicos]] (o Cristo dogmático)<ref>"Quest of the Historical Jesus". Oxford Dictionary of the Christian Church, p. 775;</ref>. Para outros eruditos, não há nenhuma contradição entre o Jesus histórico e o Cristo retratado no [[Novo Testamento]]<ref>Craig Blomberg. ''Jesus e os Evangelhos''. São Paulo: Vida Nova, 2009;</ref><ref>DA Carson, Douglas Moo, Leon Morris. ''Introdução ao Novo Testamento''. São Paulo: Vida Nova, 1997;</ref><ref>[[Frederick Fyvie Bruce|F F Bruce]]. Merece Confiança o Novo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 2010. Os escritos de Lucas (p. 105-120);</ref>.


== Metodologia ==
== Metodologia ==
[[Ficheiro:Millais - Christus im Hause seiner Eltern.jpg|thumb|300px|right|''Cristo na casa de seus pais,'' por [[John Everett Millais]]([[1850]]). Uma série de [[pintura]] da [[Irmandade Pré-Rafaelita]] reflete o interesse do [[século XIX]] na realidade histórica da vida de Jesus]]
A investigação histórica das fontes cristãs sobre Jesus de Nazaré exige a aplicação de métodos críticos que permitam discernir as tradições que remontam ao Jesus histórico daquelas que constituem adições posteriores, vindas das comunidades cristãs. Durante a segunda metade do [[século XIX]], a principal contribuição dos historiadores cristãos foi a crítica literária dos evangelhos. Os principais critérios par a interpretação de fontes cristãs são <ref name=Pinero>Piñero, Antonio. ''Guía para entender el Nuevo Testamento'', pp. 169-172.</ref>:
A investigação histórica das fontes cristãs sobre Jesus de Nazaré exige a aplicação de métodos críticos que permitam discernir as tradições que remontam ao Jesus histórico daquelas que constituem adições posteriores, vindas das comunidades cristãs. Durante a segunda metade do [[século XIX]], a principal contribuição dos historiadores cristãos foi a crítica literária dos evangelhos. Os principais critérios par a interpretação de fontes cristãs são <ref name=Pinero>Piñero, Antonio. ''Guía para entender el Nuevo Testamento'', pp. 169-172.</ref>:



Revisão das 21h36min de 24 de janeiro de 2012

Nota: Este artigo é sobre Jesus o homem, usando os métodos historiográficos para reconstruir a biografia de sua vida e tempo. Para disputas sobre visão cristã dele, veja Disputas cristológicas, para uma visão geral sobre Ele veja Jesus, para a representação do tema na arte veja Vida de Cristo.
O mais antigo painel iconográfico do Cristo Pantocrator, datado do século VI.

O termo Jesus histórico refere-se a uma tentativa de reconstruções acadêmica do primeiro século da figura de Jesus de Nazaré[1]. Estas reconstruções são baseadas em métodos históricos, incluindo a análise crítica dos evangelhos canônicos como a principal fonte para sua biografia, juntamente com a consideração do contexto histórico e cultural em que Jesus viveu[2].

Acredita-se que o Jesus histórico seja um judeu galileu que realizou pelo menos uma peregrinação a Jerusalém - então parte da província romanda da Judéia - durante o tempo da expectativa messiânica e apocalíptica no final do Segundo Templo Judaico[3][4]. Batizado por João Batista, cujo exemplo Jesus pode ter seguido, começou sua própria pregação na Galileia depois da execução de João e cerca de dois ou três anos antes de sua morte. Ele era um profeta escatológico e um professor de ética autônoma[5]. Ele contou parábolas surpreendentes e originais, muitas delas sobre a vinda Reino de Deus[6]. Alguns estudiosos creditam as declarações apocalípticas dos Evangelhos a Jesus, enquanto outros retratam o seu Reino de Deus como moral, e não de natureza apocalíptica[7]. Durante um tempo, Ele enviou seus apóstolos a fim curar as pessoas e pregarem sobre o Reino de Deus[8]. Mais tarde, Jesus viajou para Jerusalém, onde causou uma perturbação no Templo[3]. Era a época da Páscoa, quando as tensões políticas e religiosas eram altas em Jerusalém[3]. Os Evangelhos dizem que os guardas do templo (acredita-se serem saduceus) prenderam-no e entregaram-no ao governador romano Pôncio Pilatos para execução. O movimento inaugurado por Jesus sobreviveu a sua morte, sendo liderado por seu irmão Tiago, o Justo e pelos apóstolos que passaram a proclamar que Jesus havia ressuscitado[9]. Pouco depois, os seguidores de Jesus se dividiram do judaísmo rabínico, dando origem ao que conhecemos como cristianismo primitivo.

A busca pelo Jesus histórico parte do pressuposto que o Novo Testamento não dá necessariamente uma imagem histórica precisa da vida de Jesus. Nesse contexto, a descrição bíblica de Jesus é conhecida como a do Cristo da Fé. Dessa forma, o Jesus histórico é baseado em materiais históricos antigos que podem falar alguma coisa sobre sua vida, como os fragmentos dos Evangelhos. A finalidade da pesquisa sobre o Jesus histórico é examinar as evidências a partir de fontes diversas, tratando-as criticamente e em conjunto para criar uma imagem composta de Jesus[10][11]. Para alguns, o uso do termo Jesus histórico implica que o Jesus reconstruído será diferente do que se apresentou no ensino dos concílios ecumênicos (o Cristo dogmático)[12]. Para outros eruditos, não há nenhuma contradição entre o Jesus histórico e o Cristo retratado no Novo Testamento[13][14][15].

Metodologia

Cristo na casa de seus pais, por John Everett Millais(1850). Uma série de pintura da Irmandade Pré-Rafaelita reflete o interesse do século XIX na realidade histórica da vida de Jesus

A investigação histórica das fontes cristãs sobre Jesus de Nazaré exige a aplicação de métodos críticos que permitam discernir as tradições que remontam ao Jesus histórico daquelas que constituem adições posteriores, vindas das comunidades cristãs. Durante a segunda metade do século XIX, a principal contribuição dos historiadores cristãos foi a crítica literária dos evangelhos. Os principais critérios par a interpretação de fontes cristãs são [16]:

  • Critério da dissimilaridade: Também chamado de critério do constrangimento. Segundo este critério, afirmações contrárias ou constrangedoras ao autor são, provavelmente, mais confiáveis. Também são mais confiáveis fontes que contrariam o judaísmo anterior a Jesus e o cristianismo posterior a ele, como trechos e ditos atribuíveis a Jesus que resultem em problemas para a teologia cristã. Por exemplo, seria improvável que uma fonte cristã fizesse a alegação de que Jesus fosse de Nazaré, e não de Belém, a menos que a família dele fosse realmente de Nazaré, uma vez que isto era um motivo de embaraço. As objeções a esse critério dizem que, ao dissociar Jesus do judaísmo do século I, se corre o perigo de retirá-lo do contexto necessário para entender alguns aspectos fundamentais de sua atividade.
  • Objetivo do autor: Estre critério é o outro lado do critério de dissimilaridade. Segundo ele, quando o material apreendido serve aos propósitos do autor ou do editor, ele é suspeito [17] Por exemplo, várias seções dos evangelhos, como o massacre dos bebês por Herodes [18], mostram Jesus cumprindo profecias messiânicas do Antigo Testamento, e, no entender de muitos estudiosos, refletem apenas a concepção do autor do evangelho e não acontecimentos históricos.
  • Critério de plausibilidade histórica: Segundo este critério, pode-se considerar histórico aquilo que seja plausível no contexto do judaísmo do século I, assim como aquilo que pode contribuir para explicar certos aspectos da influência de Jesus entre os primeiros cristãos. Este critério, como ressalta Piñero [16], contradiz o critério de dissimilaridade.
  • Critério de múltiplos atestados: Podem considerar-se autênticos aqueles trechos cujas fontes procedam de várias tradições diferentes. Como ressalva a isto, as fontes têm que ser independentes para serem consideradas; por exemplo, a hipotética fonte Q seria a base de Marcos, Mateus e Lucas, logo não poderiam ser considerados como múltiplas comprovações para um fato. Este critério também se refere à averiguação de um mesmo trecho em gêneros literários diferentes.
  • Critério contextual e linguístico: A fonte é mais credível quando a tradição faz sentido no contexto cultural dos personagens. Há algumas conclusões interessantes que podem ser retiradas da análise linguística dos evangelhos. Por exemplo, se um diálogo funciona apenas em grego Koiné (a língua de seus escritos fontes), é bastante provável que o autor tenha modificado o relato original.

Ao longo dos últimos 150 anos, os historiadores e estudiosos bíblicos têm feito grandes progressos na busca do Jesus Histórico. De Albert Schweitzer, com seu trabalho revolucionário Von Reimarus zu Wrede (The Quest of the Historical Jesus) [19] em 1906, até o controverso Jesus Seminar, muito foi aprendido. O objetivo destes estudiosos é examinar as provas de diversas fontes a fim de trazê-las em conjunto para que se possa elaborar uma reconstrução completa de Jesus. O uso do termo do Jesus Histórico implica que sua reconstrução será diferente daquela apresentada no ensino do Cristo da Fé pelo Cristianismo. Assim, a montagem do Jesus Histórico às vezes difere dos judeus, cristãos, muçulmanos ou crenças hindus.

Em geral, esses estudiosos argumentam que o Jesus histórico foi um judeu da Galiléia que viveu numa época de expectativas messiânicas e apocalípticas. Ele foi batizado por João Batista e, depois que João foi executado, começou a sua própria pregação na Galiléia. Jesus pregava a salvação, a vida eterna, a purificação dos pecados, a vinda do Reino de Deus, usando parábolas como imagens surpreendentes. Além disso, ele era conhecido como um professor e um homem que realizava milagres. Muitos estudiosos creditam as declarações apocalípticas dos Evangelhos a Jesus, enquanto outros defendem que o seu Reino de Deus era moral, e não de natureza apocalíptica.

Jesus enviou os seus apóstolos para curar e pregar sobre o Reino de Deus. Mais tarde, viajou para Jerusalém, na Judéia, onde causou uma perturbação no Templo. Era o tempo da Páscoa, quando as tensões políticas e religiosas eram elevadas em Jerusalém. Os Evangelhos dizem que os guardas do templo (acredita-se que os Fariseus) prenderam Jesus e o entregaram a Pôncio Pilatos para execução. Depois disso, Jesus foi crucificado e o movimento do Cristianismo sobreviveu e foi levado por seus apóstolos, que proclamavam que Jesus havia ressuscitado. Nessa época, é desenvolvido o cristianismo primitivo.

A busca pelo Jesus histórico iniciou-se com o trabalho de Hermann Samuel Reimarus no século XVIII. Dois livros, ambos chamados "A Vida de Jesus", foram escritos por David Friedrich Strauss e publicados em alemão em 1835-1836. Ernest Renan publicou um livro em francês no ano de 1863. O Jesus histórico é conceptualmente diferente do Cristo da fé. Para os historiadores o primeiro é físico, enquanto o último é metafísico. O Jesus histórico é baseado em evidências históricas. Cada vez que um rolo de papel novo é descoberto ou fragmentos de um novo Evangelho são encontrados, o Jesus histórico é modificado.

Documentos sobre o Jesus histórico

Existem 5 documentos falando da pessoa de Jesus direta ou indiretamente, como é o caso de Públio Cornélio Tácito, Flávio Josefo, Plínio, o Jovem e outros.

Uma boa referência do Jesus histórico foi escrita por Tácito no Analles, conforme ele cita abaixo:

Ver também

Referências

  1. D. G. Dunn. Jesus Remembered. Vol. 1 of Christianity in the Making. Eerdmans Publishing, 2003 (p. 125-127);
  2. Bart D. Ehrman. The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings. New York: Oxford University Press, 2003;
  3. a b c Sanders, EP. The historical figure of Jesus. Penguin, 1993;
  4. John Dickson. Jesus: A Short Life. Lion Hudson, 2009 (p. 138-9);
  5. Jesus Christ. In: Encyclopædia Britannica Online, 2011;
  6. Robert Funk, Roy Hoover e Jesus Seminar. The five gospels. Harper: SanFrancisco, 1993 (Introduction, p. 1-30);
  7. Theissen, Gerd e Annette Merz. The historical Jesus: a comprehensive guide. Fortress Press, 1998;
  8. John Dominic Crossan. The essential Jesus. Edison: Castle Books, 1998;
  9. E.P. Sanders. The Historical Figure of Jesus. p.280;
  10. Gary R. Habermas. The historical Jesus. College Press, 1996 (p. 219);
  11. Howard Marshall. I Believe in the Historical Jesus. Regent College Publishing, 2004 (p. 214);
  12. "Quest of the Historical Jesus". Oxford Dictionary of the Christian Church, p. 775;
  13. Craig Blomberg. Jesus e os Evangelhos. São Paulo: Vida Nova, 2009;
  14. DA Carson, Douglas Moo, Leon Morris. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997;
  15. F F Bruce. Merece Confiança o Novo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 2010. Os escritos de Lucas (p. 105-120);
  16. a b Piñero, Antonio. Guía para entender el Nuevo Testamento, pp. 169-172.
  17. Funk, Robert W., Roy W. Hoover, e o Jesus Seminar. The five gospels. Harper San Francisco. 1993. page 21.
  18. Mateus 2:16-18
  19. The Quest of the Historical Jesus. ISBN 0-8018-5934-4
  20. Classics Mit XV Livro dos Analles: Publius Cornellius Tacito (em inglês)

Ligações externas

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