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Revisão das 20h26min de 5 de abril de 2014

Madame du Barry, por Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun na Galeria de Arte Corcoran

Jeanne Bécu, a futura Madame du Barry, (19 de agosto de 1743 – 8 de dezembro de 1793), de origem humilde, tornou-se amante de Luís XV. Morreu na guilhotina durante o período do Terror da Revolução Francesa.

Juventude

Jeanne Bécu nasceu em Vaucouleurs, na Lorena, filha ilegítima de Anne Bécu – cozinheira ou costureira, consoante as fontes – e de pai desconhecido, provavelmente um frade do convento de Picpus, em Paris, de nome Jean-Baptiste Gormand de Vaubernier.

Graças a um amante de sua mãe, Nicolas Rançon, a pequena Jeanne pôde ser educada num convento, onde recebeu uma educação muito superior à que poderia esperar, em função de sua condição social humilde.

Aos 15 anos de idade abandona o convento, e usando o nome de Jeanne Rançon, ganha a vida em diversas actividades, desde aprendiz de cabeleireira a camareira de uma família de posses, passando por empregada de balcão de uma conhecida e elegante loja, La Toilette. Pôde assim observar – e absorver – o mundo das mais altas esferas da sociedade parisiense.

Em 1763, a sua notória beleza chama a atenção de Jean-Baptiste du Barry, libertino confesso. Torna-se sua amante e instala-se na casa deste em Paris, onde acorriam muitas personagens ligadas à música e às artes. De facto, o conde era um grande apreciador de música e, sobretudo, de pintura, tendo Jeanne bebido muitos dos seus conhecimentos.

A vida na corte

Château de Louveciennes.

Entretanto, Jean du Barry alimenta outros projectos para Jeanne: instado pelo marechal Richelieu, irá usar os bons ofícios da encantadora jovem para que Luís XV demita o Duque de Choiseul, ministro dos Negócios Estrangeiros. É assim que, aos 19 anos, Jeanne Bécu é apresentada ao rei, então com 58 anos, que de imediato se apaixona. Porém, para fazer dela sua amante oficial, é indispensável conceder-lhe um título nobiliárquico. O casamento de conveniência com o irmão de Jean du Barry, o conde Guillaume du Barry, permite-lhe usar com toda a licitude o título de Madame du Barry, o qual já antes indevidamente usava. Assim, em 1769, a Condessa du Barry, amante oficial do rei, é apresentada à corte com a devida pompa e o incontestável escândalo.

Este episódio é evocado por Madame Campan, camareira-mor de Maria Antonieta, nas suas memórias: «Mesdames [as irmãs] faziam uma vida muito distante do rei, que vivia sozinho desde a morte de Madame de Pompadour. Os inimigos do Duque de Choiseul não sabiam [...] como preparar e precipitar a queda do homem que se lhes atravessava no caminho. As mulheres com quem o rei se relacionava eram de tão baixa extracção que nenhuma seria capaz de urdir intrigas que exigissem grande subtileza. [...] Havia que arranjar ao rei uma amante capaz de criar um círculo à sua volta e de, na intimidade da alcova, minar a sólida e duradoura relação entre o rei e o seu ministro. De facto, a Condessa do Barry provinha de uma classe social inferior. A sua origem e educação, o seu estilo de vida, tudo nela transpirava vulgaridade e despudor. Ao casá-la com um homem cuja linhagem recuava até 1400, julgaram que poderiam evitar o escândalo».[1]

Sem ter a influência política tão notória quanto a de sua antecessora, Madame de Pompadour, a Condessa du Barry acabou por conseguir a demissão de Choiseul, o qual, através do casamento do futuro Luís XVI com Maria Antonieta, firmara a união dos Bourbons com os Habsburgos da Casa da Áustria. Tal não fez mais que exacerbar o ódio que lhe votava a arquiduquesa austríaca, já à partida indisposta contra "a du Barry" e todo o seu passado.

A situação torna-se insustentável quando Maria Antonieta se recusa dirigir a palavra à maîtresse do rei, pois, de acordo com a inelutável etiqueta da corte de Versalhes esta não podia ser a primeira a entabular conversação com a Delfina. Pressionada por um agastado Luís XV, Maria Antonieta acaba por condescender em pronunciar uma memorável frase, de tão vazia de conteúdo e tão plena de significado: "Hoje está tanta gente em Versalhes".[2] Quanto bastou, porém, para deixar todos satisfeitos.

Apoio às artes

Durante os anos em que desfrutou do favor real, protegeu muitos intelectuais e artistas, entre os quais François-Hubert Drouais (cujos retratos de Madame du Barry são bem conhecidos), Augustin Pajou, Van Loo, Etienne Falconet e Lemoyne. Grande amiga de Voltaire, incumbe-o de concluir o restauro do castelo de Louveciennes, oferta com que Luís XV a agracia em 1769. Para a decoração do palácio, encomenda a Fragonard quatro painéis dedicados ao Amor, uma obra estilo rococó: O Encontro, A Perseguição, A Recordação e A Coroação, que, de resto, pouco tempo aí ficaram, tendo sido retirados por não se enquadrarem no estilo do palácio.

Apesar do seu apoio às artes] e de um sincero esforço para se tornar agradável a todos, acabou contudo por tornar-se impopular, devido aos dons e benesses com que o rei a cumulava: uma renda principesca, joias sem preço e propriedades sumptuosas. Para isto também não foram alheias certas atitudes levianas e inconvenientes, desrespeitosas para a dignidade do soberano. Veja-se um episódio relatado por Madame Campan: Um belo dia Madame du Barry teve o capricho de assistir a uma sessão do Conselho de Estado. Luís XV, cuja fraqueza de carácter se acentuara com a idade, acede. Durante a reunião, «ficou ridiculamente pendurada nos braços da cadeira do rei, fazendo todo o tipo de criancices e macacadas.»

A queda

Encarceramente de Du Barry. Ilustração de Tighe Hopkins em "The Dungeons of Old Paris", 1897.

Ao ver aproximar-se a morte, em 1774, Luís XV bane Madame du Barry da corte, pois a sua ligação pecaminosa aos olhos da Igreja impedi-lo-ia de conseguir a absolvição. Confinada durante alguns meses à abadia de Pont-aux-Dames, instala-se depois na sua propriedade favorita, o magnífico Château de Louveciennes. Aí, rodeia-se de uma corte íntima de amigos e admiradores, entre os quais Henry Seymour e o Duque de Brissac, que viriam a ser seus amantes.

Em 1789, eclode a Revolução Francesa e, durante as convulsões que agitaram o país, Madame du Barry não hesita em cuidar igualmente de republicanos e monárquicos, pelo que receberá uma carta de gratidão da sua velha inimiga Maria Antonieta. Suspeita aos olhos dos republicanos pelo seu passado, manifesta-se partidária das mudanças políticas. Sincera ou não, o facto é que ninguém a incomoda.

Em 1791, parte de sua valiosíssima colecção de joias, guardada em Louveciennes, é roubada. Talvez sem se aperceber do perigo em que incorre, move mundos e fundos para as recuperar, ordena a abertura de um inquérito, promete generosas recompensas, fazendo assim alarde da sua imensa fortuna. Finalmente, as joias aparecem em Londres, para onde empreende diversas viagens. Ora esta cidade era um dos locais de refúgio dos “contra-revolucionários” e, na sua busca de informações, entra em contacto com alguns dos expatriados. Em Janeiro de 1793, encontrando-se um Londres, ao receber a notícia da execução de Luís XVI, veste-se de luto, o que não passa despercebido aos espiões franceses. Todas as suas acções, todas as suas relações são agora consideradas suspeitas, e a sua fortuna, a sua antiga condição de maîtresse du roi, o facto de o seu amante, o Duque de Brissac, ter sido brutalmente assassinado nos Massacres de Setembro de 1792, enfim, tudo joga em seu desfavor tornando-a um alvo de eleição para os revolucionários.

Em 1793, é acusada de conspirar contra o novo regime e, após um longo processo – cuja sentença estava decidida à partida - é declarada inimiga da revolução e condenada à pena de morte.

No dia 8 de dezembro de 1793, aos 50 anos de idade, Madame du Barry foi guilhotinada. O seu comportamento no cadafalso indiciou um carácter fraco e pusilânime. Chegou ao ponto de denunciar várias pessoas, condenando-as assim a uma sorte igual à sua, e tentou comprar o carrasco revelando-lhe os locais onde estavam escondidas as jóias que ainda lhe restavam. As suas últimas e pouco dignas palavras foram: «De grâce, monsieur le bourreau, encore un petit moment!» - Por quem sois, senhor carrasco, só mais um momentinho!

Referências

  1. Traduzido da versão inglesa de: Mémoires de madame Campan, première femme de chambre de Marie-Antoinette (Memoirs of the Court of Maria Antoinette, Queen of France. Being the Historic Memoirs of Madam Campan, First Lady in Waiting to the Queen)
  2. Antonia Fraser, Maria Antonieta – A Viagem (Marie Antoinette: The Journey)