Caio Avídio Cássio: diferenças entre revisões
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Em 175, Avídio Cássio foi proclamado [[imperador romano]] depois que notícias falsas sobre a morte de [[Marco Aurélio]]{{sfn|Birley|2001|p=184}}{{sfn|Canduci|2010|p=44}} terem chegado ao Egito. As fontes indicam também que ele teria sido encorajado pela esposa de Marco Aurélio, [[Faustina, a Jovem|Faustina]], que estava preocupada com o estado de saúde do marido e acreditava que ele estivesse à beira da morte. Por isso, ela teria confiado em Cássio para agir como protetor dela e do jovem [[Cômodo]], que tinha apenas treze anos na época{{sfn|Birley|2001|p=184}}{{sfn|Smith|1870|p=441}}. Faustina também queria alguém que pudesse atuar como contraponto às alegações de [[Tibério Cláudio Pompeiano]], que estava em posição favorável para tomar o posto de [[príncipe (Roma Antiga)|príncipe]] (o imperador) caso Marco Aurélio morresse{{sfn|Birley|2001|p=185}}. As evidências, incluindo as "[[Meditações]]", do próprio Marco Aurélio, dão suporte à ideia de que o imperador de fato estava bastante adoentado na época{{sfn|Birley|2001|p=185}}, mas, quando ele se recuperou, Cássio já havia sido aclamado pela legião egípcia, a [[Legio II Traiana Fortis|II ''Traiana Fortis'']]. |
Em 175, Avídio Cássio foi proclamado [[imperador romano]] depois que notícias falsas sobre a morte de [[Marco Aurélio]]{{sfn|Birley|2001|p=184}}{{sfn|Canduci|2010|p=44}} terem chegado ao Egito. As fontes indicam também que ele teria sido encorajado pela esposa de Marco Aurélio, [[Faustina, a Jovem|Faustina]], que estava preocupada com o estado de saúde do marido e acreditava que ele estivesse à beira da morte. Por isso, ela teria confiado em Cássio para agir como protetor dela e do jovem [[Cômodo]], que tinha apenas treze anos na época{{sfn|Birley|2001|p=184}}{{sfn|Smith|1870|p=441}}. Faustina também queria alguém que pudesse atuar como contraponto às alegações de [[Tibério Cláudio Pompeiano]], que estava em posição favorável para tomar o posto de [[príncipe (Roma Antiga)|príncipe]] (o imperador) caso Marco Aurélio morresse{{sfn|Birley|2001|p=185}}. As evidências, incluindo as "[[Meditações]]", do próprio Marco Aurélio, dão suporte à ideia de que o imperador de fato estava bastante adoentado na época{{sfn|Birley|2001|p=185}}, mas, quando ele se recuperou, Cássio já havia sido aclamado pela legião egípcia, a [[Legio II Traiana Fortis|II ''Traiana Fortis'']]. |
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A princípio, segundo [[Dião Cássio]], Marco Aurélio, que estava em [[Guerras Marcomanas|campanha contra os marcomanos]] no norte, tentou esconder a revolta de seus soldados{{sfn|Birley|2001|p=187}}, mas, depois que todos descobriram, ele fez um discurso. Nele, um texto que Dião Cássio atribui ao imperador, ele lamenta a deslealdade de ''"um querido amigo"'' e, ao mesmo tempo, expressa sua esperança de que Cássio não seja morto ou cometa o suicídio para que ele próprio possa mostra-lhe sua misericórdia{{sfn|Smith|1870|p=441}}. Em paralelo, o |
A princípio, segundo [[Dião Cássio]], Marco Aurélio, que estava em [[Guerras Marcomanas|campanha contra os marcomanos]] no norte, tentou esconder a revolta de seus soldados{{sfn|Birley|2001|p=187}}, mas, depois que todos descobriram, ele fez um discurso. Nele, um texto que Dião Cássio atribui ao imperador, ele lamenta a deslealdade de ''"um querido amigo"'' e, ao mesmo tempo, expressa sua esperança de que Cássio não seja morto ou cometa o suicídio para que ele próprio possa mostra-lhe sua misericórdia{{sfn|Smith|1870|p=441}}. Em paralelo, o senado romano declarou Cássio [[inimigo público]]{{sfn|Birley|2001|p=185}}{{sfn|Canduci|2010|p=44}}. |
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No início da revolta, Cássio estava numa posição razoável. Em sua terra natal, a [[Síria romana|Síria]], e, de forma mais ampla, em todas as províncias orientais, Cássio tinha um bom número de seguidores. Eles eram inspirados por uma combinação da ascendência real de Avídio e suas vitórias sobre os partas, além da supressão da revolta dos ''bucoli''{{sfn|Birley|2001|p=185}}. Ele também tinha laços matrimoniais com um importante grupo de nobres da [[Lícia]]. |
No início da revolta, Cássio estava numa posição razoável. Em sua terra natal, a [[Síria romana|Síria]], e, de forma mais ampla, em todas as províncias orientais, Cássio tinha um bom número de seguidores. Eles eram inspirados por uma combinação da ascendência real de Avídio e suas vitórias sobre os partas, além da supressão da revolta dos ''bucoli''{{sfn|Birley|2001|p=185}}. Ele também tinha laços matrimoniais com um importante grupo de nobres da [[Lícia]]. |
Revisão das 18h56min de 17 de novembro de 2014
Caio Avídio Cássio | |
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Usurpador do Império Romano | |
Reinado | 175 |
Consorte | Volúsia Vécia Meciana |
Antecessor(a) | Marco Aurélio |
Sucessor(a) | Marco Aurélio |
Nascimento | c. 130 |
Cirro, Síria | |
Morte | julho de 175 (45 anos) |
Egito ou Síria | |
Nome completo | Gaius Avidius Cassius |
Pai | Caio Avídio Heliodoro |
Mãe | Júlia Cássia Alexandra |
Filho(s) | Avídio Heliodoro Avídio Meciano Avídia Alexandra |
Caio Avídio Cássio (em latim: Gaius Avidius Cassius) foi um general e usurpador romano que reinou por um breve período o Egito e a Síria em 175.
Contexto
Um descendente do rei selêucida Antíoco IV Epifanes[1][2], Avídio era filho de Caio Avídio Heliodoro, um importante orador que havia sido prefeito augustal (praefectus augustalis) da província do Egito entre 137 e 142 no reinado de Adriano, e sua esposa Júnia Cássia Alexandria[3][4]. Ele nasceu na cidade de Cirro, na Síria[1], embora ele tenha certa vez chamado Alexandria de sua sua "cidade paterna"[5].
Primeiros anos
Assume-se que Cássio teria começado sua carreira durante o reinado de Antonino Pio[6]. Possivelmente escolhido como questor depois de ter servido em posições inferiores em 154[7], acredita-se que o jovem vir militaris[8] tenha recebido seu posto nos anos finais de Antonino como um legado em uma das legiões que vigiavam os sármatas na fronteira do Danúbio na Mésia Inferior[9]. É certo que, a partir de 161, ele aparece como legado ali[10].
Por volta de 164, durante o reinado de Lúcio Vero, Avídio rapidamente ganhou importância como legado da III Gallica[1]. Extremamente disciplinado[11], ele marchou em 165 pelo Eufrates e derrotou os partas em Dura-Europos. No final do mesmo ano, Cássio seguiu para o sul e atravessou a Mesopotâmia em seu ponto mais estreito e atacou as cidades-gêmeas partas às margens do Tigre, Selêucia, na margem direita, e Ctesifonte, a capital parta, na esquerda[12]. Em seguida, ele incendiou o palácio de Vologases e, apesar de Selêucia ter aberto seus portões aos romanos, destruiu-a também alegando que a população teria descumprido os termos do acordo de rendição[12].
Precisando desesperadamente de suprimentos e com as tropas mostrando os primeiros sinais de contaminação pela peste, Avídio marchou de volta para a Síria com os espólios da campanha. Depois de comunicar os detalhes da campanha a Roma, ele foi recompensado com um posto de senador, embora o sucesso tenha sido creditado principalmente ao seu comandante-em-chefe, o imperador Lúcio Vero. Este, por sua vez, aparece como um excelente comandante, que não temia delegar tarefas militares à generais mais competentes do que ele próprio[13].
Em maio de 166, Cássio foi nomeado cônsul sufecto, uma posição que ele ocupou sem pisar em Roma[14]. Naquele ano, ele e Vero lançaram uma nova campanha contra os partas, desta vez cruzando o Tigre pelo norte e seguindo para a Média. No final do mesmo ano, Cássio foi promovido a legado imperial da província da Síria[15].
Em 172, Cássio sufocou a revolta dos bucoli ("pastores") que irrompera na região da Pentápolis no Médio Egito por causa de um aumento explosivo do preço dos cereais[3]. A estratégia de Avídio era dividir as diversas tribos, mas, antes dele chegar ao Egito, Avídio recebeu poderes especiais que davam-lhe o imperium sobre todas as províncias do oriente[16].
Usurpador
Em 175, Avídio Cássio foi proclamado imperador romano depois que notícias falsas sobre a morte de Marco Aurélio[17][18] terem chegado ao Egito. As fontes indicam também que ele teria sido encorajado pela esposa de Marco Aurélio, Faustina, que estava preocupada com o estado de saúde do marido e acreditava que ele estivesse à beira da morte. Por isso, ela teria confiado em Cássio para agir como protetor dela e do jovem Cômodo, que tinha apenas treze anos na época[17][19]. Faustina também queria alguém que pudesse atuar como contraponto às alegações de Tibério Cláudio Pompeiano, que estava em posição favorável para tomar o posto de príncipe (o imperador) caso Marco Aurélio morresse[20]. As evidências, incluindo as "Meditações", do próprio Marco Aurélio, dão suporte à ideia de que o imperador de fato estava bastante adoentado na época[20], mas, quando ele se recuperou, Cássio já havia sido aclamado pela legião egípcia, a II Traiana Fortis.
A princípio, segundo Dião Cássio, Marco Aurélio, que estava em campanha contra os marcomanos no norte, tentou esconder a revolta de seus soldados[21], mas, depois que todos descobriram, ele fez um discurso. Nele, um texto que Dião Cássio atribui ao imperador, ele lamenta a deslealdade de "um querido amigo" e, ao mesmo tempo, expressa sua esperança de que Cássio não seja morto ou cometa o suicídio para que ele próprio possa mostra-lhe sua misericórdia[19]. Em paralelo, o senado romano declarou Cássio inimigo público[20][18].
No início da revolta, Cássio estava numa posição razoável. Em sua terra natal, a Síria, e, de forma mais ampla, em todas as províncias orientais, Cássio tinha um bom número de seguidores. Eles eram inspirados por uma combinação da ascendência real de Avídio e suas vitórias sobre os partas, além da supressão da revolta dos bucoli[20]. Ele também tinha laços matrimoniais com um importante grupo de nobres da Lícia.
Em relação aos recursos militares, Avídio tinha sete legiões - suas três legiões sírias, mais duas na Síria Palestina, uma na Arábia Pétrea e outra no Egito. O prefeito desta última, Calvísio Estaciano, juntou-se à revolta[11]. Foi no Egito que Cássio construiu sua base de operações e sabe-se que ele foi eleito imperador lá em 3 de maio, uma vez que um único documento desta data aparece sendo do último ano do reinado de Cássio[11]. Embora ele tenha passado a controlar a maior parte de uma das partes mais importantes do Império Romano - o Egito -, Avídio Cássio não conseguiu entrar apoio amplo para sua revolta[11].
O governador da Capadócia, Márcio Vero, permaneceu leal ao imperador enquanto Herodes Ático teria enviado-lhe uma carta contendo a palavra grega "emanes" ("Você é louco")[21]. Naturalmente, os habitantes de Roma entraram em pânico, o que forçou o imperador a enviar Caio Vécio Sabiniano Júlio Hospes, governador da Panônia Inferior, com ordens de tomar a cidade[21]. Porém, rapidamente ficou claro que Marco Aurélio estava em vantagem, com mais legiões sob seu comando do que Avídio jamais conseguiria levantar[22]. "Depois de um sonho de império durando três meses e cinco dias", Avídio Cássio foi assassinado por um centurião[23] e sua cabeça foi enviada ao imperador, que se recusou a vê-la e ordenou que ela fosse enterrada.
Casamento e filhos
Avídio Cássio casou-se com Volúsia Vécia (ou Volúsia Meciana), filha de Lúcio Volúsio Meciano[4], com quem teve pelo menos três filhos (a História Augusta implica que ele teve mais)[24]:
- Avídio Heliodoro - banido por ordem do imperador[25].
- Avídio Meciano - assassinado depois da revolta[25].
- Avídia Alexandra - conseguiu manter sua liberdade, ainda que de forma restrita[25].
Família
Árvore genealógica da Dinastia nerva-antonina
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Notas:
Exceto se explicitado de outra forma, as notas abaixo indicam que o parentesco de um indivíduo em particular é exatamente o que foi indicado na árvore genealógica acima.
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Referências:
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Ver também
Precedido por Marco Aurélio |
Imperador romano 175 |
Sucedido por Marco Aurélio |
Referências
- ↑ a b c Birley 2001, p. 130.
- ↑ Astarita 1983, p. 18.
- ↑ a b Smith 1870, p. 626.
- ↑ a b Astarita 1983, p. 27.
- ↑ Millar, Fergus (1995). The Roman Near East, 31 B.C.-A.D. 337. [S.l.]: Harvard University Press. p. 116. ISBN 978-0-674-77886-3
- ↑ Astarita 1983, p. 31.
- ↑ Astarita 1983, p. 34.
- ↑ Astarita 1983, p. 33.
- ↑ Astarita 1983, p. 38.
- ↑ Astarita 1983, p. 32.
- ↑ a b c d Birley 2001, p. 186.
- ↑ a b Birley 2001, p. 140.
- ↑ Birley 2001, p. 141.
- ↑ Birley 2001, p. 142.
- ↑ Birley 2001, p. 145.
- ↑ Birley 2001, p. 174.
- ↑ a b Birley 2001, p. 184.
- ↑ a b Canduci 2010, p. 44.
- ↑ a b Smith 1870, p. 441.
- ↑ a b c d Birley 2001, p. 185.
- ↑ a b c Birley 2001, p. 187.
- ↑ Birley 2001, p. 188.
- ↑ Birley 2001, p. 189.
- ↑ Astarita 1983, p. 26.
- ↑ a b c Birley 2001, p. 191.
Bibliografia
Fontes primárias
- Anônimo (ca. 395 AD). Historia Augusta (em latim). [S.l.: s.n.]
- Dião Cássio (ca. 200 AD). História Romana (em Grego antigo). [S.l.: s.n.]
Fontes secundárias
- Astarita, Maria Laura (1983). Avidio Cassio (em Italian). [S.l.]: Ed. di Storia e Letteratura
- Birley, Anthony (2001). Marcus Aurelius: A Biography. Col: Roman imperial biographies. London and New York: Taylor & Francis e-Library. ISBN 978-0-415-17125-0
- Canduci, Alexander (2010). Triumph & Tragedy: The Rise and Fall of Rome’s Immortal Emperors. Col: Roman imperial biographies. Sydney: Pier 9. ISBN 978-1-74196-598-8
- Smith, William (1880). Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology Vol I. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-74196-598-8
Ligações externas
- Relief at Ephesus, including a possible rendering of Avidius Cassius, now headless (third photo on page)