Anais (história): diferenças entre revisões

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== História ==
== História ==
=== Roma Antiga ===
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As principais fontes de informação a respeito dos anais da [[Roma Antiga]] são duas passagens de dois autores da época, o célebre [[Cícero]] (''[[De Oratore]]'', ii. 12. 52) e [[Mário Sérvio Honorato|Sérvio]] (''ad Aen''. i. 373), que já foram o alvo de muita discussão acadêmica. Cícero afirma que desde os períodos mais arcaicos até o pontificado de [[Públio Múcio Cévola]] (c. [[131 a.C.]]) era comum que o [[pontífice máximo]] (''pontifex maximus''), sacerdote supremo da [[religião romana]], registrasse numa tabuleta branca (''álbum''), que era exibida num lugar aberto de sua casa, para que as pessoas o lessem, o nome dos [[cônsul]]es e outros [[magistrado]]s, além dos eventos notáveis que ocorriam durante o ano (''per singulos dies'', nas palavras de Sérvio). Estes registros eram chamados, na época de Cícero, de ''[[Annales maximi]]''. Após o pontificado de Públio, a prática de compilar os anais era realizada por diversos escritores não-oficiais, dos quais Cícero identifica [[Catão, o Velho]], [[Píctor]] e [[Pisão]]{{dn}}. Os Anais foram tradicionalmente associados aos Comentários Pontifícios (''Commentarii Pontificum''), citados por [[Lívio]], porém parece existir razões para que se acredite que eram duas obras distintas, das quais os Comentários era tido como mais completo e mais circunstancial.
As principais fontes de informação a respeito dos anais da [[Roma Antiga]] são duas passagens de dois autores da época, o célebre [[Cícero]] (''[[De Oratore]]'', ii. 12. 52) e [[Mário Sérvio Honorato|Sérvio]] (''ad Aen''. i. 373), que já foram o alvo de muita discussão acadêmica. Cícero afirma que desde os períodos mais arcaicos até o pontificado de [[Públio Múcio Cévola]] (c. [[131 a.C.]]) era comum que o [[pontífice máximo]] (''pontifex maximus''), sacerdote supremo da [[religião romana]], registrasse numa tabuleta branca (''álbum''), que era exibida num lugar aberto de sua casa, para que as pessoas o lessem, o nome dos [[cônsul]]es e outros [[magistrado]]s, além dos eventos notáveis que ocorriam durante o ano (''per singulos dies'', nas palavras de Sérvio). Estes registros eram chamados, na época de Cícero, de ''[[Annales maximi]]''. Após o pontificado de Públio, a prática de compilar os anais era realizada por diversos escritores não-oficiais, dos quais Cícero identifica [[Catão, o Velho]], [[Píctor]] e [[Lúcio Calpúrnio Pisão (cônsul em 27)|Pisão]]{{dn}}. Os Anais foram tradicionalmente associados aos Comentários Pontifícios (''Commentarii Pontificum''), citados por [[Lívio]], porém parece existir razões para que se acredite que eram duas obras distintas, das quais os Comentários era tido como mais completo e mais circunstancial.


A natureza da distinção entre os anais e uma obra histórica típica é um assunto que recebeu grande atenção; a base desta discussão parece ter se iniciado com a passagem citada anteriormente, de Cícero, e pela divisão feita comumente à obra do famoso [[historiador]] romano [[Tácito]] em ''[[Anais (Tácito)|Anais]]'' e ''[[Histórias (Tácito)|Histórias]]''. O [[gramático]] [[Aulo Gélio]] cita o também gramático [[Vérrio Flaco]], que teria dito que História, devido à sua [[etimologia]] (do [[Língua grega|grego]] ιστορειν, em [[latim]] ''inspicere'', "investigar", "questionar") é um registro de eventos que foram observados pelo próprio autor, enquanto Anais seriam registros dos eventos de tempos anteriores, organizados ano a ano.<ref>Aulo Gélio, Noites Áticas (v. 18)</ref> Este ponto de vista sobre a distinção refletiu-se na divisão feita à obra de Tácito, que agrupou nas Histórias os eventos de seu próprio tempo, e nos ''[[Anais (Tácito)|Anais]]'' a história de períodos mais antigos. Não se pode dizer, no entanto, que tal separação foi sancionada pelo próprio Tácito; acredita-se que ele tenha designado toda a obra como Anais, ou que não utilizava qualquer tipo de designação.
A natureza da distinção entre os anais e uma obra histórica típica é um assunto que recebeu grande atenção; a base desta discussão parece ter se iniciado com a passagem citada anteriormente, de Cícero, e pela divisão feita comumente à obra do famoso [[historiador]] romano [[Tácito]] em ''[[Anais (Tácito)|Anais]]'' e ''[[Histórias (Tácito)|Histórias]]''. O [[gramático]] [[Aulo Gélio]] cita o também gramático [[Vérrio Flaco]], que teria dito que História, devido à sua [[etimologia]] (do [[Língua grega|grego]] ιστορειν, em [[latim]] ''inspicere'', "investigar", "questionar") é um registro de eventos que foram observados pelo próprio autor, enquanto Anais seriam registros dos eventos de tempos anteriores, organizados ano a ano.<ref>Aulo Gélio, Noites Áticas (v. 18)</ref> Este ponto de vista sobre a distinção refletiu-se na divisão feita à obra de Tácito, que agrupou nas Histórias os eventos de seu próprio tempo, e nos ''[[Anais (Tácito)|Anais]]'' a história de períodos mais antigos. Não se pode dizer, no entanto, que tal separação foi sancionada pelo próprio Tácito; acredita-se que ele tenha designado toda a obra como Anais, ou que não utilizava qualquer tipo de designação.

Revisão das 16h41min de 28 de janeiro de 2015

Anais (do latim annales, de annus, "ano") são, tradicionalmente, uma forma concisa de registro da história de um povo ou instituição, originalmente organizada ano a ano. O termo passou a designar, por derivação, qualquer publicação científica ou artística de frequência regular ou periódica, ou obra que registre memórias ou fatos pessoais.

História

Roma Antiga

As principais fontes de informação a respeito dos anais da Roma Antiga são duas passagens de dois autores da época, o célebre Cícero (De Oratore, ii. 12. 52) e Sérvio (ad Aen. i. 373), que já foram o alvo de muita discussão acadêmica. Cícero afirma que desde os períodos mais arcaicos até o pontificado de Públio Múcio Cévola (c. 131 a.C.) era comum que o pontífice máximo (pontifex maximus), sacerdote supremo da religião romana, registrasse numa tabuleta branca (álbum), que era exibida num lugar aberto de sua casa, para que as pessoas o lessem, o nome dos cônsules e outros magistrados, além dos eventos notáveis que ocorriam durante o ano (per singulos dies, nas palavras de Sérvio). Estes registros eram chamados, na época de Cícero, de Annales maximi. Após o pontificado de Públio, a prática de compilar os anais era realizada por diversos escritores não-oficiais, dos quais Cícero identifica Catão, o Velho, Píctor e Pisão[desambiguação necessária]. Os Anais foram tradicionalmente associados aos Comentários Pontifícios (Commentarii Pontificum), citados por Lívio, porém parece existir razões para que se acredite que eram duas obras distintas, das quais os Comentários era tido como mais completo e mais circunstancial.

A natureza da distinção entre os anais e uma obra histórica típica é um assunto que recebeu grande atenção; a base desta discussão parece ter se iniciado com a passagem citada anteriormente, de Cícero, e pela divisão feita comumente à obra do famoso historiador romano Tácito em Anais e Histórias. O gramático Aulo Gélio cita o também gramático Vérrio Flaco, que teria dito que História, devido à sua etimologia (do grego ιστορειν, em latim inspicere, "investigar", "questionar") é um registro de eventos que foram observados pelo próprio autor, enquanto Anais seriam registros dos eventos de tempos anteriores, organizados ano a ano.[1] Este ponto de vista sobre a distinção refletiu-se na divisão feita à obra de Tácito, que agrupou nas Histórias os eventos de seu próprio tempo, e nos Anais a história de períodos mais antigos. Não se pode dizer, no entanto, que tal separação foi sancionada pelo próprio Tácito; acredita-se que ele tenha designado toda a obra como Anais, ou que não utilizava qualquer tipo de designação.

Referências

  1. Aulo Gélio, Noites Áticas (v. 18)

Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.

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