Diocleciano: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Referências repetidas em referências nomeadas.
Etiquetas: Referências removidas Editor Visual
m Remoção de referências repetidas
Linha 34: Linha 34:
Existem evidências que entre os séculos II e IV fatores como poder imperial, cultura literária da elite e os modos de vida no interno das cidades e áreas rurais, permanecerem inabaláveis.  O sistema imperial como um todo não foi perturbado, apesar das turbulências político-militares.<ref>WISTCHEL, 2004, p. 273 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 158</ref> Por outro lado, os problemas com exército, inflação, política e até mesmo a substituição da mão de obra escrava também ocorreram nos séculos II e IV,<ref>BRAVO CASTAÑEDA, 2012, p. 121 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 159</ref> por isso a ideia de crise não poderia ser restrita apenas ao século III, ela foi característica de um longo período.
Existem evidências que entre os séculos II e IV fatores como poder imperial, cultura literária da elite e os modos de vida no interno das cidades e áreas rurais, permanecerem inabaláveis.  O sistema imperial como um todo não foi perturbado, apesar das turbulências político-militares.<ref>WISTCHEL, 2004, p. 273 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 158</ref> Por outro lado, os problemas com exército, inflação, política e até mesmo a substituição da mão de obra escrava também ocorreram nos séculos II e IV,<ref>BRAVO CASTAÑEDA, 2012, p. 121 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 159</ref> por isso a ideia de crise não poderia ser restrita apenas ao século III, ela foi característica de um longo período.


A ideia de crise também não era um consenso na época, visto que a maior parte da população não tinha essa noção, sendo algo mais restrito aos políticos, soldados e pessoas que vivam nas áreas de fronteiras, onde ocorreram diversas invasões.<ref>ANTIQUEIRA, 2015, p. 156</ref> Um modelo histórico tão geral não tem como dar conta de explicar toda a complexidade e as situações individuais que marcaram um Império tão vasto como o romano<ref>(WITSCHEL, 2004, p. 252 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 157 )</ref>. Outro ponto que corrobora esse argumento é o fato de que algumas regiões do Império, como a província do Egito e outras regiões do norte da África, apresentaram crescimento econômico e não teriam sido afetadas pelas ameaças militares<ref>(STROBEL, 1993, p. 11 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 156 )</ref>.
A ideia de crise também não era um consenso na época, visto que a maior parte da população não tinha essa noção, sendo algo mais restrito aos políticos, soldados e pessoas que vivam nas áreas de fronteiras, onde ocorreram diversas invasões.<ref>ANTIQUEIRA, 2015, p. 156</ref> Um modelo histórico tão geral não tem como dar conta de explicar toda a complexidade e as situações individuais que marcaram um Império tão vasto como o romano<ref>WITSCHEL, 2004, p. 252 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 157</ref>. Outro ponto que corrobora esse argumento é o fato de que algumas regiões do Império, como a província do Egito e outras regiões do norte da África, apresentaram crescimento econômico e não teriam sido afetadas pelas ameaças militares.<ref>STROBEL, 1993, p. 11 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 156</ref>


=== Dominato ===
=== Dominato ===
Linha 66: Linha 66:
[[Imagem:Roman Empire with dioceses in 300 AD-pt.gif|thumb|upright=2.0|As 12 [[diocese]]s na nova [[tetrarquia|divisão tetrárquica]] do [[Império Romano]] implantada por Diocleciano por volta de {{DC|300|x}}]]
[[Imagem:Roman Empire with dioceses in 300 AD-pt.gif|thumb|upright=2.0|As 12 [[diocese]]s na nova [[tetrarquia|divisão tetrárquica]] do [[Império Romano]] implantada por Diocleciano por volta de {{DC|300|x}}]]


A Tetrarquia foi um sistema de governo baseado na divisão administrativa imperial entre quatro titulares, marcado pela adoção de amplas reformas no setor público as quais, visavam a restauração e reorganização do Estado e a manutenção do exército, não obstante, dentro da [[Tetrarquia]] ocorre a aproximação mítico-religiosa com o sistema imperial, consagrando a autoridade do [[Augusto]] ''senior'', ou senhor.<ref>SILVA; MENDES, 2006, p.197 - 199.</ref>
A Tetrarquia foi um sistema de governo baseado na divisão administrativa imperial entre quatro titulares, marcado pela adoção de amplas reformas no setor público as quais, visavam a restauração e reorganização do Estado e a manutenção do exército, não obstante, dentro da [[Tetrarquia]] ocorre a aproximação mítico-religiosa com o sistema imperial, consagrando a autoridade do [[Augusto]] ''senior''.<ref>SILVA; MENDES, 2006, p. 197-199</ref>


A vitória militar de [[Maximiano]] sobre os rebeldes bagautas levou, Diocleciano a investi-lo com o título de [https://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_(t%C3%ADtulo) Augusto], a fim de evitar que [[Maximiano]] se tornasse um usurpador em potencial. [[Galério]] e [[Constâncio Cloro]] foram eleitos a [https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9sar_(t%C3%ADtulo) César] após se casarem com as filhas de Diocleciano e [[Maximiano]], respectivamente. Dessa forma, era constituída uma aliança política através da aliança familiar, composta por dois Augustos e dois Césares, num sistema que se convencionou chamar de [[Tetrarquia]]. Dentro desse sistema a defesa e a administração do império foi dividida entre cada um dos quatro membros, de forma que cada membro possuía sua própria capital. Diocleciano ficou responsável pelo Oriente e o Egito, [[Galério]] ficou responsável pela [[Grécia]] e as pelas províncias danubianas, [[Maximiano]] pela Itália e a África e [[Constâncio]] pelas províncias ocidentais e Alpes Gálicos, sendo que a unidade do colégio imperial era mantida por Diocleciano, enquanto Augustus ''senior'' que se intitulou de ''Iovius'', ou [[Júpter]], comparando-se às próprias divindades, legitimando seu poder a partir da justificativa teológica que consistia segundo os pagãos, a uma assistência prestada pelos deuses aos imperadores, garantindo na terra a reprodução da ordem divina.<ref>SILVA; MENDES, 2006, p.199 - 201.</ref>
A vitória militar de [[Maximiano]] sobre os rebeldes bagautas levou, Diocleciano a investi-lo com o título de [https://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_(t%C3%ADtulo) Augusto], a fim de evitar que [[Maximiano]] se tornasse um usurpador em potencial. [[Galério]] e [[Constâncio Cloro]] foram eleitos a [https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9sar_(t%C3%ADtulo) César] após se casarem com as filhas de Diocleciano e [[Maximiano]], respectivamente. Dessa forma, era constituída uma aliança política através da aliança familiar, composta por dois Augustos e dois Césares, num sistema que se convencionou chamar de [[Tetrarquia]]. Dentro desse sistema a defesa e a administração do império foi dividida entre cada um dos quatro membros, de forma que cada membro possuía sua própria capital. Diocleciano ficou responsável pelo Oriente e o Egito, [[Galério]] ficou responsável pela [[Grécia]] e as pelas províncias danubianas, [[Maximiano]] pela Itália e a África e [[Constâncio]] pelas províncias ocidentais e Alpes Gálicos, sendo que a unidade do colégio imperial era mantida por Diocleciano, enquanto Augustus ''senior'' que se intitulou de ''Iovius'', ou [[Júpter]], comparando-se às próprias divindades, legitimando seu poder a partir da justificativa teológica que consistia segundo os pagãos, a uma assistência prestada pelos deuses aos imperadores, garantindo na terra a reprodução da ordem divina.<ref>SILVA; MENDES, 2006, p. 199-201</ref>


A criação da [[Tetrarquia]] em conjunto com outras medidas adotadas no período levou a um processo de burocratização da administração pública, pela separação e especialização dos cargos e tarefas administrativas, se estendendo também às reformas realizadas no exército como a separação das carreiras civil e militar e o crescente aumento do seu efetivo.<ref>SILVA; MENDES, 2006, p.203 - 208.</ref>
A criação da [[Tetrarquia]] em conjunto com outras medidas adotadas no período levou a um processo de burocratização da administração pública, pela separação e especialização dos cargos e tarefas administrativas, se estendendo também às reformas realizadas no exército como a separação das carreiras civil e militar e o crescente aumento do seu efetivo.<ref>SILVA; MENDES, 2006, p. 203-208</ref>


== Reformas econômicas ==
== Reformas econômicas ==
[[Imagem:Edict on Maximum Prices Diocletian piece in Berlin.jpg|thumb|upright=1.0|[[Édito Máximo]]]]
[[Imagem:Edict on Maximum Prices Diocletian piece in Berlin.jpg|thumb|upright=1.0|[[Édito Máximo]]]]
Quando Diocleciano assumiu o poder como [[Imperador romano|imperador]], junto ele assumiu todos os problemas econômicos do império, então durante seu governo ele tomou várias medidas para estabilizar a [[Economia do Império Romano|economia]]. Dentre estas medidas estão à reforma feita na cobrança de impostos e a maneira como eles seriam cobrados, que contava com um censo para saber com quanto cada cidadão poderia contribuir. Também fez uma mudança na [[cunhagem]] das [[Moeda da Roma Antiga|moedas]], organizou a sua produção para tentar resolver a instabilidade da economia e dar novamente valor para as moedas do império. Além destas, houve também a emissão do Edito de Preço Máximo, que estabelecia um preço máximo e fixo para todos os produtos, na intenção de estabilizar a [[inflação]].<ref>PETITT, 2012, p.2 e p.67. SILVA; MENDES, 2006, p. 211.</ref>
Quando Diocleciano assumiu o poder como [[Imperador romano|imperador]], junto ele assumiu todos os problemas econômicos do império, então durante seu governo ele tomou várias medidas para estabilizar a [[Economia do Império Romano|economia]]. Dentre estas medidas estão à reforma feita na cobrança de impostos e a maneira como eles seriam cobrados, que contava com um censo para saber com quanto cada cidadão poderia contribuir. Também fez uma mudança na [[cunhagem]] das [[Moeda da Roma Antiga|moedas]], organizou a sua produção para tentar resolver a instabilidade da economia e dar novamente valor para as moedas do império. Além destas, houve também a emissão do Edito de Preço Máximo, que estabelecia um preço máximo e fixo para todos os produtos, na intenção de estabilizar a [[inflação]].<ref>PETITT, 2012, p. 2, 67</ref><ref name="SILM211">SILVA; MENDES, 2006, p. 211</ref>


=== Reformas fiscais ===
=== Reformas fiscais ===
O [[Império Romano]] vinha de uma falta de organização na taxação dos produtos e cobrança dos impostos, além de receber o império já com uma inflação muito alta e com a sua [[Moeda da Roma Antiga|moeda]] valendo muito pouco. Pensando nisso, Diocleciano decidiu fazer algumas alterações no sistema de impostos, que nesta época eram necessários não somente para o uso geral do império, como também para cobrir os custos e gastos com o [[Exército romano|contingente militar]] de Diocleciano <ref>PETITT, 2012, p.66-68.</ref>
O [[Império Romano]] vinha de uma falta de organização na taxação dos produtos e cobrança dos impostos, além de receber o império já com uma inflação muito alta e com a sua [[Moeda da Roma Antiga|moeda]] valendo muito pouco. Pensando nisso, Diocleciano decidiu fazer algumas alterações no sistema de impostos, que nesta época eram necessários não somente para o uso geral do império, como também para cobrir os custos e gastos com o [[Exército romano|contingente militar]] de Diocleciano <ref>PETITT, 2012, p. 66-68.</ref>


Ele enviou então agentes para analisar todos os produtos e a quantidade que cada [[Cidadania romana|cidadão]] produzia, para com isso fazer um recenseamento e assim saber quanto cada um produzia e com quanto cada um poderia ajudar. Esta avaliação era feita através de uma análise de bens (''caput'') e da terra (''iuga''), no qual o preço a ser pago dependeria do tamanho da terra, dos animais, da quantidade de trabalhadores que ali exerciam sua função. <ref>SILVA; MENDES, 2006, p.211.</ref> Mas mais um problema precisava ser solucionado para que este novo método de impostos funcionasse, o modo de pagamento. Como a [[Moeda da Roma Antiga|moeda romana]] vinha passando por uma grande desvalorização, Diocleciano decidiu a forma de pagamento dos impostos, que não seriam mais feitos com dinheiro, mas com produtos. Uma lista das necessidades era gerada e cada cidadão pagaria com o que poderia e com a quantia que lhe cabia, dependendo do resultado dor recenseamento. <ref>PETITT, 2012, p.69-71.</ref>
Ele enviou então agentes para analisar todos os produtos e a quantidade que cada [[Cidadania romana|cidadão]] produzia, para com isso fazer um recenseamento e assim saber quanto cada um produzia e com quanto cada um poderia ajudar. Esta avaliação era feita através de uma análise de bens (''caput'') e da terra (''iuga''), no qual o preço a ser pago dependeria do tamanho da terra, dos animais, da quantidade de trabalhadores que ali exerciam sua função.<ref name="SILM211" /> Mas mais um problema precisava ser solucionado para que este novo método de impostos funcionasse, o modo de pagamento. Como a [[Moeda da Roma Antiga|moeda romana]] vinha passando por uma grande desvalorização, Diocleciano decidiu a forma de pagamento dos impostos, que não seriam mais feitos com dinheiro, mas com produtos. Uma lista das necessidades era gerada e cada cidadão pagaria com o que poderia e com a quantia que lhe cabia, dependendo do resultado do recenseamento. <ref>PETITT, 2012, p. 69-71</ref>


Outra reforma de Diocleciano dizia respeito à proibição de abandono por parte dos colonos agricultores e arrendatários das terras que cultivavam. Os trabalhadores urbanos também deveriam passar seus ensinamentos para seus filhos, mantendo assim uma estabilização na demanda e produção.<ref name="CARLAN9" />
Outra reforma de Diocleciano dizia respeito à proibição de abandono por parte dos colonos agricultores e arrendatários das terras que cultivavam. Os trabalhadores urbanos também deveriam passar seus ensinamentos para seus filhos, mantendo assim uma estabilização na demanda e produção.<ref name="CARLAN9" />
Linha 86: Linha 86:
As [[Moeda da Roma Antiga|moedas]] do império chegaram ao comando de Diocleciano valendo muito pouco. Então Diocleciano fez uma reforma nas [[Moeda da Roma Antiga|moedas]] e suas formas de [[cunhagem]]. Em 294, ele reorganizou as casas de cunhagens romanas, que na época eram muitas e espalhadas por várias [[Província romana|províncias]], o que dificultava ainda mais o processo de fiscalização. Criou então algumas casas principais, nas principais cidades do império para que se tivesse um padrão de qualidade nas moedas. Ele inseriu então três moedas as de ouro [[Áureo|(''aureus'']]), serviam para realizar apenas os pagamentos militares, as moedas de prata (''argenteus'') e as moedas de bronze (''[[Denário|denarii]]'') que seriam usadas para as transações menores e corriqueiras.<ref name="CARLAN9" /><ref>BOWMAN, 2005, p. 83</ref><ref>PETITT, 2012, p. 67</ref>
As [[Moeda da Roma Antiga|moedas]] do império chegaram ao comando de Diocleciano valendo muito pouco. Então Diocleciano fez uma reforma nas [[Moeda da Roma Antiga|moedas]] e suas formas de [[cunhagem]]. Em 294, ele reorganizou as casas de cunhagens romanas, que na época eram muitas e espalhadas por várias [[Província romana|províncias]], o que dificultava ainda mais o processo de fiscalização. Criou então algumas casas principais, nas principais cidades do império para que se tivesse um padrão de qualidade nas moedas. Ele inseriu então três moedas as de ouro [[Áureo|(''aureus'']]), serviam para realizar apenas os pagamentos militares, as moedas de prata (''argenteus'') e as moedas de bronze (''[[Denário|denarii]]'') que seriam usadas para as transações menores e corriqueiras.<ref name="CARLAN9" /><ref>BOWMAN, 2005, p. 83</ref><ref>PETITT, 2012, p. 67</ref>


Essas moedas foram implantadas não somente para revigorar a economia romana, mas também traziam em seu corpo desenhos que representavam a riqueza do império e também ajudavam na construção da imagem de legitimidade do imperador. Muitas dessas moedas cunhadas possuíam imagens de Diocleciano de um lado e de [[Júpiter (mitologia)|Júpiter]] do outro ou então [[Maximiano]] e [[Hércules]]. Essas associações divinas representavam a aprovação [[Mitologia romana|divina]] e além de legitimar o poder tanto de Diocleciano quanto de [[Maximiano]] contribuiu para que durante grande parte da [[Tetrarquia]] fossem considerados filhos desses deuses. <ref>CARLAN, 2006, p.9-11.</ref>
Essas moedas foram implantadas não somente para revigorar a economia romana, mas também traziam em seu corpo desenhos que representavam a riqueza do império e também ajudavam na construção da imagem de legitimidade do imperador. Muitas dessas moedas cunhadas possuíam imagens de Diocleciano de um lado e de [[Júpiter (mitologia)|Júpiter]] do outro ou então [[Maximiano]] e [[Hércules]]. Essas associações divinas representavam a aprovação [[Mitologia romana|divina]] e além de legitimar o poder tanto de Diocleciano quanto de [[Maximiano]] contribuiu para que durante grande parte da [[Tetrarquia]] fossem considerados filhos desses deuses.<ref>CARLAN, 2006, p. 9-11</ref>


==== Moedas com a efígie de Diocleciano ====
==== Moedas com a efígie de Diocleciano ====
Linha 98: Linha 98:


=== Edito Máximo - 301 d.C. ===
=== Edito Máximo - 301 d.C. ===
O [[Império Romano]] passava por uma grande inflação devido a total desvalorização das [[Moeda da Roma Antiga|moedas locais]], para isso junto com a reorganização das [[Cunhagem|casas de cunhagem]], Diocleciano lançou um Edito para tentar contornar esta situação. Um edito era a maneira com a qual o imperador fazia para se comunicar com todo o resto da população, dando avisos e ditando [[Leis de Roma|leis]], estas ficavam geralmente expostas em lojas e centros de mercados, onde a maioria das pessoas teria acesso para ler. <ref>PETITT, 2012, p.67, p.73 e p.83.</ref>
O [[Império Romano]] passava por uma grande inflação devido a total desvalorização das [[Moeda da Roma Antiga|moedas locais]], para isso junto com a reorganização das [[Cunhagem|casas de cunhagem]], Diocleciano lançou um Edito para tentar contornar esta situação. Um edito era a maneira com a qual o imperador fazia para se comunicar com todo o resto da população, dando avisos e ditando [[Leis de Roma|leis]], estas ficavam geralmente expostas em lojas e centros de mercados, onde a maioria das pessoas teria acesso para ler. <ref>PETITT, 2012, p. 67, 73, 83</ref>


O Edito Máximo tinha como premissa fixar o preço máximo que um produto poderia ser vendido. Se algum comerciante, vendedor ou produtor quisesse vender seus produtos por um preço menor, nada o impediria disso, ele estava apenas não poderia vender seus produtos por preços maiores que os ditados pelo edito. Caso alguém vendesse por preços maiores que os propostos, seria condenado a [[Pena de morte|pena capital]], a mesma atribuída para crimes como o estupro de uma [[Vestal]] e traição. Um dos produtos incluídos dentro do edito foi a [[seda]] de cor púrpura. A única pessoa capaz de obter esse tipo de mercadoria seria o próprio [[Imperador romano|imperador]]. Com base nisso muitos estudiosos tendem a acreditar que esse ato serviria para mostrar para a população que o imperador seguiria os mesmos padrões dos demais habitantes do império. <ref>PETITT, 2012, p.79 e p.82</ref>
O Edito Máximo tinha como premissa fixar o preço máximo que um produto poderia ser vendido. Se algum comerciante, vendedor ou produtor quisesse vender seus produtos por um preço menor, nada o impediria disso, ele estava apenas não poderia vender seus produtos por preços maiores que os ditados pelo edito. Caso alguém vendesse por preços maiores que os propostos, seria condenado a [[Pena de morte|pena capital]], a mesma atribuída para crimes como o estupro de uma [[Vestal]] e traição. Um dos produtos incluídos dentro do edito foi a [[seda]] de cor púrpura. A única pessoa capaz de obter esse tipo de mercadoria seria o próprio [[Imperador romano|imperador]]. Com base nisso muitos estudiosos tendem a acreditar que esse ato serviria para mostrar para a população que o imperador seguiria os mesmos padrões dos demais habitantes do império.<ref>PETITT, 2012, p.79, 82</ref>


Porém, sua única função não foi estabilizar a [[Economia do Império Romano|economia romana]], mas também para confirmar o poder e controle de Diocleciano sobre a economia. Se o édito conseguisse estabilizar a economia, Diocleciano continuaria no comando do império. Para isso, na introdução escrita por ele mesmo para o edito alega que muitas outras vezes na história do império, outros imperadores já haviam usado editos para tentar resolver questões pertinentes. Além disso, Diocleciano alega ao povo que a culpa estava nos mercadores que por causa da ganância, causaram este grande problema. <ref>PETITT, 2012, p.66, p.72, p.75 e p.80.</ref>
Porém, sua única função não foi estabilizar a [[Economia do Império Romano|economia romana]], mas também para confirmar o poder e controle de Diocleciano sobre a economia. Se o édito conseguisse estabilizar a economia, Diocleciano continuaria no comando do império. Para isso, na introdução escrita por ele mesmo para o edito alega que muitas outras vezes na história do império, outros imperadores já haviam usado editos para tentar resolver questões pertinentes. Além disso, Diocleciano alega ao povo que a culpa estava nos mercadores que por causa da ganância, causaram este grande problema.<ref>PETITT, 2012, p.66, 72, 75, 80</ref>


Existem dúvidas acerca da abrangência [[Geografia do Império Romano|geográfica]] do edito. Pelo fato de não se ter encontrado evidências sobre o edito no lado [[Império Romano do Ocidente|Ocidental do Império]], muitos pesquisadores acreditam que ele tenha sido promulgado somente para o [[Império Bizantino|Império Oriental]]. Mas é necessário levar em conta que as cartas, editos e/ou mensagens demoravam muito tempo para chegarem de um lado do império até o outro. Outro fator que deve ser considerado é o fato que em 303 d.C., dois anos após a emissão do Edito Máximo, Diocleciano promulgou também o Edito Contra os Cristãos, que fez com que Diocleciano tivesse sua atenção voltada muito mais para os cristãos, dando assim muito mais importância para a perseguição a eles. <ref>PETITT, 2012, p.83-85</ref>
Existem dúvidas acerca da abrangência [[Geografia do Império Romano|geográfica]] do edito. Pelo fato de não se ter encontrado evidências sobre o edito no lado [[Império Romano do Ocidente|Ocidental do Império]], muitos pesquisadores acreditam que ele tenha sido promulgado somente para o [[Império Bizantino|Império Oriental]]. Mas é necessário levar em conta que as cartas, editos e/ou mensagens demoravam muito tempo para chegarem de um lado do império até o outro. Outro fator que deve ser considerado é o fato que em 303 d.C., dois anos após a emissão do Edito Máximo, Diocleciano promulgou também o Edito Contra os Cristãos, que fez com que Diocleciano tivesse sua atenção voltada muito mais para os cristãos, dando assim muito mais importância para a perseguição a eles.<ref>PETITT, 2012, p. 83-85</ref>


== A Grande Perseguição ==
== A Grande Perseguição ==
{{Artigo principal|[[Perseguição de Diocleciano]]}}
{{Artigo principal|[[Perseguição de Diocleciano]]}}
Desde o século I, os cristãos praticavam sua religião no território romano, mas não reconheciam a divindade do imperador, logo, foram considerados praticantes de uma religião transgressora, que desconsiderava a moralidade.<ref>CHEVITARESE, 2006, p. 169 apud OLIVEIRA, 2010, p. 19</ref> O cristianismo estava disseminado pelo Império Romano, exercendo sua religião ilícita e tomando espaço entre os romanos, implicando nas medidas persecutórias (éditos) de Diocleciano para restaurar a pureza moral do Império Romano, o respeito às leis romanas que promoveriam a indulgência divina<ref>SILVA, 2011, p. 37</ref> e a credibilidade na divindade do Imperador.<ref>OLIVEIRA, 2010, p. 19-21</ref>
Desde o século I, os cristãos praticavam sua religião no território romano, mas não reconheciam a divindade do imperador, logo, foram considerados praticantes de uma religião transgressora, que desconsiderava a moralidade.<ref>CHEVITARESE, 2006, p. 169 apud OLIVEIRA, 2010, p. 19</ref> O cristianismo estava disseminado pelo Império Romano, exercendo sua religião ilícita e tomando espaço entre os romanos, implicando nas medidas persecutórias (éditos) de Diocleciano para restaurar a pureza moral do Império Romano, o respeito às leis romanas que promoveriam a indulgência divina<ref name="SILV37">SILVA, 2011, p. 37</ref> e a credibilidade na divindade do Imperador.<ref>OLIVEIRA, 2010, p. 19-21</ref>


Os primeiros éditos persecutórios - promulgados em 303 - removeram cristãos de cargos públicos e destruíram igrejas<ref>SILVA, 2011, p. 37</ref>,  mas o que mais temiam os cristãos era o ''dies traditionis'', que consistia no dia da entrega das escrituras bíblicas ao império, para que estas fossem queimadas. O medo se caracterizava, pois acreditava-se na perda do poder sacramental que esses elementos continham.<ref>OLIVEIRA, 2010, p. 22</ref> Os próximos éditos lançados até 304, tornavam a vida e o culto cristãos cada vez mais árduos, pois estabeleciam medidas como detenção de líderes eclesiásticos e a obrigatoriedade do sacrifício aos deuses pagãos sob pena de execução.<ref>OLIVEIRA, 2010, p. 22</ref> Diferindo do tetrarca [[Galério]], Diocleciano não era favorável ao assassínio, porém houve esse apelo no quarto édito.<ref>SILVA, 2011, p. 38.</ref>
Os primeiros éditos persecutórios - promulgados em 303 - removeram cristãos de cargos públicos e destruíram igrejas<ref name="SILV37" />,  mas o que mais temiam os cristãos era o ''dies traditionis'', que consistia no dia da entrega das escrituras bíblicas ao império, para que estas fossem queimadas. O medo se caracterizava, pois acreditava-se na perda do poder sacramental que esses elementos continham.<ref name="OL22">OLIVEIRA, 2010, p. 22</ref> Os próximos éditos lançados até 304, tornavam a vida e o culto cristãos cada vez mais árduos, pois estabeleciam medidas como detenção de líderes eclesiásticos e a obrigatoriedade do sacrifício aos deuses pagãos sob pena de execução.<ref name="OL22" /> Diferindo do tetrarca [[Galério]], Diocleciano não era favorável ao assassínio, porém houve esse apelo no quarto édito.<ref name="SILV38">SILVA, 2011, p. 38</ref>


A diligência era liderada geralmente por um curador, um delegado da autoridade imperial, que durante o governo de Diocleciano ganhou o poder para administrar a finança e a polícia da cidade. Estes curadores eram auxiliados pelos ''officium publicum'' (secretários, escrivães, arquivistas) para cumprir as demandas fiscais contra os cristãos, e para isso, acredita-se que usavam de trabalhadores braçais para o transporte dos bens adquiridos das igrejas.<ref>LEPELLEY, 1979, p. 225-227 apud OLIVEIRA, 2010, p. 23-34</ref>
A diligência era liderada geralmente por um curador, um delegado da autoridade imperial, que durante o governo de Diocleciano ganhou o poder para administrar a finança e a polícia da cidade. Estes curadores eram auxiliados pelos ''officium publicum'' (secretários, escrivães, arquivistas) para cumprir as demandas fiscais contra os cristãos, e para isso, acredita-se que usavam de trabalhadores braçais para o transporte dos bens adquiridos das igrejas.<ref>LEPELLEY, 1979, p. 225-227 apud OLIVEIRA, 2010, p. 23-34</ref>


Após a abdicação de Diocleciano e [[Maximiano]], em 305, a perseguição não se manteve no império ocidental. No oriente, em 311 d.C, [[Galério]], enfermo, promulgou sua retratação, permitindo os cristãos a retomarem sua religião e seus lugares de culto. [[Galério]] ainda pediu que rezassem pela saúde dos imperadores e da ''res publica''.<ref>SILVA, 2011, p. 38</ref>
Após a abdicação de Diocleciano e [[Maximiano]], em 305, a perseguição não se manteve no império ocidental. No oriente, em 311 d.C, [[Galério]], enfermo, promulgou sua retratação, permitindo os cristãos a retomarem sua religião e seus lugares de culto. [[Galério]] ainda pediu que rezassem pela saúde dos imperadores e da ''res publica''.<ref name="SILV38" />


O [[Édito de Tolerância de Galério|Edito de Galério]], em 311, cessou oficialmente a perseguição, tornou o Deus dos cristãos umas da divindades patrona do Império e ajudou na consolidação das relações do cristianismo com o poder imperial. Entretanto, a perseguição no oriente se manteve sob a jurisdição de [[Maximino Daia]], um César sobrinho de [[Galério]].<ref>SILVA, 2011, p. 38</ref>
O [[Édito de Tolerância de Galério|Edito de Galério]], em 311, cessou oficialmente a perseguição, tornou o Deus dos cristãos umas da divindades patrona do Império e ajudou na consolidação das relações do cristianismo com o poder imperial. Entretanto, a perseguição no oriente se manteve sob a jurisdição de [[Maximino Daia]], um César sobrinho de [[Galério]].<ref name="SILV38" />


Desde meados dos século III, as ações persecutórias financiadas pelo poderio imperial romano podem ser compreendidas como globais. Por meio de éditos imperiais, buscava-se a legislação sobre uma unidade normativa de culto que tinha por objetivo manter a ''pax deorum'' (“paz dos deuses”).<ref>SILVA, 2011, p. 40</ref>
Desde meados dos século III, as ações persecutórias financiadas pelo poderio imperial romano podem ser compreendidas como globais. Por meio de éditos imperiais, buscava-se a legislação sobre uma unidade normativa de culto que tinha por objetivo manter a ''pax deorum'' (“paz dos deuses”).<ref>SILVA, 2011, p. 40</ref>


== Batalhas travadas durante seu governo ==
== Batalhas travadas durante seu governo ==
Além da vitória contra [[Carino]] na batalha do rio ''Margus'' no início de 285,<ref name="BM69" /> outras batalhas foram travadas antecedendo formação da [[diarquia]]. Dentre essas, destacam-se as ações de [[Maximiano]] na [[Gália]] contra os bagaudas, bandoleiros rurais descontentes com a tributação pesada, em 285<ref>BOWMAN, 2005, p. 70</ref> e as ações contra as invasões feitas por coalizões tribais (incluindo [[burgúndios]]/[[alamanos]] e caibões/[[hérulos]]) através do [[Reno]] entre 287 e 288.<ref>BOWMAN, 2005, p. 71</ref> A visão de [[Eutrópio (historiador)|Eutrópio]], segundo a qual [[Maximiano]] não teve problemas em controlar as revoltas desse campesinato, é questionada pelos pesquisadores.<ref>BOWMAN, 2005, p. 70</ref> Há também a incursão de [[Maximiano]] atravessando o [[Reno]] em direção a Alemanha após a inauguração de seu [[Cônsul (Roma Antiga)|consulado]] na cidade de [[Tréveris]] ser interrompida por ataques [[bárbaros]] em 287, essa já posterior a sua nomeação,<ref>BOWMAN, 2005, p. 72</ref> e as campanhas de Diocleciano contra os [[Sármatas]] em 285.<ref>BOWMAN, 2005, p. 73</ref>
Além da vitória contra [[Carino]] na batalha do rio ''Margus'' no início de 285,<ref name="BM69" /> outras batalhas foram travadas antecedendo formação da [[diarquia]]. Dentre essas, destacam-se as ações de [[Maximiano]] na [[Gália]] contra os bagaudas, bandoleiros rurais descontentes com a tributação pesada, em 285<ref name="BM70">BOWMAN, 2005, p. 70</ref> e as ações contra as invasões feitas por coalizões tribais (incluindo [[burgúndios]]/[[alamanos]] e caibões/[[hérulos]]) através do [[Reno]] entre 287 e 288.<ref name="BM71">BOWMAN, 2005, p. 71</ref> A visão de [[Eutrópio (historiador)|Eutrópio]], segundo a qual [[Maximiano]] não teve problemas em controlar as revoltas desse campesinato, é questionada pelos pesquisadores.<ref name="BM70" /> Há também a incursão de [[Maximiano]] atravessando o [[Reno]] em direção a Alemanha após a inauguração de seu [[Cônsul (Roma Antiga)|consulado]] na cidade de [[Tréveris]] ser interrompida por ataques [[bárbaros]] em 287, essa já posterior a sua nomeação,<ref>BOWMAN, 2005, p. 72</ref> e as campanhas de Diocleciano contra os [[Sármatas]] em 285.<ref>BOWMAN, 2005, p. 73</ref>


Ao auxiliar, em 287, o rei persa [[Vararanes II]], neto de [[Shapur I da Pérsia|Shapur I]], o qual passava por problemas internos causados pela revolta de seu irmão ''Hormizd'', Diocleciano foi capaz de restaurar o trono da [[História da Armênia#Antiguidade|Armênia]] ao cliente romano [[Tirídates III|Tiridates III]] e, possivelmente, a [[Mesopotâmia]], que havia sido cedida por [[Império Romano|Roma]]. Isso faz com que, em 290, Diocleciano reclame o título de ''Persicus Maximus'' para si. É possível que ele tenha fortificado ''Circesium'' nessa ocasião para fortalecer as defesas de [[Império Romano|Roma]] contra o perigo persa na [[Síria (província romana)|Síria]]. Fortificações também foram feitas em 288 no [[Egito romano|Egito]], em [[Hieracômpolis]]. Ainda em 288, Diocleciano retorna ao Ocidente e protagoniza uma campanha na [[Récia]], após a qual se encontrou com [[Maximiano]], que parte para a fronteira do [[Rio Danúbio|Danúbio]] para lutar contra os [[Sármatas]] em 289. As últimas campanhas de Diocleciano antes da formação da [[tetrarquia]] ocorrem em 290 contra os [[Sarracenos]] na [[Síria (província romana)|Síria]].<ref>BOWMAN, 2005, p. 73</ref>
Ao auxiliar, em 287, o rei persa [[Vararanes II]], neto de [[Shapur I da Pérsia|Shapur I]], o qual passava por problemas internos causados pela revolta de seu irmão ''Hormizd'', Diocleciano foi capaz de restaurar o trono da [[História da Armênia#Antiguidade|Armênia]] ao cliente romano [[Tirídates III|Tiridates III]] e, possivelmente, a [[Mesopotâmia]], que havia sido cedida por [[Império Romano|Roma]]. Isso faz com que, em 290, Diocleciano reclame o título de ''Persicus Maximus'' para si. É possível que ele tenha fortificado ''Circesium'' nessa ocasião para fortalecer as defesas de [[Império Romano|Roma]] contra o perigo persa na [[Síria (província romana)|Síria]]. Fortificações também foram feitas em 288 no [[Egito romano|Egito]], em [[Hieracômpolis]]. Ainda em 288, Diocleciano retorna ao Ocidente e protagoniza uma campanha na [[Récia]], após a qual se encontrou com [[Maximiano]], que parte para a fronteira do [[Rio Danúbio|Danúbio]] para lutar contra os [[Sármatas]] em 289. As últimas campanhas de Diocleciano antes da formação da [[tetrarquia]] ocorrem em 290 contra os [[Sarracenos]] na [[Síria (província romana)|Síria]].<ref>BOWMAN, 2005, p. 73</ref>
Linha 129: Linha 129:
=== Combate à Revolta Carausiana ===
=== Combate à Revolta Carausiana ===
{{AP|Revolta de Caráusio}}
{{AP|Revolta de Caráusio}}
Ao deixar a [[Gália]] no inverno de 285 e se dirigir a [[Milão]], [[Maximiano]] delegou a um de seus oficiais, [[Caráusio]], um comando naval baseado em [[Bolonha]] para que lidasse com piratas [[Francos]] e [[Saxões]] na costa [[Gauleses|gaulesa]], mas desconfiando do enriquecimento suspeito dele, ordenou sua execução, provocando uma reação maior ainda. Em 286, [[Britânia (província romana)|Britânia]] e [[Gália]] declaram seu apoio a ele, dando início à [[Revolta de Caráusio|Revolta Carausiana]].<ref>BOWMAN, 2005, p. 71</ref>
Ao deixar a [[Gália]] no inverno de 285 e se dirigir a [[Milão]], [[Maximiano]] delegou a um de seus oficiais, [[Caráusio]], um comando naval baseado em [[Bolonha]] para que lidasse com piratas [[Francos]] e [[Saxões]] na costa [[Gauleses|gaulesa]], mas desconfiando do enriquecimento suspeito dele, ordenou sua execução, provocando uma reação maior ainda. Em 286, [[Britânia (província romana)|Britânia]] e [[Gália]] declaram seu apoio a ele, dando início à [[Revolta de Caráusio|Revolta Carausiana]].<ref name="BM71" />


[[Maximiano]] provavelmente já tinha começado a construção de uma frota para lidar a revolta em 287 e delegado a seus subordinados que lidassem com os [[francos]] no estuário do [[Reno]], o que levou à restauração do reinado do franco ''Gennoboudes'' na região de [[Tréveris]]. Entre esses subordinados, a principal figura era [[Constâncio Cloro|Flávio Constâncio]], que havia servido como tribuno militar e governador da Dalmácia. Ele seria, posteriormente, um dos [[Tetrarquia|tetrarcas]] responsável pelo [[Império Romano]].<ref>BOWMAN, 2005, p. 71</ref>
[[Maximiano]] provavelmente já tinha começado a construção de uma frota para lidar a revolta em 287 e delegado a seus subordinados que lidassem com os [[francos]] no estuário do [[Reno]], o que levou à restauração do reinado do franco ''Gennoboudes'' na região de [[Tréveris]]. Entre esses subordinados, a principal figura era [[Constâncio Cloro|Flávio Constâncio]], que havia servido como tribuno militar e governador da Dalmácia. Ele seria, posteriormente, um dos [[Tetrarquia|tetrarcas]] responsável pelo [[Império Romano]].<ref name="BM71" />


[[Caráusio]] passa a se denominar [[Cônsul (Roma Antiga)|cônsul]] a partir de 287 e investe na cunhagem como instrumento de legitimação, reclamando a lealdade dos [[Legionário|legionários]] [[Britânia (província romana)|britânicos]] e eventualmente afirmando [[colegialidade]] com os [[Imperador romano|imperadores]] legítimos, reivindicação essa que nunca foi reconhecida. Em 280 ou 290, há uma tentativa falha de [[Maximiano]] em pôr fim à [[Revolta de Caráusio|Revolta Carausiana]], mas [[Constâncio Cloro|Constâncio]] deu início, em 293, a ações para resolver esse problema. Seu primeiro passo foi sitiar [[Bolonha]], a qual [[Caráusio]] ainda controlava, construindo um porto que impedisse os sitiados de fugir pelo mar e também de receber auxílio da frota de [[Caráusio]]. [[Bolonha]] caiu facilmente perante [[Constâncio Cloro|Constâncio]], que começou a construção de uma frota para invadir a [[Britânia (província romana)|Britânia]].<ref>BOWMAN, 2005, p. 72, 78</ref>
[[Caráusio]] passa a se denominar [[Cônsul (Roma Antiga)|cônsul]] a partir de 287 e investe na cunhagem como instrumento de legitimação, reclamando a lealdade dos [[Legionário|legionários]] [[Britânia (província romana)|britânicos]] e eventualmente afirmando [[colegialidade]] com os [[Imperador romano|imperadores]] legítimos, reivindicação essa que nunca foi reconhecida. Em 280 ou 290, há uma tentativa falha de [[Maximiano]] em pôr fim à [[Revolta de Caráusio|Revolta Carausiana]], mas [[Constâncio Cloro|Constâncio]] deu início, em 293, a ações para resolver esse problema. Seu primeiro passo foi sitiar [[Bolonha]], a qual [[Caráusio]] ainda controlava, construindo um porto que impedisse os sitiados de fugir pelo mar e também de receber auxílio da frota de [[Caráusio]]. [[Bolonha]] caiu facilmente perante [[Constâncio Cloro|Constâncio]], que começou a construção de uma frota para invadir a [[Britânia (província romana)|Britânia]].<ref>BOWMAN, 2005, p. 72, 78</ref>
Linha 161: Linha 161:
* FINLEY, Moses. O imperador Diocleciano. In: FINLEY, Moses. Aspectos da antiguidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 165-175.
* FINLEY, Moses. O imperador Diocleciano. In: FINLEY, Moses. Aspectos da antiguidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 165-175.
* GONÇALVES, Ana Teresa Marques. Os Severos e a Anarquia Militar. In: SILVA, Gilvan Ventura da; MENDES, Norma Musco (Org.). Repensando o Império Romano: perspectiva socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad Editora Ltda., 2006. Cap. 8. p. 175-191.
* GONÇALVES, Ana Teresa Marques. Os Severos e a Anarquia Militar. In: SILVA, Gilvan Ventura da; MENDES, Norma Musco (Org.). Repensando o Império Romano: perspectiva socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad Editora Ltda., 2006. Cap. 8. p. 175-191.
* MARCHI, Eduardo Casar Silveira Vita. Aspectos do direito público romano II: as constituições políticas do principado e da monarquia absoluta. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 101, n. 264, p.73-86, jan. 2006. Anual. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67699/70307>. Acesso em: 02 dez. 2016.
* PETITT, Joshua Edward. The Extension Of Imperial Authority Under Diocletian And The Tetrarchy, 285-305ce. 2009. 137 f. Tese (Mestrado) - Curso de Artes, Departamento de História, University Of Central Florida, Orlando, 2012. Disponível em: <http://etd.fcla.edu/CF/CFE0004582/Petitt_Joshua_E_201212_HistoryMA.pdf>. Acesso em: 21 out. 2016.
* PETITT, Joshua Edward. The Extension Of Imperial Authority Under Diocletian And The Tetrarchy, 285-305ce. 2009. 137 f. Tese (Mestrado) - Curso de Artes, Departamento de História, University Of Central Florida, Orlando, 2012. Disponível em: <http://etd.fcla.edu/CF/CFE0004582/Petitt_Joshua_E_201212_HistoryMA.pdf>. Acesso em: 21 out. 2016.
* OLIVEIRA, Julio Cesar Magalhães de. A perseguição de Diocleciano na África e os autos da repressão à Igreja de Cirta: os Acta Munatii Felicis. Dimensões, Vitória, v. 25, n. 25, p.18-31, 2010. Disponível em: <http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/2540/2036>. Acesso em: 16 set. 2016.
* OLIVEIRA, Julio Cesar Magalhães de. A perseguição de Diocleciano na África e os autos da repressão à Igreja de Cirta: os Acta Munatii Felicis. Dimensões, Vitória, v. 25, n. 25, p.18-31, 2010. Disponível em: <http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/2540/2036>. Acesso em: 16 set. 2016.

Revisão das 19h21min de 8 de dezembro de 2016

Diocleciano
Imperador Romano[1]

Busto de Diocleciano
Reinado 284 – 286 (sozinho)[2]
286 – 305 (a partir da Diarquia)[2]
Antecessor(a) Numeriano
Sucessor(a) Constâncio e Galério[3]
Nascimento 22 de dezembro de c. 244[1]
  Possivelmente Salona, Dalmácia (na atual Croácia)[1]
Morte 311 ou 312[3]
  Palácio de Diocleciano, em Espalato (atual Split)[3]
Nome completo  
Diocles (nome completo desconhecido, utilizado até à ascensão ao trono);
Caio Aurélio Valério Diócles Diocleciano (Caius Aurelius Valerius Diocles Diocletianus)[4]

Caio Aurélio Valério Diocles Diocleciano (em latim: Caius Aurelius Valerius Diocles Diocletianus)[4] foi um imperador romano cujos dados de nascimento e morte são incertos, mas que pode ter nascido em Salona no dia 22 de dezembro de 243, 244 ou 245.[1] Ele governou de c. 284[1] a 305.[3]. Filho de pai escriba e ex-escravo,[4][1] foi comandante da escolta imperial (domésticos regens) antes de ascender ao poder, o que ocorreu após a morte do imperador Caro e seu filho Numeriano numa incursão em território persa, tendo sido proclamado pelo exército romano.[1][5] Existe uma insuficiência de fontes ou informações a respeito da vida anterior a sua ascensão que é característica daquele momento. Seu reinando, entretanto, é bem documentado, tanto pelos editos e leis como por edifícios construídos.[6]

O imperador teve participação em várias batalhas para manter seu poder e a unidade do Império Romano [7], dentre elas a batalha do rio Margus em 285, na qual o último candidato ao trono, Carino, foi morto pelas próprias tropas.[8] Além disso, aplicou diversas reformas administrativas e econômicas durante seu reinado, sendo a primeira a nomeação de Maximiano entre os anos 285 e 286,[9][8] que mais tarde culminaria na formação da tetrarquia com a nomeação de dois Césares (Galério e Constâncio) em 293.[10][11]

Ascensão ao poder

A ascensão de Diocleciano ao poder se tornou possível com a morte de Caro e dos possíveis herdeiros do trono, principalmente os filhos desse imperador, Carino e Numeriano.[12] Entre a morte de Caro, no verão de 283,[1] e a proclamação de Diocleciano, o qual era comandante da escolta imperial (domesticos regens) até então,[1] como imperador, diversos eventos relativos à detenção do poder imperial se desenrolaram.

A morte de Caro ocorre depois da captura de Ctesifonte, numa incursão em território persa, e o relatório oficial alega que ele tenha sido morto por um relâmpago, mas acredita-se que isso seja uma tentativa de esconder uma morte comum, por doença ou pela mão de rivais, por exemplo.[13] O assassinato de Numeriano, que já havia sido nomeado César por seu pai,[13] ocorre no início de novembro de 284 pelas mãos de Aper,[1] seu sogro e prefeito pretoriano, o qual era responsável, junto com seu genro e a corte imperial, pela administração do leste do império,[13] eliminando o primeiro dos possíveis sucessores de Caro. Foi com a descoberta desse assassinato que o oficial da guarda Diocleciano foi escolhido para conduzir o exército romano.[5] Já no início de 285, há o assassinato de outro pretendente ao trono: Juliano, morto por Carino em Verona.[8] O último, Carino, foi morto antes mesmo de maio por suas próprias tropas na batalha do rio Margus, na Moésia, contra Diocleciano.[8]

Reformas administrativas

O imperador empreendeu diversas reformas administrativas, as quais devem ser entendidas no seu contexto histórico, que tem sido reconstruído sob diversas perspectivas pelos diferentes pesquisadores da área.

Crise do século III

Por longo tempo muitos estudiosos do Alto Império Romano costumeiramente identificaram a dinastia dos Antoninos como o ápice do sistema político imperial.[14] Essa proposição levou a interpretação de que os governos que se seguiram contribuíram fortemente para a instauração de uma crise ou período de decadência do Império. Nesse sentido, a dinastia dos Severos, por terem sucedido os Antoninos, foi reiteradas vezes tida como responsável pelas várias crises que ocorreram na passagem do Século II para o Século III. O fim da dinastia severiana levou a historiografia a classificar como “Anarquia Militar”, “Crise do terceiro século” ou “Período dos Imperadores – Soldados” o período em que vários governos após a dinastia severiana entre 235 e 284 d.C.[14]

A dinastia severiana, devido a sua ligação com elementos militares para a manutenção de seu poder, é muitas vezes vista pela historiografia  como os responsáveis pela criação de uma “Monarquia Militar” na passagem do século III para o IV d.C. Esse seria o momento em que a crise, que marcaria os governos do Século VI d.C., teria tido início. Nesse sentido, os Severos, por se preocuparem apenas com o apoio dos soldados, teriam se afastado da positiva forma de governo adotada pelos Antoninos, que preocupavam-se em conseguir apoio junto a outras camadas da sociedade. Dessa forma, os governos posteriores ao assassinato de Caracala, último imperador da dinastia severiana, são apresentados como governos marcados por sérias dificuldades, como o aumento da inflação, a impossibilidade de manutenção da segurança nas fronteiras e descontentamento das legiões. Em 235 d.C., Maximino, ao proclamar-se imperador após assassinar Severo Alexandre e sua mãe, inicia o período conhecido como  Crise do Século III , que se estendeu até 284 d.C., quando Diocleciano chegou ao poder.[15]

Essa imagem de crise e decadência instaurada no século III vem sendo reiteradas vezes contestada pelos estudos mais recentes sobre o período. Os historiadores que defendem a tese da não crise apresentam dois motivos principais para a não existência dela o primeiro deles é que, apesar das mudanças estruturais ocorridas ao longo desse período, manteve-se um sistema político-econômico estável ao longo de todo o Império e, depois, a ideia de crise não era um consenso entre os habitantes das diferentes regiões do vasto império.

Existem evidências que entre os séculos II e IV fatores como poder imperial, cultura literária da elite e os modos de vida no interno das cidades e áreas rurais, permanecerem inabaláveis.  O sistema imperial como um todo não foi perturbado, apesar das turbulências político-militares.[16] Por outro lado, os problemas com exército, inflação, política e até mesmo a substituição da mão de obra escrava também ocorreram nos séculos II e IV,[17] por isso a ideia de crise não poderia ser restrita apenas ao século III, ela foi característica de um longo período.

A ideia de crise também não era um consenso na época, visto que a maior parte da população não tinha essa noção, sendo algo mais restrito aos políticos, soldados e pessoas que vivam nas áreas de fronteiras, onde ocorreram diversas invasões.[18] Um modelo histórico tão geral não tem como dar conta de explicar toda a complexidade e as situações individuais que marcaram um Império tão vasto como o romano[19]. Outro ponto que corrobora esse argumento é o fato de que algumas regiões do Império, como a província do Egito e outras regiões do norte da África, apresentaram crescimento econômico e não teriam sido afetadas pelas ameaças militares.[20]

Dominato

Ver artigo principal: Dominato

O Dominato ou o Baixo Império Romano é uma forma de governo que se inicia, grosso modo, com a ascensão de Diocleciano, em 284 d.C, se estendendo até a deposição de Rômulo Augusto, em 476 d.C. É caracterizado como responsável pelo restabelecimento da ordem, na qual o Estado romano com a intenção de manter a unidade imperial realizou uma série de medidas, empreendendo amplas reformas no setor público, como as instituídas por Diocleciano e Constantino, criadores dessa forma de governo.[21]

Diocleciano reorganizou a administração imperial com a criação da Tetrarquia, sistema de governo baseado na divisão administrativa entre quatro titulares, melhorando a gestão e a defesa do território romano a fim de manter a unidade imperial. Na administração pública, a institucionalização do Dominato levou a uma forte burocratização do aparato administrativo, devido a hierarquização e especialização de funções e cargos pela separação de tarefas e delimitação de competências dos funcionários públicos. Ideologicamente, o Dominato é marcado pela aproximação mítico-religiosa feita pelos imperadores, de forma que tudo que os cercava era tido como sagrado, afirmando o direito divino dos soberanos e reforçando a influência oriental, helenística e persa, principalmente. Diocleciano e Maximiano, por exemplo, eram investidos, respectivamente, pelos Iovius, ou Júpiter, e Herculius, remetendo-os a uma origem divina.[22]

Para restaurar a ordem, os imperadores tiveram que se valer de discursos que realçavam seus atributos heroicos que, quando inseridos no contexto pós Anarquia Militar e aliados ao ritual de divinização do imperador, encontravam na justificativa teológica, ou seja, na pressuposição de que o imperador governa por um direito dado pelos deuses, a explicação para constituição do poder em torno Dominus, ou senhor.[23]

O Dominato e as teorias sobre o fim do Império Romano

O Dominato foi marcado pelo estigma do declínio, da queda, da ruína ou do esgotamento do Império Romano. Com isso, é bastante comum a interpretação de que o Império Romano, nessa época, encontrava sérios problemas para a manutenção política, econômica e cultural com o avanço da inflação, invasões e a constante rotatividade de Imperadores. A dificuldade de análise do Dominato levou a formação de três propostas principais para o entendimento do período.[24]

A primeira proposta aborda uma explicação de caráter político, que atribui valor negativo ao Estado no Baixo Império, utilizando como base o argumento de que o poder imperial não teria entrado em sintonia com os anseios da sociedade do seu tempo. Dentro dessa perspectiva, muitos autores afirmam que o aumento da fiscalização, da burocracia e do exército, a fim de manter a unidade imperial, culminou na derrocada do Império. Dessa forma, o Estado Romano teria se afastado de características tidas como essenciais, como o ideal de cidadania, a centralidade do Senado e as tradições pagãs.[25]

A segunda proposta insere-se nas explicações de caráter materialista, que usam como base o argumento de que as transformações na estrutura político-ideológica do Baixo Império estão ligadas ao modo de produção escravista, que entrou em declínio após o encerramento das fronteiras imperiais depois de Trajano, impossibilitando a manutenção do sistema econômico devido a escassez de mão-de-obra.[26]

Por fim, dentro da terceira proposta estão os autores que adotam uma interpretação de caráter culturalista do final do Mundo Antigo, enfatizando o conceito de Antiguidade Tardia. O conceito é a reinterpretação sob uma nova perspectiva daquilo que convencionalmente chamou-se de “decadência” do Império Romano, evidenciando acontecimentos e/ou aspectos da sociedade romana que, até então, eram tratados como secundários ou não relevantes, como por exemplo, as vestimentas e as transformações arquitetônicas, manifestações que contribuíram com as mudanças políticas e econômicas do império.[27]

Diarquia

Ver artigo principal: Diarquia

A Diarquia é um sistema de governo pautado na divisão administrativa entre dois titulares. No governo de Diocleciano, a Diarquia se inicia no momento da nomeação de Maximiano ao posto de César.[28]

Entre os anos de 285 e 286, Diocleciano inicia uma série de reformas que visam restauração da ordem no Império Romano. Ocorre, inicialmente, a instalação da Diarquia e posteriormente, Diocleciano adota algumas medidas como a reformulação da anona (imposto sobre a produção agrícola); fortalecimento dos curiales; e fixação dos agricultores às suas terras, sem que tivessem o direito de se retirar delas, apenas podendo transmiti-las aos seus descendentes. Essas medidas acabaram por levantar questões sobre o excesso de arbitrariedade de Diocleciano, pois instituíam um sistema de classes viabilizando o imobilismo da estrutura econômica do [ https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Romano Império]. Não demorou muito para que a Diarquia fosse ampliada para a Tetrarquia, a partir da nomeação de Maximiano a Augusto e a eleição de Galério e Constâncio Cloro como Césares.[28]

Tetrarquia

Ver artigo principal: Tetrarquia
As 12 dioceses na nova divisão tetrárquica do Império Romano implantada por Diocleciano por volta de 300 d.C.

A Tetrarquia foi um sistema de governo baseado na divisão administrativa imperial entre quatro titulares, marcado pela adoção de amplas reformas no setor público as quais, visavam a restauração e reorganização do Estado e a manutenção do exército, não obstante, dentro da Tetrarquia ocorre a aproximação mítico-religiosa com o sistema imperial, consagrando a autoridade do Augusto senior.[29]

A vitória militar de Maximiano sobre os rebeldes bagautas levou, Diocleciano a investi-lo com o título de Augusto, a fim de evitar que Maximiano se tornasse um usurpador em potencial. Galério e Constâncio Cloro foram eleitos a César após se casarem com as filhas de Diocleciano e Maximiano, respectivamente. Dessa forma, era constituída uma aliança política através da aliança familiar, composta por dois Augustos e dois Césares, num sistema que se convencionou chamar de Tetrarquia. Dentro desse sistema a defesa e a administração do império foi dividida entre cada um dos quatro membros, de forma que cada membro possuía sua própria capital. Diocleciano ficou responsável pelo Oriente e o Egito, Galério ficou responsável pela Grécia e as pelas províncias danubianas, Maximiano pela Itália e a África e Constâncio pelas províncias ocidentais e Alpes Gálicos, sendo que a unidade do colégio imperial era mantida por Diocleciano, enquanto Augustus senior que se intitulou de Iovius, ou Júpter, comparando-se às próprias divindades, legitimando seu poder a partir da justificativa teológica que consistia segundo os pagãos, a uma assistência prestada pelos deuses aos imperadores, garantindo na terra a reprodução da ordem divina.[30]

A criação da Tetrarquia em conjunto com outras medidas adotadas no período levou a um processo de burocratização da administração pública, pela separação e especialização dos cargos e tarefas administrativas, se estendendo também às reformas realizadas no exército como a separação das carreiras civil e militar e o crescente aumento do seu efetivo.[31]

Reformas econômicas

Édito Máximo

Quando Diocleciano assumiu o poder como imperador, junto ele assumiu todos os problemas econômicos do império, então durante seu governo ele tomou várias medidas para estabilizar a economia. Dentre estas medidas estão à reforma feita na cobrança de impostos e a maneira como eles seriam cobrados, que contava com um censo para saber com quanto cada cidadão poderia contribuir. Também fez uma mudança na cunhagem das moedas, organizou a sua produção para tentar resolver a instabilidade da economia e dar novamente valor para as moedas do império. Além destas, houve também a emissão do Edito de Preço Máximo, que estabelecia um preço máximo e fixo para todos os produtos, na intenção de estabilizar a inflação.[32][33]

Reformas fiscais

O Império Romano vinha de uma falta de organização na taxação dos produtos e cobrança dos impostos, além de receber o império já com uma inflação muito alta e com a sua moeda valendo muito pouco. Pensando nisso, Diocleciano decidiu fazer algumas alterações no sistema de impostos, que nesta época eram necessários não somente para o uso geral do império, como também para cobrir os custos e gastos com o contingente militar de Diocleciano [34]

Ele enviou então agentes para analisar todos os produtos e a quantidade que cada cidadão produzia, para com isso fazer um recenseamento e assim saber quanto cada um produzia e com quanto cada um poderia ajudar. Esta avaliação era feita através de uma análise de bens (caput) e da terra (iuga), no qual o preço a ser pago dependeria do tamanho da terra, dos animais, da quantidade de trabalhadores que ali exerciam sua função.[33] Mas mais um problema precisava ser solucionado para que este novo método de impostos funcionasse, o modo de pagamento. Como a moeda romana vinha passando por uma grande desvalorização, Diocleciano decidiu a forma de pagamento dos impostos, que não seriam mais feitos com dinheiro, mas com produtos. Uma lista das necessidades era gerada e cada cidadão pagaria com o que poderia e com a quantia que lhe cabia, dependendo do resultado do recenseamento. [35]

Outra reforma de Diocleciano dizia respeito à proibição de abandono por parte dos colonos agricultores e arrendatários das terras que cultivavam. Os trabalhadores urbanos também deveriam passar seus ensinamentos para seus filhos, mantendo assim uma estabilização na demanda e produção.[4]

Reforma na cunhagem

As moedas do império chegaram ao comando de Diocleciano valendo muito pouco. Então Diocleciano fez uma reforma nas moedas e suas formas de cunhagem. Em 294, ele reorganizou as casas de cunhagens romanas, que na época eram muitas e espalhadas por várias províncias, o que dificultava ainda mais o processo de fiscalização. Criou então algumas casas principais, nas principais cidades do império para que se tivesse um padrão de qualidade nas moedas. Ele inseriu então três moedas as de ouro (aureus), serviam para realizar apenas os pagamentos militares, as moedas de prata (argenteus) e as moedas de bronze (denarii) que seriam usadas para as transações menores e corriqueiras.[4][36][37]

Essas moedas foram implantadas não somente para revigorar a economia romana, mas também traziam em seu corpo desenhos que representavam a riqueza do império e também ajudavam na construção da imagem de legitimidade do imperador. Muitas dessas moedas cunhadas possuíam imagens de Diocleciano de um lado e de Júpiter do outro ou então Maximiano e Hércules. Essas associações divinas representavam a aprovação divina e além de legitimar o poder tanto de Diocleciano quanto de Maximiano contribuiu para que durante grande parte da Tetrarquia fossem considerados filhos desses deuses.[38]

Moedas com a efígie de Diocleciano

Alguns exemplos de moedas com a efígie do imperador Diocleciano:

Edito Máximo - 301 d.C.

O Império Romano passava por uma grande inflação devido a total desvalorização das moedas locais, para isso junto com a reorganização das casas de cunhagem, Diocleciano lançou um Edito para tentar contornar esta situação. Um edito era a maneira com a qual o imperador fazia para se comunicar com todo o resto da população, dando avisos e ditando leis, estas ficavam geralmente expostas em lojas e centros de mercados, onde a maioria das pessoas teria acesso para ler. [39]

O Edito Máximo tinha como premissa fixar o preço máximo que um produto poderia ser vendido. Se algum comerciante, vendedor ou produtor quisesse vender seus produtos por um preço menor, nada o impediria disso, ele estava apenas não poderia vender seus produtos por preços maiores que os ditados pelo edito. Caso alguém vendesse por preços maiores que os propostos, seria condenado a pena capital, a mesma atribuída para crimes como o estupro de uma Vestal e traição. Um dos produtos incluídos dentro do edito foi a seda de cor púrpura. A única pessoa capaz de obter esse tipo de mercadoria seria o próprio imperador. Com base nisso muitos estudiosos tendem a acreditar que esse ato serviria para mostrar para a população que o imperador seguiria os mesmos padrões dos demais habitantes do império.[40]

Porém, sua única função não foi estabilizar a economia romana, mas também para confirmar o poder e controle de Diocleciano sobre a economia. Se o édito conseguisse estabilizar a economia, Diocleciano continuaria no comando do império. Para isso, na introdução escrita por ele mesmo para o edito alega que muitas outras vezes na história do império, outros imperadores já haviam usado editos para tentar resolver questões pertinentes. Além disso, Diocleciano alega ao povo que a culpa estava nos mercadores que por causa da ganância, causaram este grande problema.[41]

Existem dúvidas acerca da abrangência geográfica do edito. Pelo fato de não se ter encontrado evidências sobre o edito no lado Ocidental do Império, muitos pesquisadores acreditam que ele tenha sido promulgado somente para o Império Oriental. Mas é necessário levar em conta que as cartas, editos e/ou mensagens demoravam muito tempo para chegarem de um lado do império até o outro. Outro fator que deve ser considerado é o fato que em 303 d.C., dois anos após a emissão do Edito Máximo, Diocleciano promulgou também o Edito Contra os Cristãos, que fez com que Diocleciano tivesse sua atenção voltada muito mais para os cristãos, dando assim muito mais importância para a perseguição a eles.[42]

A Grande Perseguição

Ver artigo principal: Perseguição de Diocleciano

Desde o século I, os cristãos praticavam sua religião no território romano, mas não reconheciam a divindade do imperador, logo, foram considerados praticantes de uma religião transgressora, que desconsiderava a moralidade.[43] O cristianismo estava disseminado pelo Império Romano, exercendo sua religião ilícita e tomando espaço entre os romanos, implicando nas medidas persecutórias (éditos) de Diocleciano para restaurar a pureza moral do Império Romano, o respeito às leis romanas que promoveriam a indulgência divina[44] e a credibilidade na divindade do Imperador.[45]

Os primeiros éditos persecutórios - promulgados em 303 - removeram cristãos de cargos públicos e destruíram igrejas[44],  mas o que mais temiam os cristãos era o dies traditionis, que consistia no dia da entrega das escrituras bíblicas ao império, para que estas fossem queimadas. O medo se caracterizava, pois acreditava-se na perda do poder sacramental que esses elementos continham.[46] Os próximos éditos lançados até 304, tornavam a vida e o culto cristãos cada vez mais árduos, pois estabeleciam medidas como detenção de líderes eclesiásticos e a obrigatoriedade do sacrifício aos deuses pagãos sob pena de execução.[46] Diferindo do tetrarca Galério, Diocleciano não era favorável ao assassínio, porém houve esse apelo no quarto édito.[47]

A diligência era liderada geralmente por um curador, um delegado da autoridade imperial, que durante o governo de Diocleciano ganhou o poder para administrar a finança e a polícia da cidade. Estes curadores eram auxiliados pelos officium publicum (secretários, escrivães, arquivistas) para cumprir as demandas fiscais contra os cristãos, e para isso, acredita-se que usavam de trabalhadores braçais para o transporte dos bens adquiridos das igrejas.[48]

Após a abdicação de Diocleciano e Maximiano, em 305, a perseguição não se manteve no império ocidental. No oriente, em 311 d.C, Galério, enfermo, promulgou sua retratação, permitindo os cristãos a retomarem sua religião e seus lugares de culto. Galério ainda pediu que rezassem pela saúde dos imperadores e da res publica.[47]

O Edito de Galério, em 311, cessou oficialmente a perseguição, tornou o Deus dos cristãos umas da divindades patrona do Império e ajudou na consolidação das relações do cristianismo com o poder imperial. Entretanto, a perseguição no oriente se manteve sob a jurisdição de Maximino Daia, um César sobrinho de Galério.[47]

Desde meados dos século III, as ações persecutórias financiadas pelo poderio imperial romano podem ser compreendidas como globais. Por meio de éditos imperiais, buscava-se a legislação sobre uma unidade normativa de culto que tinha por objetivo manter a pax deorum (“paz dos deuses”).[49]

Batalhas travadas durante seu governo

Além da vitória contra Carino na batalha do rio Margus no início de 285,[8] outras batalhas foram travadas antecedendo formação da diarquia. Dentre essas, destacam-se as ações de Maximiano na Gália contra os bagaudas, bandoleiros rurais descontentes com a tributação pesada, em 285[50] e as ações contra as invasões feitas por coalizões tribais (incluindo burgúndios/alamanos e caibões/hérulos) através do Reno entre 287 e 288.[51] A visão de Eutrópio, segundo a qual Maximiano não teve problemas em controlar as revoltas desse campesinato, é questionada pelos pesquisadores.[50] Há também a incursão de Maximiano atravessando o Reno em direção a Alemanha após a inauguração de seu consulado na cidade de Tréveris ser interrompida por ataques bárbaros em 287, essa já posterior a sua nomeação,[52] e as campanhas de Diocleciano contra os Sármatas em 285.[53]

Ao auxiliar, em 287, o rei persa Vararanes II, neto de Shapur I, o qual passava por problemas internos causados pela revolta de seu irmão Hormizd, Diocleciano foi capaz de restaurar o trono da Armênia ao cliente romano Tiridates III e, possivelmente, a Mesopotâmia, que havia sido cedida por Roma. Isso faz com que, em 290, Diocleciano reclame o título de Persicus Maximus para si. É possível que ele tenha fortificado Circesium nessa ocasião para fortalecer as defesas de Roma contra o perigo persa na Síria. Fortificações também foram feitas em 288 no Egito, em Hieracômpolis. Ainda em 288, Diocleciano retorna ao Ocidente e protagoniza uma campanha na Récia, após a qual se encontrou com Maximiano, que parte para a fronteira do Danúbio para lutar contra os Sármatas em 289. As últimas campanhas de Diocleciano antes da formação da tetrarquia ocorrem em 290 contra os Sarracenos na Síria.[54]

Após a nomeação dos Césares e a formação da tetrarquia em 293, Diocleciano e Galério partem para Bizâncio ainda no começo do ano, durante a primavera. Entre o final de 293 e o começo de 294, o imperador retorna a Sirmio e obtém uma vitória contra os Sármatas nas planícies húngaras, obtendo o título de Samarticus Maximus. Enquanto isso, Galério se encontra no Egito devido a uma revolta na região de Coptos, conflito resolvido com sucesso por ele. Diocleciano, em 295 ou 296, desce o Danúbio numa importante campanha contra os Carpos, resultando numa grande migração de tribais para dentro da Panônia.[11]

Combate à Revolta Carausiana

Ver artigo principal: Revolta de Caráusio

Ao deixar a Gália no inverno de 285 e se dirigir a Milão, Maximiano delegou a um de seus oficiais, Caráusio, um comando naval baseado em Bolonha para que lidasse com piratas Francos e Saxões na costa gaulesa, mas desconfiando do enriquecimento suspeito dele, ordenou sua execução, provocando uma reação maior ainda. Em 286, Britânia e Gália declaram seu apoio a ele, dando início à Revolta Carausiana.[51]

Maximiano provavelmente já tinha começado a construção de uma frota para lidar a revolta em 287 e delegado a seus subordinados que lidassem com os francos no estuário do Reno, o que levou à restauração do reinado do franco Gennoboudes na região de Tréveris. Entre esses subordinados, a principal figura era Flávio Constâncio, que havia servido como tribuno militar e governador da Dalmácia. Ele seria, posteriormente, um dos tetrarcas responsável pelo Império Romano.[51]

Caráusio passa a se denominar cônsul a partir de 287 e investe na cunhagem como instrumento de legitimação, reclamando a lealdade dos legionários britânicos e eventualmente afirmando colegialidade com os imperadores legítimos, reivindicação essa que nunca foi reconhecida. Em 280 ou 290, há uma tentativa falha de Maximiano em pôr fim à Revolta Carausiana, mas Constâncio deu início, em 293, a ações para resolver esse problema. Seu primeiro passo foi sitiar Bolonha, a qual Caráusio ainda controlava, construindo um porto que impedisse os sitiados de fugir pelo mar e também de receber auxílio da frota de Caráusio. Bolonha caiu facilmente perante Constâncio, que começou a construção de uma frota para invadir a Britânia.[55]

O segundo comandante de Caráusio, Aleto, possivelmente após Constâncio tentar invadir a Britânia pela primeira vez, tira sua vida e segue com o controle da Britânia até as ser surpreendido por duas ofensivas frentes navais, sendo a que partiu de Bolonha comandada por Constâncio e a que partiu da foz do Sena comandada por Asclepiodotus, o prefeito pretoriano.  A morte de Aleto marcou o fim da revolta e teve ação decisiva de Asclepiodotus. É possível que Constâncio tenha sido forçado a voltar à Gália por uma tempestade temporariamente e só tenha alcançado a Britânia quando a principal batalha já estivesse terminada.[56]

Conflito com a Pérsia

Ver artigo principal: Guerras romano-persas

O conflito persa, iniciado em 296 com a ascensão do rei persa Narses em 294, será o principal evento na parte oriental do Império Romano no período. Essa guerra, apesar da falta de detalhes conhecidos pelos historiadores, foi empreendida, segundo narra Eutrópio, em duas campanhas, das quais a primeira foi perdida por Galério nas proximidades de Callnicum, obrigando-o a se retirar para a Antioquia. Enquanto isso, Maximiano, após uma esperada vitória na Britânia, saía em campanha pela Espanha em seu caminho para a África, onde era necessário para conter a rebelião das tribos mouras Quinquegentiani. A guerra contra os persas é retomada com a chegada de Diocleciano e reforços em 297 / 298. Galério estabeleceu uma base em Satala, na Armênia, e foi capaz de derrotar Narses. O César avançou para a Média e Adiabena, dominou Nísibis e seguiu para Ctesifonte, que foi capturado. Em 299, um tratado de paz com os persas foi concluído. A Armênia foi anexada ao território romano e Roma tomou o direito de indicar o rei da Ibéria, além de deter o controle sobre territórios entre o Tigre e a Armênia.[57]

Combate à Revolta no Egito

Diocleciano cessa seu envolvimento no conflito com os persas no início de 298 e se dirige ao Egito para lidar com uma revolta que estourou em 297 liderada por um usurpador nomeado I. Domitius Dmoitianus, a qual durou oito meses e fez parecer com que a província já não estivesse mais sob o controle romano. A situação é resolvida com o cerco e captura de Alexandria. Então, Diocleciano se afasta do litoral, visitando a fronteira sul do Egito e fortificando a ilha de Filas. Ainda em 298, ele retorna a Nísibis e, posteriormente, à Antioquia, em 299. Ao retornar à Alexandria, em 302, o imperador ordena a execução de líderes maniqueístas, a queima de seus livros, a execução de seus fiéis e a desapropriação de suas terras. As últimas campanhas durante governo de Diocleciano foram aquelas de Galério contra os Sármatas (302), Carpos (303) e Pictos (305).[58]

Abdicação e morte

No que se refere a abdicação de Diocleciano, os registros dos meses restantes da Tetrarquia vêm sendo questionados devido a inclusão de um diálogo literal entre Galério e Diocleciano, feito por Lactâncio, no qual o César Galério coloca pressão para que Diocleciano se retire do poder. Segundo Lactâncio, cujos registros são a principal fonte, Diocleciano foi do Oeste para Roma, em 20 de Novembro de 303, para comemorar o aniversário de vinte anos de governo (vicennalia). Na mesma ocasião foi comemorado o vigésimo ano (decennalia) de reunião dos Césares, na qual Maximiano também esteve presente. É incerto o local de presenteamento dos Césares Maximiano e Galério, pois Lactâncio em um de seus registros alegou que Galério não havia ido para Roma antes de 307, mas ao que parece, deve ter existido alguma discussão acerca dos planos futuros tanto entre os imperadores Diocleciano e Maximiano quanto entre os quatro comandantes. Porém, tudo indica que a abdicação de Diocleciano e Maximiano teria sido premeditada, pois segundo a tradição, Diocleciano teria projetado seu plano em Maximiano, fazendo - o jurar, durante a visita em Roma, seu compromisso no templo de Júpiter Capitolino.[59]

Após o seu aniversário de vinte anos de governo (vicennalia), Diocleciano deixa Roma e assume o consulado em 1º de 304, em Ravenna. Ele passou o verão na fronteira do Danúbio no ano de 304, e sua saúde apresentava sinais de que estava ainda pior quando chegou em Nicomédia, no dia 20 de novembro, data do seu vigésimo primeiro aniversário de ascensão. Sua chegada em Nicomédia implicou numa série de boatos que acabaram por contribuir para a crença de que havia morrido, tendo sido declarado luto público, porém, foi suspendido devido à existência de outro boato que dizia o contrário. Diocleciano só apareceu em público novamente até o dia 1º de março de 305, com os efeitos de sua doença ainda mais aparentes. [60]

No dia 1º de maio de 305, Diocleciano convocou uma assembleia de oficiais e soldados para se encontrar a alguns quilômetros de Nicomédia, no qual ele entregou uma carta em que se dizia velho e doente para comandar o império e que deveriam confiar este cargo para alguém mais jovem. Após esse ato, Maximiano se afastou do seu cargo, e Diocleciano foi para o palácio que havia construído em Split na costa de Dalmácia, local onde mantinha uma vida fora dos problemas relacionados ao império como mostra uma conferência em Carnuntum em 308, em que ele se recusou a tomar qualquer decisão em relação a políticas imperiais futuras. Diocleciano morreu de uma maneira incerta, suicídio ou doenças podem ter sido as causas, os anos estipulados são 311 e 312.[3]

Referências

  1. a b c d e f g h i j BOWMAN, 2005, p. 68
  2. a b BOWMAN, 2005, p. 69, 87-88
  3. a b c d e BOWMAN, 2005, p. 87-88
  4. a b c d e CARLAN, 2006, p. 9
  5. a b DRINKWATER, 2005, p. 57-58
  6. FINLEY, 1991, p. 166
  7. BOWMAN, 2005, p. 71-82
  8. a b c d e BOWMAN, 2005, p. 69
  9. CARLAN, 2008, p. 40
  10. SILVA; MENDES, 2006, p. 199-201
  11. a b BOWMAN, 2005, p. 80
  12. BOWMAN, 2005, p. 68-69
  13. a b c DRINKWATER, 2005, p. 57
  14. a b GONÇALVES, 2006, p. 175
  15. GONÇALVES, 2006, p. 180-186
  16. WISTCHEL, 2004, p. 273 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 158
  17. BRAVO CASTAÑEDA, 2012, p. 121 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 159
  18. ANTIQUEIRA, 2015, p. 156
  19. WITSCHEL, 2004, p. 252 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 157
  20. STROBEL, 1993, p. 11 apud ANTIQUEIRA, 2015, p. 156
  21. SILVA; MENDES, 2006, p. 193-196
  22. SILVA; MENDES, 2006, p. 195-203
  23. SILVA; MENDES, 2006, p. 201-203
  24. SILVA; MENDES, 2006, p. 193-194
  25. SILVA; MENDES, 2006, p. 194
  26. SILVA; MENDES, 2006, p. 194-195
  27. SILVA; MENDES, 2006, p. 195
  28. a b CARLAN, 2008, p. 40
  29. SILVA; MENDES, 2006, p. 197-199
  30. SILVA; MENDES, 2006, p. 199-201
  31. SILVA; MENDES, 2006, p. 203-208
  32. PETITT, 2012, p. 2, 67
  33. a b SILVA; MENDES, 2006, p. 211
  34. PETITT, 2012, p. 66-68.
  35. PETITT, 2012, p. 69-71
  36. BOWMAN, 2005, p. 83
  37. PETITT, 2012, p. 67
  38. CARLAN, 2006, p. 9-11
  39. PETITT, 2012, p. 67, 73, 83
  40. PETITT, 2012, p.79, 82
  41. PETITT, 2012, p.66, 72, 75, 80
  42. PETITT, 2012, p. 83-85
  43. CHEVITARESE, 2006, p. 169 apud OLIVEIRA, 2010, p. 19
  44. a b SILVA, 2011, p. 37
  45. OLIVEIRA, 2010, p. 19-21
  46. a b OLIVEIRA, 2010, p. 22
  47. a b c SILVA, 2011, p. 38
  48. LEPELLEY, 1979, p. 225-227 apud OLIVEIRA, 2010, p. 23-34
  49. SILVA, 2011, p. 40
  50. a b BOWMAN, 2005, p. 70
  51. a b c BOWMAN, 2005, p. 71
  52. BOWMAN, 2005, p. 72
  53. BOWMAN, 2005, p. 73
  54. BOWMAN, 2005, p. 73
  55. BOWMAN, 2005, p. 72, 78
  56. BOWMAN, 2005, p. 79
  57. BOWMAN, 2005, p. 81
  58. BOWMAN, 2005, p. 81-82
  59. BOWMAN, 2005, p.86.
  60. BOWMAN, 2005, p. 86 - 87.

Bibliografia

  • ANTIQUEIRA, Moisés. Era uma vez a crise do Império romano no século III: percursos de um recente itinerário historiográfico. Revista Diálogos Mediterrânicos, v. 9, p.152-168, dez. 2015.
  • BOWMAN, Alan K. Diocletian and the first tetrarchy, A.D. 284-305. In: CAMERON, Averil; GARNSEY, Peter; BOWMAN, Alan K. (orgs.). The Cambridge ancient history. Volume 12, The Crisis of Empire, A.D. 193-337. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. p. 67-88.
  • CARLAN, Cláudio Umpierre. Poder e Imagens em Roma: Diocleciano, Constantino e a Nova/Velha Ordem. In: FUNARI, Pedro Paulo A.; SILVA, Glaydson José da; MARTINS, Adilton Luís (Org.). História Antiga contribuições brasileiras. São Paulo: Annablume Editora.comunicação, 2008. Cap. 2. p. 37-46.
  • CARLAN, Cláudio Umpierre. Poder, imagem e Arqueologia: a iconografia monetária e o exército romano. Revista de História da Arte e Arqueologia, Campinas, SP, n. 6, p.7-14, dez. 2006. Semestral. Disponível em: <http://www.unicamp.br/chaa/rhaa/downloads/Revista%206%20-%20artigo%201.pdf >. Acesso em: 16 set. 2016.
  • DRINKWATER, John. Maximinus to Diocletian and the ‘Crisis’. In: CAMERON, Averil; GARNSEY, Peter; BOWMAN, Alan K. (orgs.). The Cambridge ancient history. Volume 12, The Crisis of Empire, A.D. 193-337. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. p. 28-66.
  • FINLEY, Moses. O imperador Diocleciano. In: FINLEY, Moses. Aspectos da antiguidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 165-175.
  • GONÇALVES, Ana Teresa Marques. Os Severos e a Anarquia Militar. In: SILVA, Gilvan Ventura da; MENDES, Norma Musco (Org.). Repensando o Império Romano: perspectiva socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad Editora Ltda., 2006. Cap. 8. p. 175-191.
  • PETITT, Joshua Edward. The Extension Of Imperial Authority Under Diocletian And The Tetrarchy, 285-305ce. 2009. 137 f. Tese (Mestrado) - Curso de Artes, Departamento de História, University Of Central Florida, Orlando, 2012. Disponível em: <http://etd.fcla.edu/CF/CFE0004582/Petitt_Joshua_E_201212_HistoryMA.pdf>. Acesso em: 21 out. 2016.
  • OLIVEIRA, Julio Cesar Magalhães de. A perseguição de Diocleciano na África e os autos da repressão à Igreja de Cirta: os Acta Munatii Felicis. Dimensões, Vitória, v. 25, n. 25, p.18-31, 2010. Disponível em: <http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/2540/2036>. Acesso em: 16 set. 2016.
  • SILVA, Diego Pereira da. Perseguições aos cristãos no Império Romano (Séc. I-IV): dois modelos de apreensão. Jesus Histórico, ano IV, v. 7, p. 29-44, 2011. Disponível em: <http://www.revistajesushistorico.ifcs.ufrj.br/arquivos7/ARTIGO-DIOGO-DA-SILVA.pdf>. Acesso em: 16 set. 2016
  • SILVA, Gilvan Ventura da; MENDES, Norma Musco. Capítulo IX Diocleciano e Constantino: A Construção do Dominato. In: SILVA, Gilvan Ventura da; MENDES, Norma Musco et al (orgs.). Repensando o Império Romano: perspectiva socioeconômica, política e cultural. Vitória, ES: Edufes; Rio de Janeiro, RJ: Mauad, 2006. p. 211.

Precedido por
Carino
Imperador romano

284 — 305
Sucedido por
Constâncio Cloro