Nobreza da Itália: diferenças entre revisões

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Revisão das 20h19min de 25 de janeiro de 2017

Retrato imaginário de Sérvio Túlio, sexto rei de Roma, que teria estabelecido pela primeira vez na história da Itália os conceitos fundamentais da nobreza, em essência seguidos até a contemporaneidade.

A nobreza da Itália foi a classe social superior na Itália até o advento da República Italiana. Os nobres tinham um estatuto legal específico, e eram detentores da maior parte das riquezas e de diversos privilégios negados às outras classes, principalmente políticos. Na maioria dos antigos Estados italianos pré-Unificação era a única classe que tinha acesso aos cargos de alto escalão do governo. Também praticamente monopolizaram por longo tempo os postos mais distinguidos nas milícias e na Igreja. Houve vários sistemas diferentes de nobreza ao longo do tempo e nas várias regiões.

Origens

Ver artigo principal: Gente (Roma Antiga), Patrício

A nobreza italiana remonta à Roma Antiga. Depois de sua fundação como cidade-Estado, seu primeiro sistema de governo foi uma monarquia, com um rei que concentrava vários poderes e era assistido pelo senado e por outros oficiais. A elite aparentemente era um patriciado, composto por cerca de 200 famílias que alegavam descendência dos clãs fundadores, derivados de povos itálicos e etruscos que viviam em aldeias na área há milênios. Essas famílias, chamadas gentes, controlavam o senado e as principais instâncias do governo, e detinham a maior parte das terras e riquezas, mas pouco se sabe de sua sociedade, ainda envolta em lenda.[1][2] Sérvio Túlio, o sexto rei de Roma, teria sido o primeiro a dividir a população em classes a partir dos critérios da riqueza, antiguidade e prestígio familiar, cada classe com direitos e deveres distintos, consagrando alguns dos principais fundamentos da nobreza como classe e como conceito ao longo dos milênios que viriam.[3]

Mais tarde, instaurou-se uma república, onde a elite reorganizou seu patriciado, continuando a ser a classe que monopolizava o poder. Essas famílias mantinham uma grande rede de “clientes”, como se chamavam os membros mais pobres e distantes do tronco dominante, incluindo também amigos e meros parasitas, aos quais o chefe da gens dispensava ajuda e favores em troca de lealdade e, muitas vezes, da prestação de serviços diversos na administração do patrimônio gentílico, formando verdadeiras “empresas” familiares, cristalizando um costume entre as famílias da elite que se perpetuou por milênios depois e que misturava tranquilamente interesses privados com negócios de Estado.[1][2]

Evolução

Na Idade Média, quando os imperadores do Sacro Império Romano-Germânico dominavam boa parte da península Itálica, a nobreza nem sempre foi hereditária, os nobres em geral não tinham títulos específicos, e eram na maioria das vezes chefes militares e administradores imperiais de feudos e cidades, os condes, signori (senhores) ou domini, na versão latina.[4] Depois da queda do Reino Itálico, parte do Sacro Império, houve um período de anarquia, e muitas cidades italianas formaram repúblicas independentes ou semi-independentes, criando um sistema de patriciado semelhante ao da Roma Antiga. Era a classe governante, e apesar da constituição republicana das cidades era uma forma de nobreza, de caráter hereditário e familiar.

Cecilia Gallerani, nobre italiana do Renascimento, na pintura Dama com Arminho, de Leonardo da Vinci, c. 1490. Museu Czartoryski.

Na Idade Moderna, quando se formaram na Itália outros Estados, generalizou-se o sistema da nobreza hereditária e extensível às famílias, surgindo titulações diversificadas, mas elas variavam em cada local. No entanto, nem todos os membros das famílias tituladas detinham os mesmos direitos políticos. Até a formação do Reino da Itália somente o chefe da Casa podia ostentar o título, herdado em geral pelo seu primogênito varão; mesmo assim, todos os seus outros filhos, homens ou mulheres, eram considerados nobres e recebiam a titulação informal de nobili (nobres), transmitindo nobreza à sua própria descendência perpetuamente, mas não transmitiam o título.[2][4][5][6][7][8][9]

Em algumas cidades onde havia patriciado (a grande maioria), somente alguns poucos membros de cada família patrícia podiam casar e gerar prole legalmente, a fim de não ampliar demasiado a classe governante, e só esses tinham acesso efetivo ao governo, embora o patriciado fosse familiar. Multiplicaram-se assim ramos bastardos, que não obstante era considerados nobres informalmente, casavam entre patrícios sem desonrá-los, mas eram privados de vários direitos políticos. É característica do sistema italiano a existência também de famílias que jamais receberam algum título nem foram patrícias, mas eram oficialmente nobres hereditários e seus membros eram chamados de nobili, formando uma classe comparável à nobreza não titulada de outros países, como a Alemanha e os Países Baixos.[10][5][8]

Neste processo histórico, as elites foram sempre se reestruturando para acompanhar o curso dos acontecimentos e as mudanças sociais, invariavelmente monopolizando os principais cargos administrativos, jurídicos e eclesiásticos e detendo muitos outros privilégios, mas observa-se incessantemente ao longo da história a ascensão e queda das famílias, algumas desenvolvendo carreiras meteóricas para logo depois perderem posses e poder e caírem de volta na obscuridade, enquanto outras ascenderam ao topo desde a Antiguidade e lá ficaram por longo tempo, algumas até os dias de hoje, crescendo e se tornando “reinos” maiores que reinos, com extenso número de membros, títulos e posses espalhados por toda a Península Itálica e mesmo no estrangeiro, formando uma rede de sólidos relacionamentos de parentesco e interesse que ultrapassava largamente as fronteiras geográficas do seu Estado de origem e influía nos destinos de grandes regiões, de fato, criando boa parte da História dessas regiões, como observou Campanile.[11][12]

Eram vários os critérios para que uma família ou indivíduo fossem enobrecidos. Na maioria dos Estados precisavam atestar por várias gerações o não envolvimento direto com atividades mecânicas e rudes, consideradas indignas da nobreza; em geral era exigida também tradição familiar consolidada e uma riqueza expressiva, baseada em geral na posse hereditária da terra, mas também podiam ser enobrecidos plebeus que se distinguissem nas armas, nas carreiras jurídicas e eclesiásticas, e mesmo no comércio e nas artes. Ao longo dos séculos muito se discutiu quais desses critérios eram mais ou menos justificáveis, se a mulher podia ser fonte de nobreza, e se a nobreza moral era equiparável à nobreza tradicional. A nobreza não estava necessariamente associada à riqueza ou à posse hereditária de um feudo, e muitas vezes não esteve. Mas como as honras oficiais e a maior parte das riquezas das famílias nobres passavam em geral aos homens, em particular ao primogênito, a concentração da herança na primogenitura fez com que inúmeros ramos cadetes empobrecessem. Isso podia acarretar a perda do estatuto. Da mesma maneira como havia exigências para enobrecimento, havia critérios para a perda da nobreza, como a decadência moral, empobrecimento além de certo nível, envolvimento em crimes graves ou traição ao governo.[13][8][14][15]

A nobreza italiana foi numerosa. Von Ranke calculava que no século XVIII havia cerca de nove mil famílias nobres na Itália, com um total estimado de 144 mil indivíduos nobres, mas ele refere que eram poucos em relação a outros Estados europeus, como a Espanha, que tinha uma população comparável mas quase três vezes mais nobres. Mesmo assim, sempre foi uma classe minoritária, e somente Milão na época tinha cerca de 100 mil habitantes.[15]

Antes da unificação italiana (1870) - o chamado Risorgimento -, o Reino da Sardenha (1297-1861), o Reino das Duas Sicílias (1816-1861 (que, antes de 1816, estava separado em Reino de Nápoles (1282-1816) e Reino da Sicília (1130-1816), o Grão-Ducado da Toscana (1569-1859), o Ducado de Parma e Piacenza (1545-1860), o Ducado de Módena e Reggio (1452-1859), o Ducado de Saboia (1416-1714) originário do Condado de Saboia), o Ducado de Milão (1395-1797), a República Florentina (1115-1532), o Ducado de Florença (1532-1569), a República de Gênova (século XI-1805), o Ducado de Urbino (1443-1631), os Estados Pontifícios (752-1870), e demais estados no norte da Itália, tinham nobrezas paralelas com diferentes tradições e regras, de estado para estado. Sob o Reino da Itália (1861-1946), criou-se uma nobreza nacional, com origem intrínseca na nobreza dos estados antecessores à unificação italiana (1870). Os privilégios gozados pelo estamento foram abolidos em 1946, quando foi fundada a República Italiana (1946-presente). Segundo a Constituição Italiana adoptada em 1948, títulos de nobreza não são legalmente reconhecidos. Alguns predicati (designações territoriais reconhecidos) antes de 1922 podem continuar a ser anexado aos sobrenomes e utilizado em documentos legais. Muitas vezes, estes eram territórios feudais históricos de famílias nobres. A decisão do Tribunal Superior, em 1967, definitivamente estabeleceu que a legislação heráldica-nobiliárquica do Reino da Itália (1861-1946) não é lei atual.

Por séculos, foi entre a alta nobreza italiana que se deu a escolha do Papa da Igreja Católica. Por esta razão, diversos papas nasceram nas famílias Sforza, Visconti, Pirovano, Della Rovere, Médici, Della Torre, Bórgia, entre outras.

Ver também

Commons
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Referências

  1. a b Fraccaro, Plinio. "Patriziato". In: Cappelletti, Vincenzo & Nisticò, Gabriella. Enciclopedia Italiana. Istituto Giovanni Treccani, 1935
  2. a b c Tosi, Mario. La società romana dalla feudalità al patriziato: (1816-1853). Ed. di Storia e Letteratura, 1968
  3. Cornell, T. The beginnings of Rome: Italy and Rome from the Bronze Age to the Punic Wars (c. 1000 – 264 BC). Routledge, 1995, pp. 186-196
  4. a b Mendola, Louis. "Italian Titles of Nobility". In: Heraldry Society. The Coat of Arms, 1997
  5. a b Archivio di Stato di Venezia [Mosto, Andrea da (ed.)]. L’Archivio di Stato di Venezia: Indice Generale, Storico, Descritivo. Tomos I - II. Volume V della Biblioteca degli Annales Institutorum. Biblioteca d’Arte Editrice, 1940
  6. Gregorovius, Ferdinand [1872]. History of the City of Rome in the Middle Ages, Volume 3. Reimpressão Cambridge University Press, 2010
  7. Martines, Lauro. Power and Imagination: City-States in Renaissance Italy. Taylor & Francis, 1988
  8. a b c Visconti, A. L’Italia nell’ epoca della Controrifor a dal 1516 al 1713. Milão, 1958
  9. Jocteau, Gian Carlo. “Un censimento della nobiltà italiana”. In: Meridiana, 1994 (19)
  10. Dursteler, Eric (ed.). A Companion to Venetian History, 1400-1797. Brill, 2013
  11. Campanile, Filiberto. L'armi, ouero Insegne de' nobil, Oue sono i discorsi d'alcune famiglie nobili, così spente, come viue del regno di Napoli. Longo, 1610
  12. Visconti, A. L’Italia nell’ epoca della Controriforma dal 1516 al 1713. Milão, 1958
  13. Muzio, Girolamo. Il Gentilhuomo. Valuassori & Micheli, 1575
  14. Lyman, Theodore. The Political State of Italy. Wells and Lilly, 1820
  15. a b Ranke, Leopold von. The history of the popes, their church and state and especially of their conflicts with Protestantism in the sixteenth & seventeenth centuries, Volume 2. Henry G. Bohn, 1853