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== Biografia ==
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Wainer imigrou para o Brasil com 2 anos de idade, junto com seus pais, judeus russos da região da [[Bessarábia]], que se radicaram na capital paulista. Originariamente um jornalista da esquerda não comunista, ligado ao grupo de intelectuais congregados em torno da revista ''[[Diretrizes]]'', fundada por ele. Mais tarde, Wainer tornou-se repórter dos [[Diários Associados]] de [[Assis Chateaubriand]], quando veio a entrevistar [[Getúlio Vargas]] durante a campanha eleitoral de [[1950]]. A amizade política entre eles, movida à base de interesses mútuos, viria a resultar na criação do [[Última Hora]].
Wainer imigrou para o Brasil com 2 anos de idade, junto com seus pais, judeus russos da região da [[Bessarábia]], que se radicaram na capital paulista. Originariamente um jornalista da esquerda não comunista, ligado ao grupo de intelectuais congregados em torno da revista ''[[Diretrizes]]'', fundada por ele. Mais tarde, Wainer tornou-se repórter dos [[Diários Associados]] de [[Assis Chateaubriand]], quando veio a entrevistar [[Getúlio Vargas]] em [[1949]], criando um gancho para o "queremismo", a campanha para a volta do ex-presidente ao comando da nação, tendo o petebista se candidatado e eleito em [[1950]]. A amizade política entre eles, movida à base de interesses mútuos, viria a resultar na criação do [[Última Hora]].


Vargas havia concebido a necessidade de um órgão de imprensa que pudesse sustentar as posições do [[populismo]] varguista contra uma imprensa [[populismo|antipopulista]] e antivarguista. Sabendo da insatisfação de Wainer com o trabalho nos Diários Associados, onde estava sujeito às humilhações quotidianas que implicava o trato diário com Assis Chateaubriand e suas práticas amorais, Vargas sabia poder contar com a lealdade pessoal daquele a quem havia apelidado de "Profeta". Para tal, uma vez eleito, garantiu que o [[Banco do Brasil]] fornecesse um crédito a Wainer para a constituição do jornal em condições privilegiadas.
Vargas havia concebido a necessidade de um órgão de imprensa que pudesse sustentar as posições do [[populismo]] varguista contra uma imprensa [[populismo|antipopulista]] e antivarguista. Sabendo da insatisfação de Wainer com o trabalho nos Diários Associados, onde estava sujeito às humilhações quotidianas que implicava o trato diário com Assis Chateaubriand e suas práticas amorais, Vargas sabia poder contar com a lealdade pessoal daquele a quem havia apelidado de "Profeta". Para tal, uma vez eleito, garantiu que o [[Banco do Brasil]] fornecesse um crédito a Wainer para a constituição do jornal em condições privilegiadas.

Revisão das 02h58min de 19 de agosto de 2017

Samuel Wainer
Nome completo Samuel Wainer
Nascimento 19 de dezembro de 1910 (113 anos)
Bessarábia, Império Russo (atual  Moldávia)
Morte 2 de setembro de 1980 (69 anos)
São Paulo, São Paulo
 Brasil
Nacionalidade Rússia Russo
Brasil Brasileiro
Cônjuge Danuza Leão
Filho(a)(s) Samuel Wainer Filho
Bruno Wainer
Débora "Pinky" Wainer
Ocupação Jornalista
Empresário
Religião Judaísmo

Samuel Wainer (Bessarábia, Império Russo, 19 de dezembro de 1910São Paulo, 2 de setembro de 1980) foi um jornalista e empresário russo-brasileiro, fundador, editor-chefe e diretor do jornal Última Hora. Foi casado com a modelo e jornalista Danuza Leão e teve três filhos: a artista plástica Débora "Pinky" Wainer, o cineasta Bruno Wainer e o jornalista Samuel Wainer Filho.

Biografia

Wainer imigrou para o Brasil com 2 anos de idade, junto com seus pais, judeus russos da região da Bessarábia, que se radicaram na capital paulista. Originariamente um jornalista da esquerda não comunista, ligado ao grupo de intelectuais congregados em torno da revista Diretrizes, fundada por ele. Mais tarde, Wainer tornou-se repórter dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, quando veio a entrevistar Getúlio Vargas em 1949, criando um gancho para o "queremismo", a campanha para a volta do ex-presidente ao comando da nação, tendo o petebista se candidatado e eleito em 1950. A amizade política entre eles, movida à base de interesses mútuos, viria a resultar na criação do Última Hora.

Vargas havia concebido a necessidade de um órgão de imprensa que pudesse sustentar as posições do populismo varguista contra uma imprensa antipopulista e antivarguista. Sabendo da insatisfação de Wainer com o trabalho nos Diários Associados, onde estava sujeito às humilhações quotidianas que implicava o trato diário com Assis Chateaubriand e suas práticas amorais, Vargas sabia poder contar com a lealdade pessoal daquele a quem havia apelidado de "Profeta". Para tal, uma vez eleito, garantiu que o Banco do Brasil fornecesse um crédito a Wainer para a constituição do jornal em condições privilegiadas.

O Última Hora, desde sua origem, colocou-se abertamente como órgão pró-Vargas e oficioso: na sua primeira edição, o jornal estampava uma carta de felicitações assinada pelo próprio Getúlio Vargas. Foi um jornal que introduziu uma série de técnicas bem sucedidas que o tornavam mais atrativo às classes populares: a seção de cartas dos leitores, o uso de uma editoria específica para tratar de problemas locais dos bairros do Rio de Janeiro. Era, ao mesmo tempo, um jornal conhecido pelo seu corpo de articulistas: Nelson Rodrigues e seus folhetins, a coluna de análise política de Paulo Francis e até mesmo uma coluna do futuro animador de televisão Chacrinha.

A oposição a Vargas, comandada por Carlos Lacerda, não podendo impugnar a legalidade do empréstimo favorecido que viabilizara o jornal (como lembraria o próprio Wainer em suas memórias, toda a imprensa brasileira beneficiava-se de tais créditos irregulares) procurou impugnar o próprio Wainer.

Coube a Carlos Lacerda a tarefa de procurar negar a Wainer o direito de dirigir um jornal, alegando que o jornalista teria nascido na Bessarábia (a atual Moldávia, na época um território disputado entre a Roménia e a URSS), em 1910 e que haveria recebido uma certidão de nascimento falsa em território brasileiro, que o daria como nascido em 1912. Sendo brasileiro naturalizado, e não nato, Wainer estaria, nos termos da lei, impedido de ser proprietário de um jornal (a Constituição de 1946 proibia que estrangeiros fossem donos de empresas jornalísticas). A campanha contra Wainer — que combinava direitismo antigetulista e um toque de antissemitismo — levou a uma longa batalha judicial que prolongou-se para além do suicídio de Vargas, em 1954, e terminou com a absolvição de Wainer da acusação de falsidade ideológica. Somente 25 anos após sua morte, na edição completa de seu livro autobiográfico "Minha Razão de Viver", Wainer reconhece que nascera realmente fora do Brasil.

Foi o único jornalista brasileiro a cobrir o Julgamento de Nuremberg.

Samuel Wainer permaneceu uma figura jornalística importante no Brasil pré-1964, sempre ligado ao populismo e contando com a simpatia dos presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart. Foi também um mundano consumado, cuja reputação de dândi foi muito beneficiada pelo seu casamento com Danuza Leão, então uma jovem modelo, figura cara à alta burguesia do Rio de Janeiro e musa boêmia da época.

Em 23 de abril de 1964 é publicado discurso do deputado Rubens Requião, feito na assembleia legislativa, no Diário do Paraná. O deputado ataca o Última Hora nos seguintes termos: Ainda agora soubemos que importou o jornal papel de imprensa no valor de Cr$ 3 bilhões, financiado pelo Banco do Brasil, no apagar das luzes do governo deposto. Sendo que o ápice das acusações se deu em trecho anterior a esse de seu discurso: Uma coisa, todavia, sempre chamou atenção de todos, de todos os democratas. Como se mantinha o <Última Hora>? Quem financiava?... A Petrobras? Os Institutos? As Autarquias? Ou, quem sabe, alguma potência estrangeira? Os enormes recurso de que dispunha esse jornal subversivo sempre preocuparam os democratas.[1]

Até o Golpe Militar de 1964, Samuel Wainer havia conseguido estruturar um verdadeiro império jornalístico, com várias edições regionais do seu jornal. Foi o único diário a defender o governo de João Goulart em 1° de abril de 1964, nas primeiras horas após o golpe militar que o depôs.[2] Teves suas sedes do Rio de Janeiro e do Recife invadidas e depredadas.[2] Samuel Wainer se exilou no Chile e lá recebeu proposta de compra do jornal de um grupo de empresários especializados em obras públicas.[2] Negociou a venda de seu jornal em Paris, tendo vendido em 1971 para a Empresa Folha da Manhã S/A que também era dona do jornal Folha de S.Paulo.[2] Wainer ainda voltou ao Brasil com a esperança de recuperar a Última Hora do Rio de Janeiro, tentou conquistar a confiança dos militares sem sucesso, até que o comandante do I Exército pediu que publicasse na primeira página um poema de resposta a canção Caminhando de Geraldo Vandré.[2] Ele publicou o poema, mas decidiu vender o resto de sua participação aos empreiteiros que haviam comprado o Correio da Manhã.[2]

Em 1975, passou a residir em São Paulo, trabalhando como jornalista assalariado da Folha de S.Paulo, protegido por Frias até sua morte em 1980.

Deixou um livro de memórias intitulado Minha Razão de Viver, editado postumamente por sua filha, a artista plástica Débora ("Pinky") Wainer.

Seu filho, Samuel Wainer Filho, morreu em um acidente de carro em 1984, quando voltava de uma cobertura de um acidente aéreo que matou vários jornalistas, no Norte do Estado do Rio de Janeiro.

Referências

  1. Requião, Rubens (23 de abril de 1964). «Rubens Requião revida editorial de jornal, ofensivo à revolução». Curitiba, PR. Diário do Paraná: Primeiro caderno, página 3 
  2. a b c d e f Gaspari, Elio (2014). A Ditadura Escancarada 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca. 526 páginas. ISBN 978-85-8057-408-1 
  • Samuel Wainer, Minha Razão de Viver, eds. Augusto Nunes & Pinky Wainer, Planeta, 2005.
  • Danuza Leão, Quase Tudo, S.Paulo, Cia. das Letras, 2005.

Ligações externas