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[[Imagem:Gaius Iulius Caesar Vatican.jpeg|thumb|Busto de [[Júlio César]], o mais conhecido membro da família romana [[Júlia (gente)|Júlia]], de estatuto patrício]]


Os '''patrícios''' ({{lang-la|''patricius''}}) originalmente eram os [[Cidadania romana|cidadãos]] que constituíam a [[aristocracia]] da [[Roma Antiga]], equivalendo a uma forma de [[nobreza]] hereditária. Depois da queda do império, o título passou a ser usado em uma larga região da Europa Ocidental para designar a classe urbana governante, mantendo muitas características do antigo patriciado romano.
Os '''patrícios''' ({{lang-la|''patricius''}}) originalmente eram os [[Cidadania romana|cidadãos]] que constituíam a [[aristocracia]] da [[Roma Antiga]], equivalendo a uma forma de [[nobreza]] hereditária. Depois da queda do império, o título passou a ser usado em uma larga região da Europa Ocidental para designar a classe urbana governante, mantendo muitas características do antigo patriciado romano.

Revisão das 13h58min de 14 de setembro de 2018

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Busto de Júlio César, o mais conhecido membro da família romana Júlia, de estatuto patrício

Os patrícios (em latim: patricius) originalmente eram os cidadãos que constituíam a aristocracia da Roma Antiga, equivalendo a uma forma de nobreza hereditária. Depois da queda do império, o título passou a ser usado em uma larga região da Europa Ocidental para designar a classe urbana governante, mantendo muitas características do antigo patriciado romano.

Em Roma

O patriciado existiu ao longo de toda a história de Roma, desde o período régio até à queda do Império, e pouco se modificou em suas características básicas, embora seu poder e influência tivessem variado ao longo dos séculos. As famílias patrícias eram as descendentes das fundadoras de Roma, indicando que seu prestígio datava de antes da fundação da cidade, quando a região era governada pelas principais famílias das antigas tribos itálicas. A palavra patrício deriva do latim patres, que significa "pais". Das cerca de 130 famílias patrícias originais, no início da República a admissão de novas famílias foi proibida, bem como o casamento com plebeus, decorrendo uma progressiva redução em seu número em virtude da extinção de várias gentes. No ano de 367 a.C. eram 22 gentes patrícias, compostas por 81 famílias. No final da República eram 14 gentes, com cerca de 30 famílias, mas Júlio César instituiu uma lei possibilitando o ingresso de novas famílias.[1][2]

Os patrícios detinham vários privilégios governamentais, dentre eles a isenção de tributos, a exclusiva possibilidade de se tornarem soberanos de Roma e também a de serem magistrados, oficiais e senadores. Desempenhavam altas funções no exército, na religião, na justiça e na administração pública. Eram em geral grandes proprietários de terra e credores dos plebeus.[1] Na cidade habitavam num domus, uma grande e sofisticada residência, e em suas propriedades rurais, nas villas, casas senhoriais.

No entanto, na era republicana vários cargos públicos importantes se tornaram acessíveis à plebe, incluindo as mais altas magistraturas — o consulado e o senado — perdendo o patriciado parte de sua força política, mas preservando significativo prestígio e influência, especialmente quando pertencentes às famílias mais tradicionais.[3][1] Preservaram também o monopólio dos cargos de rei das coisas sagradas, de sálios, dos três flâmines principais, e de príncipe do senado. Mantiveram ainda o privilégio de foro especial,[1] e aparentemente só eles podiam contrair o matrimônio solene conhecido como confarreatio.[2]

Vespasiano (r. 69–79) foi o primeiro imperador a pertencer à plebe, mas assim que ascendeu à dignidade imperial o senado concedeu-lhe o estatuto, providência repetida para todos os seus sucessores que caíam na mesma situação. No âmbito do senado, era apanágio dos patrícios serem escolhidos como inter-rei, e somente aos senadores patrícios cabia a auctoritas patrum, que lhes dava o poder de confirmar as deliberações das assembleias populares, mas no século III a.C. o privilégio havia se tornado mera formalidade. Constantino (r. 306–337) revitalizou o patriciado, mas apenas como distinção honorária, pessoal e vitalícia, não extensiva à família. Mesmo assim, esses novos patrícios tinham o direito de precedência sobre os oficiais e cônsules. Zenão (r. 474-475; 476-491) restringiu o título para os prefeitos pretorianos e urbanos de Constantinopla, para os mestres dos soldados e os cônsules.[2] No fim do Império Romano do Ocidente os patrícios recuperaram poder e virtualmente monopolizaram as funções da administração pública.[1] No Império Bizantino indicou uma dignidade da corte.[4]

Pós-Antiguidade

Ver artigo principal: Burguesia
Daniele Dolfin, patrício de Veneza, onde foi formado um dos mais poderosos patriciados europeus.

A partir da Idade Média, em grande parte da Europa Ocidental, mas especialmente na Itália, Germânia e França, passou a ser um título usado para denominar a nobreza urbana que governava uma comuna, cidade ou uma república aristocrática, contrapondo-se à autoridade dos nobres da tradição feudal.[1][5] Na Germânia e nos Países Baixos os patrícios foram conhecidos em muitos locais pelo título de burgueses, termo que neste caso difere da definição marxista.[6][7]

As origens do patriciado pós-antigo são muito heterogêneas e variaram de acordo com a região. Em alguns locais emergiu de famílias de vassalos, da pequena nobreza feudal e de oficiais do Sacro Império radicados nas cidades,[8][9] mas em geral foi o resultado do progressivo empoderamento da burguesia urbana, estruturada sobre uma sólida legislação que lhe atribuía, assim como ocorreu na Roma Antiga, uma série de privilégios hereditários e a capacidade de acesso ao governo cívico, características que em essência definem um patriciado.[10][11]

Porém, o termo só entrou em uso em seu sentido estrito bem depois do estabelecimento da burguesia, em seus primórdios uma classe estatutariamente bastante homogênea. O processo de formação das elites urbanas variou consideravelmente em termos cronológicos e geográficos, mas no fim do século XV em quase todas as cidades europeias já havia se formado uma distinta elite burguesa de grandes comerciantes, financistas e profissionais liberais de ofícios muito rendosos e prestigiados na época, como os de médico e advogado. Este estrato burguês superior, que veio a ser chamado de patrício (ou "grande burguês"), passou a monopolizar o poder político e econômico, afastando os grupos manufatureiros e artesanais, e adotou hábitos típicos da nobreza, como um estilo de vida de luxo ostensivo, o uso de brasões, a exibição pública de genealogias (muitas vezes fictícias), a aquisição de feudos e direitos hereditários no campo, e a confecção de crônicas onde as glórias de cada família eram exaltadas.[10]

Quando as cidades legislaram para estabelecer patriciados formais, o estatuto foi atribuído apenas às famílias da alta burguesia, as mais antigas, ricas ou influentes, ao mesmo tempo passando a ser investido de um caráter de efetiva nobreza. Mas em muitos locais jamais veio a ser criada uma legislação consistente para organizar esses patriciados, a palavra podia ser usada apenas informalmente para designar o estrato superior da burguesia, e a questão da sua nobreza muitas vezes dependeu mais de costumes locais e de um reconhecimento social do que de uma regulamentação jurídica.[12][13][14]

Embora os patriciados formais tenham sido abolidos em quase todos os países, o termo ainda sobrevive na linguagem popular para designar a elite.[15] Ainda existe oficialmente na república de San Marino, sendo um título nobiliárquico acima de nobre e abaixo de barão;[16] nos Países Baixos, título concedido a famílias que não são nobres e que tenham comprovado uma longa tradição de notadas contribuições à sociedade,[17] e em alguns cantões da Suíça, onde a classe perdeu muitas de suas antigas capacidades políticas mas manteve jurisdição sobre a administração de bens coletivos.[18]

Referências

  1. a b c d e f "Patrizio". Enciclopedia Treccani
  2. a b c Fraccaro, Plinio. "Patriziato". Enciclopedia Italiana, 1935
  3. "Patriziato". Enciclopedia Treccani
  4. Kazhdan, Alexander (ed.). Oxford Dictionary of Byzantium. Oxford University Press, 1991, p. 1600
  5. "Patriziato". Dizionario di Storia, 2011
  6. Clarke, M. V. The Medieval City State: An Essay on Tyranny and Federation in the Later Middle Ages. Routledge, 2015, s/pp.
  7. Kamen, Henry. Early Modern European Society. Routledge, 2005, pp. 93-109
  8. Hibbert, A. B. "The Origins of the Medieval Town Patriciate". In: Past and Present, 1953; 3:15-27
  9. Hall, Peter. Cities in Civilization. Phoenix, 1999, p. 91
  10. a b Teuscher, Simon. "Property Regimes and Migration of Patrician Families in Western Europe Around 1500". In: Johnson, Christopher H. et al. (eds.). Transregional and Transnational Families in Europe and Beyond: Experiences Since the Middle Ages. Berghahn Books, 2011, pp. 75-92
  11. Hettling, Manfred. "Bürger, Bürgertum, Bürgerlichkeit (english version)". In: Docupedia-Zeitgeschichte, 08/06/2016
  12. Dronkers, Jaap & Schijf, Huibert. "Marriages between nobility and high bourgeoisie as a way to maintain their elite positions in modern Dutch society". In: 6th Conference of the European Sociological Association. Murcia, 23- 26/09/2003
  13. Cacamp, François de. "Quelques conclusions. En ce qui concerne la structure du milieu lignager". In: Généalogie des familles inscrites aux Lignages de Bruxelles en 1376. Bruxelles, tome III, 1971
  14. Pietri, Valérie, "Vraie et fausse noblesse : l’identité nobiliaire provençale à l’épreuve des reformations (1656-1718)". In: Cahiers de la Méditerranée, 2003 (66)
  15. "Patrician". In: Longman Dictionary of Contemporary English Online
  16. Broccoli, Michele. "La nobiltà a San Marino: passato, presente, prospettive per il futuro". In: Nobiltà, 2006; 74:445-454
  17. "Nederland’s Patriciaat". Blauwe boekje
  18. "Comune patriziale". In: Dizionario storico della Svizzera, 26/11/2003
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