Diplomacia bizantina: diferenças entre revisões

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| caption1 = Embaixada de [[João, o Gramático]] em 829, entre o imperador [[Teófilo (imperador)|Teófilo]] {{nwrap|r.|829|842}} e o [[califa abássida]] [[Almamune]] {{nwrap|r.|813|833}}.
| caption1 = Embaixada de [[João, o Gramático]] em 829, entre o imperador [[Teófilo (imperador)|Teófilo]] {{nwrap|r.|829|842}} e o [[califa abássida]] [[Almamune]] {{nwrap|r.|813|833}}.
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| caption2 = [[Olga de Quieve|Olga]], governante da [[Rússia de Quieve]], junto com seu acompanhante em Constantinopla.
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Após a queda de [[Roma]], o principal desafio do Império Bizantino foi manter um conjunto de relações entre ele próprio e seus diversos vizinhos, incluindo os povos germânicos, [[georgianos]], [[Reino da Ibéria|ibéricos]], [[búlgaros]], [[eslavos]], [[armênios]], [[hunos]], [[ávaros]], [[francos]], [[lombardos]] e [[árabes]], que incorporou e assim manteve seu estatuto imperial. Todos estes vizinhos não dispunham do recurso chave que Bizâncio havia assumido a partir de Roma, uma estrutura legal formalizada. Quando eles começaram a forjar instituições políticas formais, eram dependentes do império. Enquanto que escritores clássicos gostam de fazer uma distinção nítida entre paz e guerra, para os bizantinos a diplomacia era uma forma de guerra por outros meios. Antecipando [[Nicolau Maquiavel]] e [[Carl von Clausewitz]], o historiador bizantino [[João Cinamo]] escreve, "uma vez que muitos e diversos assuntos levam em direção a um fim, vitória, é uma questão de indiferença que se usa para alcançá-la." Com um exército regular de 120.000-140.000 homens após as perdas do {{séc|VII}},{{harvref|Gabriel|2002|p=281}}{{harvref|Haldon|1999|p=101}} a segurança do império dependia de diplomacia ativista.
Após a queda de [[Roma]], o principal desafio do Império Bizantino foi manter um conjunto de relações entre ele próprio e seus diversos vizinhos, incluindo os povos germânicos, [[georgianos]], [[Reino da Ibéria|ibéricos]], [[búlgaros]], [[eslavos]], [[armênios]], [[hunos]], [[ávaros]], [[francos]], [[lombardos]] e [[árabes]], que incorporou e assim manteve seu estatuto imperial. Todos estes vizinhos não dispunham do recurso chave que Bizâncio havia assumido a partir de Roma, uma estrutura legal formalizada. Quando eles começaram a forjar instituições políticas formais, eram dependentes do império. Enquanto que escritores clássicos gostam de fazer uma distinção nítida entre paz e guerra, para os bizantinos a diplomacia era uma forma de guerra por outros meios. Antecipando [[Nicolau Maquiavel]] e [[Carl von Clausewitz]], o historiador bizantino [[João Cinamo]] escreve, "uma vez que muitos e diversos assuntos levam em direção a um fim, vitória, é uma questão de indiferença que se usa para alcançá-la." Com um exército regular de 120.000-140.000 homens após as perdas do {{séc|VII}},{{harvref|Gabriel|2002|p=281}}{{harvref|Haldon|1999|p=101}} a segurança do império dependia de diplomacia ativista.


O "[[Gabinete dos Bárbaros]]" de Bizâncio foi a primeira agência de inteligência estrangeira, coletando informações sobre os impérios rivais de todas as fontes imagináveis.{{harvref|name=Anto13|Antonucci|1993|p=11–13}} Enquanto na aparência fosse um gabinente protocolar - sua principal missão era garantir que enviados estrangeiros fossem adequadamente tratados e recebessem fundos suficientes do Estado para sua manutenção, e manteve tradutores oficiais – tendo claramente uma função de segurança. O ''Tratado sobre Estratégia'', do {{séc|VI}}, aconselhava sobre embaixadas estrangeiras: "[emissários] que nos são enviados devem ser recebidos com honra e generosidade, para todos mantê-los em alta estima. Seus assistentes, no entanto, devem ser mantidos sob vigilância para serem obtidas todas as informações por meio de perguntas do nosso povo".{{harvref|Dennis|1985|p=125}}
O "[[Gabinete dos Bárbaros]]" de Bizâncio foi a primeira agência de inteligência estrangeira, coletando informações sobre os impérios rivais de todas as fontes imagináveis.{{harvref|name=Anto13|Antonucci|1993|p=11–13}} Enquanto na aparência fosse um gabinete protocolar - sua principal missão era garantir que enviados estrangeiros fossem adequadamente tratados e recebessem fundos suficientes do Estado para sua manutenção, e manteve tradutores oficiais – tendo claramente uma função de segurança. O ''Tratado sobre Estratégia'', do {{séc|VI}}, aconselhava sobre embaixadas estrangeiras: "[emissários] que nos são enviados devem ser recebidos com honra e generosidade, para todos mantê-los em alta estima. Seus assistentes, no entanto, devem ser mantidos sob vigilância para serem obtidas todas as informações por meio de perguntas do nosso povo".{{harvref|Dennis|1985|p=125}}


== Princípios e métodos ==
== Princípios e métodos ==

A diplomacia bizantina chamou seus vizinhos em uma rede de relações internacionais e interestaduais, controlada pelo próprio império.{{harvref|Neumann|2005|p=869–870}} Este processo girava em torno de tratados. O historiador bizantino Evângelo Crisos postula um processo de três camadas no trabalho: 1) o novo governante foi recebido na família dos reis, 2) havia uma assimilação das atitudes e valores sociais bizantinos, 3) como uma formalização da segunda camada do processo, havia leis."{{harvref|Shepard|1992|p=35}}
A diplomacia bizantina chamou seus vizinhos em uma rede de relações internacionais e interestaduais, controlada pelo próprio império.{{harvref|Neumann|2005|p=869–870}} Este processo girava em torno de tratados. O historiador bizantino Evângelo Crisos postula um processo de três camadas no trabalho: 1) o novo governante foi recebido na família dos reis, 2) havia uma assimilação das atitudes e valores sociais bizantinos, 3) como uma formalização da segunda camada do processo, havia leis."{{harvref|Shepard|1992|p=35}}


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O fato de que Bizâncio nas suas relações com os bárbaros geralmente preferiu a diplomacia à guerra não é surpreendente. Para os romanos orientais, que enfrentavam a necessidade de ter que lutar em duas frentes - no Oriente contra persas, árabes e turcos e no Norte contra eslavos e nômades das estepes - era sabido, por experiência pessoal, qual caro a guerra era, tanto em dinheiro como mão de obra.<ref name=Obole3 /> Os bizantinos foram hábeis em usar diplomacia como uma arma de guerra: se os búlgaros ameaçassem, subsídios poderiam ser dados à [[Rússia de Quieve]]; uma ameaça rus' poderia ser contornada por subsídios aos [[pechenegues]]; se os pechenegues causassem problemas, os [[cumanos]] e [[oguzes]] poderiam ser contratados. Havia sempre alguém na retaguarda do inimigo em uma posição de apreciar a generosidade do imperador. Outro princípio inovador da diplomacia bizantino foi a interferência efetiva nos assuntos internos de outros Estados. Em 1282, [[Miguel VIII Paleólogo]] {{nwrap|r.|1259|1282}} patrocinou uma revolta na Sicília contra [[Carlos I da Sicília]] {{nwrap|r.|1266|1285}} chamadas de [[Vésperas Sicilianas]]. [[Heráclio]] {{nwrap|r.|610|641}} uma vez interceptou uma mensagem de seu rival persa {{lknb|Cosroes|II}} {{nwrap|r.|590|628}} que ordenava a execução de um general. Heráclio acrescentou 400 nomes a mensagem e desviou o mensageiro, provocando uma rebelião daqueles da lista.<ref name=Anto13 />
O fato de que Bizâncio nas suas relações com os bárbaros geralmente preferiu a diplomacia à guerra não é surpreendente. Para os romanos orientais, que enfrentavam a necessidade de ter que lutar em duas frentes - no Oriente contra persas, árabes e turcos e no Norte contra eslavos e nômades das estepes - era sabido, por experiência pessoal, qual caro a guerra era, tanto em dinheiro como mão de obra.<ref name=Obole3 /> Os bizantinos foram hábeis em usar diplomacia como uma arma de guerra: se os búlgaros ameaçassem, subsídios poderiam ser dados à [[Rússia de Quieve]]; uma ameaça rus' poderia ser contornada por subsídios aos [[pechenegues]]; se os pechenegues causassem problemas, os [[cumanos]] e [[oguzes]] poderiam ser contratados. Havia sempre alguém na retaguarda do inimigo em uma posição de apreciar a generosidade do imperador. Outro princípio inovador da diplomacia bizantino foi a interferência efetiva nos assuntos internos de outros Estados. Em 1282, [[Miguel VIII Paleólogo]] {{nwrap|r.|1259|1282}} patrocinou uma revolta na Sicília contra [[Carlos I da Sicília]] {{nwrap|r.|1266|1285}} chamadas de [[Vésperas Sicilianas]]. [[Heráclio]] {{nwrap|r.|610|641}} uma vez interceptou uma mensagem de seu rival persa {{lknb|Cosroes|II}} {{nwrap|r.|590|628}} que ordenava a execução de um general. Heráclio acrescentou 400 nomes a mensagem e desviou o mensageiro, provocando uma rebelião daqueles da lista.<ref name=Anto13 />
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== Bibliografia ==
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* {{Citar periódico|ultimo=Antonucci|primeiro=Michael|título=War by Other Means: The Legacy of Byzantium|jornal=History Today|volume=43|número=2|issn=0018-2753|ano=1993|ref=harv}}
* {{Citar livro|sobrenome=Dennis|nome=George T.|título=Three Byzantine Military Treatises (Volume 9)|ano=1985|local=Washington|editora=Dumbarton Oaks, Research Library and Collection|ref=harv}}
* {{Citar livro|sobrenome=Dennis|nome=George T.|título=Three Byzantine Military Treatises (Volume 9)|ano=1985|local=Washington|editora=Dumbarton Oaks, Research Library and Collection|ref=harv}}
* {{Citar livro|sobrenome=Gabriel|nome=Richard A.|título=The Great Armies of Antiquity|ano=2002|isbn=0-275-97809-5|local=Westport|editora=Greenwood Publishing Group|lingua3=en|ref=harv}}
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* {{Citar livro|sobrenome=Haldon|nome=John|título=Warfare, State and Society in the Byzantine World, 565-1204|ano=1999|local=Londres|editora=University College London Press|isbn=1-85728-495-X|ref=harv}}
* {{Citar livro|sobrenome=Haldon|nome=John|título=Warfare, State and Society in the Byzantine World, 565-1204|ano=1999|local=Londres|editora=University College London Press|isbn=1-85728-495-X|ref=harv}}
* {{Citar livro|sobrenome=Laiou|nome=Angeliki E.|título=The Economic History of Byzantium|ano=2002|local=Washington|editora=Dumbarton Oaks|lingua3=en|ref=harv}}
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* {{Citar periódico|ultimo=Neumann|primeiro=Iver B.|título=Sublime Diplomacy: Byzantine, Early Modern, Contemporary|jornal=Millennium: Journal of International Studies|volume=34|número=3|issn=1569-2981|doi=10.1177/03058298060340030201|url=http://www.clingendael.nl/publications/2005/20051200_cli_paper_dip_issue102.pdf|ano=2005|ref=harv}}
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* {{Citar livro|sobrenome=Obolensky|nome=Dimitri|título=Byzantium and the Slavs|ano=1994|local=Yonkers|editora=St Vladimir's Seminary Press|isbn=0-88141-008-X|ref=harv}}
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* {{Citar livro|sobrenome=Shepard|nome=Jonathan|coautor=Franklin, Simon|título=Byzantine Diplomacy: Papers from the Twenty-Fourth Spring Symposium of Byzantine Studies|ano=1992|local=Aldershot, Hampshire|editora=Variorum|isbn=0-86078-338-3|ref=harv}}
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Revisão das 02h25min de 7 de fevereiro de 2019

A diplomacia bizantina refere-se aos princípios, métodos, mecanismos, ideias e técnicas que o Império Bizantino defendeu e utilizou de modo a negociar com outros Estados e promover os objetivos de sua política externa. Dimitri Obolensky afirma que a preservação da civilização na Europa Oriental foi devido à habilidade e desenvoltura da diplomacia bizantina, que continuou sendo uma das contribuições duradouras para a história da Europa e Oriente Médio.[1]

Desafios e objetivos

Diplomacia bizantina
Embaixada de João, o Gramático em 829, entre o imperador Teófilo (r. 829–842) e o califa abássida Almamune (r. 813–833).
Olga, governante da Rússia de Quieve, junto com seu acompanhante em Constantinopla.
Omortague (r. 815–831), governante da Bulgária, envia uma delegação para o imperador bizantino Miguel II, o Amoriano (r. 820–829).

Após a queda de Roma, o principal desafio do Império Bizantino foi manter um conjunto de relações entre ele próprio e seus diversos vizinhos, incluindo os povos germânicos, georgianos, ibéricos, búlgaros, eslavos, armênios, hunos, ávaros, francos, lombardos e árabes, que incorporou e assim manteve seu estatuto imperial. Todos estes vizinhos não dispunham do recurso chave que Bizâncio havia assumido a partir de Roma, uma estrutura legal formalizada. Quando eles começaram a forjar instituições políticas formais, eram dependentes do império. Enquanto que escritores clássicos gostam de fazer uma distinção nítida entre paz e guerra, para os bizantinos a diplomacia era uma forma de guerra por outros meios. Antecipando Nicolau Maquiavel e Carl von Clausewitz, o historiador bizantino João Cinamo escreve, "uma vez que muitos e diversos assuntos levam em direção a um fim, vitória, é uma questão de indiferença que se usa para alcançá-la." Com um exército regular de 120.000-140.000 homens após as perdas do século VII,[2][3] a segurança do império dependia de diplomacia ativista.

O "Gabinete dos Bárbaros" de Bizâncio foi a primeira agência de inteligência estrangeira, coletando informações sobre os impérios rivais de todas as fontes imagináveis.[4] Enquanto na aparência fosse um gabinete protocolar - sua principal missão era garantir que enviados estrangeiros fossem adequadamente tratados e recebessem fundos suficientes do Estado para sua manutenção, e manteve tradutores oficiais – tendo claramente uma função de segurança. O Tratado sobre Estratégia, do século VI, aconselhava sobre embaixadas estrangeiras: "[emissários] que nos são enviados devem ser recebidos com honra e generosidade, para todos mantê-los em alta estima. Seus assistentes, no entanto, devem ser mantidos sob vigilância para serem obtidas todas as informações por meio de perguntas do nosso povo".[5]

Princípios e métodos

A diplomacia bizantina chamou seus vizinhos em uma rede de relações internacionais e interestaduais, controlada pelo próprio império.[6] Este processo girava em torno de tratados. O historiador bizantino Evângelo Crisos postula um processo de três camadas no trabalho: 1) o novo governante foi recebido na família dos reis, 2) havia uma assimilação das atitudes e valores sociais bizantinos, 3) como uma formalização da segunda camada do processo, havia leis."[7]

De modo a conduzir este processo, os bizantinos recorreram a uma série de práticas, principalmente diplomáticas. Por exemplo, embaixadas para Constantinopla poderiam frequentemente permanecer por anos. Membros de outras casas reais eram rotineiramente convidados a ficar em Constantinopla, não só como potenciais reféns, mas também como peões manipuláveis, que podiam vir a ser usados em questões políticas favoráveis aos bizantinos em seus países de origem. Outra prática fundamental era deslumbrar os visitantes com cerimónias e espetáculos suntuosos.[8] As riquezas de Constantinopla serviram para propósitos diplomáticos do Estado como um meio de propaganda, e como um meio de impressionar os estrangeiros.[9] Quando Liutprando de Cremona foi enviado como um embaixador para a capital bizantino, foi dominado pela residência imperial, as refeições luxuosas e o entretenimento acrobático. Um cuidado especial foi tomado para estimular o maior número de sentidos tanto quanto possível: coisas iluminadas para ver, sons aterrorizantes, comida saborosa; mesmo as peças do conjunto diplomático tiveram bárbaros em volta do trono vestindo seus equipamentos nativos.[8]

O fato de que Bizâncio nas suas relações com os bárbaros geralmente preferiu a diplomacia à guerra não é surpreendente. Para os romanos orientais, que enfrentavam a necessidade de ter que lutar em duas frentes - no Oriente contra persas, árabes e turcos e no Norte contra eslavos e nômades das estepes - era sabido, por experiência pessoal, qual caro a guerra era, tanto em dinheiro como mão de obra.[1] Os bizantinos foram hábeis em usar diplomacia como uma arma de guerra: se os búlgaros ameaçassem, subsídios poderiam ser dados à Rússia de Quieve; uma ameaça rus' poderia ser contornada por subsídios aos pechenegues; se os pechenegues causassem problemas, os cumanos e oguzes poderiam ser contratados. Havia sempre alguém na retaguarda do inimigo em uma posição de apreciar a generosidade do imperador. Outro princípio inovador da diplomacia bizantino foi a interferência efetiva nos assuntos internos de outros Estados. Em 1282, Miguel VIII Paleólogo (r. 1259–1282) patrocinou uma revolta na Sicília contra Carlos I da Sicília (r. 1266–1285) chamadas de Vésperas Sicilianas. Heráclio (r. 610–641) uma vez interceptou uma mensagem de seu rival persa Cosroes II (r. 590–628) que ordenava a execução de um general. Heráclio acrescentou 400 nomes a mensagem e desviou o mensageiro, provocando uma rebelião daqueles da lista.[4]

Referências

  1. a b Obolensky 1994, p. 3.
  2. Gabriel 2002, p. 281.
  3. Haldon 1999, p. 101.
  4. a b Antonucci 1993, p. 11–13.
  5. Dennis 1985, p. 125.
  6. Neumann 2005, p. 869–870.
  7. Shepard 1992, p. 35.
  8. a b Neumann 2005, p. 870–871.
  9. Laiou 2002, p. 3.

Bibliografia

  • Antonucci, Michael (1993). «War by Other Means: The Legacy of Byzantium». History Today. 43 (2). ISSN 0018-2753 
  • Dennis, George T. (1985). Three Byzantine Military Treatises (Volume 9). Washington: Dumbarton Oaks, Research Library and Collection 
  • Gabriel, Richard A. (2002). The Great Armies of Antiquity (em inglês). Westport: Greenwood Publishing Group. ISBN 0-275-97809-5 
  • Haldon, John (1999). Warfare, State and Society in the Byzantine World, 565-1204. Londres: University College London Press. ISBN 1-85728-495-X 
  • Laiou, Angeliki E. (2002). The Economic History of Byzantium (em inglês). Washington: Dumbarton Oaks 
  • Neumann, Iver B. (2005). «Sublime Diplomacy: Byzantine, Early Modern, Contemporary» (PDF). Millennium: Journal of International Studies. 34 (3). ISSN 1569-2981. doi:10.1177/03058298060340030201 
  • Obolensky, Dimitri (1994). Byzantium and the Slavs. Yonkers: St Vladimir's Seminary Press. ISBN 0-88141-008-X 
  • Shepard, Jonathan; Franklin, Simon (1992). Byzantine Diplomacy: Papers from the Twenty-Fourth Spring Symposium of Byzantine Studies. Aldershot, Hampshire: Variorum. ISBN 0-86078-338-3