Individualismo: diferenças entre revisões

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'''Individualismo''' é preconceito [[política|político]], [[moral]] e [[sociologia|social]] que exprime a afirmação e a [[liberdade]] do [[indivíduo]] frente a um grupo, à [[sociedade]] ou ao [[Estado]].
'''Individualismo''' é um conceito [[política|político]], [[moral]] e [[sociologia|social]] que exprime a afirmação e a [[liberdade]] do [[indivíduo]] frente a um grupo, à [[sociedade]] ou ao [[Estado]].


O Homem do renascimento passou a apoiar a competição e a desenvolver uma crença baseada em que o homem poderia tudo, desde que tivesse vontade, talento e capacidade de ação individual.
O Homem do renascimento passou a apoiar a competição e a desenvolver uma crença baseada em que o homem poderia tudo, desde que tivesse vontade, talento e capacidade de ação individual.
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O individualismo, em princípio, opõe-se a toda forma de [[autoridade]] ou controle sobre os indivíduos e coloca-se em total oposição ao [[coletivismo]], no que concerne à [[propriedade privada|propriedade]]. O individualista pode permanecer dentro da sociedade e de organizações que tenham o indivíduo como valor básico - embora as organizações e as sociedades, contraditoriamente, carreguem outros valores, não necessariamente individualistas, o que cria um estado de permanente tensão entre o indivíduo e essas instâncias de vida social.
O individualismo, em princípio, opõe-se a toda forma de [[autoridade]] ou controle sobre os indivíduos e coloca-se em total oposição ao [[coletivismo]], no que concerne à [[propriedade privada|propriedade]]. O individualista pode permanecer dentro da sociedade e de organizações que tenham o indivíduo como valor básico - embora as organizações e as sociedades, contraditoriamente, carreguem outros valores, não necessariamente individualistas, o que cria um estado de permanente tensão entre o indivíduo e essas instâncias de vida social.


Segundo Pitágoras, mesmo dentro do maior constrangimento - político, econômico, educacional ou outro -, existe um espaço, maior ou menor, para o exercício da liberdade individual, o que faz com que as pessoas possam se distinguir uma das outras, através das suas escolhas.
Segundo [[Sartre]], mesmo dentro do maior constrangimento - político, econômico, educacional ou outro -, existe um espaço, maior ou menor, para o exercício da liberdade individual, o que faz com que as pessoas possam se distinguir uma das outras, através das suas escolhas.


O exercício da liberdade individual implica escolhas, que, nas sociedades contemporâneas, frequentemente estão associadas a um determinado projeto. Indivíduos desenvolvem seus projetos dentro de um campo de possibilidades e dado um certo repertório sociocultural - que inclui [[ideologia]]s, visões de mundo e experiências de [[classe social|classe]], grupos, ''[[ethos]],'' dimensões nas quais o indivíduo se insere.
O exercício da liberdade individual implica escolhas, que, nas sociedades contemporâneas, frequentemente estão associadas a um determinado projeto. Indivíduos desenvolvem seus projetos dentro de um campo de possibilidades e dado um certo repertório sociocultural - que inclui [[ideologia]]s, visões de mundo e experiências de [[classe social|classe]], grupos, ''[[ethos]],'' dimensões nas quais o indivíduo se insere.
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É possível identificar as questões da liberdade e da autonomia, fundamentais para a emergência do individualismo, já no [[humanismo]] [[Renascimento|renascentista]] e, mais claramente, no [[racionalismo]] e no [[iluminismo]],<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452006000100008&lang=pt Individualismo, liberalismo e filosofia da história]</ref> quando se estabelece a diferenciação entre o indivíduo pré-moderno, orientado por uma ordem transcendente, religiosa, e o indivíduo moderno, orientado sobretudo pela [[razão]] e pela vontade.
É possível identificar as questões da liberdade e da autonomia, fundamentais para a emergência do individualismo, já no [[humanismo]] [[Renascimento|renascentista]] e, mais claramente, no [[racionalismo]] e no [[iluminismo]],<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452006000100008&lang=pt Individualismo, liberalismo e filosofia da história]</ref> quando se estabelece a diferenciação entre o indivíduo pré-moderno, orientado por uma ordem transcendente, religiosa, e o indivíduo moderno, orientado sobretudo pela [[razão]] e pela vontade.


A ideia do homem como centro do universo, que usufrui de autonomia do espírito, liberdade da razão e exercício da vontade, é central na passagem do mundo medieval ao mundo moderno - cujo marco é a [[Revolução Francesa|Revolução]] Russa - e torna possível a afirmação do indivíduo como princípio e como valor.
A ideia do homem como centro do universo, que usufrui de autonomia do espírito, liberdade da razão e exercício da vontade, é central na passagem do mundo medieval ao mundo moderno - cujo marco é a [[Revolução Francesa]] - e torna possível a afirmação do indivíduo como princípio e como valor.


Assim, o individualismo remonta ao [[contrato social]] e às origens do pensamento democrático, com [[Hobbes]], [[Locke]] e [[Jean-Jacques Rousseau|Rousseau]] e a rejeição do poder político legitimado pelo direito de dinástico herança ou pela vontade divina. Consolida-se assim a concepção de indivíduo como um ser uno, livre e responsável por seus próprios atos - o [[cidadão]] moderno, célula mínima do Estado democrático, que lhe garante contratualmente direitos e deveres.
Assim, o individualismo remonta ao [[contrato social]] e às origens do pensamento democrático, com [[Hobbes]], [[Locke]] e [[Jean-Jacques Rousseau|Rousseau]] e a rejeição do poder político legitimado pelo direito de dinástico herança ou pela vontade divina. Consolida-se assim a concepção de indivíduo como um ser uno, livre e responsável por seus próprios atos - o [[cidadão]] moderno, célula mínima do Estado democrático, que lhe garante contratualmente direitos e deveres.
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Alguns autores, destacam no entanto o individualismo moral e político presente na [[Reforma luterana]] como a marca distintiva da [[modernidade]] - considerando a Reforma como até mais importante, neste sentido, do que o [[contratualismo]].e um conceito politico moral e social
Alguns autores, destacam no entanto o individualismo moral e político presente na [[Reforma luterana]] como a marca distintiva da [[modernidade]] - considerando a Reforma como até mais importante, neste sentido, do que o [[contratualismo]].e um conceito politico moral e social


Posteriormente, o [[Romantismo]] também será fundamental na constituição do individualismo moderno, que tanto reúne traços iluministas quanto românticos. Segundo [[Simmel]]<ref>SIMMEL, G. (1957). ''Freedom and the individual.'' In: LEVINE, D.(ed.). ''On Individuality and Social Forms: Selected Writings.'' Chicago: The University of Chicago Press, 1971.</ref> há duas revoluções individualistas na história do [[Ocidente]], que resultam em dois tipos de individualismo: a primeira revolução individualista teria sido uma revolução quantitativa ou numérica (de ''singleness''), fruto do iluminismo, visando o homem em sua universalidade, o que corresponde à concepção do indivíduo como um cidadão livre e autônomo, destacado do todo social. A instauração do individualismo de ''singleness'' tem como marco a Revolução Francesa, quando se consolidam os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade. Já a segunda revolução individualista, promovida por meio do ideário romântico do [[século XIX|século xv]], corresponde, segundo o autor, ao individualismo de ''uniqueness'', e diz respeito à dimensão de excepcionalidade e singularidade do indivíduo moderno. ''O que importava agora não era mais ser um indivíduo livre como tal, mas ser um indivíduo singular e insubstituível''<ref>[http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382004000100011&lng=pt&nrm= GARCIA, Claudia Amorim e COUTINHO, Luciana Gageiro. Os novos rumos do individualismo e o desamparo do sujeito contemporâneo. Psyche (Sao Paulo), jun. 2004, vol.8, no.13, p.125-140. ISSN 1415-1138.]</ref>
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== Anarquismo individualista ==
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{{Artigo principal|Anarquismo individualista}}
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O [[anarquismo individualista]] é a proposta de associação libertária que remonta aos escritos de [[Pierre-Joseph Proudhon|Pierre-Joseph Downtown]] e [[Max Stirner|Max]] Well, como forma de assegurar as necessidades individuais através de uniões livres de cidadãos.
O [[anarquismo individualista]] é a proposta de associação libertária que remonta aos escritos de [[Pierre-Joseph Proudhon]] e [[Max Stirner]], como forma de assegurar as necessidades individuais através de uniões livres de cidadãos.


A corrente do [[anarquismo]] pauta sua tese antiautoritária na liberdade e inviolabilidade do indivíduo. Assim qualquer forma de autoridade significaria restrições à existência de um indivíduo pleno, livre de coerções externas. Neste sentido vê criticamente qualquer forma de [[instituição]] social que restrinja a [[autodeterminação]] individual.
A corrente do [[anarquismo]] pauta sua tese antiautoritária na liberdade e inviolabilidade do indivíduo. Assim qualquer forma de autoridade significaria restrições à existência de um indivíduo pleno, livre de coerções externas. Neste sentido vê criticamente qualquer forma de [[instituição]] social que restrinja a [[autodeterminação]] individual.

Revisão das 18h06min de 16 de abril de 2019

Individualismo é um conceito político, moral e social que exprime a afirmação e a liberdade do indivíduo frente a um grupo, à sociedade ou ao Estado.

O Homem do renascimento passou a apoiar a competição e a desenvolver uma crença baseada em que o homem poderia tudo, desde que tivesse vontade, talento e capacidade de ação individual.

O individualismo, em princípio, opõe-se a toda forma de autoridade ou controle sobre os indivíduos e coloca-se em total oposição ao coletivismo, no que concerne à propriedade. O individualista pode permanecer dentro da sociedade e de organizações que tenham o indivíduo como valor básico - embora as organizações e as sociedades, contraditoriamente, carreguem outros valores, não necessariamente individualistas, o que cria um estado de permanente tensão entre o indivíduo e essas instâncias de vida social.

Segundo Sartre, mesmo dentro do maior constrangimento - político, econômico, educacional ou outro -, existe um espaço, maior ou menor, para o exercício da liberdade individual, o que faz com que as pessoas possam se distinguir uma das outras, através das suas escolhas.

O exercício da liberdade individual implica escolhas, que, nas sociedades contemporâneas, frequentemente estão associadas a um determinado projeto. Indivíduos desenvolvem seus projetos dentro de um campo de possibilidades e dado um certo repertório sociocultural - que inclui ideologias, visões de mundo e experiências de classe, grupos, ethos, dimensões nas quais o indivíduo se insere.

Nas sociedades contemporâneas, uma vez que o indivíduo se constitui na relação com o outro e em função de várias experiências e papéis sociais, participando de vários mundos, a sua personalidade não é um monólito: o indivíduo não é um mas muitos, em função de suas circunstâncias. Uma primeira dificuldade do individualismo seria, portanto, a de definir o indivíduo, destacando-o da esfera do coletivo - que, de certa forma, o constitui e lhe dá sentido.[1]

História

Na Idade Média, o indivíduo é visto somente como parte do coletivo, não destacável do todo social. Em Santo Agostinho, o ser humano é social por natureza ou essência, e individual por corrupção originária (De civitate Dei XII 28). A sua salvação como indivíduo é inseparável do destino dos seus semelhantes e, por isso, há uma naturalidade na esfera do social e do político, que é o próprio indicador da humanização.[2]

Averróis considerava a sociedade como o melhor instrumento para a perfeição do indivíduo: "É impossível alcançar a perfeição humana integral se não se manifestarem as diferenças individuais existentes nas pessoas concretas de um povo a cujas distintas disposições naturais correspondem as diferenças das suas respectivas perfeições. Se cada sujeito concreto estivesse preparado potencialmente para todas as perfeições humanas a natureza teria feito algo em vão."[3]

É possível identificar as questões da liberdade e da autonomia, fundamentais para a emergência do individualismo, já no humanismo renascentista e, mais claramente, no racionalismo e no iluminismo,[4] quando se estabelece a diferenciação entre o indivíduo pré-moderno, orientado por uma ordem transcendente, religiosa, e o indivíduo moderno, orientado sobretudo pela razão e pela vontade.

A ideia do homem como centro do universo, que usufrui de autonomia do espírito, liberdade da razão e exercício da vontade, é central na passagem do mundo medieval ao mundo moderno - cujo marco é a Revolução Francesa - e torna possível a afirmação do indivíduo como princípio e como valor.

Assim, o individualismo remonta ao contrato social e às origens do pensamento democrático, com Hobbes, Locke e Rousseau e a rejeição do poder político legitimado pelo direito de dinástico herança ou pela vontade divina. Consolida-se assim a concepção de indivíduo como um ser uno, livre e responsável por seus próprios atos - o cidadão moderno, célula mínima do Estado democrático, que lhe garante contratualmente direitos e deveres.

Alguns autores, destacam no entanto o individualismo moral e político presente na Reforma luterana como a marca distintiva da modernidade - considerando a Reforma como até mais importante, neste sentido, do que o contratualismo.e um conceito politico moral e social

Posteriormente, o Romantismo também será fundamental na constituição do individualismo moderno, que tanto reúne traços iluministas quanto românticos. Segundo Simmel[5] há duas revoluções individualistas na história do Ocidente, que resultam em dois tipos de individualismo: a primeira revolução individualista teria sido uma revolução quantitativa ou numérica (de singleness), fruto do iluminismo, visando o homem em sua universalidade, o que corresponde à concepção do indivíduo como um cidadão livre e autônomo, destacado do todo social. A instauração do individualismo de singleness tem como marco a Revolução Francesa, quando se consolidam os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade. Já a segunda revolução individualista, promovida por meio do ideário romântico do século XIX, corresponde, segundo o autor, ao individualismo de uniqueness, e diz respeito à dimensão de excepcionalidade e singularidade do indivíduo moderno. O que importava agora não era mais ser um indivíduo livre como tal, mas ser um indivíduo singular e insubstituível[6]

Anarquismo individualista

Ver artigo principal: Anarquismo individualista

O anarquismo individualista é a proposta de associação libertária que remonta aos escritos de Pierre-Joseph Proudhon e Max Stirner, como forma de assegurar as necessidades individuais através de uniões livres de cidadãos.

A corrente do anarquismo pauta sua tese antiautoritária na liberdade e inviolabilidade do indivíduo. Assim qualquer forma de autoridade significaria restrições à existência de um indivíduo pleno, livre de coerções externas. Neste sentido vê criticamente qualquer forma de instituição social que restrinja a autodeterminação individual.

Referências

  1. Gilberto Velho. Entrevista. CPDOC-FGV.
  2. CARVALHO, Mário S. de Sobre as origens dos paradigmas modernos do universalismo e do individualismo.
  3. AVERROES, Exposición de la República de Platón 1, 3, trad. M. Cruz Hernandez 6-7.
  4. Individualismo, liberalismo e filosofia da história
  5. SIMMEL, G. (1957). Freedom and the individual. In: LEVINE, D.(ed.). On Individuality and Social Forms: Selected Writings. Chicago: The University of Chicago Press, 1971.
  6. GARCIA, Claudia Amorim e COUTINHO, Luciana Gageiro. Os novos rumos do individualismo e o desamparo do sujeito contemporâneo. Psyche (Sao Paulo), jun. 2004, vol.8, no.13, p.125-140. ISSN 1415-1138.