Homem de Neandertal: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Desfeita a edição 55033384 de UmFloydiano
Etiqueta: Desfazer
m UmFloydiano moveu Homem-de-neandertal para seu redirecionamento Homem de Neandertal
(Sem diferenças)

Revisão das 00h51min de 5 de maio de 2019

Como ler uma infocaixa de taxonomiaHomem de Neandertal

Estado de conservação
Extinta
Extinta
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Subclasse: Theria
Infraclasse: Placentalia
Ordem: Primates
Subordem: Haplorrhini
Infraordem: Simiiformes
Parvordem: Catarrhini
Superfamília: Hominoidea
Família: Hominidae
Subfamília: Homininae
Género: Homo
Espécie: H. neanderthalensis
Nome binomial
Homo neanderthalensis
King, 1864
Distribuição geográfica

O homem de Neandertal (Homo neanderthalensis na nomenclatura binomial) é uma espécie humana extinta. Alguns autores consideram-no como subespécie do Homo sapiens, o homem moderno,[1] com o qual conviveu (Homo sapiens neanderthalensis e Homo sapiens sapiens, respectivamente).[2]

Surgiram há cerca de 400 mil anos na Europa e no Médio Oriente e, na Península Ibérica, extinguiram-se há 28 mil anos[3].

Compartilha com os humanos atuais em 99,7 % do seu DNA. Revela no entanto diferenças morfológicas significativas.[4] Prevalece como fóssil do género Homo enquanto habitante remoto da Europa e de territórios da Ásia ocidental desde há cerca de 350 000 até há 29 000 anos aproximadamente (Paleolítico Médio e Paleolítico Inferior, no Pleistoceno).[5][6]

A cultura material do homem de Neandertal, chamada cultura musteriense, era sofisticada em vários aspectos.[1] Além de ferramentas, também usavam o fogo, eram bons caçadores e já cuidariam dos doentes[3]. Há inclusivamente quem nele reconheça capacidades estéticas e espirituais semelhantes às do homem atual, como as reveladas nas suas sepulturas,[7] malgrado ser visto no imaginário popular como um ser grosseiro e pouco inteligente. Era de maior robustez física que o homem atual e tinha um cérebro ligeiramente mais volumoso.[2] O cérebro do Homo sapiens sapiens tem um tamanho médio de 1400 cm³, enquanto o dos neandertais chegava a ter cerca de 1600 cm³.[2] Progressos relativos da arqueologia pré-histórica e da paleoantropologia, posteriores à década de 1960, descrevem-no como um ser de considerável cultura,[8] eventualmente sobrestimada por alguns autores. Muitas questões carecem de uma resposta conclusiva, sobretudo as relacionadas com a sua extinção.[4]

Descoberta

Local das escavações de Neanderthal (antiga Kleine Grotte) e sua localização, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, Alemanha

Os primeiros achados de restos do homem de Neanderthal ocorreram nas grutas de Engis, na atual Bélgica (1829), por Philippe-Charles Schmerling, e depois na pedreira de Forbes, em Gibraltar (1848)[9] - ambos anteriores à descoberta do espécime tipo, em uma mina de calcário situada no Neanderthal (em português, 'vale de Neander'), que fica entre as cidades de Erkrath e Mettmann, nas proximidades de Düsseldorf e Wuppertal, na Alemanha. A descoberta do espécime de Neanderthal ocorreu em agosto de 1856, três anos antes da publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin.[10]

O fóssil de Forbes foi descoberto na pequena gruta de uma pedreira. Esta descoberta é hoje considerada como o marco fundador da paleoantropologia. Pouco tempo depois, foram aí encontrados vestígios antropológicos de cerca de 500 indivíduos, sobretudo ossos, alguns dos quais bastante incompletos.[9] O espécime de Forbes, classificado como Neandertal 1, era constituído por uma calota craniana, dois fémures, três ossos do braço direito, dois do esquerdo, parte do ilíaco esquerdo e fragmentos de uma omoplata e costelas. O achado foi atribuído pelos operários da pedreira a despojos de ursos e entregue ao naturalista amador Johann Carl Fuhlrott,[11][12] professor em Elberfeld. Impressionado pelo crânio baixo e espesso, pelas arcadas supraciliares proeminentes, membros arqueados e curtos, Fuhlrott deduziu que deveriam ter pertencido a um ser humano muito primitivo. Levou os fósseis ao anatomista Hermann Schaaffhausen[13][14] e, em 1857, a descoberta foi anunciada por ambos. Em 1858, Schaaffhausen descrevia-o como tendo pertencido "às raças humanas mais antigas", que datou em cerca de alguns milénios antes, o que daria origem a intensa polémica, já que a Teoria da Evolução ainda estava longe de ser aceite nos meios académicos.[13]

Lista de Fósseis de H. neanderthalensis

Lista
Ano Nomenclatura do Fóssil Local da Descoberta Fonte
1829 Engis 2 Bélgica [15]
1848 Gibraltar 1 Gibraltar [15]
1856 Neanderthal 1 Alemanha [16]
1899 Krapina 3 Croácia [15]
1908 La Chapelle-aux-Saints 1 França [17]
1909 La Ferrassie 1 França [18]
1909 Le Moustier França [19]
1911 La Quina 5 França [15]
1915 La Quina 18 França [15]
1929 Saccopastore 1 Itália [20]
1935 Swanscombe Man Swanscombe [21]
1938 Teshik-Tash 1 Uzbequistão [22]
1939 Mt. Circeo 1 Itália [23]
1961 Amud 1 Israel [24]
1961 Shanidar 1 Iraque [25]
1968 Tabun C1 Israel [26]
1981 Bontnewydd Reino Unido [27]
1983 Kebara 2 Israel [28]
1992 Amud 7 Israel [28]
1993 Homem de Altamura Itália [29]
1993 Scladina Bélgica [15]
1994 SID-00B Espanha [30]
1994 SID-20 Espanha [30]
1998 Criança de Lapedo (híbrido) Portugal [31]
2002 Oase 1 (híbrido) Romênia [32]
2003 Obi-Rakhmat 1 Uzbequistão [33]
2012 Denny (híbrido) Rússia [34]

Nome e classificação

O topónimo Neandertal, na denominação da espécie (ou subespécie), é alusivo a Joachim Neander (1650-1680), teólogo pietista que tinha por hábito fazer pregações entre as cidades de Erkrath e Mettmann, nas proximidades de Düsseldorf e Wuppertal, na Alemanha.[13][14]

A expressão "homem de Neandertal" foi cunhada em 1863 pelo anatomista irlandês William King. Durante vários anos de intenso debate científico quanto à denominação mais adequada, Homo neanderthalensis ou Homo sapiens neanderthalensis, a segunda designação implicava ter de se considerar o homem de Neandertal como uma subespécie do Homo sapiens, o Homo sapiens sapiens, ambos pertencendo à linhagem humana. Estudos ulteriores sobre o DNA mitocondrial levariam entretanto a supor que tanto os neandertais como o Homo sapiens evoluiram de um ancestral comum, faltando apenas saber quando teria ocorrido essa separação (ver ligações externas).[35]

Características físicas

Recontrução facial de um Homo neanderthalensis
(Smithsonian Museum of Natural History)
Neandertal
Neandertal

De nariz curto, mas largo e volumoso, os neandertais estavam adaptados ao clima frio. Essas características, observadas nas modernas populações sub-árticas, resultam da seleção natural. Os neandertais teriam habitado em áreas próximas do Ártico.[36] Seus cérebros eram aproximadamente 10% maiores em volume do que os dos humanos modernos.[37] Em média, os neandertais tinham cerca de 1,65 m de altura e eram muito musculosos. Comparados com os humanos modernos, possuíam feições morfológicas distintas, especialmente no crânio, que gradualmente acumulou aspectos específicos, em particular devido ao seu relativo isolamento geográfico. A sua estatura atarracada pode ter sido uma adaptação ao clima frio da Europa durante o Pleistoceno. Nada se conhece sobre a forma dos olhos, orelhas e lábios dos neandertais. Por analogia, teriam pele muito branca, para um melhor aproveitamento do calor nessas frias latitudes da Europa. Estudos recentes revelam que alguns indivíduos eram de pele branca e de cabelo ruivo[38][39]

Segue-se uma lista de traços físicos que distinguem os neandertais dos humanos modernos. Nem todos esses traços servem para distinguir populações específicas de neandertais, de diversas áreas geográficas ou de diversos períodos da evolução, de outros humanos extintos. Por outro lado, muitos desses traços estão ocasionalmente presentes nos modernos humanos, sobretudo em determinados grupos étnicos.

Crânio de homem de Neandertal, descoberto em 1908 em La Chapelle-aux-Saints (França)
  • Crânio
    • Fossa suprainíaca (canal sobre a protuberância occipital externa do crânio)
    • Meio da face projetado para frente
    • Crânio alongado para trás
    • Toro supraorbital proeminente, formando um arco sobre as órbitas oculares
    • Capacidade encefálica entre 1200 e 1700 cm³ (levemente maior que a dos humanos modernos)
    • Ausência de queixo
    • Testa baixa, quase ausente
    • Espaço atrás dos molares
    • Abertura nasal ampla
    • Protuberâncias ósseas nos lados da abertura nasal
    • Forma diferente dos ossos do labirinto no ouvido
  • Pós-crânio
As mulheres seriam igualmente robustas ou, talvez, ainda mais.[6]

Linguagem

A teoria de que os neandertais careciam de uma linguagem complexa prevaleceu até 1983, quando um osso hióide foi descoberto na caverna de Kebara em Israel, idêntico ao dos humanos modernos, que segura a raiz da língua no seu lugar e que faculta a fala, mostrando que os neandertais tinham capacidade de se exprimir por essa via. Mesmo sem tal evidência, é óbvio que ferramentas avançadas como as do período musteriense, atribuídas aos neandertais, não poderiam ter sido desenvolvidas sem capacidades cognitivas, incluindo algum tipo de linguagem falada. Além disso, foram identificados genes extraídos de fósseis que comprovariam que os neandertais falavam.[41][42] A única diferença seria que a língua do neandertal estava implantada mais acima na garganta, deixando a boca mais cheia, fazendo com que a sua fala fosse lenta, compassada e nasalizada.

Cultura técnica

Os sítios arqueológicos compostos por jazidas com ocupações de homens de Neandertal do Paleolítico Médio, altura em que os neandertais terão atingido o auge da sua existência, mostram um conjunto de ferramentas menor e menos flexível em comparação com os sítios do Paleolítico Superior, ocupados pelos humanos modernos que mais tarde surgiram.

Esta cultura técnica, atribuída aos neandertais, designada como musteriense, consistia na produção de ferramentas de pedra lascada pelo desbastamento em leque de um bloco lítico inicial (ou núcleo): lascas a partir das quais se encadeava a produção de instrumentos diversos, como machados destinados a tarefas específicas, bifaces, raspadeiras, furadores e lanças. Muitas dessas ferramentas eram bastante afiadas. No Paleolítico Superior terão desenvolvido uma cultura material mais evoluída na tecnologia de talhe da pedra, designada chatelperronense[43] e caracterizada pelo desdobramento do núcleo lítico em peças menores e mais manuseáveis.

Raspadeira musteriense de sílex da caverna de Noisetier

Há ainda indícios de que os neandertais usavam chifres, conchas e outros materiais ósseos para fazer ferramentas: uma indústria primária que passou a incluir, mais tarde, adornos de osso e pedra que alguns autores descrevem como imitação das técnicas do Homo sapiens, enquanto que outros lhes atribuem autoria própria.[44][45]

Mesmo usando armas, não as arremessavam. Tinham lanças compridas de madeira com uma seta na ponta, mas não as lançavam. As lanças fabricadas para serem arremessadas eram usadas pelo Homo sapiens. De modo idêntico, os ritos funerários neandertais, embora implicassem enterrar os mortos, eram menos elaborados que os dos modernos humanos. Os neandertais também sabiam executar tarefas sofisticadas como as tradicionalmente atribuídas aos humanos: construir abrigos complexos, controlar o fogo, esfolar animais. Particularmente intrigante é um fémur de urso descoberto em 1995, na Eslovênia, junto de uma fogueira do período musteriense: um tubo com quatro furos em escala diatónica, uma flauta.

No sítio croata de Krapina[46] datado de cerca de 130.000 anos atrás, entre muitos itens, uma rocha calcária partida[47] foi escavada por Dragutin Gorjanović-Kramberger entre 1899 e 1905. A rocha foi analisada por especialistas que propuseram que ela foi coletada não para processamento adicional pelos neandertais, mas sim por causa de seus atributos estéticos, sugerindo que os neandertais eram capazes de incorporar objetos simbólicos em sua cultura.[48] Em 2015, Prof Frayer publicou um artigo sobre um conjunto de garras de águia-rabalva do mesmo sítio Neanderthal que incluia marcas de cortes feitos para transformá-las em uma jóia, provavelmente, um colar.[49] Em outros locais, os pesquisadores descobriram que eles coletaram conchas e usaram pigmentos em conchas[50].

Teorias alternativas

Autores mais radicais, cujas teorias têm sido consideradas fantasiosas por uma boa parte da comunidade científica, como Stan Gooch, em Cities of Dreams: the Rich Legacy of Neanderthal Man Which Shaped Our Civilization (1989)[51] defendem que os neandertais eram detentores de uma cultura tão complexa quanto outras mais modernas e que terão mesmo sido fundadores de arquétipos universais assimilados pelo homo sapiens.

Distribuição geográfica e temporal do género Homo, sugerindo um cruzamento entre as espécies sapiens e neanderthalensis. [52]

Segundo alguns teóricos, a mulher tinha um papel fundamental e mesmo superior ao do homem. Na cultura neandertal, o sangue menstrual detinha importante valor ritual. Preconceitos culturais modernos fizeram da menstruação um tabu, considerando-o como impuro. Gooch relaciona o período menstrual de 28 dias com o ciclo lunar, que teria dado origem a um calendário, utilizado pelos neandertais, de 13 meses de 28 dias. Isso teria dado origem em certas culturas modernas às superstições relativas ao número 13, número de azar (ou de sorte), bem como à simbologia lunar presente na suástica: o desenho de uma aranha sobre uma lua cheia, em alusão ao ciclo astral da lua, em espiral como uma teia.

Gook associa também certos elementos da cultura neandertal aos arquétipos do labirinto e do Minotauro enquanto constituintes de mitos lunares, bem como a símbolos relacionados com cornos, com a Lua cornuda enquanto "Deusa-mãe". Considera que a cultura neandertal seria essencialmente de carácter mágico (ignorando essa função na mitologia tradicional africana), devido ao tamanho do cerebelo destes humanos, que se poderia atribuir à projecção do osso occipital. Da mesma forma, infere que os neandertais tinham hábitos nocturnos, dando relevo à sua alegada cultura lunar e feminina (em oposição à cultura solar e masculina do homem moderno) realçando a forma arqueada das suas órbitas oculares (lembrando cornos), que diz ser típica dos animais nocturnos. Chega ao ponto de admitir que os modernos canhotos existem porque os neandertais assim eram predominantemente, ao contrário de indícios científicos recentes que parecem comprovar o contrário. Gooch especula ao ponto de, na área da criptozoologia, aludir às narrativas medievias sobre "homens selvagens" ou "Wild men" como uma explicação do facto de os neandertais terem sido extintos bem mais tarde do que se crê.

Uma equipa de cientistas de Espanha, do Reino Unido e da Austrália concluiu, num artigo publicado na revista Naturwissenschaften, que os neandertais não só comiam vegetais cozinhados mas que também conheciam o valor nutricional e medicinal de alguns deles.[53] Combinando técnicas avançadas de análise química com a análise morfológica dos microfósseis vegetais, esses investigadores conseguiram identificar grânulos de amido, hidratos de carbono, vestígios de nozes, de ervas e até de verduras na placa dentária de alguns exemplares. Duas das plantas identificadas nos dentes de um dos indivíduos não tinham qualquer valor nutricional e revelaram um desagradável sabor amargo, o que leva a supor que existe grande probabilidade de tais plantas terem sido usadas para fins medicinais.[54]

Coexistência com o Homo sapiens

Ver artigo principal: Genoma do Neandertal
Comparação dos crânios do Homo sapiens (esquerda) e do Homo neanderthalensis (direita).

Com base em antigos genomas, os pesquisadores concluíram que os Denisovans, os Neandertais e os seres humanos modernos se misturaram na era glacial da Europa e da Ásia. Os genes de ambas as espécies humanas arcaicas estão presentes em muitas pessoas hoje em dia.[55].

Poucos dizem que dúvidas existem quanto à forma como decorreu a coexistência dos Homo sapiens com os homens de Neandertal em locais como no sul da Península Ibérica ou na Dalmácia. Há quem defenda que a baixa densidade populacional da época permitiu que os dois não tenham estabelecido contacto, existindo uma segregação a nível social que considerasse "tabu" qualquer aproximação e, claro, hibridização. Outros autores, baseando-se, por exemplo, na descoberta de um fóssil de um menino de quatro anos conhecido como o "Menino de Lapedo", em Vale do Lapedo, Portugal,[56] crêem que está provada a ligação e cruzamento do homem moderno com o "Homo sapiens neanderthalensis".[57]

Estudos publicados em março de 2016 indicam que o Homem Moderno se cruzou de facto com hominídeos, incluindo o Homem de Neandertal, em várias ocasiões.[58] Antes disto ser divulgado, certos autores preferiam uma abordagem de meio termo [carece de fontes?], crendo que poderão ter existido contactos pouco relevantes a nível cultural e mesmo genético, já que podiam, até, considerar-se como espécies assumidamente diferentes.

DNA humano moderno (esquerda) comparado com o do chimpanzé (direita) e do neandertal (centro).

Esta discussão, complexa, tem gerado alguma polémica entre os autores que preferem uma abordagem genética e paleoantropológica e aqueles que dão maior importância ao contexto cultural da evolução humana. Teorias como a conhecida "Out of Africa (ou hipótese da origem única)," ao propor que o homem moderno teve origem em África e se disseminou por todo o planeta num processo de "colonização" de cerca de 80 000 anos, não admite a miscigenação entre os dois grupos. Outras teses, contudo, de carácter "regionalista", defendem que vários tipos humanos evoluíram simultânea e gradualmente, estabelecendo contactos que permitiram a emergência do Homem moderno – esses teóricos são, portanto, mais favoráveis à hipótese do cruzamento entre aqueles dois tipos humanos.

De facto, certos estudos pareciam demonstrar que pouco ou nada subsistiria do património genético dos neandertais no DNA do homem atual. Em 7 de Maio de 2010 um estudo do Projecto do Genoma do Neandertal [59] foi publicado na revista Science.[60] Tal estudo afirma que realmente ocorrera cruzamento entre as duas espécies.[61][62] Outro estudo, de 2016, utilizando registos médicos eletrónicos e dados de ADN associados, de mais de 28.000 indivíduos, mostra que – coincidindo com os resultados divulgados em março deste mesmo ano, acima referidos – o DNA Neanderthal produziu efeitos significativos no sistema imunitário do Homem Moderno, protegendo-o dos riscos de desenvolvimento da depressão, de lesões de pele e de coagulação sanguínea excessiva [63][64].

Em 2018, um pedaço de um osso de uma adolescente que morreu há mais de 50 mil anos, desenterrado em uma caverna no vale de Denisova, na Rússia, em 2012, indica que sua mãe era neandertal e seu pai era Denisovan.[65]

Extinção

Ficheiro:Carte Neandertaliens.jpg
Presença de vestígios neandertais na Europa.
Extensão máxima do território ocupado pelo neandertal.

A extinção do homem de Neandertal não está bem esclarecida. Sobre esse tema existem várias hipóteses, todas elas baseadas no pressuposto da competição com o Homo sapiens, mais eficaz na sobrevivência da espécie, mostrando-se irrelevante a extinção por motivos climáticos.

Alguns autores consideram que o facto de a cultura material do homem de Neandertal não ter evoluído durante cerca de 200 000 anos se deve a uma inteligência prática de baixo teor, apesar de ter um cérebro maior do que o do homem moderno, embora pouco se saiba quanto à organização fisiológica e neurológica dos neandertais; não obstante, estudos realizados em 2017 comprovaram que o homem de Neandertal detinha bom conhecimento das plantas medicinais e as suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, fazendo ainda o uso de antibióticos 40 mil anos antes de ser descoberta a penicilina.[66] Outros assinalam a baixa mobilidade das suas populações, a reduzida área geográfica onde se estabeleceram, bem como a sua constituição óssea, de secção circular, adaptada ao esforço mas pouco adequada a uma locomoção ágil, vantagem esta do "Homo sapiens", que tem ossos de secção oval. A inércia das populações neandertais seria causada pela falta de estímulos de quem vive num nicho ecológico que apenas garantia as necessidades básicas de sobrevivência, num meio ambiente sem grandes alterações climáticas. Outros autores apontam a fraca variedade genética decorrente da consanguinidade, devida a um crescente isolamento social e comunitário, possivelmente motivado por contactos hostis com o homem moderno. Outros autores ainda aventam a hipótese de o tempo de gestação ser maior no caso dos neandertais (talvez 12 meses em vez de 9, como no caso do Homo sapiens), o que explicaria uma maior dificuldade de se reproduzirem. Por outo lado, segundo Colin Tudge,[67] o homem moderno teria um comportamento prospetivo mais vantajoso na gestão dos recursos naturais, como a proto-agricultura. A manutenção das populações cinegéticas e o consumo de vegetais como complemento alimentar tornava-os menos dependentes da carne. O homem de Neandertal seria um caçador puro que teria depredado os seus recursos, o que teria contribuído para a sua extinção.

De acordo com estudo publicado em julho de 2012 pela revista da Academia Americana de Ciências, a PNAS, a extinção dos neandertais teria sido originada mais pela migração do Homo Sapiens do que por efeitos climáticos. A prova disso fundamenta-se na descoberta de cinzas com vestígios de corpos de neandertais vítimas de uma grande erupção vulcânica ocorrida há 40 000 anos, que atingiu todo o continente europeu. Esses vestígios eram em quantidade inferior às de outras amostras, evidenciando assim que a população começou a declinar antes da erupção.[68][69]

Endogamia

A reprodução entre membros da mesma família foi um dos fatores que levou à extinção. Num estudo publicado em Fevereiro de 2019 na revista Scientific Reports, paleontólogos, geneticistas e arqueólogos usaram os restos fósseis encontrados na gruta de El Sidrón, nas Astúrias, para estudar 13 indivíduos que viveram há 49.000 anos. Estes antepassados humanos desapareceram devido a "uma combinação de fatores ecológicos e demográficos, que incluiu a interação com seres humanos modernos". Viviam em grupos pequenos e praticamente isolados uns dos outros, o que levou à endogamia entre estes grupos e, finalmente, a uma grande diminuição da variabilidade biológica. Nos cerca de 2.500 vestígios fósseis que estudaram, os cientistas concentraram-se em várias partes do corpo e detetaram dezassete anomalias congénitas nos treze indivíduos. Pelo menos quatro tinham a mesma anomalia nas vértebras cervicais e vários apresentavam anomalias no osso do pulso[70].

Referências

  1. a b «A surpreendente forma como o homem de Neanderthal pegou herpes - BBC Brasil». Consultado em 2 de agosto de 2016 
  2. a b c «Dentro de cada humano mora um neandertal | VEJA.com». Consultado em 2 de agosto de 2016 
  3. a b Os neandertais têm uma nova história (romântica) para contar e nós também entramos, por Teresa Serafim, Público, 11 de Outubro de 2017
  4. a b «Ancient DNA and Neanderthals | The Smithsonian Institution's Human Origins Program». humanorigins.si.edu. Consultado em 2 de agosto de 2016 
  5. The complete genome sequence of a Neanderthal from the Altai Mountains - The complete genome sequence of a Neanderthal from the Altai Mountains Acessado em 6 de agosto de 2014
  6. a b PEREIRA, Paulo, Paisagens Arcaicas, Rio de Mouro, 2004 ISBN 972-42-3212-3
  7. Jornal da Ciência Arquivado em 17 de janeiro de 2012, no Wayback Machine. - Vaidade nas cavernas. Acessado em 26 de Abril de 2011
  8. Os neandertais poderão ter sido os primeiros artistas das cavernas – artigo de Ana Gershenfeld (Arte Paleolítica) no jornal Público, Ciência, de 15 de junho de 2012
  9. a b GROENEN, M. Pour une histoire de la préhistoire, Éd. J. Millon, (1994) ISBN 2-905614-93-5
  10. «Homo neanderthalensis». Smithsonian Institution. Consultado em 18 de maio de 2009. Arquivado do original em 21 de maio de 2009 
  11. Pequena Gruta de Feldhof – artigo ilustrado em Wikiwand
  12. Johann Carl Fuhlrott, Google books
  13. a b c Hermann Schaaffhausen (1816-1893) Arquivado em 23 de outubro de 2015, no Wayback Machine. – biografia (en) por Matthew R. Goodrum em Online Biographical Dictionary of the History of Paleoanthropology
  14. a b O PÉ DO NEANDERTAL Arquivado em 2 de abril de 2016, no Wayback Machine. – artigo de Leonardo de Castro Farah
  15. a b c d e f Smith, Tanya M.; Tafforeau, Paul; Reid, Donald J.; Pouech, Joane; Lazzari, Vincent; Zermeno, John P.; Guatelli-Steinberg, Debbie; Olejniczak, Anthony J.; Hoffman, Almut (7 de dezembro de 2010). «Dental evidence for ontogenetic differences between modern humans and Neanderthals». Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (em inglês). 107 (49). 20923 páginas. PMID 21078988. doi:10.1073/pnas.1010906107 
  16. Krings, Matthias; Stone, Anne; Schmitz, Ralf W; Krainitzki, Heike; Stoneking, Mark; Pääbo, Svante (1997). «Neandertal DNA Sequences and the Origin of Modern Humans». Cell (em inglês). 90 (1): 19–30. doi:10.1016/S0092-8674(00)80310-4 
  17. Stringer, Clive; Gamble, Clive (1993). Em busca dos neandertais. Thames e Hudson. p. 159. ISBN  978-0500278079 .
  18. «La Ferrassie». The Smithsonian Institution's Human Origins Program (em inglês). 30 de janeiro de 2010. Consultado em 14 de abril de 2019 
  19. Weber, Gerhard (2011). Virtual anthropology: a guide to a new interdisciplinary field. Wien London: Springer. ISBN 978-3-211-48647-4.
  20. Sirocko, Frank; Claussen, M.; Sanchez-Goni, M. F. (2007). The Climate of Past Interglacials. Elsevier. ISBN 0-444-52955-1.
  21. «NaturePlus: What's new at the Museum: Neanderthal woman in pieces». web.archive.org. 3 de abril de 2016. Consultado em 14 de abril de 2019 
  22. Ash, Patricia J.; David J. Robinson (2010). The Emergence of Humans: An Exploration of the Evolutionary Timeline. Wiley. ISBN 978-0470013151.
  23. C.L. Camp, S.P. Welles, and Morton Green, Charles Lewis Camp, Joseph Tracy Gregory. Bibliography of Fossil Vertebrates. Volume 37. Geological Society of America. 1949. ISBN0813710375.
  24. Dennell, Robin (1995). «In search of Neanderthals». Nature (em inglês). 376 (6539). 397 páginas. ISSN 1476-4687. doi:10.1038/376397a0 
  25. Crubézy, Eric; Trinkaus, Erik (1992). «Shanidar 1: A case of hyperostotic disease (DISH) in the middle paleolithic». American Journal of Physical Anthropology (em inglês). 89 (4): 411–420. ISSN 1096-8644. doi:10.1002/ajpa.1330890402 
  26. «ScienceDirect». www.sciencedirect.com. doi:10.1016/j.jhevol.2005.04.005. Consultado em 14 de abril de 2019 
  27. Stringer, Chris (5 October 2006). Homo Britannicus: The Incredible Story of Human Life in Britain. Allen Lane. ISBN 978-0-7139-9795-8. (alt ISBN 0-7139-9795-8)
  28. a b Johanson, Donald; Edgar, Blake (2006). From Lucy to Language. Simon & Schuster. ISBN 978-0-7432-8064-8.
  29. «ScienceDirect». www.sciencedirect.com. Consultado em 14 de abril de 2019 
  30. a b Torres T., et al. 2010. "Dating of the hominid Homo neanderthalensis remains accumulation from El Sidrón Cave Piloña, Asturias, North Spain: an example of multi-methodological approach to the dating of Upper Pleistocene sites". Archaeometry 52, 680–705
  31. «ScienceDirect». www.sciencedirect.com. Consultado em 14 de abril de 2019 
  32. Pääbo, Svante; Reich, David; Kelso, Janet; Meyer, Matthias; Prüfer, Kay; Viola, Bence; Nickel, Birgit; Iosif Lazaridis; Rohland, Nadin (2015). «An early modern human from Romania with a recent Neanderthal ancestor». Nature (em inglês). 524 (7564): 216–219. ISSN 1476-4687. doi:10.1038/nature14558 
  33. Norton, Christopher J.; Braun, David R., eds. (2011). «Asian Paleoanthropology». Vertebrate Paleobiology and Paleoanthropology (em inglês). ISSN 1877-9077. doi:10.1007/978-90-481-9094-2 
  34. Warren, Matthew (22 de agosto de 2018). «Mum's a Neanderthal, Dad's a Denisovan: First discovery of an ancient-human hybrid». Nature (em inglês). 560. 417 páginas. doi:10.1038/d41586-018-06004-0 
  35. Civilizações da Antiguidade/ O Homo neanderthalensis
  36. Sciencemag - Revista Science, 13 de Maio de 2011, vol.332, nº6031, p.778. (página acessada em 20 de Maio de 2011)
  37. Meio sapiens, meio neandertal Arquivado em 21 de março de 2013, no Wayback Machine. – artigo de Denis Russo Burgierman
  38. BBC - Homem de Neandertal era ruivo (página acessada em 23 de Outubro de 2009)
  39. Agência Fapesp - Ruivos pré-históricos (página acessada em 23 de Outubro de 2009)
  40. Neandertal em História do Mundo
  41. Terra - Ruivo e tagarela: Genética revela que o homem das cavernas não era um brutamontes, tinha a pele clara e sabia falar (página acessada em 23 de Outubro de 2009)
  42. G1 - Gene igual ao de humanos indica que neandertais poderiam falar (página acessada em 23 de Outubro de 2009)
  43. Departamento de biologia animal Universidade de Lisboa - Hominideos do pleistocênico médio e superior. Acessado em 26 de Abril de 2011
  44. Folha - Neandertais criaram joias sem ajuda de humanos. Acessado em 26 de Abril de 2011
  45. O homem de Neandertal pensava como nós? - entrevista com João Zilhão em Scientific American (Brasil)
  46. «Hrvatski jezični portal». Consultado em 19 de janeiro de 2017 
  47. KRANEAMUS KRAPINA NEANDERTHAL MUSEUM publicado pelos Museus de Hrvatsko zagorje
  48. Neanderthals Capable of Incorporating Symbolic Objects into Their Culture, Discovery Suggests por Enrico de Lazaro (2017)
  49. 130,000-Year-Old Neanderthal ‘Eagle Claw Necklace’ Found in Croatia publicado por " Sci-News" (2015)
  50. Heavy Brows, High Art?: Newly Unearthed Painted Shells Show Neandertals Were Homo sapiens's Mental Equals A discovery of painted shells shows that Neandertals were capable of symbolism, sweeping away age-old thinking that they were stupid por Charles Q. Choi, publicado em Scientific American (2010)
  51. Cities of Dreams/the Rich Legacy of Neanderthal Man Which Shaped Our Civilization. ISBN 0712619259 - (acessado em 20 de Maio de 2011).
  52. Revista Época - Há um neandertal dentro de nós. Acessado em 26 de Abril de 2011.
  53. «Os neandertais conheciam o valor medicinal das plantas». Consultado em 5 de julho de 2013 
  54. Os neandertais conheciam valor medicinal de certas plantas[ligação inativa], jornal Público, julho de 2013
  55. Pennisi, Elizabeth (2013), «More Genomes from Denisova Cave Show Mixing of Early Human Groups», Science, 340 (6134): 799, doi:10.1126/science.340.6134.799 
  56. Apresentada primeira reconstituição do esqueleto de um neandertal (Mostra em museu de Nova Iorque) – Artigo de Pedro Ribeiro no jornal Público (Ciências) de 11 de janeiro de 2003. Na mesma página é publicado outro artigo intitulado A criança do Lapedo no percurso da evolução humana?, assinado por P.R. e C. B.
  57. LOPES, Reinaldo José. Encontros amorosos entre sapiens e neanderthal Arquivado em 7 de junho de 2007, no Wayback Machine. in Scientific American Brasil Arquivado em 10 de junho de 2007, no Wayback Machine. - acesso a 28 de Maio de 2007
  58. Humans Interbred With Hominins on Multiple Occasions, Study Finds – artigo de Carl Zimmer no The NY Times, 17 março 2016
  59. The Neandertal Genome Project. Acessado em 9 de Maio de 2010.
  60. Sciencemag – A Draft Sequence of the Neandertal Genome (página acessada em 7 de Maio de 2010).
  61. Sapo[ligação inativa] – Genoma de neandertal mostra cruzamento com Homo sapiens (página acessada em 7 de Maio de 2010).
  62. Ciência Hoje – Brecha para o neandertal. Acessado em 26 de Abril de 2011.
  63. Cruzamento com neandertais reforçou imunidade humana – artigo da redação do Portal de Angola
  64. Neanderthals’ Genetic Legacy - Ancient DNA in the genomes of modern humans influences a range of physiological traits. por Ruth Williams - "The Scientist" (2016)
  65. «This ancient bone belonged to a child of two extinct human species». Science | AAAS (em inglês). 22 de agosto de 2018 
  66. Lusa (9 de Março de 2017). «Homem de Neandertal já usava "aspirina" e antibióticos». MSN Motor. Consultado em 9 de Março de 2017. Arquivado do original em 12 de março de 2017 
  67. Colin Tudge, biografia
  68. «G1 - Migração do 'homo sapiens' causou extinção dos neandertais, diz estudo - notícias em Ciência e Saúde». Consultado em 24 de julho de 2012 
  69. «Estudo diz que homem moderno foi responsável pelo fim do Neandertal - Ciência - iG». Consultado em 24 de julho de 2012 
  70. «Endogamia em grupos pequenos ajudou à extinção dos neandertal» 

Bibliografia

Ver também

Ligações externas