Civilização micênica: diferenças entre revisões

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A [[decifração]] da escrita micênica [[Linear B]], um sistema silabário adaptado para o uso da língua grega da Idade do Bronze Tardia, demonstrou a continuidade da fala grega do segundo milênio aC até o oitavo século aC, quando surgiu uma nova escrita. Além disso, revelou que os detentores da cultura micênica estavam etnicamente relacionados com as populações que residiam na península grega após o final deste período cultural.<!-- Various collective terms for the inhabitants of Mycenaean Greece were used by Homer in his 8th century BC epic, the ''[[Iliad]]'', in reference to the [[Trojan War]]. The latter was supposed to have happened in the late 13th{{snd}}early 12th century BC, when a coalition of small Greek states under the king of Mycenae, besieged the walled city of [[Troy]].-->
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Homero usou os [[etnônimo]]s ''aqueus'', ''dânaos'' e ''argivos'' para se referir aos sitiantes. Esses nomes parecem ter passado do tempo em que estavam em uso até o momento em que o poeta os usou como termos coletivos em sua ''Ilíada''. Existe uma referência isolada a ''a-ka-wi-ja-de'' nos registros lineares B em [[Cnossos]], Creta, datada de c. 1400 aC, que muito provavelmente se refere a um estado micênico (aqueu) no continente grego.
Homero usou os [[etnônimo]]s ''aqueus'', ''dânaos'' e ''argivos'' para se referir aos sitiantes.<ref>{{harvnb|Latacz|2004|p=120}}.</ref> Esses nomes parecem ter passado do tempo em que estavam em uso até o momento em que o poeta os usou como termos coletivos em sua ''Ilíada''.<ref>{{harvnb|Latacz|2004|p=138}}.</ref> Existe uma referência isolada a ''a-ka-wi-ja-de'' nos registros lineares B em [[Cnossos]], Creta, datada de c. 1400 aC, que muito provavelmente se refere a um estado micênico (aqueu) no continente grego.<ref>{{harvnb|Hajnal|Posch|2009|pp=1–2}}.</ref>


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Nos registros oficiais de outro império da Idade do Bronze, o dos [[hititas]] na [[Anatólia]], várias referências de c. 1400 aC a 1220 aC mencionam um país chamado ''[[Aqueus (Homero)|Ahhiyawa]]''.<ref name="BeckmanBryceCline4" /><ref>{{harvnb|Latacz|2004|p=123}}.</ref> Estudos recentes, baseados em evidências textuais, novas interpretações das inscrições hititas, bem como em pesquisas recentes de evidências arqueológicas sobre contatos micênicos-anatólicos durante este período, concluem que o termo ''Ahhiyawa'' deve ter sido usado em referência ao mundo micênico (terra dos aqueus), ou pelo menos para uma parte dela.<ref name="Bryce58">{{harvnb|Bryce|2005|p=58}}.</ref><ref>{{harvnb|Latacz|2004|p=122}}.</ref> Este termo também pode ter tido conotações mais amplas em alguns textos, possivelmente referindo-se a todas as regiões colonizadas por micênicos ou regiões sob controle político micênico direto.<ref name="BeckmanBryceCline4">{{harvnb|Beckman|Bryce|Cline|2012|p=4}}.</ref> Outro etnônimo similar, ''[[Aqueus (Homero)|Ekwesh]]'', nas inscrições egípcias do século XII aC, tem sido comumente identificada com as ''Ahhiyawans''. Estes ''Ekwesh'' foram mencionados como um grupo do [[Povos do Mar|povo do Mar]].<ref>{{harvnb|Bryce|2005|p=357}}.</ref>


== Ver também ==
== Ver também ==

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Mundo micênico ca. 1 400-1 300 a.C.

Civilização micênica (português brasileiro) ou civilização micénica (português europeu) é um termo para descrever a última fase da Idade do Bronze na Grécia Antiga, abrangendo o período de aproximadamente 1 600–1 100 a.C.. Representa a primeira civilização avançada na Grécia continental, com seus estados palacianos, organização urbana, obras de arte e sistema de escrita.[1] O local mais proeminente foi Micenas, na Argólida, pela qual a cultura desta é chamada. Outros centros de poder que surgiram incluíram Pilos, Tirinto e Mideia no Peloponeso, Orcômeno, Tebas e Atenas na Grécia Central, e Iolcos na Tessália. Povoados de influência micênica também apareceram em Epiro,[2][3] na Macedônia,[4][5] nas ilhas do Mar Egeu, na costa da Anatólia, no Levante,[6] no Chipre[7] e na Itália.[8]

Os gregos micênicos introduziram várias inovações nas áreas de engenharia, arquitetura e infra-estrutura militar, enquanto o comércio em vastas áreas do Mediterrâneo era essencial para sua economia. Sua escrita silábica, a Linear B, oferece os primeiros registros escritos da língua grega e sua religião já incluía várias divindades que também podem ser encontradas no Panteão Olímpico. A Grécia micênica era dominada por uma sociedade de elite guerreira e consistia de uma rede de estados centrados no palácio que desenvolviam rígidos sistemas hierárquicos, políticos, sociais e econômicos. Na cabeça desta sociedade estava o rei, conhecido como anax.

A Grécia micênica pereceu com o colapso da cultura da Idade do Bronze no leste do Mediterrâneo, que foi seguida pela chamada Idade das Trevas grega, um período de transição sem registro que leva ao Período Arcaico, onde mudanças significativas ocorreram de formas centradas no palácio para formas descentralizadas de organização socioeconômica (incluindo o uso extensivo de ferro).[9] Várias teorias têm sido propostas para o fim desta civilização, entre elas a invasão dórica ou atividades ligadas aos "Povos do Mar". Teorias adicionais, como desastres naturais e mudanças climáticas, também foram sugeridas. O período micênico tornou-se cenário histórico de muitas literaturas e mitologias antigas, incluindo o Ciclo Épico de Troia.[nota 1]

Cronologia

Ver artigo principal: Civilização Heládica

A Idade do Bronze na Grécia continental é geralmente denominada como o "período heládico" pelos arqueólogos modernos, segundo Hellas, o nome grego da Grécia. Este período está dividido em três subperíodos: o período Heládico Primitivo (c. 2 900–2 000 a.C.) foi uma época de prosperidade com o uso de metais e um crescimento em tecnologia, economia e organização social. O período Heládico Médio (c. 2 000–1 650 a.C.) enfrentou um ritmo mais lento de desenvolvimento, bem como a evolução das habitações de tipo mégaro e sepulturas funerárias de cista.[1] Finalmente, o período Heládico Tardio (c. 1 650–1 050 a.C.) coincide aproximadamente com a Grécia micênica.[1]

O período Heládico Tardio é subdividido em Heládico Tardio I e Heládico Tardio II, os quais coincidem com a época inicial da Grécia micênica (c. 1 650–1 425 a.C.) e o Heládico Tardio III (c. 1 425–1 050 a.C.), o período de expansão, declínio e colapso da civilização micênica. O período de transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro na Grécia é conhecido como Sub-Micênico (c. 1 050–1 000 a.C.).[1]

Identidade

Ver artigo principal: Aqueus (Homero)

A decifração da escrita micênica Linear B, um sistema silabário adaptado para o uso da língua grega da Idade do Bronze Tardia,[10] demonstrou a continuidade da fala grega do segundo milênio aC até o oitavo século aC, quando surgiu uma nova escrita. Além disso, revelou que os detentores da cultura micênica estavam etnicamente relacionados com as populações que residiam na península grega após o final deste período cultural.[11]

Homero usou os etnônimos aqueus, dânaos e argivos para se referir aos sitiantes.[12] Esses nomes parecem ter passado do tempo em que estavam em uso até o momento em que o poeta os usou como termos coletivos em sua Ilíada.[13] Existe uma referência isolada a a-ka-wi-ja-de nos registros lineares B em Cnossos, Creta, datada de c. 1400 aC, que muito provavelmente se refere a um estado micênico (aqueu) no continente grego.[14]

Registros egípcios mencionam uma terra T(D)-n-j ou Danaya (Tanaju) pela primeira vez c. 1437 aC, durante o reinado do faraó Tutemés III (r. 1479–1425 aC). Esta terra é geograficamente definida em uma inscrição do reinado de Amenófis III (cerca de 1390-1352 aC), onde são mencionadas várias cidades de Danaya, que cobrem a maior parte do sul da Grécia continental.[15] Entre eles, cidades como Micenas, Náuplia e Tebas foram identificadas com certeza. Danaya tem sido equiparada ao etnônimo Danaoi (em grego: Δαναοί), o nome da dinastia mítica que governou a região de Argos, também usada como um etnônimo para o povo grego por Homero.[15][16]

Nos registros oficiais de outro império da Idade do Bronze, o dos hititas na Anatólia, várias referências de c. 1400 aC a 1220 aC mencionam um país chamado Ahhiyawa.[17][18] Estudos recentes, baseados em evidências textuais, novas interpretações das inscrições hititas, bem como em pesquisas recentes de evidências arqueológicas sobre contatos micênicos-anatólicos durante este período, concluem que o termo Ahhiyawa deve ter sido usado em referência ao mundo micênico (terra dos aqueus), ou pelo menos para uma parte dela.[19][20] Este termo também pode ter tido conotações mais amplas em alguns textos, possivelmente referindo-se a todas as regiões colonizadas por micênicos ou regiões sob controle político micênico direto.[17] Outro etnônimo similar, Ekwesh, nas inscrições egípcias do século XII aC, tem sido comumente identificada com as Ahhiyawans. Estes Ekwesh foram mencionados como um grupo do povo do Mar.[21]

Ver também

Notas

  1. A medida em que Homero tentou ou conseguiu recriar um cenário "micênico" é examinado em Moses Finley, The World of Odysseus, 1954.

Referências

  1. a b c d Fields 2004, pp. 10–11.
  2. Hammond 1976, p. 139: "Além disso, nesta área, um pequeno túmulo tolo de cerâmica micênica do estilo III B e uma acrópole micênica foram relatados em Kiperi perto de Parga, e outra acrópole micênica estava acima do Oráculo dos Mortos na colina chamada Xylokastro."
  3. Tandy 2001, p. xii (Fig. 1); p. 2: "A evidência mais forte da presença micênica em Épiro é encontrada na zona costeira do baixo rio Aqueronte, que na antiguidade desaguou numa baía na costa jônica conhecida por fontes antigas como Glykys Limin (Figura 2-A)."
  4. Borza 1992, p. 64: "A existência de um assentamento micênico no final da Idade do Bronze em Petra não apenas confirma sua importância como uma rota de um período inicial, mas também amplia os limites do assentamento micênico para a fronteira da Macedônia."
  5. Aegeo-Balkan Prehistory – Mycenaean Sites
  6. van Wijngaarden 2002, Part II: The Levant, pp. 31–124; Bietak & Czerny 2007, Sigrid Deger-Jalkotzy, "Mycenaeans and Philistines in the Levant", pp. 501–629.
  7. van Wijngaarden 2002, Part III: Cyprus, pp. 125–202.
  8. Peruzzi 1980; van Wijngaarden 2002, Part IV: The Central Mediterranean, pp. 203–260.
  9. Morris 1996, "Greece: Dark Age Greece", pp. 253–256.
  10. Chadwick 1976, p. 617.
  11. Latacz 2004, pp. 159, 165.
  12. Latacz 2004, p. 120.
  13. Latacz 2004, p. 138.
  14. Hajnal & Posch 2009, pp. 1–2.
  15. a b Kelder 2010, pp. 46–47.
  16. Kelder 2010, pp. 37–38; Latacz 2004, p. 159.
  17. a b Beckman, Bryce & Cline 2012, p. 4.
  18. Latacz 2004, p. 123.
  19. Bryce 2005, p. 58.
  20. Latacz 2004, p. 122.
  21. Bryce 2005, p. 357.

Bibliografia

  • French, Elizabeth (2002). Mycenae: Agamemnon's Capital. Stroud: Tempus. ISBN 0-7524-1951-X 
  • Mountjoy, P.A. (1986). Mycenaean Decorated Pottery: A Guide to Identification. [S.l.]: Studies in Mediterranean Archaeology 73. Göteborg: Paul Åströms Forlag. ISBN 91-86098-32-2 
  • Podzuweit, Christian (1982). "Die mykenische Welt und Troja". In: B. Hänsel (ed.), Südosteuropa zwischen 1000 v. Chr., 65–88. (em alemão)

Ligações externas

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