Bramã: diferenças entre revisões
Linha 1: | Linha 1: | ||
{{Ver desambig|redir=Brahman|não_confundir=[[ |
{{Ver desambig|redir=Brahman|não_confundir=[[bramãe]]||Brahman (desambiguação)}} |
||
{{Mais fontes|Este artigo|data=novembro de 2018}} |
{{Mais fontes|Este artigo|data=novembro de 2018}} |
||
{{Hinduísmo}} |
{{Hinduísmo}} |
||
''' |
'''Bramã'''<ref>SAMUEL, A. ''As religiões hoje''. Tradução de Benôni Lemos. São Paulo. Paulus. 1997. p. 78.</ref> ({{langx|sa|''brahman''}}, forma masculina e neutra de {{lang|sa|ब्रह्म, ''brahma''}}) é um conceito do [[hinduísmo]], semelhante ao conceito de [[absoluto]] presente em outras religiões. O termo designa o princípio divino, não personalizado e neutro do [[bramanismo]] e da [[teosofia]]. Não deve ser confundido com [[Brama]], que, juntamente com [[Vixenu]] e [[Xiva]], forma a [[Trimúrti|trindade]] (''trimurti'') clássica [[Hinduísmo|hindu]]. |
||
Na teosofia, |
Na teosofia, bramã é o "Absoluto", o "Espírito Divino e Infinito" que emana no início de um novo ciclo de manifestação (chamado [[Mahamanvantara]]). Portanto, é a origem e raiz de toda a consciência que evolui neste mundo. Para o hinduísmo, esta evolução ocorre por sucessivas encarnações, doutrina esta que é chamada de ''[[metempsicose]]''. |
||
A metempsicose hindu fundamenta-se em dois conceitos principais: |
A metempsicose hindu fundamenta-se em dois conceitos principais: |
||
* [[Samsara]] - significando que a realidade é considerada como um evoluir fenomênico; |
* [[Samsara]] - significando que a realidade é considerada como um evoluir fenomênico; |
||
* [[ |
* [[Carma]] - que denota a conexão entre os atos no mundo fenomênico. |
||
Este mundo fenomênico é entendido como ilusório e a origem de todo o sofrimento humano. |
Este mundo fenomênico é entendido como ilusório e a origem de todo o sofrimento humano. |
||
Assim, no hinduísmo, a libertação deste ciclo de sofrimento é concebida como uma absorção no absoluto (''Brahman'' ou ''Parabrahman''), chamada [[nirvana]]. Assim, o |
Assim, no hinduísmo, a libertação deste ciclo de sofrimento é concebida como uma absorção no absoluto (''Brahman'' ou ''Parabrahman''), chamada [[nirvana]]. Assim, o bramã é considerado a origem e o fim de tudo. |
||
== |
== Bramã no ''Advaita Vedanta''== |
||
De acordo com a linha filosófica de [[advaita]] [[vedanta]], conforme estabelecida por [[Shankara]] e fundamentada em preceitos de [[advaita]]-vada ancestrais e seguindo a tradição védica, o |
De acordo com a linha filosófica de [[advaita]] [[vedanta]], conforme estabelecida por [[Shankara]] e fundamentada em preceitos de [[advaita]]-vada ancestrais e seguindo a tradição védica, o bramã é tudo o que existe e nada pode existir além do bramã. Portanto, ele é a Verdade Absoluta, ou a Realidade Suprema, que envolve, absorve e harmoniza todos os conceitos duais. O Vedanta caracteriza bramã como realidade (''Sat''), consciência (''Cit'') e beatitude (''Ānanda'').<ref>BIANCHINI, Flávia. [https://www.academia.edu/4500983/Brahman_e_Ananda._Flavia_Bianchini Brahman é Ānanda]. Pp. 101-125, in: GNERRE, Maria Lúcia Abaurre; POSSEBON, Fabrício (orgs.). ''Cultura oriental: língua, filosofia e crença''. Vol. 2. João Pessoa: Editora da UFPB, 2012.</ref> Brahman é também a essência de cada indivíduo, o Eu mais interno ou [[atman|ātman]].<ref>MARTINS, Roberto de Andrade. ''Muṇḍaka-Upaniṣad: o conhecimento de Brahman e do Ātman''. Rio de Janeiro: Corifeu, 2008.</ref> Várias upanishads e outros textos indianos indicam que bramã não pode ser atingido pelo pensamento, embora possa ser captado através de uma vivência direta, por uma pessoa em estado de [[samadhi]].<ref>MARTINS, Roberto de Andrade. [https://www.academia.edu/7044193/O_indizivel_no_pensamento_indiano_a_sabedoria_que_ultrapassa_os_conceitos._Roberto_de_Andrade_Martins O indizível no pensamento indiano: a sabedoria que ultrapassa os conceitos]. Pp. 85-102, in: SANTOS, João Marcos Leitão (org.). ''Religião, a herança das crenças e as diversidades de crer''. Campina Grande: Editora da Universidade Federal de Campina Grande, 2013.</ref> |
||
A entidade viva imersa em ''avidya'' ("ignorância") se considera diferente do Brahman devido aos seus conceitos de ''[[Adi-aham|aham]]'' e ''[[mamata]]'', "ego" e "egoísmo", que desaparecem através de ''[[jnana]]'' ("filosofia"), que promove ''[[vidya]]'' ("sabedoria" ou "ciência") e que leva ao ''[[moksha]]'' ("liberação"), eliminando o ''[[samsara]]'', ou ciclo de nascimentos e mortes. |
A entidade viva imersa em ''avidya'' ("ignorância") se considera diferente do Brahman devido aos seus conceitos de ''[[Adi-aham|aham]]'' e ''[[mamata]]'', "ego" e "egoísmo", que desaparecem através de ''[[jnana]]'' ("filosofia"), que promove ''[[vidya]]'' ("sabedoria" ou "ciência") e que leva ao ''[[moksha]]'' ("liberação"), eliminando o ''[[samsara]]'', ou ciclo de nascimentos e mortes. |
||
Conceitos como o de ''Parabrahman'', segundo esta óptica, são absurdos, uma vez que nada pode ser maior, superior, menor ou inferior ao '' |
Conceitos como o de ''Parabrahman'', segundo esta óptica, são absurdos, uma vez que nada pode ser maior, superior, menor ou inferior ao ''bramã'', que por definição é não dual e absorve, elimina e harmoniza os conceitos duais, nada existindo além dele. |
||
== Ver também == |
== Ver também == |
Revisão das 00h31min de 30 de julho de 2020
Parte da série sobre o |
Hinduísmo |
---|
Divindades |
|
Bramã[1] (em sânscrito: brahman, forma masculina e neutra de ब्रह्म, brahma) é um conceito do hinduísmo, semelhante ao conceito de absoluto presente em outras religiões. O termo designa o princípio divino, não personalizado e neutro do bramanismo e da teosofia. Não deve ser confundido com Brama, que, juntamente com Vixenu e Xiva, forma a trindade (trimurti) clássica hindu.
Na teosofia, bramã é o "Absoluto", o "Espírito Divino e Infinito" que emana no início de um novo ciclo de manifestação (chamado Mahamanvantara). Portanto, é a origem e raiz de toda a consciência que evolui neste mundo. Para o hinduísmo, esta evolução ocorre por sucessivas encarnações, doutrina esta que é chamada de metempsicose.
A metempsicose hindu fundamenta-se em dois conceitos principais:
- Samsara - significando que a realidade é considerada como um evoluir fenomênico;
- Carma - que denota a conexão entre os atos no mundo fenomênico.
Este mundo fenomênico é entendido como ilusório e a origem de todo o sofrimento humano.
Assim, no hinduísmo, a libertação deste ciclo de sofrimento é concebida como uma absorção no absoluto (Brahman ou Parabrahman), chamada nirvana. Assim, o bramã é considerado a origem e o fim de tudo.
Bramã no Advaita Vedanta
De acordo com a linha filosófica de advaita vedanta, conforme estabelecida por Shankara e fundamentada em preceitos de advaita-vada ancestrais e seguindo a tradição védica, o bramã é tudo o que existe e nada pode existir além do bramã. Portanto, ele é a Verdade Absoluta, ou a Realidade Suprema, que envolve, absorve e harmoniza todos os conceitos duais. O Vedanta caracteriza bramã como realidade (Sat), consciência (Cit) e beatitude (Ānanda).[2] Brahman é também a essência de cada indivíduo, o Eu mais interno ou ātman.[3] Várias upanishads e outros textos indianos indicam que bramã não pode ser atingido pelo pensamento, embora possa ser captado através de uma vivência direta, por uma pessoa em estado de samadhi.[4]
A entidade viva imersa em avidya ("ignorância") se considera diferente do Brahman devido aos seus conceitos de aham e mamata, "ego" e "egoísmo", que desaparecem através de jnana ("filosofia"), que promove vidya ("sabedoria" ou "ciência") e que leva ao moksha ("liberação"), eliminando o samsara, ou ciclo de nascimentos e mortes.
Conceitos como o de Parabrahman, segundo esta óptica, são absurdos, uma vez que nada pode ser maior, superior, menor ou inferior ao bramã, que por definição é não dual e absorve, elimina e harmoniza os conceitos duais, nada existindo além dele.
Ver também
Referências
- ↑ SAMUEL, A. As religiões hoje. Tradução de Benôni Lemos. São Paulo. Paulus. 1997. p. 78.
- ↑ BIANCHINI, Flávia. Brahman é Ānanda. Pp. 101-125, in: GNERRE, Maria Lúcia Abaurre; POSSEBON, Fabrício (orgs.). Cultura oriental: língua, filosofia e crença. Vol. 2. João Pessoa: Editora da UFPB, 2012.
- ↑ MARTINS, Roberto de Andrade. Muṇḍaka-Upaniṣad: o conhecimento de Brahman e do Ātman. Rio de Janeiro: Corifeu, 2008.
- ↑ MARTINS, Roberto de Andrade. O indizível no pensamento indiano: a sabedoria que ultrapassa os conceitos. Pp. 85-102, in: SANTOS, João Marcos Leitão (org.). Religião, a herança das crenças e as diversidades de crer. Campina Grande: Editora da Universidade Federal de Campina Grande, 2013.
Ligações externas