A Moratória: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Censura ao teatro AN 809.tif|right|thumb|Autorização da censura para a remontagem da peça pelo [[Grupo Tapa]] em 1971]]
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'''A Moratória''' é uma [[peça de teatro|peça teatral]] [[brasil]]eira, de autoria do [[dramaturgia|dramaturgo]] [[Jorge Andrade]], e escrita no contexto da transição entre a [[República Velha]] e a [[Era Vargas]].
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Estreou em 1954, numa encenação de [[Gianni Ratto]] para o [[Teatro Maria Della Costa]] em São Paulo, com interpretação marcante de [[Fernanda Montenegro]]<ref>{{citar web|URL=http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento395654/a-moratoria|título=A Moratória|autor=Jorge Andrade|data=1954|publicado=Enciclopédia Itaú Cultural|acessodata= 1 de dezembro de 2020}}</ref>.
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Revisão das 19h24min de 1 de dezembro de 2020

Autorização da censura para a remontagem da peça pelo Grupo Tapa em 1971

A Moratória é uma peça teatral brasileira, de autoria do dramaturgo Jorge Andrade, e escrita no contexto da transição entre a República Velha e a Era Vargas. Estreou em 1954, numa encenação de Gianni Ratto para o Teatro Maria Della Costa em São Paulo, com interpretação marcante de Fernanda Montenegro[1].

Estilo e contexto histórico

Nas peças ao estilo de A Moratória, o autor deixa parte da capacidade interpretativa para o grupo de atores, que dão vida aos diálogos e às situações. Por esta razão, é melhor ser assistida do que lida, já que a primeira opção tem maior riqueza interpretativa. Mas se o leitor observar atentamente as rubricas do autor, conseguirá entender melhor o enredo.

A técnica principal usada por Jorge Andrade é a expectativa, focalizada em situações dramáticas, em dois tempos e espaços simultâneos e antagônicos, que, no desenrolar do enredo, possuem ações decorrentes do conflito das personagens em torno de duas expectativas: em 1929, a perda da fazenda por causa das dívidas contraídas por Joaquim e, no período pós-1930, a recuperação da mesma fazenda a a decretação da moratória pelo Governo.

Além dos conflitos de personagens, retrata, de forma bem explícita, a decadência da elite do café após a crise de 1929, acompanhada pela Revolução de 1930, encabeçada por Getúlio Vargas e a elite gaúcha. Para enriquecer o assunto, enfoca a crise da sociedade patriarcal rural e os indícios de um processo lento e definitivo de mudanças sociais na estrutura da sociedade paulista, focalizadas na inserção da mulher no mercado de trabalho, no deslocamento do centro econômico-social para as cidades e na formação do proletariado urbano.[2]

Personagens

As personagens compõem um conjunto familiar, no qual se relacionam, nem sempre de forma totalmente amigável, como é o caso de Joaquim e Marcelo. Olímpio aparece nos dois planos: como o noivo excluído, inicialmente, e depois, como a única esperança de salvação da família. Lucília, antes simples moça submissa, oscila para um grau superior, no qual assume a chefia financeira da casa e é a sucessora do pai.

Joaquim

Proprietário de fazenda na região cafeeira. Nunca fugiu ao trabalho e melhorou o que herdou de seus maiores, mas não soube administrar durante a crise e perdeu tudo. Contraiu dívidas, penhorando sua propriedade, vendeu seu café a prazo, não recebeu o pagamento e perdeu tudo. Politicamente, comporta- se como um coronel, inserido no contexto da política do café-com-leite. Sua fazenda influencia toda a região, sendo inclusive o centro social e econômico.

Helena

Esposa de Joaquim, encarnando a figura da mãe tradicional e da esposa convencional da sociedade rural brasileira, dividida entre o conflito da fazenda e a felicidade do esposo e filhos. No momento de riqueza, vive na ociosidade, mas na pobreza dedica-se fiel e fervorosamente aos compromissos da Igreja, forma encontrada por ela para amenizar o sofrimento de sua família, através das orações.

Lucília

A filha que oscila, ao longo do tempo da peça, entre uma jovem sonhadora e despreocupada que costura por lazer e uma mulher dura e responsável que sustenta financeiramente a família e aceita tudo com resignação e esperança. Representa a figura da mulher que se insere no mercado de trabalho urbano e ajuda no sustento da casa, inclusive tomando decisões.

Marcelo

O filho que é um projeto de homem, típico jovem da elite, que gasta seu tempo em farras noturnas e nenhum trabalho útil. Não se mostra habituado com nenhum trabalho e sofre bastante no frigorífico em que trabalha na segunda situação. Fora educado para substituir o pai, mas acabou se tornando um simples operário.

Olímpio

Noivo de Lucília, é advogado e tenta auxiliar no processo de nulidade. Na riqueza, é discriminado por ser filho de um rival político. Na pobreza, é exaltado, por causa do título de advogado. Representa a questão da valorização no título de doutor, muito vigente na República Velha.

Elvira

Irmã de Joaquim e esposa de Augusto, principal credor do cunhado. Em troca de café, leite e alguns alimentos, Lucília não cobra as costuras que ela encomenda. Guarda rancor e é ambiciosa.

O tempo durante o enredo

A história, se analisada temporalmente, reduz-se ao período de 1929 a 1933, marcado pelos seguintes fatos[3]:

  • a iminência de perder a fazenda
  • a perda da fazenda
  • o empobrecimento da família e o agravamento das tensões familiares em decorrência de tal fato
  • a mudança para a cidade (êxodo rural), em uma casa pequena e modesta
  • a decadência completa, causada pela não- aprovação da nulidade do processo que nem da moratória que possivelmente viria a ser decretada pelo Governo Provisório.

Referências

  1. Jorge Andrade (1954). «A Moratória». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 1 de dezembro de 2020 
  2. Décio de Almeida Prado (1996). O teatro brasileiro moderno. [S.l.]: Pespectiva. 149 páginas 
  3. Diógenes André Vieira Maciel (2019). «Encruzilhadas da Literatura e da História». Revista Fenix. Consultado em 1 de dezembro de 2020