Brincando nos Campos do Senhor: diferenças entre revisões
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*Venceu na categoria de melhor trilha sonora (Zbigniew Preisner, que também concorreu com ''[[La double vie de Véronique]] ([[1991]]) e [[Europa, Europa]] ([[1990]]). |
*Venceu na categoria de melhor trilha sonora (Zbigniew Preisner, que também concorreu com ''[[La double vie de Véronique]] ([[1991]]) e [[Europa, Europa]] ([[1990]]). |
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O enunciado do filme "Brincando nos Campos do Senhor" pode ser resumido no seguinte forma: um pequeno avião, utilizado para pequenos combates e demolições, aterrissa em Mãe de Deus, vilarejo remoto na floresta Amazônica. O avião é pilotado por Lewis Moon (Tom Berenger) e Wolf (Tom Waits), os quais, por seus comportamentos e vestimentas, já se situam na narrativa como suspeitos ou contrabandistas. São recebidos pelo funcionário do governo, Comandante Guzman (José Dumont), que recusa o pedido de gasolina formulado pelos pilotos e confisca seus passaportes e os documentos do avião. Coloca-se então a questão que irá permear toda a narrativa do filme: a devolução dos passaportes e o combustível para que os dois pudessem seguir viagem só seria possível por meio de uma troca de serviços. |
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Aos pilotos caberia a tarefa de bombardear os Niarunas, tribo indígena cujas terras são almejadas pelo comandante Guzman por razões econômicas. A esses personagens soma-se um casal de missionários fundamentalistas: Leslie Huben (John Lithgow) e sua mulher, Andy Huben (Daryl Hannah). Entre os dois é colocada, para o espectador, uma contradição: em oposição à rigidez do marido, Andy, mais flexível, demonstra oposição ideológica aguda em relação à igreja católica, representada pelo padre Xantes. Completando o quadro dos personagens, é introduzida na narrativa a chegada ao vilarejo de outro casal de missionários norte-americanos, os Quarrier, com seu filho, que vêm encontrar os Huben em sua missão evangélica. Martin Quarrier (Aidan Quinn) é, igualmente, um personagem com contradições profundas: ao mesmo tempo em que acredita no seu sentimento religioso e quer promover a palavra de Deus entre os "selvagens", possui uma admiração pela civilização indígena, provocada pelo seu interesse pela cultura e língua Niaruna, as quais se constituem o objeto de seus estudos e pesquisa. |
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O filme aborda questões recorrentes ao longo de sua narrativa. Tais questões podem ser divididas em grupos, como por exemplo, a questão de territórios, a questão das identidades e a questão ideológica que, na narrativa, é sempre permeada pela matriz ocidental do pensamento único. A questão do território torna-se complexa porque envolve direitos e riquezas ou, para ser mais preciso, aquilo que podemos considerar como riquezas do ponto de vista da sociedade ocidental. |
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A questão da identidade é uma visão idealista também ocidental, pois envolve a busca de uma origem. Tais questões são figurativizadas pelas explicações de mundo por meio das vozes dos personagens: tanto os discursos religiosos sugerindo uma explicação única de origem do mundo e de seus valores, quanto aqueles mergulhados nos conflitos sobre a pertença, como é evidenciado no personagem de Lewis Moon e sua crise identitária. Tal crise envolve traços de matrizes globalizantes, os quais podem ser situados no objeto fílmico por meio das representações de processos culturais híbridos e de sujeitos multiculturais. Trata-se aqui de uma metáfora muito presente no filme, que é a da perda do paraíso terrestre pela introdução de valores mercantis em culturas que lhes são alheias. A perda da pureza e inocência original. O Éden perdido. |
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O filme é, nesse sentido, permeado por contradições dualistas, identidades fragmentadas em oposição às sedimentadas e estratificadas. Como exemplo, temos Lewis Moon, dividido na sua identidade norte-americana, resultado de um hibridismo entre sua origem indígena e anglo-saxã, contraposta à de Wolf, no qual a vida, pela caracterização do personagem, não parece dividida. Para ele é simples: bombardear a aldeia dos Niarunas, pegar o avião e partir desse lugar perdido e sem atrativos. Esse esquema de conflitos internos se aplica também aos outros personagens ou situações que adquirem um caráter mais social e de direitos étnicos. |
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Nesse sentido, poderíamos considerar, de um lado, a fragilidade dos povos indígenas, se considerada em relação à civilização ocidental e, de outro, a ambição e a falta de escrúpulos dos objetivos almejados pelos dois polos em confronto com a civilização indígena: os missionários impondo uma visão de mundo, uma origem legitimada pela ortodoxia fundamentalista ou católica, e o ponto de vista da produção de capital implícito na ocupação das terras niarunas em detrimento do genocídio produzido. |
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Tal genocídio é demonstrado no filme evidenciado pelo fato de que a cultura ocidental traz consigo a destruição da culturas indígenas, contamina biologicamente as populações com vírus e bactérias inexistentes nesses sistemas e reivindica a exploração de minérios das terras de propriedade dos niarunas. A contaminação pelo vírus da gripe pela aldeia Niaruana demonstra dramaticamente esse fato. |
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De qualquer modo, o filme nos sugere uma busca de origem, de identidade, de explicação de mundo tipicamente moderna. Uma certa mea culpa é sugerida pela escolha de Moon de ficar na selva. Escolha que determina, de certo modo, os lugares sugeridos pela narrativa, aos indígenas suas terras e sua cultura e, aos ocidentais, a ortodoxia religiosa regida pelo autoritarismo típico de pensamentos totalitários. "Nossa verdade é a verdade universal", não muito diferente do que os Estados Unidos da América vêm tentando impor no Oriente Médio salvando os bárbaros árabes resgatando-os para o projeto ocidental! |
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Nos resta uma interrogação: se a sociedade capitalista ocidental chegou a um ponto em que os territórios e suas resultantes culturais, étnicas e econômicas foram apagados do mapa - pelo menos no que se refere à circulação de informações -, como escapar do achatamento cultural proposto como estratégia e definidor de um padrão normativo do capitalismo tardio, visto por pensadores contemporâneos, como por exemplo, Fredric Jameson? |
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'''*Luiz Antônio Garcia Diniz''' é Pós-doutorando em instalações interativas/processos cognitivos e atua no LabI - Laboratório Aberto de Interatividade para a Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico da UFSCar. |
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Revisão das 01h17min de 15 de dezembro de 2020
Brincando nos Campos do Senhor | |
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At Play in the Fields of the Lord A Brincar nos Campos do Senhor (PRT) | |
Cartaz do filme. | |
Estados Unidos 1991 • cor • 189 min | |
Gênero | drama |
Direção | Hector Babenco |
Produção | Saul Zaentz |
Roteiro | Hector Babenco Jean-Claude Carrière |
Elenco | John Lithgow Tom Berenger Daryl Hannah Aidan Quinn Tom Waits |
Música | Zbigniew Preisner Marlui Miranda |
Diretor de fotografia | Lauro Escorel Stan McClain |
Figurino | Rita Murtinho |
Idioma | inglês |
Brincando nos Campos do Senhor (em inglês: At Play in the Fields of the Lord) é um filme estadunidense-brasileiro[1] de 1991, do gênero drama, dirigido por Hector Babenco e com roteiro baseado em livro de Peter Matthiessen.
A trilha sonora é de Zbigniew Preisner e Marlui Miranda[1].
Elenco
- John Lithgow
- Tom Berenger
- Daryl Hannah
- Aidan Quinn
- Tom Waits
- Kathy Bates
- Stênio Garcia
- Nelson Xavier
- José Dumont
Principais prêmios e indicações
Globo de Ouro 1991 (EUA)
- Indicado na categoria melhor trilha sonora.
Prêmio LAFCA 1991 (Associação dos Críticos de Cinema de Los Angeles, EUA)
- Venceu na categoria de melhor trilha sonora (Zbigniew Preisner, que também concorreu com La double vie de Véronique (1991) e Europa, Europa (1990).
Referências
Categorias:
- Filmes dos Estados Unidos de 1991
- Filmes dirigidos por Héctor Babenco
- Filmes com temática ambientalista
- Filmes de drama dos Estados Unidos
- Filmes sobre povos nativos do Brasil
- Filmes em língua inglesa
- Filmes do Brasil de 1991
- Filmes da Universal Pictures
- Filmes com trilha sonora de Zbigniew Preisner
- Filmes de drama do Brasil