Carga elementar: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
79a (discussão | contribs)
m Foram revertidas as edições de Juliana dos Santos varguinha para a última revisão de Pedro Henrique Oliveira Nazar, de 2020-09-27T01:08:09 (UTC)
Etiqueta: Reversão
Dbastro (discussão | contribs)
m ajustando datas nas citações, outros ajustes usando script
Linha 1: Linha 1:
{{Sem cat|data=novembro de 2021}}
A '''carga elementar''' é aquela [[carga elétrica]] transportada por um único próton ou, de maneira equivalente em módulo, por um único elétron. Ela é ''exatamente'' 1,602 176 634 × 10­<sup>-19</sup> C <ref name=":0">{{Citar web |url=https://physics.nist.gov/cgi-bin/cuu/Value?e |titulo=CODATA Value: elementary charge |acessodata=2020-09-02 |website=physics.nist.gov}}</ref> e, convencionalmente se utiliza as letras ''e'' ou ''<var>q</var><sub>e</sub>'' para denotá-la. Ela é uma constante física fundamental, expressa no Sistema Internacional (S.I.) por Coloumb, que entrou em rigor em 20 de maio de 2019 pelo sistema métrico internacional moderno de medição, pois, durante muito tempo, a preocupação dos cientistas era redefinir as unidades inteiramente em constantes físicas, removendo qualquer dependência de objetos físicos, como foi o caso do Protótipo Internacional do Quilograma (''[[:en:International_Prototype_of_the_Kilogram|IPK - International Prototype of the Kilogram]]''). <ref name=":0" /> <ref>"[https://www.bipm.org/utils/common/pdf/si-brochure/SI-Brochure-9.pdf SI Brochure: The International System of Units]". 9 ed. v1.07. Paris, França. 2019.</ref>


A '''carga elementar''' é aquela [[carga elétrica]] transportada por um único próton ou, de maneira equivalente em módulo, por um único elétron. Ela é ''exatamente'' 1,602 176 634 × 10­<sup>-19</sup> C<ref name=":0">{{Citar web |url=https://physics.nist.gov/cgi-bin/cuu/Value?e |titulo=CODATA Value: elementary charge |acessodata=2020-09-02 |website=physics.nist.gov}}</ref> e, convencionalmente se utiliza as letras ''e'' ou ''<var>q</var><sub>e</sub>'' para denotá-la. Ela é uma constante física fundamental, expressa no Sistema Internacional (S.I.) por Coloumb, que entrou em rigor em 20 de maio de 2019 pelo sistema métrico internacional moderno de medição, pois, durante muito tempo, a preocupação dos cientistas era redefinir as unidades inteiramente em constantes físicas, removendo qualquer dependência de objetos físicos, como foi o caso do Protótipo Internacional do Quilograma (''[[:en:International_Prototype_of_the_Kilogram|IPK - International Prototype of the Kilogram]]'').<ref name=":0" /><ref>"[https://www.bipm.org/utils/common/pdf/si-brochure/SI-Brochure-9.pdf SI Brochure: The International System of Units]". 9 ed. v1.07. Paris, França. 2019.</ref>
== Histórico ==
== Histórico ==
Ao fim do século XIX, a maioria dos físicos acreditavam que o átomo era indivisível e maciço, devido às contribuições do químico inglês [[John Dalton]], <ref>{{Citar web |url=https://www.britannica.com/science/atomic-theory |titulo=Atomic theory {{!}} physics |acessodata=2020-09-02 |website=Encyclopedia Britannica |lingua=en}}</ref> <ref name=":1">{{Citar web |url=https://www.juliantrubin.com/bigten/millikanoildrop.html |titulo=Robert Millikan: The Oil-Drop Experiment - Determining The Charge of the Electron |acessodata=2020-09-02 |website=www.juliantrubin.com}}</ref>, apesar dos estudos sobre radioatividade começarem a gerar dúvida para alguns profissionais do ramo. Em paralelo, geralmente se acreditava que a carga elétrica, como massa, era divisível infinitamente. <ref name=":1" /> A relação entre eletricidade e matéria seria explicada por alguns cientistas ainda no final desse século. Para eles, fez-se necessário haver uma unidade fundamental de eletricidade, então, em 1891, [[George Johnstone Stoney|George Stoney]] introduz o termo ''elétron'' para descrever a menor unidade de carga negativa. <ref name=":1" />
Ao fim do século XIX, a maioria dos físicos acreditavam que o átomo era indivisível e maciço, devido às contribuições do químico inglês [[John Dalton]],<ref>{{Citar web |url=https://www.britannica.com/science/atomic-theory |titulo=Atomic theory {{!}} physics |acessodata=2020-09-02 |website=Encyclopædia Britannica |lingua=en}}</ref><ref name=":1">{{Citar web |url=https://www.juliantrubin.com/bigten/millikanoildrop.html |titulo=Robert Millikan: The Oil-Drop Experiment - Determining The Charge of the Electron |acessodata=2020-09-02 |website=www.juliantrubin.com}}</ref> apesar dos estudos sobre radioatividade começarem a gerar dúvida para alguns profissionais do ramo. Em paralelo, geralmente se acreditava que a carga elétrica, como massa, era divisível infinitamente.<ref name=":1" /> A relação entre eletricidade e matéria seria explicada por alguns cientistas ainda no final desse século. Para eles, fez-se necessário haver uma unidade fundamental de eletricidade, então, em 1891, [[George Johnstone Stoney|George Stoney]] introduz o termo ''elétron'' para descrever a menor unidade de carga negativa.<ref name=":1" />


Seis anos mais tarde, o físico inglês [[Joseph John Thomson|J. J. Thomson]] começa a realizar uma série de experimentos com [[Raio catódico|raios catódicos]], concluindo que aqueles raios consistiam em uma corrente de partículas pequenas e elétricas, carregadas negativamente. O cientista, então, pode medir a relação massa / carga do elétron e comparou os resultados com outros experimentos como o de [[Pieter Zeeman]], que havia estimado uma razão para carga / massa daquilo que transportava corrente elétrica nos átomos e os resultados foram bem similares. Rapidamente a universalização dessa partícula totalmente nova para a época foi comprovada. <ref name=":1" /> <ref>{{Citar web |url=https://www.britannica.com/science/Thomson-atomic-model |titulo=Thomson atomic model {{!}} Description & Image |acessodata=2020-09-02 |website=Encyclopedia Britannica |lingua=en}}</ref> <ref>{{Citar periódico |titulo=A carga específica do elétron: um enfoque histórico e experimental |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1806-11172011000100023&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |jornal=Revista Brasileira de Ensino de Física |data=2011-03 |issn=1806-1117 |paginas=01–07 |numero=1 |acessodata=2020-09-02 |doi=10.1590/S1806-11172011000100023 |lingua=pt |primeiro=Luiz Cezar Mendes da |ultimo=Silva |primeiro2=Wilma Machado Soares |ultimo2=Santos |primeiro3=Penha Maria Cardoso |ultimo3=Dias}}</ref>
Seis anos mais tarde, o físico inglês [[Joseph John Thomson|J. J. Thomson]] começa a realizar uma série de experimentos com [[Raio catódico|raios catódicos]], concluindo que aqueles raios consistiam em uma corrente de partículas pequenas e elétricas, carregadas negativamente. O cientista, então, pode medir a relação massa / carga do elétron e comparou os resultados com outros experimentos como o de [[Pieter Zeeman]], que havia estimado uma razão para carga / massa daquilo que transportava corrente elétrica nos átomos e os resultados foram bem similares. Rapidamente a universalização dessa partícula totalmente nova para a época foi comprovada.<ref name=":1" /><ref>{{Citar web |url=https://www.britannica.com/science/Thomson-atomic-model |titulo=Thomson atomic model {{!}} Description & Image |acessodata=2020-09-02 |website=Encyclopædia Britannica |lingua=en}}</ref><ref>{{Citar periódico |titulo=A carga específica do elétron: um enfoque histórico e experimental |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1806-11172011000100023&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |jornal=Revista Brasileira de Ensino de Física |data=março de 2011 |issn=1806-1117 |paginas=01–07 |numero=1 |acessodata=2020-09-02 |doi=10.1590/S1806-11172011000100023 |lingua=pt |primeiro=Luiz Cezar Mendes da |ultimo=Silva |primeiro2=Wilma Machado Soares |ultimo2=Santos |primeiro3=Penha Maria Cardoso |ultimo3=Dias}}</ref>


Em 1909, [[Robert Andrews Millikan|Robert Millikan]] conseguiu medir a carga do elétron de maneira independente, com o famoso experimento chamado "experimento da gota de óleo". Por ser a primeira tentativa científica bem-sucedida de realizar a detecção e medição da carga de uma partícula subatômica (e pelos seus trabalhos sobre o efeito fotoelétrico), o físico estadunidense ganhou o Prêmio Nobel em 1923.
Em 1909, [[Robert Andrews Millikan|Robert Millikan]] conseguiu medir a carga do elétron de maneira independente, com o famoso experimento chamado "experimento da gota de óleo". Por ser a primeira tentativa científica bem-sucedida de realizar a detecção e medição da carga de uma partícula subatômica (e pelos seus trabalhos sobre o efeito fotoelétrico), o físico estadunidense ganhou o Prêmio Nobel em 1923.


==== Experimento da gota de óleo ====
==== Experimento da gota de óleo ====
[[Ficheiro:Simplified scheme of Millikan’s oil-drop experiment.svg|miniaturadaimagem|Esquema simplificado do experimento da gota de óleo de Robert Millilkan|alt=|330x330px]]
[[Ficheiro:Simplified scheme of Millikan’s oil-drop experiment.svg|miniaturadaimagem|Esquema simplificado do experimento da gota de óleo de Robert Millilkan|alt=|330x330px]]
O experimento da gota de óleo conduzido por Millikan e [[:en:Harvey_Fletcher|Harvey Fletcher]] segue, resumidamente, o seguinte esquema: Os pesquisadores suspenderam gotículas de óleo carregadas entre dois eletrodos de metal, gerando um equilíbrio entre a força gravitacional que agia sobre as gotas e o campo elétrico criado com os eletrodos <ref name=":1" /> <ref name=":2">{{Citar web |url=https://courses.lumenlearning.com/introchem/chapter/millikans-oil-drop-experiment/#:~:text=In%201909,%20Robert%20Millikan%20and,upward%20drag%20and%20electric%20forces. |titulo=Millikan’s Oil Drop Experiment {{!}} Introduction to Chemistry |acessodata=2020-09-05 |website=courses.lumenlearning.com}}</ref>, assim, a somatória dessas forças envolvidas seria nula e, teríamos:
O experimento da gota de óleo conduzido por Millikan e [[:en:Harvey_Fletcher|Harvey Fletcher]] segue, resumidamente, o seguinte esquema: Os pesquisadores suspenderam gotículas de óleo carregadas entre dois eletrodos de metal, gerando um equilíbrio entre a força gravitacional que agia sobre as gotas e o campo elétrico criado com os eletrodos,<ref name=":1" /><ref name=":2">{{Citar web |url=https://courses.lumenlearning.com/introchem/chapter/millikans-oil-drop-experiment/#:~:text=In%201909,%20Robert%20Millikan%20and,upward%20drag%20and%20electric%20forces. |titulo=Millikan’s Oil Drop Experiment {{!}} Introduction to Chemistry |acessodata=2020-09-05 |website=courses.lumenlearning.com}}</ref> assim, a somatória dessas forças envolvidas seria nula e, teríamos:


'''<math>m \times g = q \times E</math>'''
'''<math>m \times g = q \times E</math>'''


Onde,
Onde,


''m'': massa de uma gota; ''g'': aceleração da gravidade; ''E'': campo elétrico aplicado; ''q'': carga na gota.
''m'': massa de uma gota; ''g'': aceleração da gravidade; ''E'': campo elétrico aplicado; ''q'': carga na gota.


A densidade (<math>\rho</math>) do óleo era bem conhecida, então, a massa poderia ser determinada apenas sabendo o raio (<math>r</math>) daquelas gotículas, aplicando a fórmula do volume de uma esfera:
A densidade (<math>\rho</math>) do óleo era bem conhecida, então, a massa poderia ser determinada apenas sabendo o raio (<math>r</math>) daquelas gotículas, aplicando a fórmula do volume de uma esfera:


<math>\left ( \frac{4\pi\ r^3}{3} \right ) \times\rho\times g=q \times E</math>
<math>\left ( \frac{4\pi\ r^3}{3} \right ) \times\rho\times g=q \times E</math>


Assim, como o campo elétrico era controlado por eles, a gravidade é uma constante conhecida e os valores de massa foram obtidos, seria possível determinar o valor da carga ''q''. Ao repetir inúmeras vezes o experimento, Millikan e Fletcher observaram que as cargas obtidas eram múltiplas de um valor fundamental. Nos seus cálculos, o valor era 1,5924 × 10 <sup>−19</sup> Coulombs (C), variando apenas entre 1% do valor aceito atualmente. <ref name=":1" /> <ref name=":2" />
Assim, como o campo elétrico era controlado por eles, a gravidade é uma constante conhecida e os valores de massa foram obtidos, seria possível determinar o valor da carga ''q''. Ao repetir inúmeras vezes o experimento, Millikan e Fletcher observaram que as cargas obtidas eram múltiplas de um valor fundamental. Nos seus cálculos, o valor era 1,5924 × 10 <sup>−19</sup> Coulombs (C), variando apenas entre 1% do valor aceito atualmente.<ref name=":1" /><ref name=":2" />


== Quantização da carga ==
== Quantização da carga ==
Linha 28: Linha 29:


=== Cargas menores que a carga elementar ===
=== Cargas menores que a carga elementar ===
Atualmente, conhecemos dois tipos de exceções a indivisibilidade da carga elementar: [[Quark|quarks]] e [[Quasipartícula|quasipartículas]].
Atualmente, conhecemos dois tipos de exceções a indivisibilidade da carga elementar: [[quark]]s e [[quasipartícula]]s.


* '''Quarks:''' São partículas de carga elétrica fracionada, quantizadas em (+ 2/3)''e'' para alguns tipos e (- 1/3)''e'' para outros. Porém, essas partículas nunca foram identificadas em sua forma livre, são sempre confinadas em [[Hádron|hádrons]]. Ademais, as únicas possíveis combinações de quarks e antiquarks observadas são tais que, a partícula resultante é sempre um múltiplo inteiro de carga elementar (''e''). <ref name=":3">{{Citar periódico |titulo=A física dos quarks e a epistemologia |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1806-11172007000200001&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |jornal=Revista Brasileira de Ensino de Física |data=00/2007 |issn=1806-1117 |paginas=161–173 |numero=2 |acessodata=05-09-2020 |doi=10.1590/S1806-11172007000200001 |lingua=pt |primeiro=Marco Antonio |ultimo=Moreira |publicado=}}</ref>
* '''Quarks:''' São partículas de carga elétrica fracionada, quantizadas em (+ 2/3)''e'' para alguns tipos e (- 1/3)''e'' para outros. Porém, essas partículas nunca foram identificadas em sua forma livre, são sempre confinadas em [[hádron]]s. Ademais, as únicas possíveis combinações de quarks e antiquarks observadas são tais que, a partícula resultante é sempre um múltiplo inteiro de carga elementar (''e'').<ref name=":3">{{Citar periódico |titulo=A física dos quarks e a epistemologia |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1806-11172007000200001&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |jornal=Revista Brasileira de Ensino de Física |data=2007 |issn=1806-1117 |paginas=161–173 |numero=2 |acessodata=05-09-2020 |doi=10.1590/S1806-11172007000200001 |lingua=pt |primeiro=Marco Antonio |ultimo=Moreira |publicado=}}</ref>
* '''Quasipartículas:''' Como o próprio nome diz, elas são quase-partículas, definidas em física, como um distúrbio em um meio, mas que podem se comportar como uma partícula, tendo tamanho, energia, momento e sofrerem colisões. <ref>{{Citar web |url=https://www.britannica.com/science/quasiparticle |titulo=Quasiparticle {{!}} physics |acessodata=2020-09-05 |website=Encyclopedia Britannica |lingua=en}}</ref> Pelo fato de não serem propriamente [[Partícula elementar|partículas elementares]], elas não são consideradas uma violação do princípio da quantização de carga.
* '''Quasipartículas:''' Como o próprio nome diz, elas são quase-partículas, definidas em física, como um distúrbio em um meio, mas que podem se comportar como uma partícula, tendo tamanho, energia, momento e sofrerem colisões.<ref>{{Citar web |url=https://www.britannica.com/science/quasiparticle |titulo=Quasiparticle {{!}} physics |acessodata=2020-09-05 |website=Encyclopædia Britannica |lingua=en}}</ref> Pelo fato de não serem propriamente [[Partícula elementar|partículas elementares]], elas não são consideradas uma violação do princípio da quantização de carga.


=== Quantum de carga ===
=== Quantum de carga ===
O ''[[quantum]]'' é definido como o menor valor possível de certas grandezas físicas. Ao olhar para as [[Partícula elementar|partículas elementares]], nos deparamos com cargas elétricas de (± 1/3''e'', ± 2/3''e'') <ref name=":3" />, assim, por definição, o "quantum de carga" seria (1/3)''e''. Logo, a "carga elementar" seria três vezes maior que o "quantum de carga".
O ''[[quantum]]'' é definido como o menor valor possível de certas grandezas físicas. Ao olhar para as [[Partícula elementar|partículas elementares]], nos deparamos com cargas elétricas de (± 1/3''e'', ± 2/3''e''),<ref name=":3" /> assim, por definição, o "quantum de carga" seria (1/3)''e''. Logo, a "carga elementar" seria três vezes maior que o "quantum de carga".


Por outra perspectiva, todas as partículas que podem ser isoladas são múltiplos inteiros de ''e'', pois como já foi dito acima, os quarks não existem como partículas livres, podendo, apenas, estarem em conjuntos, como no caso do próton, onde temos dois quarks ''up'' (carga +2/3) e um quark ''down'' (carga -1/3). Por esse motivo, é plausível dizer que o "quantum de carga" é simplesmente ''e'', desde que os quarks não sejam incluídos. Nesse caso, "carga elementar" e "quantum de carga" seriam sinônimos.
Por outra perspectiva, todas as partículas que podem ser isoladas são múltiplos inteiros de ''e'', pois como já foi dito acima, os quarks não existem como partículas livres, podendo, apenas, estarem em conjuntos, como no caso do próton, onde temos dois quarks ''up'' (carga +2/3) e um quark ''down'' (carga -1/3). Por esse motivo, é plausível dizer que o "quantum de carga" é simplesmente ''e'', desde que os quarks não sejam incluídos. Nesse caso, "carga elementar" e "quantum de carga" seriam sinônimos.


== Referências ==
== Referências ==

Revisão das 21h01min de 7 de novembro de 2021

A carga elementar é aquela carga elétrica transportada por um único próton ou, de maneira equivalente em módulo, por um único elétron. Ela é exatamente 1,602 176 634 × 10­-19 C[1] e, convencionalmente se utiliza as letras e ou qe para denotá-la. Ela é uma constante física fundamental, expressa no Sistema Internacional (S.I.) por Coloumb, que entrou em rigor em 20 de maio de 2019 pelo sistema métrico internacional moderno de medição, pois, durante muito tempo, a preocupação dos cientistas era redefinir as unidades inteiramente em constantes físicas, removendo qualquer dependência de objetos físicos, como foi o caso do Protótipo Internacional do Quilograma (IPK - International Prototype of the Kilogram).[1][2]

Histórico

Ao fim do século XIX, a maioria dos físicos acreditavam que o átomo era indivisível e maciço, devido às contribuições do químico inglês John Dalton,[3][4] apesar dos estudos sobre radioatividade começarem a gerar dúvida para alguns profissionais do ramo. Em paralelo, geralmente se acreditava que a carga elétrica, como massa, era divisível infinitamente.[4] A relação entre eletricidade e matéria seria explicada por alguns cientistas ainda no final desse século. Para eles, fez-se necessário haver uma unidade fundamental de eletricidade, então, em 1891, George Stoney introduz o termo elétron para descrever a menor unidade de carga negativa.[4]

Seis anos mais tarde, o físico inglês J. J. Thomson começa a realizar uma série de experimentos com raios catódicos, concluindo que aqueles raios consistiam em uma corrente de partículas pequenas e elétricas, carregadas negativamente. O cientista, então, pode medir a relação massa / carga do elétron e comparou os resultados com outros experimentos como o de Pieter Zeeman, que havia estimado uma razão para carga / massa daquilo que transportava corrente elétrica nos átomos e os resultados foram bem similares. Rapidamente a universalização dessa partícula totalmente nova para a época foi comprovada.[4][5][6]

Em 1909, Robert Millikan conseguiu medir a carga do elétron de maneira independente, com o famoso experimento chamado "experimento da gota de óleo". Por ser a primeira tentativa científica bem-sucedida de realizar a detecção e medição da carga de uma partícula subatômica (e pelos seus trabalhos sobre o efeito fotoelétrico), o físico estadunidense ganhou o Prêmio Nobel em 1923.

Experimento da gota de óleo

Esquema simplificado do experimento da gota de óleo de Robert Millilkan

O experimento da gota de óleo conduzido por Millikan e Harvey Fletcher segue, resumidamente, o seguinte esquema: Os pesquisadores suspenderam gotículas de óleo carregadas entre dois eletrodos de metal, gerando um equilíbrio entre a força gravitacional que agia sobre as gotas e o campo elétrico criado com os eletrodos,[4][7] assim, a somatória dessas forças envolvidas seria nula e, teríamos:

Onde,

m: massa de uma gota; g: aceleração da gravidade; E: campo elétrico aplicado; q: carga na gota.

A densidade () do óleo era bem conhecida, então, a massa poderia ser determinada apenas sabendo o raio () daquelas gotículas, aplicando a fórmula do volume de uma esfera:

Assim, como o campo elétrico era controlado por eles, a gravidade é uma constante conhecida e os valores de massa foram obtidos, seria possível determinar o valor da carga q. Ao repetir inúmeras vezes o experimento, Millikan e Fletcher observaram que as cargas obtidas eram múltiplas de um valor fundamental. Nos seus cálculos, o valor era 1,5924 × 10 −19 Coulombs (C), variando apenas entre 1% do valor aceito atualmente.[4][7]

Quantização da carga

Quando dizemos que a carga é "elementar", significa que estamos tratando de uma unidade indivisível de carga. Isso vai de encontro com o princípio de quantização da carga, de que qualquer objeto é múltiplo inteiro da carga elementar. Assim, os valores de carga de um objeto podem ser, por exemplo, 2e, -1e, 0e, ou seja, n.e, ∀ n ∈ ℤ. Porém há exceções, dependendo de como o "objeto" de análise é definido, veja a seguir.

Cargas menores que a carga elementar

Atualmente, conhecemos dois tipos de exceções a indivisibilidade da carga elementar: quarks e quasipartículas.

  • Quarks: São partículas de carga elétrica fracionada, quantizadas em (+ 2/3)e para alguns tipos e (- 1/3)e para outros. Porém, essas partículas nunca foram identificadas em sua forma livre, são sempre confinadas em hádrons. Ademais, as únicas possíveis combinações de quarks e antiquarks observadas são tais que, a partícula resultante é sempre um múltiplo inteiro de carga elementar (e).[8]
  • Quasipartículas: Como o próprio nome diz, elas são quase-partículas, definidas em física, como um distúrbio em um meio, mas que podem se comportar como uma partícula, tendo tamanho, energia, momento e sofrerem colisões.[9] Pelo fato de não serem propriamente partículas elementares, elas não são consideradas uma violação do princípio da quantização de carga.

Quantum de carga

O quantum é definido como o menor valor possível de certas grandezas físicas. Ao olhar para as partículas elementares, nos deparamos com cargas elétricas de (± 1/3e, ± 2/3e),[8] assim, por definição, o "quantum de carga" seria (1/3)e. Logo, a "carga elementar" seria três vezes maior que o "quantum de carga".

Por outra perspectiva, todas as partículas que podem ser isoladas são múltiplos inteiros de e, pois como já foi dito acima, os quarks não existem como partículas livres, podendo, apenas, estarem em conjuntos, como no caso do próton, onde temos dois quarks up (carga +2/3) e um quark down (carga -1/3). Por esse motivo, é plausível dizer que o "quantum de carga" é simplesmente e, desde que os quarks não sejam incluídos. Nesse caso, "carga elementar" e "quantum de carga" seriam sinônimos.

Referências

  1. a b «CODATA Value: elementary charge». physics.nist.gov. Consultado em 2 de setembro de 2020 
  2. "SI Brochure: The International System of Units". 9 ed. v1.07. Paris, França. 2019.
  3. «Atomic theory | physics». Encyclopædia Britannica (em inglês). Consultado em 2 de setembro de 2020 
  4. a b c d e f «Robert Millikan: The Oil-Drop Experiment - Determining The Charge of the Electron». www.juliantrubin.com. Consultado em 2 de setembro de 2020 
  5. «Thomson atomic model | Description & Image». Encyclopædia Britannica (em inglês). Consultado em 2 de setembro de 2020 
  6. Silva, Luiz Cezar Mendes da; Santos, Wilma Machado Soares; Dias, Penha Maria Cardoso (março de 2011). «A carga específica do elétron: um enfoque histórico e experimental». Revista Brasileira de Ensino de Física (1): 01–07. ISSN 1806-1117. doi:10.1590/S1806-11172011000100023. Consultado em 2 de setembro de 2020 
  7. a b «Millikan's Oil Drop Experiment | Introduction to Chemistry». courses.lumenlearning.com. Consultado em 5 de setembro de 2020 
  8. a b Moreira, Marco Antonio (2007). «A física dos quarks e a epistemologia». Revista Brasileira de Ensino de Física (2): 161–173. ISSN 1806-1117. doi:10.1590/S1806-11172007000200001. Consultado em 5 de setembro de 2020 
  9. «Quasiparticle | physics». Encyclopædia Britannica (em inglês). Consultado em 5 de setembro de 2020 

Leitura complementar

Princípios de Física, 5a Ed., Raymond A. Serway, John W. Jewett Jr., 2014