Caminhos incas

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Qhapaq Ñan, Caminhos Incas 

Caminhos Incas

Tipo Cultural
Critérios ii, iii, iv, vi
Referência 1459
Região América
Países  Argentina
 Bolívia
 Chile
 Colômbia
Equador
 Peru
Coordenadas 18° 15' S 69° 35' 30" O
Histórico de inscrição
Inscrição 2014

Nome usado na lista do Património Mundial

  Região segundo a classificação pela UNESCO

Caminhos Incas são o extenso sistema de caminhos construído durante o Império Inca. Todos os caminhos da América do Sul direcionavam a Cusco (em quíchua, "Umbigo do Mundo"), a principal metrópole sul-americana do período pré-colombiano, legado de uma antiga tradição cultural. Foi usado pelos conquistadores espanhóis para dirigir-se a Bolívia, Chile e as pampas cordilheiranas argentinas.[1]

Esta rede de estradas se estendia do centro do Equador até a região central do Chile, ao sul, e da costa do oceano Pacífico até as encostas orientais dos Andes.[1]

UNESCO[editar | editar código-fonte]

Os Caminhos Incas foram incluídos na lista de patrimônio Mundial da UNESCO graças a "sua extensa rede de comunicação, de defesa e comércio com estradas cobrindo uma área de 30.000 km"[1]

Dentre os 30.000 quilômetros pertencentes aos caminhos incas, foram inscritos como patrimônio mundial um total de 720,28 quilômetros de extensão e 314 locais arqueológicos associados ao caminho. Sendo 118,45 quilômetros e 33 locais pertencentes a Argentina; 85,67 quilômetros e 8 locais pertencentes a Bolívia; 112,94 quilômetros e 138 locais pertencentes ao Chile; 17 quilômetros pertencentes a Colômbia; 113,73 quilômetros e 50 locais pertencentes ao Equador; e 272,49 quilômetros e 85 locais pertencentes ao Peru.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Antes dos incas, já existiam sistemas de vias pavimentados, construídos pelos Wari, Tiwanaku e Chimu, alguns com datação de mil anos antes da chegada dos incas. A partir da segunda metade do século XV, o Império inca foi o responsável por unir e ampliar esses sistemas existentes, conforme iam ampliando suas conquistas. Essas vias, chamadas pelos incas de Qhapaq Ñan, além de serem usadas pelo exército, eram usadas para facilitar o deslocamento de mensageiros (chasquis), para circulação de mercadorias, administradores de negócios imperiais e pela elite imperial. Pessoas comuns não tinham permissão de usa-las, a não ser com uma autorização oficial. Essas vias eram construídas por escravos, prisioneiros de guerra e trabalhadores recrutados. E a manutenção era feita por famílias, em trechos curtos. Os trabalhadores recrutados eram pagos com bolsa de roupas, chicha e comida, pois os incas não possuíam moedas. Para as inspeções das pontes, havia um funcionário específico, denominado Chaka Suyuyuq.[2][3][4][5][6]

Em 1532, durante a invasão do Império Espanhol na América do Sul, Francisco Pizarro quando chegou ao Peru com sua tropa, tomou conhecimento do caminho inca e a utilizou estrategicamente para avançar pelas regiões à cavalo. Após a conquista dos espanhóis, as vias, que foram projetadas para serem percorridas a pé e por lhamas, foram percorridas por cavalos com ferraduras, mulas e carroças, destruindo-as. Os espanhóis passaram a construir novas vias, que suportassem a carga.[2][4][6]

Atualmente, muitas vias incas estão incorporadas às vias modernas e foram cobertas por asfalto; há trechos em que as pedras utilizadas na construção do caminho, foram retiradas pelo povoado local para construção de residências e currais; e alguns caminhos permanecem intactos, sendo utilizados pela população local e turistas.[3][4][7]

Localização[editar | editar código-fonte]

Caminho inca em Mosollaqta, Peru.

Os caminhos incas passam por seis países da América do Sulː Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina; com a maior parte localizada no Peru. Os caminhos são compostos por duas vias principais, paralelas a costa pacífica do continente. Uma via principal vai de Tumbes, no Peru, até Santiago, no Chile, passando por Pachacamac, um dos principais santuários do período inca, localizado em Lima. Atualmente, é o caminho menos preservado. A outra via principal, mais bem preservada, vai da Colômbia até a cidade de Mendoza, na Argentina, passando por Quito, Cuenca e La Paz, estando Cusco, principal cidade do Império Inca, no seu centro. As vias secundárias, são perpendiculares as vias principais, que vão da costa do pacífico até as regiões montanhosas.[3][7]

Construção[editar | editar código-fonte]

Caminho inca pavimentado com pedras. Cordilheira Branca.

Os materiais e as técnicas utilizadas para o nivelamento e a pavimentação das vias, e a construção de terraços, se diferenciavam de região para região. As ferramentas utilizadas eram feitas de pedras, madeira ou bronze. Em trechos desolados e sem árvores, as vias não eram pavimentadas. Nas regiões pantanosas, as vias geralmente eram elevadas com pedras, e nas encostas íngremes de montanhas, eram construídos degraus pavimentados, com terraços para descanso. A maioria dos caminhos possuíam muretas de pedra, eram marcados com pilhas de pedras, troncos de madeira ou canas. Foram construídos drenos e bueiros, para a drenagem das águas, que eram canalizadas ao longo ou sob o caminho. As principais vias foram pavimentadas com pedras e paralelepípedos. Os caminhos não foram construídos uniformemente, a largura média varia de um a quatro metros, e há trechos que chegam até quinze metros de largura. Pontes suspensas foram construídas para a travessia de ravinas, utilizando tranças de junco ou corda de grama com assoalho de madeira e fibra. Uma das mais conhecidas, na atualidade, é a ponte Queswachaka, com 45 metros de comprimento, que atravessa o abismo do rio Apurimac, em Cusco; e sobrevive devido a manutenção anual da ponte nos meses de junho. Nos locais que não era possível a construção de pontes suspensas, era usado um cesto suspenso chamado oroya, que atravessavam até três pessoas.[2][3][5]

A cada 20/25 quilômetros, os incas construíram abrigos (chaskiwasi) e locais de armazenagem de alimentos e água (colcas), para abastecer e abrigar o exército inca. Esses postos de abastecimento foram instalados por toda a extensão das vias, mesmo em regiões de deserto ou selva. Alguns postos eram maiores e mais elaborados, chamados de tambos.[2][5]

Turismo[editar | editar código-fonte]

Alguns trechos, do caminhos inca, estão aberto para o turismo para a atividade de trekking. A mais conhecida é a trilha que leva até Machu Picchu. Esta trilha se inicia em Piscacucho, possui 42 quilômetros de percurso, é necessário pagar uma taxa para percorre-la e há limite diário de usuários. Ao longo do caminho há postos de controle onde deverá apresentar o passaporte. Este caminho passa pelos sítios arqueológicos de Llactapata, Runkurakay, Sayacmarca, Phuyupatamarca, Wiñaywayna e Intipunku.[7][8][9]

O governo peruano planeja ampliar o turismo no caminho inca. Já existe outra trilha sendo procurada pelos turistas praticantes de trekking, o Huánuco Pampa. Esta trilha possui 80 quilômetros de extensão, pode ser feita independente, mas é aconselhável contratar guias especializados, pois a trilha está localizada em altitude elevada. Só há acampamento formal no início do percurso, durante a trilha é necessário fazer acampamento selvagem ou informalmente em fazendas familiares.[7]

Referências

  1. a b c d «Caminhos Incas na UNESCO». Consultado em 3 de dezembro de 2014 
  2. a b c d Johnson, Robert W. (1992). «The irony of the Capac Nan». Social Studies. Psychology and Behavioral Sciences Collection (1). 21 páginas. doi:10.1080/00377996.1992.9956190. Consultado em 6 de julho de 2023 
  3. a b c d Learn, Joshua Rapp (14 de dezembro de 2020). «How the Inca Road System Tied Together an Empire and Facilitated Its Fall». Discover Magazine (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2023 
  4. a b c Symmes, Patrick (2015). «What It's Like to Travel the Inca Road Today». Smithsonian Magazine (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2023 
  5. a b c Cartwright, Mark. «The Inca Road System». World History Encyclopedia (em inglês). Consultado em 6 de julho de 2023 
  6. a b Franco, Ana Paula; Galiani, Sebastian; e Lavado, Pablo. (7 de junho de 2020). Long-Term Effects of the Inca Road.
  7. a b c d Johanson, Mark (20 de julho de 2022). «Além de Machu Picchu: explore a vida inca nesta trilha sul-americana». National Geographic. Consultado em 7 de julho de 2023 
  8. «¿Dónde empieza y dónde termina el Camino del Inca?». Infobae (em espanhol). 25 de novembro de 2022. Consultado em 7 de julho de 2023 
  9. «El Camino Inca en siete pasos». Madrid: Lonely Planet Perú. El País (em espanhol). 29 de agosto de 2013. ISSN 1134-6582. Consultado em 7 de julho de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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