Contemplação

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Uma pessoa contemplando o mar

Num contexto coloquial, contemplação significa "admirar e pensar sobre alguma coisa". Num contexto místico-religioso, significa alcançar Deus através da vivência pessoal e não meramente através de um processo discursivo.[1]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

A palavra em si deriva do termo latino "contemplatio" e sua raiz é a mesma do termo "templum", um pedaço de terra destinado aos auspícios ou um edifício de adoração. Esta raiz, por sua vez, deriva ou da base proto-indo-europeia *tem- ("cortar") - um lugar "recortado para" - ou da base *temp- ("estender"), uma referência ao espaço livre à frente do altar.[2] "Contemplatio" foi utilizado para traduzir a palavra grega θεωρία (theoria).

Cristianismo[editar | editar código-fonte]

Mais informações: Meditação cristã

Ortodoxia[editar | editar código-fonte]

No cristianismo ortodoxo, contemplação (theoria) significa, literalmente, ver Deus ou ter uma visão de Deus[a]. A ação de fitar Deus - de se unir com Ele - é chamada de theoria. O processo de theosis, que leva à theoria, é praticado na tradição asceta do hesicasmo, que significa reconciliar o coração e a mente numa única coisa (nous).[4] João Clímaco, em sua "Escada da Divina Ascensão", tratou da theosis como o processo de mudança do velho homem pecaminoso para o recém-nascido em Deus.

O significado disto tudo é que, uma vez que alguém esteja na presença de Deus e seja deificado por ele, então pode começar a compreender adequadamente ("contemplar") Deus. Esta forma de contemplação significa "ter" e "experimentar" algo ao invés de compreender uma teoria através da razão ou do raciocínio (veja gnosis). Se através do raciocínio se usa a lógica para compreender, com Deus se faz o inverso (veja teologia apofática).

Ocidente[editar | editar código-fonte]

No cristianismo ocidental, a contemplação se relaciona geralmente com o misticismo de teólogos como Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, além de Margery Kempe, Augustine Baker e Thomas Merton.[5] Dom Cuthbert Butler lembra que "contemplação" era um termo utilizado na Igreja Latina para fazer referência ao misticismo, e misticismo é uma palavra bastante moderna.[6]

Contemplação e meditação[editar | editar código-fonte]

No cristianismo, a contemplação se refere a um pensamento limpo direcionado à realização da presença de Deus como algo real. A meditação, por outro lado, foi, por muitos séculos, especialmente no ocidente, referida como exercícios ativos, como visualizações de cenas bíblicas ou a lectio divina - a prática de ler a Bíblia vagarosamente, pensadamente, "degustando" cada versículo.[7]

Commons
Commons
O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Contemplação

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. A visão da luz não criada, que oferece uma compreensão de Deus aos homens, é sensorial e suprassensorial. Os olhos do corpo são reformados para que veja esta luz não criada, "esta misteriosa luz, inacessível, imaterial, não criada, deificante, eterna", esta "radiação da Natureza Divina, esta glória da divindade, esta beleza do reino celeste" (3,1,22;CWS p.80). Palamas pergunta: "Você a luz que é inacessível aos sentidos não transformados pelo espírito?" (2,3,22). São Máximo, cujos ensinamentos são citados por São Gregório, afirma que os apóstolos viram a luz não criada "por uma transformação da ação de seus sentidos, produzida pelo Espírito" (2.3.22).[3]

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 463.
  2. Online Etymological Dictionary
  3. Orthodox Psychotherapy Section The Knowledge of God according to St. Gregory Palamas by Metropolitan Hierotheos Vlachos published by Birth of Theotokos Monastery,Greece (January 1, 2005) ISBN 978-960-7070-27-2
  4. «Theoria». Consultado em 17 de agosto de 2014. Arquivado do original em 2 de janeiro de 2012 
  5. "Contemplation" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  6. Western Mysticism: Augustine, Gregory and Bernard on Contemplation and the Contemplative Life, by Dom Cuthbert Butler. Dover: Mineola, NY, 2003, p.4.
  7. Uma discussão contemporânea sobre meditatio e contemplatio aparece no livro Open Mind, Open Heart: The Contemplative Dimension of the Gospel (1986) ISBN 0-8264-0696-3.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • The Vision of God by Vladimir Lossky, SVS Press, 1997. (ISBN 0-913836-19-2)
  • The Spirituality of the Christian East: A systematic handbook by Tomas Spidlik, Cistercian Publications Inc Kalamazoo Michigan 1986 (ISBN 0-87907-879-0)
  • The Macarian Legacy: The Place of Macarius-Symeon in the Eastern Christian Tradition (Oxford Theological Monographs 2004) by Marcus Plested (ISBN 0-19-926779-0)
  • Being With God by Aristotle Papanikolaou University of Notre Dame Press February 24, 2006 ISBN 0-268-03830-9
  • The Experience of God : Revelation and Knowledge of the Triune God (Orthodox Dogmatic Theology, Volume 1 : Revelation and Knowledge of the Triune God) by Dumitru Staniloae Holy Cross Orthodox Press May 17, 2005 ISBN 0-917651-70-7
  • The Experience of God : Orthodox Dogmatic Theology Volume 2: (The World, Creation and Deification) by Dumitru Staniloae Holy Cross Orthodox Press June 16, 2005 ISBN 1-885652-41-0
  • Western Mysticism: Augustine, Gregory and Bernard on Contemplation and the Contemplative Life. Dom Cuthbert Butler, Dover Publications Inc Mineola, New York 2003 (Second edition, Originally published by E.P. Dutton, London 1926)(ISBN 0-486-43142-8)