Juliana de Mont Cornillon

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Santa Juliana de Mont Cornillon
Juliana de Mont Cornillon
Nascimento 1193
Retinne, perto de Liège, Bélgica
Morte 5 de abril de 1258 (65 anos)
Fosses-la-Ville, Valônia, Bélgica
Veneração por Igreja Católica
Canonização 12 de março de 1599
Roma
por Clemente VIII
Festa litúrgica 6 de abril
Portal dos Santos

Juliana de Mont Cornillon ou Juliana de Liège[1] (Retinnes, 1193Fosses-la-Ville, 5 de abril de 1258). Foi uma freira agostiniana do Convento de "Mont Cornillon". Ficou conhecida por promover a introdução da Festa de Corpus Christi no âmbito da Igreja Católica.

Aos 15 anos de idade optou pela vida religiosa, entrando para o convento de Mont Pelliers. Em 1209, passou a ter visões que solicitavam à Igreja uma festa em honra do Santíssimo Sacramento. Em 1230, confidenciou estas visões ao arcediago de Liège, que viria a ser o papa Urbano IV. Neste mesmo ano, a festa do Corpo de Cristo passou a ser celebrada em Liège.

Posteriormente, o papa Urbano IV, antes de falecer em 1264, instituiu a festa de Corpus Christi.

Juliana de Mont Cornellieu faleceu em 1258, de causas naturais.

Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada em 1599 pelo Papa Clemente VIII.

História[editar | editar código-fonte]

Juliana nasce entre 1191 e 1192 nos arredores de Liège, na Bélgica. É importante sublinhar esse lugar, porque naquele tempo a Diocese de Liège era, por assim dizer, um verdadeiro "cenáculo eucarístico". Antes de Juliana, insignes teólogos haviam ilustrado o valor supremo do Sacramento da Eucaristia e, sempre em Liège, havia grupos de mulheres generosamente dedicados ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa. Guiadas por sacerdotes exemplares, viviam juntas, dedicando-se à oração e às obras de caridade.

Convento de Mont-Cornillon[editar | editar código-fonte]

Órfã aos cinco anos, Juliana, com a irmã Agnese, foi confiada aos cuidados das monjas agostinianas do convento-leprosário de Mont-Cornillon. Foi educada especialmente por uma monja, de nome Sapienza, que acompanhou seu amadurecimento espiritual, até quando a própria Juliana recebeu o hábito religioso e tornou-se também ela monja agostiniana. Adquiriu uma notável cultura, a ponto de ler as obras dos Padres da Igreja em língua latina, em particular Santo Agostinho e São Bernardo. Além de uma vivaz inteligência, Juliana mostrava, desde o início, uma propensão particular para a contemplação; tinha um sentido profundo da presença de Cristo, que experimentava vivendo de modo particularmente intenso o Sacramento da Eucaristia e detendo-se frequentemente a meditar sobre as palavras de Jesus: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20).

Visão[editar | editar código-fonte]

Aos 16 anos teve a primeira visão, que após repetiu-se mais vezes nas suas adorações eucarísticas. A visão apresentava a lua no seu pleno esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor a fez compreender o significado disso que lhe havia aparecido. A lua simbolizava a vida da Igreja sobre a terra, a linha opaca representava, por sua vez, a ausência de uma festa litúrgica, para a instituição da qual era pedido a Juliana que trabalhasse de modo eficaz: uma festa, isto é, na qual os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, avançar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.

Por cerca de 20 anos, Juliana, que nesse meio tempo tornou-se a priora do convento, conservou em segredo essa revelação, que havia preenchido de alegria o seu coração. Depois, confiou-o a outras duas fervorosas adoradoras da Eucaristia, a beata Eva, que conduzia uma vida eremítica, e Isabella, que a havia conhecido no mosteiro de Mont-Cornillon. As três mulheres estabeleceram uma espécie de "aliança espiritual", com o propósito de glorificar o Santíssimo Sacramento. Desejaram envolver também um sacerdote muito estimado, Giovanni di Losanna, canônico na igreja de São Martinho em Liège, rogando-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre o quanto estava em seus corações. As respostas foram positivas e encorajadoras.

Aquilo que aconteceu a Juliana de Cornillon repete-se frequentemente na vida dos Santos: para ter a confirmação de que uma inspiração vem de Deus, é preciso sempre imergir-se na oração, saber esperar com paciência, buscar a amizade e o encontro com outras almas boas, e submeter tudo ao juízo dos Pastores da Igreja. Foi exatamente o Bispo de Liège, Roberto di Thourotte, que, após hesitações iniciais, acolheu a proposta de Juliana e das suas companheiras e instituiu, pela primeira vez, a solenidade de Corpus Domini na sua Diocese. Mais tarde, outros bispos o imitaram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais.

Aos Santos, todavia, o Senhor pede frequentemente o superar das provas, para que a sua fé seja incrementada. Aconteceu também isso a Juliana, que teve que submeter-se à dura oposição de alguns membros do clero e do próprio superior do qual dependia o seu mosteiro. Então, por sua própria vontade, Juliana deixou o convento de Mont-Cornillon com algumas companheiras e, por dez anos, de 1248 a 1258, foi hospedada por vários mosteiros de irmãs cistercienses. Edificava a todos com a sua humildade, não tinha nunca palavras de crítica ou de reprovação para seus adversários, mas continuava a difundir com zelo o culto eucarístico. Morreu em 1258 em Fosses-La-Ville, na Bélgica, na cela onde estava exposto o Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do biógrafo, Juliana morreu contemplando com uma última explosão de amor Jesus Eucaristia, que tinha sempre amado, honrado e adorado.

Solenidade de Corpus Christi[editar | editar código-fonte]

À boa causa da festa de Corpus Domini foi conquistado também Tiago Pantaléon di Troyes, que tinha conhecido a Santa durante seu ministério de arquidiácono em Liège. Foi exatamente ele que, tornado Papa com o nome de Urbano IV, em 1264, instituiu a solenidade do Corpus Domini como festa de preceito para a Igreja universal, na quinta-feira sucessiva a Pentecostes. Na Bula de instituição, intitulada Transiturus de hoc mundo[2] (11 de agosto de 1264), Papa Urbano lembrava com discrição também as experiências místicas de Juliana, confirmando sua autenticidade, e escreve: "Embora a Eucaristia seja celebrada solenemente todos os dias, consideramos justo que, ao menos uma vez por ano, se faça mais honrosa e solene memória. As outras coisas, de fato, de que fazemos memória, nós as aproveitamos com o espírito e com a mente, mas não obtemos por isso a sua real presença. Por sua vez, nessa sacramental comemoração do Cristo, ainda que sob outra forma, Jesus Cristo está presente entre nós na própria substância. Enquanto estava prestes a ascender ao céu, disse: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20).

O Pontífice mesmo desejou dar o exemplo, celebrando a solenidade de Corpus Domini em Orvieto, cidade em que então morava. Foi por sua ordem que, na Matriz da Cidade, conservava-se – e conserva-se ainda – o célebre corporal com os traços do milagre eucarístico acontecido um ano antes, em 1263, em Bolsena. Um sacerdote, enquanto consagrava o pão e o vinho, foi tomado por fortes dúvidas sobre a presença real do Corpo e do Sangue de Cristo no Sacramento da Eucaristia. Milagrosamente, algumas gotas de sangue começaram a fluir da Hóstia consagrada, confirmando, desse modo, aquilo que nossa fé professa. Urbano IV pediu a um dos maiores teólogos da história, São Tomás de Aquino – que naquele tempo acompanhava o Papa e encontrava-se em Orvieto –, para compor os textos do ofício litúrgico dessa grande festa. Esses, ainda hoje em uso na Igreja, são obras-primas, em que se fundem teologia e poesia. 

Estela em memória de Juliana de Cornillon na Abadia de Villers

Embora após a morte de Urbano IV a celebração da festa do Corpus Domini tenha sido limitada em algumas regiões da França, da Alemanha, da Hungria e da Itália setentrional, foi ainda um Pontífice, João XXII, que, em 1317, restaurou-a para toda a Igreja. Daí em diante, a festa sofreu um desenvolvimento maravilhoso, e é ainda muito querida pelo povo cristão.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]



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Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Juliana de Liège». Arquidiocese São Paulo. 29 de outubro de 2014. Consultado em 18 de maio de 2021 
  2. «Bula Transiturus de hoc mundo (11 de agosto de 1264)». www.vatican.va. Consultado em 18 de maio de 2021 
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