Maria Lenk

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Maria Lenk
Maria Lenk
Maria Lenk e o ministro Agnelo Queiroz
Rose Brasil - Agência Brasil
Natação
Nome completo Maria Emma Hulga Lenk Zigler
Modalidade Nadadora
Nascimento 15 de janeiro de 1915
São Paulo, SP
Nacionalidade brasileira
Morte 16 de abril de 2007 (92 anos)
Rio de Janeiro, RJ

Maria Emma Hulga Lenk Zigler (São Paulo, 15 de janeiro de 1915Rio de Janeiro, 16 de abril de 2007) foi a principal nadadora brasileira, tendo sido a única mulher do país a ser introduzida no Swimming Hall of Fame, localizado em Fort Lauderdale, no estado da Flórida.[1][2][3]

Maria Lenk foi a primeira nadadora brasileira a estabelecer um recorde mundial e deu ao Clube de Regatas do Flamengo diversos títulos expressivos.[1][4] É considerada pioneira da natação moderna, já que foi a primeira mulher a usar em competições o nado borboleta, sendo responsável pela introdução deste tipo de nado, quando o nadou nos Jogos Olímpicos de Verão de 1936 em Berlim, em uma prova de peito.[1][5]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Maria Lenk no Arquivo Nacional.

Nascida na cidade de São Paulo, nadava desde os primeiros anos da introdução das competições no Brasil, participando das provas ainda em mar aberto.[1][6]

Tudo começa com uma pneumonia dupla.[6] Depois do susto, os pais acharam que a natação faria bem à saúde da filha de dez anos. Na ausência de piscinas, a paulistana Maria Lenk teve de dar suas primeiras braçadas no Rio Tietê.[7] Nas décadas de 1920 e 1930, o rio, que corta a cidade de São Paulo, não era poluído e era possível banho recreativo e a prática de esportes.[1][8]

Entre os anos de 1932 a 1935, venceu quatro vezes seguidas a tradicional Travessia de São Paulo a Nado.[6][9]

Aos dezessete anos já era uma atleta de nível internacional. Foi a primeira mulher sul-americana a competir em Jogos Olímpicos de Verão ao integrar a delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Verão de 1932, realizados em Los Angeles, nos Estados Unidos.[1][10]

Maria, junto com outros 68 atletas da equipe brasileira, custearam a viagem para competir nas Olimpíadas de Los Angeles, vendendo o café que levaram no porão do navio.[1] "O que valia era o conceito do amadorismo. Eu competi com um uniforme emprestado, que tive de devolver quando as provas acabaram", lembra.[11] Na competição em solo estadunidense defendeu o Brasil em três provas. Nos 100 metros livres, foi até a quarta bateria, não chegando a semifinal.[12] Na prova de 100 metros costas, foi desqualificada na segunda bateria.[13] Nos 200 metros costas, foi até a terceira bateria, mas, não conquistou a vaga para a rodada final.[14]

Nos Jogos Olímpicos de Verão de 1936 realizado em Berlim, na Alemanha, defendeu novamente o selecionado brasileiro.[15] Foi a responsável pela introdução do nado borboleta, quando o nadou nos Jogos Olímpicos de Verão de 1936 em Berlim, em uma prova de peito.[1]

O recorde dos 400 metros nado peito, que atualmente não existe mais, foi de 6min15s80, foi registrado no dia 11 de outubro daquele ano, na piscina do Clube de Regatas Guanabara.[16] No mês seguinte, Lenk nadou 2min56s90 na prova de 200 peito, também na piscina do Guanabara.[1]

Os planos para as Olimpíadas de 1940 tiveram de ser interrompidos por ocasião da Segunda Guerra Mundial, gerando uma grande decepção.[1][17][18]

Maria Lenk na capa da revista argentina El Gráfico de 9 de fevereiro de 1940.

Ela era a grande favorita a ganhar a primeira medalha de ouro olímpica de mulheres brasileiras em esportes individuais. Tal feito só foi realizado 68 anos depois, pela saltadora Maurren Maggi, nos Jogos Olímpicos de Pequim.[19]

No início da década de 1940, foi a única mulher da delegação de nadadores sul-americanos que excursionou pelos Estados Unidos; Maria Lenk quebrou doze recordes norte-americanos e aproveitou sua estadia para concluir o curso de educação física na Universidade de Illinois em Springfield.[1]

Em 1942 ajudou a fundar a Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi professora da universidade por mais de quatro décadas.[20] Era também membro vitalício da Sociedade Americana de Técnicos de Natação.[1][21]

Ainda hoje detém diversos recordes mundiais de masters, entrando para o Hall da Fama da Federação Internacional de Natação (FINA) em 1988, quando foi homenageada com o Top Ten da entidade máxima do esporte por ser um dos dez melhores nadadores master do mundo.[1]

No campeonato mundial da categoria 85-90 anos, realizado em agosto de 2000, ela voltou de Munique com cinco medalhas de ouro: foi a campeã dos 100 metros peito, 200 metros livre, 200 metros costas, 200 metros medley e 400 metros livre.[1][22][23] Nesse torneio, Lenk, ganhou o apelido de Mark Spitz da terceira idade, uma referência às sete medalhas de ouro que o nadador norte-americano ganhou nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972 em Munique.[1]

Em 2003, após três anos de pesquisas, lançou o livro Longevidade e Esporte, onde mostrou os benefícios trazidos pela prática de esportes.[24][25] Até os últimos dias de vida nadava cerca de 1.500 metros por dia.[1]

Maria Lenk é recebida pelo Presidente Getúlio Vargas. Arquivo Nacional.

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Maria Lenk ingressou no International Swimming Hall of Fame, no ano de 1988. Foi a primeira brasileira a ser incluída no Hall.[26]

Em 13 de janeiro de 2007, a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro por meio do então prefeito Cesar Maia (DEM), publicou decreto do executivo municipal dando o nome de Maria Lenk para o Parque Aquático do Jogos Pan-Americanos de 2007.[1][27][28][29]

No ano de 2015, entrou para a lista "10 Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio".[30]

No dia 20 de julho de 2022, por meio de decreto do então presidente Jair Bolsonaro (PL), foi declarada Patrona da Natação Brasileira através da Lei Nº 14.418/2022.[31]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Era filha de imigrantes alemães, Paul e Rosa Lenk, que vieram para o Brasil em 1912,[32] e irmã da também nadadora Sieglinde Zigler, e de Ernesto Lenk, que se especializou no basquete.[33] Era viúva e mãe de um casal de filhos: Gilbert e Marlen.[34][35]

Apesar dos feitos, Maria Lenk foi uma personagem contraditória; ao mesmo tempo que muitos a viam como uma pioneira, outros tinham muitas restrições, pois Lenk possuía uma personalidade muito forte e foi uma professora de atitude muito séria e rígida diante dos alunos e colegas de trabalho.

Morte[editar | editar código-fonte]

Maria Lenk morreu aos noventa e dois anos de idade, em consequência de parada cardiorrespiratória, em meio ao seu treino nas dependências do clube social do Flamengo.[32][4] Foi encaminhada para o hospital Copa D'Or, em Copacabana, mas não resistiu.[36][37]

Em 2022, o acervo de Maria Lenk foi doado para o Arquivo Nacional (AN) no Rio de Janeiro, por Francisco da Costa e Silva Júnior, sobrinho da atleta.[38]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q Pussieldi, Alex (15 de janeiro de 2015). «Feliz centenário Maria Lenk». Best Swimming. Consultado em 15 de janeiro de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  2. «Perfil de Maria Lenk». Sports Reference. 2015. Consultado em 15 de janeiro de 2015. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2013 
  3. «Maria Lenk». Olympedia. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 9 de junho de 2020 
  4. a b Souto, Vinícius (16 de abril de 2007). «Flamengo decreta luto oficial por Maria Lenk». UOL. Consultado em 30 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 30 de novembro de 2023 
  5. «5 nadadoras que marcaram a história das mulheres no esporte». 4 Fit Academia. 8 de julho de 2021. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de janeiro de 2022 
  6. a b c «Maria Lenk». Estadão. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 19 de abril de 2023 
  7. Garcia, Maria (25 de outubro de 2019). «Ela treinava no rio Tietê e entrou para o Hall da Fama da natação». Observatório do Terceiro Setor. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 29 de novembro de 2023 
  8. «A Bial, Manoel Carlos revela qual sua obra favorita: 'Meus filhos mortos me dão grande orgulho'». gshow. 10 de outubro de 2020. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2020 
  9. Lajolo, Mariana (13 de abril de 2014). «Há 70 anos, nadadora cruzou o Tietê e venceu prova tão badalada quanto a São Silvestre». Folha de S.Paulo. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 17 de abril de 2014 
  10. Farias, Cláudia Maria de (junho de 2009). «Entre lembranças e silêncios: reflexões sobre uma autobiografia feminina». Estudos Históricos (Rio de Janeiro): 238–257. ISSN 0103-2186. doi:10.1590/S0103-21862009000100013. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 29 de novembro de 2023 
  11. «Uma jornada de pioneirismo e paixão da primeira à última braçada». Comitê Olímpico do Brasil. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 29 de abril de 2023 
  12. «100 metres Freestyle, Women». Olympedia. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 7 de junho de 2020 
  13. «100 metres Backstroke, Women». Olympedia. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 15 de abril de 2023 
  14. «200 metres Breaststroke, Women». Olympedia. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 10 de agosto de 2023 
  15. «Maria Lenk e a piscina olímpica; a natação». Clube de Regatas Guanabara. 18 de novembro de 2019. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 4 de agosto de 2020 
  16. «Clube de Regatas Guanabara tem a primeira piscina olímpica do Brasil e cinco recordes mundiais». Descubra a Essência do Rio | Agenda Bafafá. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 29 de novembro de 2023 
  17. Droubie, Paul (21 de julho de 2021). «The Phantom Olympics: Why Japan Forfeited Hosting the 1940 Olympics». Perspective of History (em inglês). Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 2 de novembro de 2023 
  18. «Maria Lenk: a primeira brasileira a disputar uma Olimpíada». Terra. 20 de setembro de 2021. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 29 de novembro de 2023 
  19. Zalcman, Fernanda (16 de julho de 2020). «Maurren Maggi: a primeira mulher brasileira campeã olímpica individual». Olimpíada Todo Dia. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 11 de junho de 2022 
  20. «Morre, aos 92 anos, Maria Lenk, pioneira da natação brasileira – Conexão UFRJ». Universidade Federal do Rio de Janeiro. 16 de abril de 2007. Consultado em 30 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 30 de novembro de 2023 
  21. «Uma história de pioneirismo e recordes». Portal da Câmara dos Deputados. 9 de fevereiro de 2021. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 23 de junho de 2022 
  22. «Pioneira do esporte brasileiro, Maria Lenk recebe homenagem em medalhas da coleção 'Grandes Ídolos do Esporte'». ESPN.com. 5 de abril de 2022. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 22 de junho de 2022 
  23. «O DNA da Pedagogia Esportiva». Guarani Sport. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 29 de novembro de 2023 
  24. «Maria Lenk lança livro Longevidade e Esporte». Agência Brasil. 9 de janeiro de 2023. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de maio de 2016 
  25. Castanha, Lídia (19 de junho de 2021). «Maria Lenk: a primeria mulher brasileira a participar das Olímpiadas». Gazeta Vargas. Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 26 de março de 2023 
  26. «Medalhista olímpico, Gustavo Borges entra para o Hall da Fama da natação». ge. 9 de maio de 2012. Consultado em 9 de maio de 2012. Cópia arquivada em 23 de fevereiro de 2022 
  27. «Maria Lenk com Despedida na Piscina». Travessias. 11 de Fevereiro de 2017. Consultado em 11 de fevereiro de 2017. Arquivado do original em 11 de fevereiro de 2017 
  28. Pontes, Fernanda (7 de julho de 2007). «Cesar Maia participa da inauguração da Arena do Rio». Extra. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 29 de novembro de 2023 
  29. «Prefeito visitará parque aquático». Extra. 16 de fevereiro de 2007. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 29 de novembro de 2023 
  30. Boeckel, Cristina (8 de março de 2015). «Confira lista de grandes mulheres que marcaram a história do Rio; veja 10». G1. Rio 450 anos. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 10 de março de 2015 
  31. Bolsonaro, Jair (20 de julho de 2022). «LEI Nº 14.418, DE 20 DE JULHO DE 2022». Diário Oficial da União. Consultado em 29 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 14 de abril de 2023 
  32. a b «Maria Lenk». Olimpianos. Consultado em 21 de fevereiro de 2017. Arquivado do original em 21 de fevereiro de 2017 
  33. Bernstein, Idries (27 de maio de 2021). «Maria Lenk: a mulher que fez história dentro e fora das piscinas». Em Todo Lugar. Faculdades Integradas Hélio Alonso. Consultado em 30 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 4 de junho de 2023 
  34. «Biografia: Maria Lenk - A primeira mulher sul-americana a competir em Olimpíadas.». Mulher Atleta. Consultado em 30 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 24 de novembro de 2023 
  35. «Maria Lenk - Que fim levou?». Terceiro Tempo. Consultado em 30 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 30 de novembro de 2023 
  36. «Pioneira da natação brasileira, Maria Lenk morre aos 92 anos». UOL. 16 de abril de 2007. Consultado em 30 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 30 de novembro de 2023 
  37. «Morre a ex-nadadora Maria Lenk, pioneira em Olimpíada». Portal da Câmara dos Deputados. 16 de abril de 2007. Consultado em 30 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 30 de novembro de 2023 
  38. «Acervo das irmãs Lenk é doado para o Arquivo Nacional». Arquivo Nacional. 27 de abril de 2022. Consultado em 30 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de abril de 2022 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Recordes
Precedido por
Países Baixos Jopie Waalberg
Detentora do recorde mundial
200 metros peito (piscina longa)

8 de novembro de 1939 — 19 de março de 1941
Sucedido por
Alemanha Anni Kapell
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