Estação ferroviária de Valença
Valença ![]() | |
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Inauguração | 6 de Agosto de 1882 (provisória) 8 de Dezembro de 1884 (definitiva) |
Linha(s) | Linha do Minho (PK 129,769) R. Int. de Valença (PK 129,769) |
Coordenadas | 42° 01′ 29,19″ N, 8° 38′ 21,84″ O |
Concelho | Valença |
Serviços Ferroviários | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
Serviços | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
Vigo - Guixar / Corunha (Std. Galiza )
Valença
São Pedro da Torre (Sentido Porto)
A Estação Ferroviária de Valença, também conhecida como Valença do Minho, é uma interface da Linha do Minho e do Ramal Internacional de Valença, que serve a localidade de Valença, no Distrito de Viana do Castelo, em Portugal. Entrou ao serviço de forma provisória em 6 de Agosto de 1882[1], tendo sido inaugurada definitivamente em 8 de Dezembro de 1884.[2]
Caracterização[editar | editar código-fonte]
Localização e acessos[editar | editar código-fonte]
Situa-se em frente ao Largo da Estação, na localidade de Valença.[3][4]
Arquitectura e complexo[editar | editar código-fonte]
O edifício da estação foi planeado de forma a apresentar um estilo simples mas elegante, de forma a manter um aspecto agradável sem aumentar os custos de construção, condição que era considerada muito importante.[2] Na altura da sua inauguração, o edifício tinha 66 m de comprimento por 14 de largura, com dimensões e arquitectura semelhantes às da Viana do Castelo.[2] Era composto por um pavilhão central, com três portas e janelas para o lado da rua, e por dois torreões laterais, ligados ao corpo central por galerias.[2] O edifício estava totalmente coberto por telhados, que no pavilhão central e nos torreões laterais apresentavam águas-furtadas com cobertura no estilo Mansard.[2] Na frontaria do edifício foi colocado um relógio, fornecido pelo relojoeiro portuense Germano Courrège.[2] O alpendre coberto, fabricado nas oficinas da Fundição de Massarelos, protegia uma área de 820 m², sendo suportado por oito colunas de ferro fundido; as empenas e a lanterna tinham aberturas em vidro fosco.[2] As grades nas vedações também foram produzidas na Fundição de Massarelos.[2]
O complexo da estação incluía igualmente duas cocheiras, uma para carruagens e outra para locomotivas.[2] O edifício das carruagens, de duas naves, tinha uma área de 320 m², podendo albergar oito veículos.[2] Nas sobrelojas foram instaladas habitações para o pessoal, com espaços isolados para três famílias e um grupo de funcionários celibatários.[2] A cocheira das locomotivas apresentava uma superfície de 350 m², com espaço para quatro locomotivas e os seus tenders, e possuía um anexo onde foi instalado um quartel para os maquinistas e fogueiros, e uma habitação para o chefe de reserva.[2]
Os pavimentos térreos, tanto nos interiores como nos passeios, foram cobertos por formigão hidráulico do tipo Wilkinson, ou por ladrilho mosaico fabricado em Portugal.[2]
A estação também contava com placas giratórias, fabricadas pela empresa belga John Cockerill nas suas instalações em Seraing, enquanto que a ponte rotativa para locomotivas foi fornecida pela casa alemã G. Dullwer, e reformada nas oficinas gerais do Minho e Douro.[2] O material das agulhas e cruzamentos também foi fabricado na Alemanha, em Bochum.[2] De França vieram a báscula de 20 toneladas, fornecida pela empresa francesa Travyon de Lyon, o guindaste fixo de 6 T, fabricado pela Fives-Lille em Liège, e a tina do reservatório de 40 m cúbicos.[2]
Vias e plataformas[editar | editar código-fonte]
No Directório da Rede 2011, lançado pela empresa Rede Ferroviária Nacional em 25 de Março de 2010, a estação de Valença dispunha de três vias de circulação, com 397, 365 e 248 m de comprimento; as gares tinham 154, 141 e 99 m de extensão e 30 cm de altura.[5] Em Dezembro do ano seguinte, as três vias já tinham sido reduzidas, apresentando 159, 147 e 101 m de comprimento, enquanto que as correspondentes plataformas foram aumentadas para 159 e 147 m, e elevadas para 40 cm.[6] Em Dezembro de 2012, as vias já tinham sido novamente modificadas, passando as primeiras duas a apresentar 452 m de extensão, e a terceira, 351 m; as plataformas também foram alteradas, ficando com 159, 146 e 101 m de comprimento, e 25 cm de altura.[7]
História[editar | editar código-fonte]
Século XIX[editar | editar código-fonte]
Planeamento e construção[editar | editar código-fonte]
O projecto para a estação de Valença foi produzido pelo director da construção na divisão governamental dos Caminhos de Ferro do Minho e Douro, o engenheiro Augusto Luciano Simões de Carvalho, e aprovado por uma portaria de 12 de Maio de 1882.[2] A empreitada para as obras de pedra foi executada por D. Gabriel Beitia, as de trolha por Domingos Gonçalves dos Santos, e as de carpintaria por Antonio Rodrigues da Fonseca.[2] As obras de construção começaram em 15 de Maio de 1882, tendo sido assentes as pedras angulares em 24 de Agosto desse ano.[2] Foi instalada num ângulo formado pelas estradas de Monção e Caminha, a cerca de 500 m das portas da Praça de Valença.[2]
Inauguração[editar | editar código-fonte]
O troço da Linha do Minho entre Segadães e Valença entrou ao serviço em 6 de Agosto de 1882[8][9][10], de forma provisória.[2] O serviço de pequena velocidade iniciou-se em 15 de Abril de 1883, e a inauguração definitiva ocorreu em 8 de Dezembro de 1884.[2]
Ligação fronteiriça[editar | editar código-fonte]

Em 1864, uma comissão técnica luso-espanhola estabeleceu que deviam ser construídas 5 ligações de caminhos de ferro entre ambos os países, incluindo uma de Valença a Tuy.[11] O troço desde a estação de Valença até à fronteira, incluindo a Ponte Rodo-Ferroviária de Valença, foi inaugurado em 25 de Março de 1886.[1][12][13]
Transição para os Caminhos de Ferro do Estado[editar | editar código-fonte]
Uma lei de 14 de Julho de 1899 fundiu os Caminhos de Ferro do Minho e Douro com os Caminhos de Ferro do Sul e Sueste numa só divisão, criando os Caminhos de Ferro do Estado.[14]
Século XX[editar | editar código-fonte]
Continuação até Monção[editar | editar código-fonte]
Desde o Século XIX que se procurou continuar a linha além de Valença, de forma a servir as regiões de Monção e Melgaço, tendo-se planeado originalmente que a linha fosse do tipo americano, de via estreita, sobre o leito das estradas.[15] Este projecto foi substituído por um troço de via larga entre Valença e Monção, classificado como parte da rede complementar do Minho por um decreto de 15 de Fevereiro de 1900.[16] A Gazeta dos Caminhos de Ferro de 1 de Dezembro de 1905 noticiou que se iniciriam em breve as obras no lanço entre Valença e Monção,[17] tendo o primeiro lanço, até Lapela, entrado ao serviço em 15 de Junho de 1913.[1]
A estação foi palco de combates durante as Incursões Monárquicas de 1912, tendo sido atacada pelos couceiristas no dia 12 de Julho.[18]
Em 1913, existia um serviço de automóveis e outro de diligências entre Melgaço e a estação de Valença, indo as diligências até São Gregório.[19]

Transição para a CP[editar | editar código-fonte]
Em 1927, os Caminhos de Ferro do Estado foram integrados na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, que passou a explorar as antigas linhas do estado, incluindo a do Minho.[20]
Em 16 de Setembro de 1934, esta estação foi utilizada no transporte dos convidados e jornalistas para a cerimónia de inauguração do Sanatório de Paredes de Coura.[21]
Durante a Guerra Civil Espanhola, Valença foi um ponto de passagem para os diplomatas, estrangeiros e outros refugiados, que se deslocaram de comboio, para fugir aos combates.[22]
Entre 14 de Maio e 1 de Outubro de 1950, circulou uma carruagem directa de Lisboa a Corunha, servindo igualmente Valença; esta carruagem vinha anexa ao Rápido do Porto, evitando desta forma a necessidade de transbordo em Campanhã.[23] Esta iniciativa teve um grande sucesso, devido, entre outros factores, à qualidade do serviço, tendo sido o melhor ano até então em termos de movimento de passageiros pela fronteira de Valença.[23]
Em 16 de Agosto de 1968, a Gazeta dos Caminhos de Ferro noticiou que a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses estava a preparar a realização de obras de renovação parcial no troço entre Nine e Valença, a ser executado por um consórcio das empresas SOMAFEL, Somapre, A. Borie e A. Dehé.[24]
Em 1977, a operadora Red Nacional de Ferrocarriles Españoles tinha um representante nesta estação; nesta altura, também era aqui que se mudava o pessoal de bordo, nos comboios internacionais.[25]
Em 1979, foi formado o Núcleo Muselógico de Valença, nas antigas cocheiras desta estação; este acto inseriu-se no âmbito de um programa a nível nacional da operadora Caminhos de Ferro Portugueses, para a preservação do material histórico ferroviário.[26]
Até ao final da Década de 1980, circulou um serviço internacional misto da Red Nacional de Ferrocarriles Españoles, com a classificação de omnibus, entre as localidades de Guillarei e Valença, passando por Tui.[27]
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Comboios de Portugal
- Infraestruturas de Portugal
- Transporte ferroviário em Portugal
- História do transporte ferroviário em Portugal
Referências
- ↑ a b c «Troços de linhas férreas portuguesas abertas à exploração desde 1856, e a sua extensão» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 69 (1652). 16 de Outubro de 1956. p. 528-530. Consultado em 20 de Dezembro de 2013
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v RODRIGUES, Manuel M. (11 de Abril de 1885). «Estação de Valença» (PDF). O Occidente: Revista Illustrada de Portugal e do Extrangeiro. 8 (227). p. 83-84. Consultado em 23 de Janeiro de 2016
- ↑ «Valença». Comboios de Portugal. Consultado em 1 de Dezembro de 2014
- ↑ «Valença - Linha do Minho». Infraestruturas de Portugal. Consultado em 20 de Dezembro de 2013
- ↑ «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2011. Rede Ferroviária Nacional. 25 de Março de 2010. p. 67-89
- ↑ «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2012 1ª Adenda. Rede Ferroviária Nacional. 30 de Dezembro de 2011. p. 54-67
- ↑ «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2014. Rede Ferroviária Nacional. 7 de Dezembro de 2012. p. 59-73
- ↑ MARTINS et al, 1996:12
- ↑ SERRÃO, 1980:194
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (16 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1684). p. 91-95. Consultado em 23 de Janeiro de 2016
- ↑ SOUSA, José Fernando de (16 de Março de 1936). «Ligações ferroviárias com a Espanha: A Linha de Zafra a Villa Nueva» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 48 (1158). p. 165-167. Consultado em 20 de Dezembro de 2013
- ↑ SERRÃO, 1986:234-235
- ↑ REIS et al, 2006:12
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (1 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1683). p. 75-78. Consultado em 23 de Janeiro de 2016
- ↑ «Linha do Alto Minho» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 15 (343). 1 de Abril de 1902. p. 97-98. Consultado em 6 de Outubro de 2015
- ↑ «Há 50 anos» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 67 (1594). 16 de Maio de 1954. p. 130-131. Consultado em 6 de Outubro de 2015
- ↑ «Há 50 anos» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 68 (1631). 1 de Dezembro de 1955. p. 478. Consultado em 5 de Janeiro de 2019
- ↑ ABREU, 1986:56
- ↑ «Serviço de Diligencias». Guia official dos caminhos de ferro de Portugal. 39 (168). Outubro de 1913. p. 152-155. Consultado em 19 de Março de 2018
- ↑ REIS et al, 2006:62
- ↑ «Uma obra de assistência» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 46 (1123). 1 de Outubro de 1934. p. 491-495. Consultado em 20 de Dezembro de 2013
- ↑ FERREIRA, Armando (1 de Novembro de 1936). «Os Caminhos de Ferro e a Estratégia» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 48 (1173). p. 506. Consultado em 20 de Dezembro de 2013
- ↑ a b AGUILAR, Busquets de (1 de Janeiro de 1951). «Comunicações Ferroviárias Internacionais» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 63 (1513). p. 473-475. Consultado em 23 de Janeiro de 2016
- ↑ «Vão melhorar os serviços da C. P.» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 81 (1928). 16 de Agosto de 1968. p. 96. Consultado em 20 de Dezembro de 2013
- ↑ TIJERAS, Eduardo (Fevereiro de 1977). «La Frontera Hispano-Lusa Ferroviaria por Galicia». Via Libre (em espanhol). 13 (157). Madrid: Gabinete de Información y Difusión de RENFE. p. 27-31
- ↑ MARTINS et al, 1996:47
- ↑ TUR, Lluís Prieto i (Setembro–Dezembro de 1991). «Locomotoras de Maniobras en RENFE». Carril (em espanhol) (34). Barcelona: Associació d'Amics del Ferrocarril-Barcelona. p. 35-45
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- ABREU, Alberto A. (2010). Viana do Castelo. Roteiros Republicanos. Matosinhos: Quidnovi, Edição e Conteúdos, S. A. 128 páginas. ISBN 978-989-554-736-4
- MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- SERRÃO, Joaquim Veríssimo (1986). História de Portugal. O Terceiro Liberalismo (1851-1890). [S.l.]: Verbo. 423 páginas
- SERRÃO, Joel (1980). Cronologia Geral da História de Portugal 4.ª ed. Lisboa: Livros Horizonte. 247 páginas
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Galeria de fotografias da Estação de Valença, no sítio electrónico Railfaneurope (em inglês)
- Página com fotografias da Estação de Valença, no sítio electrónico Railpictures (em inglês)
- Página sobre a Estação Ferroviária de Valença, no sítio electrónico Wikimapia