Estação Ferroviária de Casa Branca

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Casa Branca
Estação Ferroviária de Casa Branca
vista geral da estação de Casa Branca, antes da renovação de 2011
Identificação: 74005 CBR (Casa Branca)[1]
Denominação: Estação Satélite de Casa Branca
Administração: Infraestruturas de Portugal (sul)[2]
Classificação: ES (estação satélite)[1]
Tipologia: C [2]
Linha(s):
Linha do Alentejo(PK 90+406)
Linha de Évora(PK 90+406)
Altitude: 203 m (a.n.m)
Coordenadas: 38°29′53.24″N × 8°9′27.81″W

(=+38.49812;−8.15773)

Mapa

(mais mapas: 38° 29′ 53,24″ N, 8° 09′ 27,81″ O; IGeoE)
Município: border link=Montemor-o-NovoMontemor-o-Novo
Serviços:
Estação anterior Comboios de Portugal Comboios de Portugal Estação seguinte
Évora
terminal
  IC   Vendas Novas
Lis-Oriente
Alcáçovas
Beja
    Terminal
    Évora
terminal

Equipamentos: Lavabos Elevadores Acesso para pessoas de mobilidade reduzida Sala de espera Parque de estacionamento
Endereço: Largo 1.º de Maio, s/n
PT-7050-520 Casa Branca MMN
Website:

A Estação Ferroviária de Casa Branca é uma gare da Linha do Alentejo, que serve a localidade de Casa Branca, no concelho de Montemor-o-Novo, em Portugal, e funciona como ponto de entroncamento com a Linha de Évora.

Viaduto da EN2 sobre as vias da estação de Casa Branca, vistas da plataforma coberta, para poente, em 2004.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Estação de Casa Branca, em 2009.

Localização e acessos[editar | editar código-fonte]

Esta interface situa-se na localidade de Casa Branca, tendo acesso pelo Largo 1º de Maio ou da Estação Ferroviária.[3]

Infraestrutura[editar | editar código-fonte]

Esta interface apresenta seis vias de circulação, identificadas como I, II, III, IV, IIIA e III+IIIA, com comprimentos entre 309 e 945 m, sendo as três primeiras acessíveis por plataforma de 220 m de comprimento e 685 mm de altura; existem ainda duas vias secundárias, identificadas como V e VI, com comprimentos de 444 e 334 m; todas estas vias estão eletrificadas em toda a sua extensão.[2] O edifício de passageiros situa-se do lado norte da via (lado esquerdo do sentido ascendente, a Funcheira).[4][5]

Enquanto ponto de entroncamento da Linha de Évora na Linha do Alentejo, o local desta interface é um ponto de câmbio nas características da via férrea e do seu uso:

Casa Branca enquanto limiar de tipologia ferroviária:[2]
característica L.ª Alentejo desc. L.ª Alentejo asc. L.ª Évora
eletrif. Vendas Novas 25 kV ~ 50 Hz Beja (não) Évora 25 kV ~ 50 Hz
reg. expl. Vendas Novas RCASA Beja RCT Monte das Flores RCASA
vel. máx. Vendas Novas >160 km/h Beja 120-160 km/h Évora >160 km/h
compr. máx. Vendas Novas 750 m Beja 505 m Évora 750 m
contorno Vendas Novas PT b+ (CPb+) Beja PT b+ (CPb+) Évora PT b (CPb)
comunicações Vendas Novas GSM-R Beja Évora GSM-R

Serviços[editar | editar código-fonte]

Em dados de 2023, esta interface é servida por comboios de passageiros da C.P. de tipo intercidades, com cinco circulações diárias em cada sentido.[6]

Horários dos comboios do Sul e Sueste, em 1872.

História[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: História da Linha do Alentejo

Século XIX[editar | editar código-fonte]

Esta interface encontra-se no lanço entre Vendas Novas e Évora, que abriu em 14 de Setembro de 1863,[7][8] enquanto que a linha férrea até Beja entrou ao serviço no dia 15 de Fevereiro de 1864.[9]

Segundo a Gazeta dos Caminhos de Ferro de 16 de Maio de 1897, um alvará autorizou o Barão de Matosinhos a instalar três linhas férreas sobre estradas na região do Alentejo, uma destas ligando Casa Branca a Sines, com passagem por Santiago do Cacém, Grândola, Alcácer do Sal e Montemor-o-Novo.[10]

Casas para pessoal. Esta fotografia foi publicada na Gazeta dos Caminhos de Ferro, em 1934.

Século XX[editar | editar código-fonte]

Em princípios de 1902, ocorreu um incêndio de grandes proporções nesta estação, que se iniciou no armazém de cortiças mas que depressa se espalhou a outras dependências, tendo sido destruída uma grande quantidade de mercadorias e danificadas várias infra-estruturas, incluindo o edifício de passageiros.[11] Em 13 de Novembro desse ano, o Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Manuel Francisco de Vargas pediu a construção de uma escola junto à estação, para servir os filhos dos funcionários dos caminhos de ferro.[12] Este requerimento foi aceite por Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro no mesmo dia, devendo a escola ser construída pela Administração dos Caminhos de Ferro do Estado, e assumir a denominação de Escola Maria Amélia, em honra da rainha.[12]

Em 1 de Fevereiro de 1908, ocorreu um descarrilamento nesta estação, que atrasou em cerca de uma hora o comboio real com destino ao Barreiro.[13] Pouco depois da chegada a Lisboa, a família real foi alvo de um atentado, tendo morrido o Rei D. Carlos e o príncipe D. Luís.[13] Em 1926, o governo determinou que no plano da rede ferroviária ao Sul do Tejo fosse introduzida uma nova via férrea entre Casa Branca e Alcácer do Sal, situada na Linha do Sado.[14] Em 3 de Fevereiro de 1927, os empregados dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste aderiram à revolução no Porto, tendo entrado em greve e recolhido todo o material circulante nesta estação.[15] Em 11 de Maio desse ano, os Caminhos de Ferro do Estado passaram a ser explorados pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses.[16]

Saída das linhas do Alentejo (esq.) e de Évora (d.ta), na Estação de Casa Branca, em 2009 — antes da eletrificação.

No ano de 1933, a Comissão Administrativa do Fundo Especial de Caminhos de Ferro aprovou a instalação de uma divisão de Via e Obras nesta estação.[17] No ano seguinte, foi alvo de grandes obras de reparação, por parte da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses,[18] e em 1935 foram construídas as instalações para a 12.ª secção da divisão do Sul e Sueste da CP.[19]

Em 20 de Março de 1948, teve lugar a viagem experimental de uma automotora sueca, entre Casa Branca e Vila Viçosa,[20] A experiência foi bem sucedida, tendo as automotoras sido colocadas nos serviços regulares ao longo deste lanço.[21]

Século XXI[editar | editar código-fonte]

Em 10 de Maio de 2010, foram suspensos os serviços na Linha do Alentejo, devido a um projecto da Rede Ferroviária Nacional para a remodelação da linha.[22] A circulação foi reatada no dia 23 de Julho de 2011.[23]

Em Janeiro de 2011, contava com três vias de circulação, que tinham 550, 420 e 380 m de comprimento; as plataformas tinham 170 e 129 m de extensão, e 55 e 40 cm de altura[24] — valores mais tarde[quando?] ampliados para os atuais.[2]

Referências literárias[editar | editar código-fonte]

O escritor Fialho de Almeida descreveu a passagem pela estação, no seu livro A Cidade do Vício (1882):

Na Casa Branca, quando o trem parou, despertei ao ruído da portinhola que se abria, e entrou um homem com uma criança de luto. «Tenha o senhor boas noites!» Disse ele, erguendo o chapeirão desabado. E desembaraçando-se da capa espanhola, bandada de roxo, com alamares de corrente, pôs-se a empurrar para baixo do banco a mala de tapete que trouxera. [...] Depois de se sentar resfolegou do esforço que fizera a empurrar a mala, ergueu a gola do gabão ao pequenito. [...] A criança estava para um canto, e de dentro do gabão pardo, os seus grandes olhos tristes erravam curiosamente por mim, pensativos e húmidos.
— Fialho de Almeida

  A Cidade do Vício, p. 129

Aspeto da gare, na década de 1980.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b (I.E.T. 50/56) 56.º Aditamento à Instrução de Exploração Técnica N.º 50 : Rede Ferroviária Nacional. IMTT, 2011.10.20
  2. a b c d Diretório da Rede 2024. I.P.: 2022.12.09
  3. «Casa Branca - Linha do Alentejo». Infraestruturas de Portugal. Consultado em 12 de Junho de 2017 
  4. (anónimo): Mapa 20 : Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1985), CP: Departamento de Transportes: Serviço de Estudos: Sala de Desenho / Fergráfica — Artes Gráficas L.da: Lisboa, 1985
  5. Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1988), C.P.: Direcção de Transportes: Serviço de Regulamentação e Segurança, 1988
  6. Horário Comboios : Lisboa ⇄ Évora / Beja («Horário em vigor desde 11 dezembro 2022»). Esta informação refere-se aos dias úteis.
  7. SANTOS, 1995:111
  8. MARTINS et al, 1996:243
  9. TORRES, Carlos Manitto (1 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 70 (1683). p. 75-78. Consultado em 28 de Julho de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  10. «Há Quarenta Anos» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 49 (1186). Lisboa. 16 de Maio de 1937. p. 262. Consultado em 12 de Novembro de 2023 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  11. «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (339). 1 de Fevereiro de 1902. p. 42. Consultado em 28 de Julho de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  12. a b «Parte Official» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (358). 16 de Novembro de 1902. p. 339-340. Consultado em 30 de Outubro de 2011 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  13. a b RAMOS, 2013:315
  14. «Efemerides» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 51 (1235). Lisboa. 1 de Junho de 1939. p. 281. Consultado em 12 de Novembro de 2023 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  15. MARTINS et al, 1996:256-257
  16. REIS et al, 2006:63
  17. «Direcção-Geral de Caminhos de Ferro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 46 (1102). 16 de Novembro de 1933. p. 601-602. Consultado em 6 de Dezembro de 2011 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  18. «O que se fez nos Caminhos de Ferro Portugueses, durante o ano de 1934» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1130). 16 de Janeiro de 1935. p. 50-51. Consultado em 29 de Maio de 2013 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  19. «Os nossos Caminhos de Ferro em 1935» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 48 (1154). 16 de Janeiro de 1936. p. 52-55. Consultado em 29 de Maio de 2013 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  20. «Os Caminhos de Ferro Portugueses e a sua modernização» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 60 (1447). Lisboa. 1 de Abril de 1948. p. 257. Consultado em 12 de Novembro de 2023 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  21. «Linhas portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 60 (1463). Lisboa. 1 de Dezembro de 1948. p. 644. Consultado em 12 de Novembro de 2023 – via Hemeroteca Digital de Lisboa 
  22. «Circulação ferroviária na linha do Alentejo interrompida a partir de hoje». Rádio Pax. 16 de Março de 2011. Consultado em 9 de Outubro de 2010. Arquivado do original em 9 de julho de 2009 
  23. «Circulação ferroviária na Linha do Alentejo é retomada hoje». Linhas de Elvas. 24 de Julho de 2011. Consultado em 30 de Outubro de 2011 [ligação inativa] 
  24. «Linhas de Circulação e Plataformas de Embarque». Directório da Rede 2012. Rede Ferroviária Nacional. 6 de Janeiro de 2011. p. 71-85 
Pormenor da locomotiva a vapor n.º 0201, estacionada na rotunda de Casa Branca.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ALMEIDA, Fialho de (1982) [1882]. A Cidade do Vício 10.ª ed. Lisboa: Clássica Editora. 293 páginas 
  • SANTOS, Luís Filipe Rosa (1995). Os Acessos a Faro e aos Concelhos Limítrofes na Segunda Metade do Séc. XIX. Faro: Câmara Municipal de Faro. 213 páginas 
  • MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas 
  • RAMOS, Rui (2013). D. Carlos 1863-1908. Col: Reis de Portugal 8.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores e Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa. 392 páginas. ISBN 9724235874 
  • REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]