Estabilizador de humor

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Um frasco com cápsulas de lítio. O lítio é um estabilizador de humor clássico.

Um estabilizador de humor é um medicamento psiquiátrico usado para tratar transtornos de humor caracterizados por mudanças de humor intensas e frequentes, como aquelas presentes no transtorno bipolar e no tipo bipolar do transtorno esquizoafetivo.

Usos[editar | editar código-fonte]

Os estabilizadores de humor são utilizados predominantemente no tratamento do transtorno bipolar,[1] evitando mudanças de humor para episódios de mania (ou hipomania) e de depressão. Os estabilizadores do humor também podem ser usados no transtorno esquizoafetivo, quando este é do tipo bipolar.[2]

Exemplos[editar | editar código-fonte]

O termo "estabilizador de humor" não descreve com precisão um mecanismo de ação, mas sim um efeito. Uma terminologia mais precisa, com base na farmacologia, é usada para classificar melhor esses compostos. As drogas comumente classificadas como estabilizadores de humor incluem:

Minerais[editar | editar código-fonte]

  • Lítio – o lítio é descrito como o estabilizador de humor "clássico", pois foi o primeiro a ser aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) e ainda continua popular. O monitoramento desse medicamento é necessário para garantir que os níveis de lítio permaneçam na faixa terapêutica, que varia de 0,6 a 0,8-1,2 mEq/L. Os sinais e sintomas de toxicidade incluem náuseas, vômitos, diarreia e ataxia.[3] Os efeitos colaterais mais comuns são letargia e ganho de peso. Os efeitos colaterais menos comuns são visão turva, um leve tremor e uma sensação de mal estar. Em geral, esses efeitos colaterais ocorrem nas primeiras semanas após o início do tratamento com lítio. Geralmente, os sintomas podem ser melhorados com a redução da dose ou com tempo de adaptação à dose atual.[4]

Anticonvulsivantes[editar | editar código-fonte]

Muitos agentes descritos como "estabilizadores de humor" também são classificados como anticonvulsivantes. Ocasionalmente, o termo "estabilizadores de humor anticonvulsivantes" é usado para descrevê-los como uma classe farmacológica.[5] Embora esse grupo também seja definido pelo efeito, e não pelo mecanismo, há uma compreensão maior do mecanismo de ação da maioria dos anticonvulsivantes usados no tratamento de transtornos do humor.

  • Valproato – disponível em forma de comprimidos de liberação prolongada e liberação imediata, bem como em solução líquida. Esse medicamento pode causar irritação no estômago, especialmente quando ingerido na forma de ácido livre. A função hepática e o hemograma completo devem ser monitorados.[6]
  • Lamotrigina – aprovado pela FDA para terapia de manutenção do transtorno bipolar. A dose usual costuma ser entre 100 a 200mg por dia.[7] A lamotrigina pode causar a síndrome de Stevens-Johnson, uma doença de pele rara, mas potencialmente fatal.[8]
  • Carbamazepina – aprovado pela FDA para o tratamento de episódios maníacos ou mistos (ou seja, caracterizado tanto pelo humor deprimido como por episódios maníacos) em pessoas com transtorno bipolar do tipo I.[9] Raramente, a carbamazepina pode causar uma diminuição abrupta nosneutrófilos, chamada de agranulocitose. A carbamazepina interage com muitos medicamentos, incluindo outros estabilizadores de humor (por exemplo, lamotrigina) e antipsicóticos (por exemplo, quetiapina).

Ainda não há evidências suficientes para sustentar o uso de vários outros anticonvulsivantes, a exemplo da gabapentina e do topiramato, como estabilizadores de humor.[10]

Antipsicóticos[editar | editar código-fonte]

Outros[editar | editar código-fonte]

  • Evidências limitadas sugerem que os ácidos graxos ômega-3 podem ter um efeito estabilizador do humor[12] Em comparação com placebo, ômega-3 parece mais capaz de aumentar os efeitos dos medicamentos estabilizadores do humor no transtorno bipolar, mas ensaios adicionais são necessários para estabelecer os efeitos dos ácidos graxos ômega-3 isoladamente.[13]
  • Sabe-se que o hipotiroidismo, mesmo quando subclínico, pode diminuir a resposta do paciente tanto aos estabilizadores de humor quanto a antidepressivos. Além disso, pesquisas preliminares sobre o aumento do uso da tireoide em pacientes com transtorno bipolar ciclotímico foram positivas, mostrando uma desaceleração na frequência do ciclo e redução dos sintomas. Um estudo controlado que administrou 300mcg de dose diária do hormônio levotiroxina (T4) concluiu que este é superior ao placebo. Em geral, os estudos mostraram que o T4 é bem tolerado e eficaz mesmo em pacientes sem hipotireoidismo evidente.[14]

Terapia combinada[editar | editar código-fonte]

Na prática clínica, a monoterapia muitas vezes não é eficaz para terapia aguda e/ou de manutenção e, portanto, a maioria dos pacientes recebe terapias combinadas. A terapia combinada (antipsicótico atípico com estabilizador de humoe) mostra eficácia superior em relação à monoterapia na fase maníaca em termos de prevenção de recaídas. No entanto, os efeitos colaterais e as taxas de descontinuação costumam ser mais frequentes, pois os efeitos adversos são mais incidentes na terapia combinada do que n monoterapia.[15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Texas State - Student Health Center». Cópia arquivada em 28 de agosto de 2008 
  2. «Schizoaffective disorder - Diagnosis and treatment - Mayo Clinic». www.mayoclinic.org (em inglês). Mayo Foundation for Medical Education and Research. Consultado em 10 de julho de 2020 
  3. Marmol, F. (2008). «Lithium: Bipolar disorder and neurodegenerative diseases Possible cellular mechanisms of the therapeutic effects of lithium». Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry. 32: 1761–1771. PMID 18789369. doi:10.1016/j.pnpbp.2008.08.012 
  4. Kozier, B et al. (2008). Fundamentals Of Nursing, Concepts, Process, and Practice. London: Pearson Education. p. 189.
  5. Ichikawa J, Dai J, Meltzer HY (julho de 2005). «Lithium differs from anticonvulsant mood stabilizers in prefrontal cortical and accumbal dopamine release: role of 5-HT(1A) receptor agonism». Brain Res. 1049: 182–90. PMID 15936730. doi:10.1016/j.brainres.2005.05.005 
  6. «Depakote 500mg Tablets». electronic Medicine Compendium. Dataphram Communications Limited. Consultado em 28 de setembro de 2016 
  7. Healy D. 2005 Psychiatric Drugs explained 4th ed. Churchill Liviingstone: London p.110
  8. «Lamictal – FDA Prescibing Information» 
  9. «EQUETRO(carbamazepine) Package Insert» (PDF). Validus Pharmaceuticals LLC. Consultado em 10 de julho de 2020 
  10. Terence A. Ketter (3 de maio de 2007). Advances in Treatment of Bipolar Disorder. American Psychiatric Pub. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-58562-666-3 
  11. Bowden CL (2005). «Atypical antipsychotic augmentation of mood stabilizer therapy in bipolar disorder». J Clin Psychiatry. 66. Suppl 3: 12–9. PMID 15762830 
  12. Mirnikjoo B, Brown SE, Kim HF, Marangell LB, Sweatt JD, Weeber EJ (abril de 2001). «Protein kinase inhibition by omega-3 fatty acids». J. Biol. Chem. 276: 10888–96. PMID 11152679. doi:10.1074/jbc.M008150200 
  13. Gao, K.; Calabrese, J. R. (2005). «Newer treatment studies for bipolar depression». Bipolar Disorders. 7: 13–23. PMID 16225556. doi:10.1111/j.1399-5618.2005.00250.x 
  14. Chakrabarti, Subho (26 de julho de 2011). «Thyroid Functions and Bipolar Affective Disorder» (em inglês). PMC 3144691Acessível livremente. PMID 21808723. doi:10.4061/2011/306367. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  15. Geoffroy, P. A.; Etain, B.; Henry, C.; Bellivier, F. (2012). «Combination Therapy for Manic Phases: A Critical Review of a Common Practice». CNS Neuroscience & Therapeutics. 18: 957–964. PMC 6493634Acessível livremente. PMID 23095277. doi:10.1111/cns.12017