Evaldo Coutinho

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Evaldo Bezerra Coutinho
Filósofo
Escola/Tradição: Idealismo

Subjetivismo

Data de nascimento: 23 de julho de 1911
Local: Recife, Pernambuco, Brasil
Morte 12 de maio de 2007
Local: Recife, Pernambuco, Brasil
Principais interesses: Estética

Ontologia

Religião Ateísmo
Ideias notáveis Matéria da arte

Intuição artística

Trabalhos notáveis A Ordem Fisionômica
Influências: Schopenhauer, Spinoza, Berkley, Platão.
Alma mater Universidade Federal De Pernambuco

Evaldo Bezerra Coutinho (Recife, 23 de julho de 191112 de maio de 2007) foi um filósofo, escritor, professor e crítico cinematográfico brasileiro. É considerado um dos filósofos mais originais da história filosófica brasileira.

Diplomou-se aos 22 anos em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933, pela Faculdade de Direito do Recife. No entanto, Coutinho não se entusiasmou com o Direito, a não ser pela disponibilidade de livros na biblioteca do curso, onde leu e encantou-se, em 1932, com a Ética de Spinoza, que lhe inspirou um ensaio: “O Terceiro Centenário de Nascimento de Baruch Spinoza 1632-1932”.

Além de Spinoza, Platão, Schopenhauer, Bergson, Berkley e o literata Proust, influenciaram profundamente o pensamento de Coutinho.          

Foi um dos fundadores da Escola de Arquitetura e dos cursos de Letras e Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).           

Dedicou-se ao estudo da filosofia, elaborando uma teoria ontológica suis generis e extremamente rica no aspecto existencial. Na estética, conteve alto teor de originalidade, lançando seu olhar para as artes em geral e desenvolveu teorias filosóficas de grande envergadura, mais especificamente, no que concerne a arquitetura e cinema.

Durante sua estadia no Rio de Janeiro, Coutinho moldou a sua teoria do universo artístico no seu sistema filosófico, que culminou na quintologia: A Ordem Fisionomica, composta por: A visão existenciadora (1978), O convívio alegórico (1979), Ser e estar em nós (1980), A subordinação ao nosso existir (1981) e termina com A testemunha participante (1983).           

Além destes cinco volumes, visando a facilitação de seus conceitos, escreveu O Lugar de Todos os Lugares (1977). Destaca-se, também como propedêutica ao seu sistema filosófico: A Artisticidade do Ser (1987), que foi a sua última obra lançada em vida.

De modo paralelo, passou a refletir agudamente sobre teses que versaram sobre a arte, direcionando mais afinco a arquitetura e ao cinema. Como resultado de suas reflexões, publicou duas obras independentes de sua ontologia: O Espaço Da Arquitetura (1970) e A Imagem Autônoma (1972). Ambas marcam um aprofundamento da reflexão artístico-filosófica de Coutinho acerca da estética, incluindo a intuição artística, matéria da arte, e o modo artístico do ser.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Desde sua juventude, Coutinho conviveu com algumas personalidades da intelectualidade pernambucana do início do século XX. Quando cursou o primário, no colégio Americano Batista, foi contemporâneo de Gilberto Freyre. Além disso, Coutinho estudou o secundário no Ginásio Pernambucano, instituição reconhecida pela qualidade de ensino e por formar alunos talentosos.

Previamente ao lançamento de suas nove obras, Coutinho atravessou campos distintos como o da arquitetura e do cinema. Ainda nos anos 20, escreveu sobre cinema em jornais. Coutinho também atuou como crítico de filmes do cinema mudo, primeiramente em 1929, no Jornal do Commercio, e, posteriormente, no Diário Carioca, entre 1946 e 1950.

Seis anos após sua diplomação, Coutinho ingressa no magistério, em 1938, lecionando Teoria e Filosofia, no Curso de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que foi um dos fundadores e posteriormente diretor. Na época de fundação do curso - afirmou Coutinho - não havia ainda arquitetos formados em Pernambuco, logo, era grande a escassez de professores para a área e sendo necessário contar com os que chegavam de outros estados ou do exterior. Além disso, lecionou também no Curso de Letras da UFPE até 1981.

Nesses primeiros tempos, a escola teve nomes importantes, como o arquiteto italiano Palumbo, que projetou vários edifícios residenciais. Em 1946, pediu licença da Escola de Belas-Artes, convidando Ariano Suassuna a substituí-lo, e foi para o Rio de Janeiro, onde se casou e passou quatro anos.

Coutinho volta ao Recife em 1950, reassumindo suas funções de professor e, durante uma reunião da congregação universitária no final da década, defendeu a conversão do curso de arquitetura da Escola de Belas-Artes do Recife em uma faculdade, o que foi aceito. Além de fundador, foi seu primeiro diretor, com apoio unânime dos professores. Dirigiu a faculdade entre 1959 e 1963.

Substituiu o amigo Joaquim Cardozo na cadeira de Estética da Escola de Belas Artes em 1938, onde permaneceria até 1971, ano em que se aposentou.

Coutinho recebeu, em 1960, o filósofo francês Jean-Paul Sartre e sua mulher, a filósofa Simone de Beauvoir, para uma palestra, mediada e traduzida pelo então superintendente da Sudene, Celso Furtado, igualmente homenageado como notável cientista paraibano.

Pensamento[editar | editar código-fonte]

A filosofia de Coutinho é bipartida em duas análises paralelas e confluentes: a estética e ontológica.

Coutinho filou-se a si mesmo ao pensamento pré-socrático e barroco. A primeira filiação ocorre pelo fato do seu pensamento abarcar uma cosmogonia, ou, a estruturação do kosmos (universo) perante a lente artística do existenciador. A segunda, pela escrita profunda e uso de termos ornamentais pouco usados na língua portuguesa do Brasil.

Tendo em vista a noção de que o fazer filosófico é artístico, o modus operandis de Coutinho se dá em prol de uma prosa livre, com ênfase em exemplos distintos, que chamou de texto “conceptual”, abdicando do tradicional texto analítico, que propõe ser puramente dissertativo e teorético.

Capa da obra O Espaço de Arquitetura, publicada pela editora Perspectiva.

Coutinho elaborou um denso e profundo sistema filosófico; em sua estética há a delimitação das autonomias dos gêneros artísticos, reservando-os as categorias de intuição e matéria própria de cada arte.

É de se destacar que, para Evaldo, a filosofia figura como arte. De antemão, a intuição artística deve ser entendida como a ideia do artista-criador, havendo distinção entre: 1) arte, 2) gênero, e 3) obra, e 4) matéria especifica de cada arte.

Sobre a delimitação da matéria das artes, pode-se resumir que:

Para a literatura, o escopo da sua matéria é o pensamento (traduzido por meio de palavras).

Para a música, reservar-se o som.

Para a pintura, a pluralidade da cor.

Para o cinema, a imagem em movimento (ou seja: som, cor e qualquer tipo de escrita, fere a matéria exclusiva da arte cinematográfica.)

Para a escultura, finda-se o volume.

Para a arquitetura, o vão (espaço aberto).

Para a filosofia, toda a realidade e todas as matérias são passíveis de uso para expressar a intuição do filósofo-artista.

Por conta da matéria da literatura ser o pensamento traduzido nas palavras que compõem o enredo da obra, Evaldo opta pela escrita como meio de expressar seu sistema filosófico a partir do significado que as letras exprimem.

A ontologia de Coutinho é caracterizada por um pessimismo frente a inevitabilidade da morte (que é sempre reforçada pelo filósofo ao longo de suas obras), que Coutinho caracteriza [a morte] como sendo: “o naufrágio absoluto em que submergem o barco e as águas”.

Aliado ao tema da morte, Coutinho assume para si uma posição rara na história da filosofia ocidental e se autointitula “solipisista”. Portanto, A Ordem Fisionômica, possui um tratamento, além de filosófico e literário, biográfico de Coutinho, que parte de experiências próprias para desenvolver um peculiar e profundo pensamento acerca do existir, relacionar-se (com outros existentes e entes), conhecer, e sentir (os exemplos mais citados por Coutinho de sentimentos são a alegria e tristeza).

O pensamento de Coutinho costuma inibir o leitor desavisado pela escrita vigorosa, visto no rebuscamento de palavras e expressões, aliado aos longos parágrafos que, vez ou outra, reforçam alguma ideia pretérita, dando a sensação de “circularidade” em seu pensamento.

O ponto mais expressivo da repetição de Coutinho é constatado na sua insistência em declarar a morte, o Não-ser, como o fim da Visão Existenciadora e, por consequência, do universo existenciado pelo seu belvedere.

Devido a sua extrema subjetividade, Evaldo pode ser conectado aos filósofos modernos que enfatizaram a importância da consciência, como é o caso de Arthur Schopenhauer e Edmund Husserl. Diferentemente deste último, Coutinho não irá propor uma teoria do conhecimento stricto sensu, reservando as categorias epistemológicas ao ato de nominação de faces das efígies pelo existenciador em seu cotidiano teatral.

Para Coutinho, a consciência atua tal como uma lâmpada (o primeiro capítulo de O Lugar de Todos os Lugares é denominado de “A Metáfora da Lâmpada”) que possibilita a nominação das faces pelo belvedere do existenciador.

Coutinho defende que o existenciador-artístico, de modo solipisista, possui em seu repertório a totalidade do mundo existenciado das efígies que apareceram ao seu miradouro.

Sendo a existência marcada pela conformidade da lei do Não-ser (todos os existenciamentos se dão na véspera do Não-ser, ou seja, da morte), o existenciador infringe-a a partir do momento que abarca o universo em sua imaginaria interna.

Concernindo a acidentalidade própria do ato alegórico, o ser abarca em seu repertório criativo tudo o que é conhecido; o universo se consubstância para o existenciador-artístico de maneira absoluta, como Coutinho diz: “de mim a mim, em mim”.

Embora, pela estetização do cotidiano, o existenciador abarque em si todo o universo composto das efígies que o seu miradouro capturou, tudo findará em sua morte, que é a morte de todas as coisas e do universo inteiro com o ser.

Influências[editar | editar código-fonte]

O pessimismo e subjetivismo do filósofo alemão Arthur Schopenhauer foi de suma importância para o desenvolvimento do pensamento filosófico de Coutinho.

O caráter efêmero da vida e suas dicotomias, a alegria e a tristeza, o sofrimento e a satisfação, nascimento e morte - esta última sendo a força primária da artisticidade de Coutinho–, são nuances de um mundo onde a diretriz da vontade nunca se dá por satisfeita; a morte é a praga do castigo de termos nascido. A peleja entre Ser e Não-ser, a efetividade sortílega e a perecibilidade imanente, enfim, todo o arcabouço trágico da sofrível realidade da existência é o cerne das influências schopenhauerianas.

Legado[editar | editar código-fonte]

Embora as obras de Evaldo tenham tido certo sucesso em suas vendagens iniciais, o seu pensamento mantêm-se esquecido no Brasil.

O próprio filósofo argumentou que um dos motivos para a falta de estudos acerca de sua filosofia era devido ao insucesso do hábito de leitura filosófica no país, e, aliado a sua timidez, impediu uma divulgação maior de seu pensamento; estes dois fatos culminaram no núcleo do pensamento de Coutinho: de que todas as coisas iriam de todo modo se perder nele, com ele, em sua morte.

Como manifestação do interesse no pensamento de Coutinho, o cineasta pernambucano Marcos Henrique Lopes, lançou o documentário sobre o filósofo e sua filosofia, intitulado A Composição do Vazio (2001).

O cineasta Genésio Linhares também realizou um documentário, com o mesmo intuito, gravado na casa do filósofo em março/maio de 1993, intitulado Evaldo Coutinho: Filósofo da Arte e Existência.

O escritor paraibano José Rafael de Menezes, contemporâneo de Evaldo, publicou: Aproximações da Obra Estética de Evaldo Coutinho (1987) pela Editora Universitária da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Em 2014, o professor José Paulo Maldonado de Souza, em sua dissertação de Mestrado em filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): O Solipsismo de Evaldo Coutinho, elaborou um trabalho rico e explicativo acerca dos conceitos chaves da obra do filósofo recifense, sendo uma interessante porta de entrada para o estudo da filosofia de Coutinho.

Obras[editar | editar código-fonte]

  • O ser e estar em nós
  • O lugar de todos e os lugares
  • A imagem autônoma
  • A articidade do ser
  • A subordinação ao nosso existir
  • A testemunha participante
  • O convívio alegórico
  • A visão existenciadora
  • O espaço da arquitetura

Referências

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