Expresso da Vitória

Expresso da Vitória é como é conhecido o maior esquadrão de futebol da história do Club de Regatas Vasco da Gama e um dos maiores da história do futebol mundial, que jogou entre 1944 e 1953.[3] A denominação teria surgido num programa musical da Rádio Nacional, onde um cantor, ao se apresentar, disse que dedicaria a música ao Vasco, chamado por ele de "Expresso da Vitória", por atropelar seus adversários em campo.[4]
O Expresso, comandado pelo técnico uruguaio Ondino Vieira, foi o primeiro time brasileiro a usar o esquema tático do 4-2-4, que influenciou fortemente o futebol brasileiro e uruguaio na década de 50.[5] O esquadrão vascaíno foi também o primeiro time brasileiro (seja clube ou seleção) a ganhar um título internacional fora do Brasil, o Torneio dos Campeões Sul-Americanos de 1948. Ao todo, foram dezoito títulos em dez anos, sendo desses cinco Cariocas, três vencidos de forma invicta. Formou a base da seleção carioca campeã do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais em 1946 e 1950,[6] da seleção brasileira campeã da Copa Rio Branco em 1947 e 1950 e campeã Sul-Americana em 1949, além de levar o Brasil pela primeira vez na história a uma final de Copa do Mundo de Seleções 50, tendo no elenco da mesma oito jogadores vascaínos mais o técnico, Flávio Costa.
História[editar | editar código-fonte]
Em 1942, assumiu a presidência do Vasco da Gama, Cyro Aranha. Naquela época, o clube vivia um incômodo jejum de 5 anos sem qualquer título dentro da cidade do Rio de Janeiro. Tentando reverter essa situação, Cyro adotou uma política de longo prazo, baseada na contratação de jovens jogadores.[7] Foi assim que chegaram o goleiro Barbosa, o atacante Ademir de Menezes, os meias Jair, Lelé, Isaías, Ely e Djalma e o ponta Chico. O técnico era o uruguaio Ondino Viera.

O primeiro título veio em 1944, com a vitória no Torneio Relâmpago. Ainda na mesma temporada, o elenco viria a conquistar os Torneios Início e Municipal. No Campeonato Carioca, o Expresso chegou à última rodada empatado em pontos com o arquirrival Flamengo. No final do jogo decisivo, o jogador rubro-negro Valido marcou de cabeça o único gol do jogo, num lance duvidoso. O atacante teria se apoiado no zagueiro vascaíno Argemiro para cabecear.[8] Contudo, o gol foi validado e o time cruzmaltino acabou como vice-campeão.
O ano de 1945 foi melhor em número de títulos. O time foi bi-campeão dos Torneios Início e Municipal e campeão Carioca invicto, fato que não ocorria havia mais de duas décadas.[7] Neste carioca, o escrete vascaíno produziu diversas goleadas, como os 5x1 e 6x2, ambos sobre o Bangu, os 5x1 sobre o São Cristóvão, os 5x0 sobre o Canto do Rio e os 9x0 sobre o Bonsucesso, a maior do torneio. O time base era composto por Rodrigues, Augusto e Rafanelli, Berascochea, Ely e Argemiro, Djalma, Ademir de Menezes, Lelé, Isaías e Jair da Rosa Pinto.
Em 1946, o Vasco perdeu seu principal atacante: Ademir de Menezes, que foi para Fluminense. Além dele, saía o uruguaio Ondino Viera e assumia o técnico Ernesto dos Santos. Mesmo com o importante desfalque, o Expresso ainda ganhou naquele ano os Torneios Relâmpago e Municipal. Neste, estreava Barbosa, considerado por muitos o maior goleiro vascaíno de todos os tempos.[9][10] No Carioca, contudo, o time não passou do quinto lugar.
Em 1947, assumiu o técnico Flávio Costa, tricampeão em 1942, 1943 e 1944 pelo Flamengo, assumindo no lugar de Ernesto. Naquele ano, o time foi tetracampeão do Torneio Municipal, mais uma vez campeão Carioca invicto e conquistou a Taça Centenários, ao bater por 4x3 o Combinado Sporting, Benfica e Belenenses em amistoso no Estádio Nacional de Lisboa. O grande destaque da temporada foi o ataque vascaíno, composto por Djalma, Maneca, Friaça, Lelé e Chico. No Torneio Municipal foram 40 gols em 10 jogos; no campeonato estadual o time marcou 68 vezes em 20 jogos.[11] Neste, o elenco aplicou diversas goleadas, se destacando os 14x1 sobre o Canto do Rio, maior placar da era profissional do futebol carioca.[12]
Torneio dos Campeões Sul-Americanos[editar | editar código-fonte]
Em 18 de dezembro de 1947, o Vasco recebeu o convite oficial para a disputa do Torneio dos Campeões Sul-Americanos, em Santiago, organizado pelo clube chileno Colo-Colo.[6] Além do Vasco e do organizador, faziam parte da competição mais cinco clubes: o Nacional, campeão uruguaio de 1947; o Municipal, vice-campeão peruano do mesmo ano; o Litoral, campeão de La Paz em 1947; o equatoriano Emelec, convidado pelo anfitrião; e o River Plate, bicampeão argentino em 1941/42, campeão em 1945 e novamente em 1947. Este era o grande favorito do torneio: exercendo amplo domínio sobre o futebol argentino na década de 40, o time do River, apelidado de La Maquina (A Máquina), tinha como grande estrela Di Stéfano, considerado como o melhor jogador do mundo em sua época, enquanto o elenco argentino era apontado como o grande esquadrão sul-americano. Outro clube apontado como favorito era o Nacional; já o Vasco não gozava de tal prestígio entre a crônica internacional.[13]
Os cruzmaltinos desembarcaram em Santiago no dia 8 de fevereiro. A delegação vascaína era composta por 26 membros sob a chefia de Diogo Rangel: o diretor, Octávio Póvoas; o médico Amílcar Giffoni; o massagista Mario Américo; o cozinheiro Laudelino de Oliveira; o árbitro Alberto da Gama Malcher; o jornalista Ricardo Serran (do jornal O Globo), o técnico Flavio Costa e dezoito jogadores. O time base era formado por: Barbosa, Barcheta, Augusto, Wilson, Rafagnelli, Ely, Danilo, Jorge, Moacir, Djalma, Nestor, Maneca, Ademir, Dimas, Lelé, Friaça, Ismael e Chico.[13]
A estreia do Expresso ocorreu no dia 14 de fevereiro, contra o Litoral. No primeiro tempo, o time vascaíno exerceu forte pressão sobre os peruanos, até Lelé abrir o marcador. No segundo tempo, Lelé novamente marcou, abrindo uma vantagem de 2 a 0. Logo depois, o peruano Sandoval descontou para o Litoral. A partir daí, a partida ficou tensa, com muitas jogadas ríspidas. Aos 33 minutos, Ismael trocou socos com um adversário e foi expulso. Com menos um, o Vasco passou o resto da partida se defendendo dos constantes ataques peruanos. A poucos minutos do final, o lateral Augusto sai de campo por contusão. Apesar de toda pressão do Litoral, o placar acabou se configurando como uma vitória cruzmaltina por 2 a 1.
O jogo seguinte seria contra um dos favoritos, o Nacional. Nesta partida, o Vasco exibiu uma grande atuação, vencendo o time uruguaio por 4x1, gols de Ademir, Maneca, Danilo e Friaça. Assim como no jogo anterior, a arbitragem fora polêmica: o árbitro anulou um gol contra legítimo de um defensor adversário.[14] Ainda na partida, o cruzmaltino Ademir torceu o tornozelo. O exame apontou uma fratura no tornozelo direito, o que tirou o atacante do resto da competição.[14]
Aplicando goleadas em grandes times da época, como o 4 x 1 no Nacional, e 4 x 0 no Municipal, o Vasco foi caminhando ao título invicto. No último jogo, um empate de 0x0 com o River Plate garantiu ao Vasco mais um título, o maior do clube até a conquista do Torneio Octogonal Rivadavia Corrêa Meyer em 1953.
Em 1949, com a contratação do atacante Heleno de Freitas, o Vasco marcou no Carioca 84 vezes em 20 jogos, um recorde até então. Depois de uma virada sobre seu maior rival, o Flamengo, em que o time perdia de 2x0 no primeiro tempo e virou para 5x2, o Vasco ganhou mais uma vez um título Carioca invicto. No estadual do ano seguinte, depois de um mal início, o time se reergeu, e aplicando diversas goleadas (9x1 no Madureira, 7x0 no Canto do Rio, 7x2 no Bonsucesso e 4x0 no Fluminense), ganhou mais um título, o penúltimo do Expresso.
Ainda em 1950, ano de Copa do Mundo, a Seleção Brasileira, que contava em sua formação titular com seis jogadores do Vasco além do técnico Flávio Costa, era considerada a favorita para conquistar o título inédito da competição. No entanto, a surpreendente derrota perante o Uruguai no jogo final tirou da equipe um título dado como certo. Em 1951 o Vasco excursionou ao próprio Uruguai, onde goleou o Peñarol, base da seleção uruguaia, por 3x0. Já no Brasil, ganhou novamente do Peñarol e do Nacional, ambos por 2x0. Esses dois jogos foram muito comemorados pelos brasileiros, que sentiram sua alma lavada da derrota de 50.
Porém, o time já mostrava sinais de cansaço e envelhecimento. O clube não passou de um sétimo lugar no Torneio Rio-São Paulo e de um quinto lugar no Carioca do mesmo ano.
A recuperação ocorreu em 1952. Apesar de estar desacreditado pela imprensa, que classificava o time de "velho" (o que, de fato, não era mentira), o Expresso fez uma ótima campanha e se sagrou campeão por antecipação, na penúltima rodada, ao vencer o Bangu por 2x1.
Era o último sopro de glória daquele grande time. Era preciso encontrar gente nova. Os jogadores antigos foram então substituídos por novos valores, como Vavá, o substituto de Ademir, que estreava naquele ano.
Títulos: 1944-1953[editar | editar código-fonte]

INTERCONTINENTAIS | |||
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Competição | Títulos | Temporadas | |
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Torneio Octogonal Rivadávia Corrêa Meyer |
1 | 1953![]() |
CONTINENTAIS | |||
Competição | Títulos | Temporadas | |
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Campeonato Sul-Americano de Campeões[15] | 1 | 1948![]() |
INTERNACIONAIS | |||
Competição | Títulos | Temporadas | |
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Taça Centenários[16] | 1 | 1947![]() |
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Taça de Ouro Ramos Pinto[16] | 1 | 1947![]() |
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Taça Jornal O Século[16] | 1 | 1947![]() |
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Taça Colônia Balneária Infantil[16] | 1 | 1947![]() |
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Troféu Parque Rosedal Tortillero | 1 | 1948![]() |
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Troféu Estabelecimientos Oriente | 1 | 1948![]() |
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Troféu Malteria Continental | 1 | 1948![]() |
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Troféu Musalem Hermanos | 1 | 1948![]() |
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Troféu Casa do Brasil – La Doma | 1 | 1948![]() |
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Troféu Presidente Juan Domingo Perón | 1 | 1948![]() |
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Troféu Band & Salas | 1 | 1948![]() |
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Bronze da Vitória(1) | 1 | 1948![]() |
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Troféu Dem Sieger | 1 | 1949![]() |
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Troféu Atlas Fútbol Club | 1 | 1949![]() |
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Troféu D.ª María Eva Duarte Perón[17] | 1 | 1949![]() |
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Troféu Legação do Brasil[17] | 1 | 1949![]() |
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Taça Club Deportivo Vasco da Gama[18] | 1 | 1950![]() |
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Troféu Club Atlético Peñarol | 1 | 1951![]() |
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Quadrangular Internacional do Rio | 1 | 1953![]() |
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Taça Cinquentenário do Racing Club[19] | 1 | 1953![]() |
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Torneio Internacional de Santiago | 1 | 1953![]() |
ESTADUAIS | |||
Competição | Títulos | Temporadas | |
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Campeonato Carioca | 5 | 1945![]() ![]() ![]() |
Torneio Início | 3 | 1944, 1945 e 1948 | |
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Campeonatos Cariocas de Aspirantes, Reservas ou Amadores | 7 | 1946, 1947, 19481, 19482, 1949, 1950 e 1951 |
Taça Eficiência | 5 | 1945, 1946, 1947, 1949 e 1950 | |
MUNICIPAIS | |||
Competição | Títulos | Temporadas | |
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Torneio Municipal do Rio de Janeiro | 4 | 1944, 1945![]() |
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Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro | 2 | 1944![]() |
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Torneio Gérson dos Santos Coelho | 1 | 1948![]() |
TOTAL | |||
Conquistas | Total | Por Categoria | |
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Títulos Principais | 50 | 1 Intercontinental, 1 Continental, 21 Internacionais, 20 Estaduais e 7 Municipais |
Outras Campanhas de Destaque[editar | editar código-fonte]
INTERCONTINENTAIS | |||
---|---|---|---|
Competição | Colocação | Temporadas | |
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Copa Rio Internacional | 3° lugar | 1951 |
INTERNACIONAIS | |||
Competição | Títulos | Temporadas | |
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Troféu Teresa Herrera | Vice-campeão | 1947 |
INTERESTADUAIS | |||
Competição | Títulos | Temporadas | |
![]() |
Torneio Rio-São Paulo | Vice-campeão | 1950, 1952 e 1953 |
ESTADUAIS | |||
Competição | Títulos | Temporadas | |
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Campeonato Carioca | Vice-campeão | 1944 e 1948 |
![]() |
Torneio Início | Vice-campeão | 1950, 1952 e 1953 |
MUNICIPAIS | |||
Competição | Títulos | Temporadas | |
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Torneio Municipal do Rio de Janeiro | Vice-campeão | 1948 |
![]() |
Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro | Vice-campeão | 1945 |
Jogadores Ilustres[editar | editar código-fonte]
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ «1945: o ano em que São Januário virou o caldeirão da Portela». Globoesporte. 9 de fevereiro de 2018. Consultado em 12 de julho de 2018
- ↑ «Ademir de Menezes, o Queixada, faria 89 anos nesta terça-feira». Club de Regatas Vasco da Gama. 14 de agosto de 2014. Consultado em 12 de julho de 2018
- ↑ «Expresso da Vitória, um dos maiores esquadrões do Vasco e do futebol mundial». Correio da Manhã. 27 de março de 2021
- ↑ Lance! Série Grandes Clubes. Um século de paixão - Vasco da Gama - A história do clube da Cruz de Malta, pp. 33. 1998, Editora Abril.
- ↑ Rotstein, Gustavo (12 de abril de 2012). «GloboEsporte.com - 'Pai' do Expresso da Vitória, técnico uruguaio é referência do Nacional». Consultado em 12 de abril de 2012
- ↑ a b Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida. «Netvasco: VASCO, REPRESENTANTE DO BRASIL». Consultado em 10 de outubro de 2008
- ↑ a b Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida. «Netvasco: NASCE O EXPRESSO DA VITÓRIA: O PRIMEIRO TIME DO BRASIL CAMPEÃO NO EXTERIOR». Consultado em 10 de outubro de 2008
- ↑ Lance! Série Grandes Clubes. Um século de paixão - Vasco da Gama - A história do clube da Cruz de Malta, pp. 25. 1998, Editora Abril.
- ↑ Lance! Série Grandes Clubes. Um século de paixão - Vasco da Gama - A história do clube da Cruz de Malta, pp. 60. 1998, Editora Abril.
- ↑ Gilmar Ferreira (11 de janeiro de 2007). «Gilmar Ferreira: Time dos sonhos...». Consultado em 10 de setembro de 2008
- ↑ Lance! Série Grandes Clubes. Um século de paixão - Vasco da Gama - A história do clube da Cruz de Malta, pp. 30. 1998, Editora Abril.
- ↑ Alexandre Mesquita. «Netvasco: Há 60 anos o Expresso da Vitória ganhava mais um título carioca». Consultado em 10 de setembro de 2008
- ↑ a b Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida. «Netvasco: DELEGAÇÃO DO VASCO CHEGA AO CHILE». Consultado em 10 de outubro de 2008
- ↑ a b Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida. «Netvasco: EXPRESSO DA VITÓRIA ARRASA O NACIONAL URUGUAIO COM ATUAÇÃO DE GALA». Consultado em 10 de outubro de 2008
- ↑ «Reconhecido pela Conmebol como antecedente da Copa Libertadores da América. História da Copa Libertadores no site da Conmebol. Acesso em 07/06/2013.». Consultado em 21 de maio de 2014. Arquivado do original em 21 de maio de 2014
- ↑ a b c d «Troféus Vascaínos». Correio da Manhã, ed. 16162, pg. 22. Consultado em 15 de fevereiro de 2022
- ↑ a b «O Desporto a Serviço da Amizade dos Povos». Jornal dos Sports, ed. 06010, pg. 5. Consultado em 23 de dezembro de 2021
- ↑ «Uma pedrinha no chuteira». Jornal dos Sports, ed. 14949, pg. 4. Consultado em 17 de abril de 2022
- ↑ «O dia que o Racing convidou o Cruzmaltino para um amistoso do cinquentenário do Clube». Papo Na Colina. Consultado em 17 de abril de 2022