Fagundes Varella

Fagundes Varela | |
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Nome completo | Luiz Nicolau Fagundes Varela |
Nascimento | 17 de agosto de 1841 São João Marcos |
Morte | 18 de fevereiro de 1875 (33 anos) Niterói |
Nacionalidade | brasileiro |
Ocupação | Poeta |
Magnum opus | Cântico do calvário |
Escola/tradição | Romantismo |
Luiz Nicolau Fagundes Varela (São João Marcos, 17 de agosto de 1841 – Niterói, 18 de fevereiro de 1875) foi um poeta brasileiro, considerado um dos principais representantes da segunda geração do romantismo no Brasil. Seus poemas enquadravam-se na estética do mal do século e apresentavam um verso melódico e fluido. Escreveu, também, os primeiros poemas contra a escravidão no Brasil.[1] É o patrono da cadeira n. 11 da Academia Brasileira de Letras, fundada por Lúcio de Mendonça.[2][3]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Varela nasceu no dia 17 de agosto de 1841, em Niterói, filho do Dr. Emiliano Fagundes Varela, juiz da vila de São João Marcos, e de Emília de Andrade. Fez os estudos primários e secundários em Angra dos Reis e Petrópolis, e os preparatórios em São Paulo. Em 1862, ingressou na Faculdade de Direito, mas nunca concluiu o curso.[4]
Contraiu um casamento polêmico com a artista de circo Alice Guilhermina Luande. Seu filho que teve com ela, Emiliano, faleceu aos três meses de idade, e Varela, por conta disso, tornou-se alcoólatra. Em 1866, sua esposa morre também, e o poeta se recolhe na casa de seu pai até 1870, quando se muda com ele para Niterói, onde fica até o fim da vida. Casou-se uma segunda vez com a prima Maria Belisária de Brito Lambert, com quem teve duas filhas e um filho. Frequentando assiduamente as rodas de boêmia intelectual do Rio, faleceu em 17 de fevereiro de 1875, aos 33 anos de idade, por conta de um derrame cerebral.[4]
Obra
[editar | editar código-fonte]Segundo Antonio Candido, Varela foi "o último dos poetas ultra-românticos de algum valor", acrescentando que ele "levou ao máximo a fluidez cantante do verso rimado e a melodia do decassílabo solto" e criou "alguns dos mais belos poemas do tempo".[1]
O seu poema mais aclamado é o Cântico do Calvário, um longo poema em decassílabos brancos dedicado ao seu primeiro filho morto prematuramente.[4] Segundo Manuel Bandeira, esse poema é "uma das mais belas e sentidas nênias da poesia em língua portuguesa", acrescentando que ele foi o ponto alto de toda a sua obra.[5]
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!— Primeira estrofe do Cântico do Calvário.
Ainda segundo Candido, a sua obra foi "o começo da poesia de solidariedade em relação aos escravos",[1] de maneira que Varela é um precursor da terceira geração do romantismo no Brasil. Essa faceta do poeta encontra-se, por exemplo, no poema O Escravo, um dos seus textos escolhidos pela Academia Brasileira de Letras,[6] que o doutor José Carlos de Freitas classifica como "um verdadeiro réquiem ao escravo que se resignou ante o cativeiro e só encontrou a liberdade no cemitério".[7]
Dorme! Bendito o arcanjo tenebroso
Cujo dedo imortal
Gravou-te sobre a testa bronzeada
O sigilo fatal!
Dorme! Se a terra devorou sedenta
De teu rosto o suor,
Mãe compassiva agora te agasalha
Com zelo e com amor.
Ninguém te disse o adeus da despedida,
Ninguém por ti chorou!
Embora! A humanidade em teu sudário
Os olhos enxugou!
A verdade luziu por um momento
De teus irmãos à grei:
Se vivo foste escravo, és morto... livre
Pela suprema lei!— As duas primeiras estrofes do poema O Escravo.
Livros
[editar | editar código-fonte]- Noturnas - 1860
- Vozes da América - 1864
- Pendão Auri-verde - poemas patrióticos, acerca da Questão Christie.
- Cantos e Fantasias - 1865
- Cantos Meridionais - 1869
- Cantos do Ermo e da Cidade - 1869
- Anchieta ou O Evangelho nas Selvas - 1875 (publicação póstuma)
- "Cantos Religiosos" - 1878 (publicação póstuma)
- Diário de Lázaro - 1880 (publicação póstuma)
Academia Brasileira de Letras
[editar | editar código-fonte]Por instância de Lúcio de Mendonça, foi a sua cadeira nominada em honra a Fagundes Varella. Considerado um dos maiores expoentes das letras no Brasil, um seu busto orna o prédio do silogeu brasileiro.[2][3]
Referências
- ↑ a b c CANDIDO, Antonio (1999). Iniciação à literatura brasileira: resumo para principiantes. São Paulo: Humanitas/ FFLCH/USP. pp. 44–45
- ↑ a b Carta': informe de distribuição restrita do Senador Darcy Ribeiro. Brasília: Gabinete do Senador Darcy Ribeiro, Senado Federal. 1993. p. 10
- ↑ a b Vasconcelos, José Adirson de (2021). Enciclopédia 2020 Brasília e o seu 3° Milênio. Brasília: Editora Kelps. p. 251
- ↑ a b c «Fagundes Varela». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 20 de maio de 2025
- ↑ BANDEIRA, Manuel. Apresentação da poesia brasileira. [S.l.]: Cosac Naify. p. 80
- ↑ «Fagundes Varela». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 20 de maio de 2025
- ↑ FREITAS, José Carlos. «Os direitos humanos na poesia romântica brasileira». Nau literária. 18 (1): 6. Consultado em 20 de maio de 2025
Precedido por — |
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Sucedido por Lúcio de Mendonça |