Fazenda Santa Eufrásia

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Fazenda Santa Eufrásia
Tipo
  • fazenda
Estilo dominante Colonial
Construção Século XIX
Estado de conservação RJ
Património nacional
Data Tombamento Federal - desde 1970
Geografia
País Brasil
Cidade Vassouras
Coordenadas 22° 26' 35" S 43° 43' 53" O

A Fazenda de Santa Eufrásia, construída por volta de 1830, localiza-se em Vassouras, no estado do Rio de Janeiro, entre duas importantes vias, a BR-393 (entre Vassouras e Barra do Piraí) e a RJ-127 (entre Vassouras e Mendes). A Fazenda Santa Eufrásia é a única das fazendas particulares tombada pelo IPHAN no Vale do Café.

História[editar | editar código-fonte]

A Fazenda Santa Eufrásia, originalmente uma produtora de café, foi construída, em meados do século XIX, pelo Comendador Ezequiel de Araújo Padilha, um fazendeiro socialmente reconhecido e cavaleiro da Ordem das Rosas, e pelo seu irmão Pedro Petras Padilha. Ezequiel gostava de realizar festas exuberantes e saraus na fazenda, além disso, importou gôndolas de Veneza para realizar passeios românticos no açude.

A partir de 1895, a propriedade teve diversos donos, inclusive a família Inglês de Souza, até que, em 1905, o Coronel Horácio José de Lemos e D. Francisca (D. Chiquinha) compraram a fazenda. Eles acabaram com os cafezais existentes e começaram uma criação de gado bovino e exportavam as carnes para a Europa.

Os proprietários atuais da fazenda, os herdeiros de Alzira Inglês de Souza, são os descendentes do Coronel Horácio Lemos, e hoje, retomaram um cafezal em produção na fazenda. Atualmente, é uma fazenda particular residencial, e recebe visitas diárias com agendamento.

Arquitetura[editar | editar código-fonte]

Localização e Entorno[editar | editar código-fonte]

A Fazenda Santa Eufrásia está localizada a 7 km de Vassouras, entre Vassouras e Barra do Pirai, na região do Vale do Paraíba Sul Fluminense, local onde o café foi a principal fonte de renda no século XIX.

A casa sede da Fazenda Santa Eufrásia é rodeada por um gramado e por uma vegetação rica, com árvores centenárias e um açude, que servia para represar a água afim de ser usado no antigo terreiro de café.

É possível perceber que existe uma preocupação com o entorno na implantação da edificação, pois da casa até o açude há um declive suave, e onde se encontra o plantio de café, na lateral esquerda da casa, o terreno possui um desnível maior.

Descrição Arquitetônica[editar | editar código-fonte]

A Fazenda Santa Eufrásia é a única fazenda particular tombada pelo IPHAN no Vale do Café. É composta pelas edificações (casa principal e anexo), pelo bosque (com árvores centenárias) e pela represa (utilizada para mover a água do antigo engenho). O interior das edificações possui um acervo de 436 itens composto por mobiliários, utensílios, louças autênticas do século XIX. Ao fundo da fazenda, é onde se acredita que ficava a senzala, o engenho e a tulha.

Atualmente, na fazenda, há uma casa principal e um anexo paralelo. A casa é térrea e possui um escritório, uma cozinha, banheiros, quartos e salas de jantar. Segundo o IPHAN, a casa originalmente tinha uma planta em formato de “U”, percebido por características da cobertura e do telhado, que formava um pátio interno interligando diferentes cômodos. A casa sofreu diversas modificações desde o século XIX, quando houve a construção de um trecho da sala de jantar até o quarto duplo. No século XX, foi demolida essa tipologia de pátio interno com planta em “U” e parte do terreno foi utilizado para construir uma cavalariça.

Na fachada principal é possível perceber um alpendre, um deck de pedras e uma sequência de seis janelas estilo guilhotina. A fachada posterior é composta pela mesma sequência de janelas, enquanto nas fachadas laterais, as janelas variam entre guilhotina e janelas duplas. Na fachada frontal existe também um forro de madeira pintado de branco nos beirais, enquanto nas outras fachadas essa madeira é aparente, permitindo assim visualizar algumas peças de estrutura do telhado.

O anexo é composto por duas alas com um átrio no centro. Essa edificação funcionava como local de serviço devido a sua localização no terreno. A ala esquerda do anexo possui quatro cômodos, e a ala direita cinco. As fachadas frontal e posterior possuem dois tipos de janelas, umas de madeira com dimensões similares a da casa principal e outras de dimensões maiores para uma maior ventilação e iluminação. Existe uma variação no tamanho das portas também de acordo com a função, por exemplo, portas de vão menor seria para a passagem de pessoas, enquanto portas de vãos maiores eram destinadas a passagem de máquinas e equipamentos.

Entre elementos interessantes encontrados na casa sede, estão uma pia muito antiga mas cuja data não é possível identificar e o forro da sala de jantar com estrutura de madeira mas ornamentado com estuques. [1]

Técnicas de Construção[editar | editar código-fonte]

Foram utilizadas várias técnicas construtivas do período colonial na fazenda. As paredes internas e externas da casa principal foram originalmente feitas de pau-a-pique, mas algumas paredes internas foram modificadas para alvenaria de tijolo furado. Algumas portas sofreram modificações devido a influências do período neoclássico, como por exemplo a adição de bandeiras.

No anexo, as paredes de sustentação são feitas de adobe e as paredes internas são de pau a pique. E o embasamento dessa edificação é em cantaria aparente.

Algumas das alvenarias foram trocadas por tijolos maciços e algumas das janelas de arquitetura colonial foram substituídas por outras mais alongadas e envidraçadas.

Atualidade[editar | editar código-fonte]

Visitas[editar | editar código-fonte]

A Fazenda Santa Eufrásia é administrada pela bisneta do Coronel Lemos, Elizabeth Dolson. Ela faz visitas guiadas com turistas pelas edificações vestida com roupas da época. O passeio passa por três quartos mobiliados com artefatos da época e pela sala de música. Ao final, os visitantes podem degustar do café produzido na fazenda. As visitas precisam ser marcadas previamente e é possível agendar um piquenique também.

Denúncias de racismo[editar | editar código-fonte]

Em 2016, uma reportagem do site The Intercept denunciou as visitas guiadas na fazenda, onde Dolson se caracterizava como "sinhá" e mulheres negras interpretavam escravas, servindo os turistas.[2][3] A reportagem diz que a visita não estimularia o "senso crítico" sobre o período da escravidão no Brasil. Dolson negou as acusações de que haveria racismo na encenação: “Racismo? Por causa de quê? Por que eu me visto de sinhá e tenho mucamas que se vestem de mucamas? Que isso! Não! Não faço nada racista aqui!”, disse a administradora.[2]

A visita que fazia a propaganda de que os turistas poderiam ser escravocratas por um dia, banalizava o histórico de violência e selvageria pelo qual aquela região era conhecida antes da abolição. Inclusive as brutalidades foram expostas à Câmara e em 1829, o então fiscal de Valença, Eleutério Delfim da Silva, tornou pública sua preocupação com a situação.

Em 2017 a fazenda assinou um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Federal para encerrar as encenações guiadas e comprometeu-se a tomar medidas reparatórias para receber o selo "Fazenda sem Racismo". Os representantes da Fazenda Santa Eufrásia comprometeram-se a instalar placas de fácil visualização com informações e registros históricos relacionados ao trabalho escravo no local. [4][5][6]

Restauração[editar | editar código-fonte]

Em 2009, por conta do gasoduto GASBEL II, que passará no terreno da Fazenda, foi firmado um acordo de patrocínio entre o Iphan - RJ e Transportadora Associada de Gás/Petrobras (TAG) para cobrir os custos de todo o projeto de pesquisa histórica, reparo e restauração da fazenda, como medida compensatória.[7]

O processo de recuperação foi acompanhado pelo IPHAN, responsável pela análise e aprovação, além do suporte técnico durante a execução das obras de restauração.[7]

O projeto de restauro não foi realizado somente nas edificações existentes, mas adicionou também partes destruídas da fazenda, como o armazém. as pontes e o açude. As obras seguiram os procedimentos construtivos comuns à região, a de arquitetura em terra crua, fazendo uso de tijolos de adobe e aplicando técnicas de estuque e pau a pique. Para reconstruir o antigo armazém, utilizaram procedimentos que mesclou técnicas históricas com os métodos contemporâneos de engenharia. Recuperaram o açude e fizeram intervenções emergenciais na ponte, assim como melhoraram as estradas de acesso.[8][9][10]

Além das edificações, incorporaram também ao projeto de restauro, o bosque e todo o acervo de mobiliário. Para a recuperação da casa-sede, inicialmente realizaram o inventário do mobiliário. O restauro da fazenda busca oferecer a população uma vivência de uma fazenda de café no século XIX. Foi também implementado um sistema de combate a incêndio, além de colocado mangueiras e reservatórios na parte externa das edificações.[8][9]

Durante o processo de restauração, fizeram visitas gratuitas guiadas como a "Exposição Canteiro Aberto". Em 2019 as obras foram finalizadas.[8][9][11]

Referências

  1. Fernandes, Noêmia Lúcia Barradas (2008). «Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense» (PDF). INEPAC - Instituto Estadual do Patrimônio Cultural em parceria com Instituto Light e Instituto Cultural Cidade Viva. Consultado em 6 de maio de 2021 
  2. a b CeciliaOlliveira. «Turistas podem ser escravocratas por um dia em fazenda "sem racismo"». The Intercept. Consultado em 2 de maio de 2017 
  3. «Escravidão é tratada como atração turística em fazenda no RJ | MdeMulher». M DE MULHER. 6 de dezembro de 2016 
  4. «Fazenda e MP celebram acordo para pôr fim a encenação sobre escravidão». O Globo. 2 de maio de 2017 
  5. Paulo, iG São (2 de maio de 2017). «'Turismo da escravidão' na Fazenda Santa Eufrásia será proibido - Brasil - iG». Último Segundo 
  6. «MPF/RJ recomenda à prefeitura de Vassouras a valorização da história do povo negro na Fazenda Santa Eufrásia e no vale do café». Jusbrasil. Consultado em 6 de maio de 2021 
  7. a b «Notícia: Fazenda Santa Eufrásia, no Rio de Janeiro, será integralmente restaurada - IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional». portal.iphan.gov.br. Consultado em 6 de maio de 2021 
  8. a b c «Notícia: Exposição Canteiro Aberto acontece na Fazenda Santa Eufrásia (RJ) - IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional». portal.iphan.gov.br. Consultado em 6 de maio de 2021 
  9. a b c «25/07/2019 - Fazenda cafeeira do século XIX é restaurada no Médio Paraíba (RJ)». revistamuseu.com.br. Consultado em 6 de maio de 2021 
  10. «Fazenda Santa Eufrásia». Construtora Biapó. Consultado em 6 de maio de 2021 
  11. «Fazenda Santa Eufrásia abre as portas para exposição sobre técnicas construtivas tradicionais». CAU/RJ. 16 de julho de 2018. Consultado em 6 de maio de 2021 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • RAPOSO, Ignacio. Historia de vassouras. Vassouras: Fundação 1º de Maio, 1935. iii, 288 p.
  • PIRES, Fernando Tasso Fragoso. Antigas fazendas de cafe da provincia fluminense. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. 111 p.
  • VASSOURAS: A brazilian coffee county, 1850-1900.
  • STEIN, Stanley J. Grandeza e decadencia do cafe no vale do paraiba, com referencia especial ao municipio de vassouras. São Paulo, SP: Brasiliense, 1961. 372 p.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]