Fernão Teles de Meneses, 4.º senhor de Unhão

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Fernão Teles de Meneses, (1431 - Alcácer do Sal, 1 de abril de 1477), conhecido também por Fernão Teles e Fernão da Silva, foi um fidalgo português. Foi senhor das terras de Unhão, Gestaçô, Cepães, Meinedo e Ribeira de Soaz, e governador da casa da Princesa Santa Joana, filha de D. Afonso V.[1][2]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Era filho de Aires Gomes da Silva, 3º senhor de Vagos, regedor da Casa do Cível e alcaide-mor de Montemor-o-Velho, e de D. Beatriz de Meneses, filha de D. Martinho de Meneses, senhor de Cantanhede, que foi aia e camareira-mor da Rainha D. Isabel.

Ainda muito jovem, com 17 anos, Fernão Teles viveu os acontecimentos que precederam o desfecho da batalha de Alfarrobeira, sendo um dos fidalgos que, juntamente com o pai e o irmão mais velho, João da Silva, partiram da corte, onde se encontravam em outubro de 1448, para se unirem ao Infante D. Pedro na sua má sorte.[3]

Permaneceu em Coimbra até 6 de maio de 1449, saindo daquela cidade em companhia do antigo regente e dos seus familiares em direcção ao local da batalha de Alfarrobeira, na qual tomou parte ao lado da facção revoltosa. A posição que tomou nesta batalha fez com que perdesse o direito à herança paterna, a qual foi doada a alguns partidários de D. Afonso V. Isto está bem documentado na doação da Ermida de São Marcos em Tentúgal, que fora de seu pai, realizada a 5 de outubro de 1450 em benefício de sua mãe, na qual se estabelece que Fernão Teles não poderia vir a herda-la em virtude de ter tomado parte no conflito. Alguns meses depois a situação modifica-se, e a 22 de abril de 1451 é-lhe atribuída uma carta de perdão.

A partir de 1452 documenta-se em Ceuta, ao serviço da coroa, partindo novamente para aquela praça em 1454 em companhia do irmão João da Silva.[4]

A 25 de junho de 1455 está presente ao auto de juramento do Príncipe Herdeiro D. João. Como fidalgo da casa do Infante D. Fernando, irmão do rei, obteve a doação de juro e herdade dos lugares de Unhão, Cepães e Meinedo, com jurisdição civil e criminal, com as mesmas condições com que antes foram de seu pai, e que haviam sido doadas a Martim Mendes de Berredo, que entretanto renunciara à sua posse. Em compensação, Martim Mendes obteve a Terra da Nóbrega, na região de Entre-Douro-e-Minho, com as suas rendas, direitos, padroado de igrejas e o serviço real e novo dos judeus de Lamego.

Foi ainda beneficiado, em atenção aos muitos serviços prestados à coroa, com a terra de Soaço, na comarca de Entre-Douro-e-Minho. Trazia esta terra em nome da coroa João de Sousa, fidalgo da casa do Infante D. Henrique, que a pedido do rei renunciou à sua posse contra o pagamento de uma indemnização de doze mil reais brancos anuais. Ficou Fernão Teles na posse da jurisdição civil e criminal da dita terra, com as suas rendas e direitos, sendo a mesma transmissível a um filho varão legítimo.

Obteve ainda do rei a doação de uns terrenos na vila de Santarém, na rua de Gulfar, próximo à Porta de Maniços, para edificação de umas casas, com benefício extensivo aos seus herdeiros.[5]

Foi alcaide do Castelo de Sintra, desconhecendo-se a data em que assumiu esta função, para o qual terá sido nomeado pela Rainha D. Isabel antes da sua morte, ocorrida em dezembro de 1455. Renunciou a este cargo em 6 de abril de 1461, sucedendo-lhe nele o seu irmão mais velho, João da Silva.

Interveio constantemente nas campanhas marroquinas, tomando parte na conquista de Alcácer-Ceguer em 1458, acompanhando também o Infante D. Fernando nas duas tentativas falhadas de escalar a praça de Tânger, no decurso de 1463.[6] Segundo Rui de Pina, sendo ouvido em conselho pelo Infante D. Fernando antes da segunda tentativa de escalamento de Tânger, Fernão Teles declarou:

«Senhor, n'esta determinação que tomaes, e em que nos pedis conselho, ante de dizer meu voto, queria de vós saber primeiro duas cousas, a primeira se houvestes licença d'El-Rei para só fazerdes o feito, e a segunda se tendes para elle gente que vos abaste».

Na ocasião o conde de Odemira, querendo lisonjear o Infante com vista à obtenção da comissão de Mértola e da Comenda-Mor de Santiago, que lhe então requeria - e dele veio a obter - repreendeu a Fernão Teles a franqueza "com palavras assi irosas e asperas", para agrado do Infante e exemplo dos presentes, que logo ali aprenderam o que no caso haveriam de dizer.[7]

Estadia na Catalunha[editar | editar código-fonte]

Cerca de 1464 Fernão Teles partiu para a Catalunha, onde aparece documentado como Fernando da Silva, provavelmente agastado com a insensatez do Infante D. Fernando nas suas temerárias tentativas de conquista de Tânger. Antes de passar a esse reino, esteve em Castela, com a missão de proceder ao recrutamento de gente para o exército de D. Pedro, rei de Aragão, estando autorizado por carta régia de 23 de maio de 1464 ao recrutamento de trezentos homens de armas, sob determinadas condições. A 11 de julho do mesmo ano foi anunciada a D. Pedro a sua chegada a Tortosa, à frente dum exército de quinhentos cavaleiros, em plena depressão causada pela perda de Lérida.[6]

Fernão Teles comandou exclusivamente tropas portuguesas e castelhanas, participando com elas em vários combates nas zonas montanhosas de Barcelona e Gerona. Em breve surgiram confrontos entre Teles e a Generalidade catalã, ciosa das prerrogativas que detinha, neles sendo defendido com paixão por D. Pedro. um dos motivos dos conflitos deveu-se ao facto dos bens confiscados aos Muntanyans terem ido parar às suas mãos, mas a situação atinge os eu auge no decurso do Outono de 1465, quando é nomeado capitão-geral da região pirenaica a 17 de novembro, cuja jurisdição compreendia as vilas de Camprodon, São João das Abadessas, Ripoll, e os castelos de La Guardia, La Roca e Blanca. A situação agravou-se a 8 de março de 1466 quando o rei, opondo-se à vontade da Generalidade, nomeou-o capitão geral da província do Ampurdão e do Bispado de Gerona, em substituição do seu irmão João da Silva, que viajara para Inglaterra em missão diplomática. A sua posição tornou-se de tal modo insustentável que em junho do mesmo ano os deputados, aproveitando-se da doença do rei, arquitectaram um plano para o levar à prisão. É bem possível que tal plano nunca tenha sido concretizado, pois D. Pedro no seu testamento determina que o seu amigo continue no comando do Ampurdão, levando a Generalidade a escrever-lhe, pouco depois, em termos muito amáveis.[8]

Regresso a Portugal[editar | editar código-fonte]

Tudo indica que após a morte de D. Pedro Fernão Teles tenha permanecido pouco tempo em Aragão, devendo ter solicitado a exoneração do cargo de capitão-geral do Ampurdão e retornado à pátria. Volta a estar documentado em Portugal a 17 de fevereiro de 1469, quando o rei lhe atribui uma tença anual de vinte mil reais brancos.

Foi elevado à categoria de membro do conselho do rei, notabilizando-se na conquista de Arzila em 1471, pelo que foi recompensado por D. Afonso V, em 1473, com a atribuição de nova tença anual de vinte mil reais brancos.[8]

Por carta dada primeiro a 28 de janeiro de 1474, na qual figura como governador da casa da Princesa Santa Joana, filha de Afonso V[2] depois em Estremoz a 28 de junho de 1475, D. Afonso V faz mercê a Fernão Teles das ilhas que descobrir ou mandar descobrir no oceano, desde que não sejam nas partes da Guiné; é-lhe também confirmada a posse das Ilhas Foreiras - a Ilha das Flores e o seu ilhéu - havidas por contrato feito com João de Teive, filho de Diogo de Teive, que dizia tê-las descoberto com o seu pai havia pouco.

Em Samora, a 10 de novembro do mesmo ano, o mesmo rei explica a doação feira a Fernão Teles, declarando que é extensiva a todas as ilhas povoadas e por povoar, podendo ser que das primeiras se viesse a achar a das Sete Cidades e outras, cujo caminho se dizia perdido.[9]

Por carta régia de 11 de julho de 1476, na qual é nomeado como mordomo-mor e governador da casa da Princesa Dona Joana, é-lhe outorgada a tença anual de trinta mil reais brancos, numa altura em que se encontrava junto do soberano em Toro, indicando a sua participação nas guerras travadas em Castela entre D. Afonso V e os Reis Católicos.

Morreu em Alcácer do Sal a 1 de abril de 1477, vítima de uma pedrada, num momento em que ocorria uma briga numa das ruas da vila.[2]

Casamento e descendência[editar | editar código-fonte]

Casou com D. Maria de Vilhena, que fora donzela da casa da Rainha D. Isabel, filha de Martim Afonso de Melo, guarda-mor do Rei D. Duarte, e de D. Margarida de Vilhena. Na outorga da carta de confirmação, datada de 23 de abril de 1456, observa-se a doação por parte dos pais dela de alguns bens situados no termo de Santarém e no de Rio Maior. A partir de 1459, D. Maria de Vilhena passou a receber do rei a tença anual de dez mil reais brancos, voltando a receber idêntica importância a partir de 1467, com a condição de que se falecesse João Rodrigues Pereira deixaria de os receber, pois por morte deste seu marido obteria a importância de catorze mil reais brancos correspondentes à terra de Unhão.[2]

Entre os vários filhos que tiveram, contam-se:

Referências

  1. "Estudos sobre D. João II", Joaquim Bensaúde, Anais, Volume I, Academia Portuguesa da História, 1946, p. 208
  2. a b c d Moreno 1980, p. 1052
  3. Moreno 1980, p. 1047
  4. Moreno 1980, p. 1048
  5. Moreno 1980, p. 1049
  6. a b Moreno 1980, p. 1050
  7. Chronica de el-rei D. Affonso V (Vol. III), Rui de Pina
  8. a b Moreno 1980, p. 1051
  9. O Panorama: semanario de litteratura e instruccão, Volume X, Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis, Tipografia de A. J. F. Lopes, 1853, p. 368
  10. Moreno 1980, p. 1053

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Moreno, Humberto Baquero (1980), A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e Significado Histórico, ISBN 9789726160045, II, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra