Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais

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O Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, ou simplesmente Festival de Inverno da UFMG, é um evento cultural realizado no estado brasileiro de Minas Gerais desde 1967.[1]

Entre 2000 e 2010, foi realizado na cidade de Diamantina, pelos valores culturais e tradições da cidade patrimônio da Unesco e do Vale do Jequitinhonha[2], com oficinas de iniciação e atualização, shows, peças de teatro, exposições e mostras de cinema e vídeo.[1][3]

Em 2011, o festival foi distribuído entre quatro cidades: Diamantina, Tiradentes, Cataguases e Belo Horizonte.

O festival é considerado um "celeiro da arte mineira" e, inclusive, possibilitou desde a sua fundação o surgimento e a projeção de grupos como o Uakti, Corpo, Galpão e Giramundo assim como o nascimento de outros festivais do gênero como o Inverno Cultural de São João del-Rei e o Julho Fest de Poços de Caldas.[1][4]

É também considerado um dos maiores programas brasileiros de extensão da área de artes e cultura, promovido por uma instituição de ensino superior, e um dos mais importantes e tradicionais eventos culturais do país.[3][5][6]

História[editar | editar código-fonte]

O Festival de Inverno da UFMG teve como fundadores Álvaro Apocalypse, Berenice Menegale, José Adolfo Moura e Júlio Varela, grupo de professores ligado à Escola de Belas Artes da UFMG e à Fundação de Educação Artística de Belo Horizonte.[1][3][7]

O primeiro Festival aconteceu em Ouro Preto, cidade que recebeu todas as edições até 1979. Seu objetivo era aproximar a arte da sociedade[1][8]. Segundo o professor e escultor Fabrício Fernandino, por muitas vezes curador-geral do evento e autor de uma tese sobre o festival, o evento ao ser levado imediatamente para Ouro Preto criou um espaço artístico e transformou-se em uma projeto bem-sucedido de extensão universitária em plena ditadura militar.[1]

Nas décadas de 60 e 70, a programação do festival se estendia por um mês.[5]

O Grupo Corpo, fundado em 1975, surgiu após Rodrigo Pederneiras ter frequentado oficina realizada com o bailarino argentino Oscar Araiz[9]. O primeiro espetáculo do grupo, Maria Maria, coreografado por argentino Araiz, percorreu 14 países e permaneceu em cartaz no Brasil de 1976 a 1982.[9]

Também o Grupo Oficcina Multimédia, um dos grupos teatrais belorizontinos mais antigos actualmente em actividade, deve seu surgimento ao Festival de Inverno, em 1977, quando o compositor Rufo Herrera realizou o curso de arte integrada.

Em 1978, uma oficina gerou a aproximação dos músicos que formariam o Uakti.[10] O flautista Artur Andrés, professor da Escola de Música da UFMG e membro fundador do Uakti-Oficina Instrumental, começou a participar do festival aos 16 anos e identifica Berenice Menegale, uma de suas fundadoras, como uma das responsáveis pelo sucesso do evento, pelo dom de aglutinar pessoas.[9]

Houve dois anos em que o festival deixou de ser realizado. O primeiro foi 1980, após a prisão e deportação dos atores do grupo teatral norte-americano The Living Theatre no Festival de Inverno de 1979[7], em Ouro Preto. O segundo foi 1984, devido à greve que ocorria na UFMG.[7][8]

Em 1981, transferido para Diamantina, passou a ser mais intimista e menor. Ali permaneceu até 1983, tendo voltado à cidade no ano de 1985.[7][8] Segundo Fabrício Fernandino, o período do festival em Diamantina foi marcado pela pesquisa e reflexão artística.[11]

Em 1982, uma oficina realizada em Diamantina despertaria em alguns participantes a formação do Grupo Galpão[10]. A trupe se encontrou nas oficinas de teatro dos alemães Kurt Bildstein e George Froscher, do Teatro Livre de Munique, que trabalhavam com o teatro de rua[9]. A oficina resultou em A Alma Boa de Setsuan, de Bertolt Brecht, a primeira montagem do grupo.[9]

Em seguida, o festival ocorreu por algum tempo em São João del-Rei[8] e sua saída deixou um vácuo na cidade, que acabou por se mobilizar e criar um evento próprio.[7]

Em 1988, aconteceu a 20ª edição do festival em Poços de Caldas.[8]

De 1989 a 1992, Belo Horizonte foi o cenário para o Festival de Inverno da UFMG[8], o que desencadeou a formação de festivais internacionais de dança (FID) e teatro (FIT).[7]

A cidade de Ouro Preto novamente recebeu o evento entre 1993 e 1999,[8] onde se transformou em evento de massa e internacional,[11] o que gerou problemas políticos, de segurança e saúde pela concentração de 50 mil pessoas em praça pública.[7]

Em 2000, o festival passou a acontecer em Diamantina.[8] A partir desse período, teve uma redução de seu formato em decorrência de restrições orçamentárias e adaptação à infraestrutura local, embora tenha promovido reflexões mais aprofundadas sobre a arte contemporânea e da relação da arte com outras áreas de conhecimento.[11]

A partir de 2001, foram adotados tópicos como patrimônio, turismo cultural e meio ambiente como forma de envolver mais a população de Diamantina.[7]

Desde 2014, o evento voltou a ser realizado em Belo Horizonte.[12]

Características[editar | editar código-fonte]

As primeiras edições foram feitas com verbas escassas, originárias da universidade, Ministério da Educação e Funarte.[9]

Desde a sua fundação, adquiriu sentidos e estruturas diferentes. Fabrício Fernandino detalha os enfoques e características temporais: 1967-1979 (aproximação artística e política); 1981-1985 (investigação, pesquisa e poesia); 1986-1993 (itinerância); 1993-1999 (torna-se o grande festival de Ouro Preto) e 2000-2011 (aprofunda a transdisciplinariedade da questão artística, já em Diamantina).[4]

Além da tese de Fabrício Fernandino, o festival foi tema de documentários como Festival de 10 invernos, que registrou a primeira década do evento, dirigido por José Tavares de Barros; 20 anos do Festival de Inverno da UFMG, de Silvino José de Castro, a partir de dissertação de mestrado defendida nos Estados Unidos[4]; e 40 Invernos, dirigido por Evandro Lemos e Sérgio Vilaça.[13]

O público do evento é majoritariamente formado por estudantes e profissionais das áreas de artes, cinema, letras e comunicação.[2]

As oficinas marcam sua trajetória, pois são onipresentes e abrem espaço tanto para os artistas, que expõem e difundem seu trabalho, quanto para os visitantes, que têm contato com novas técnicas e podem desenvolver suas habilidades.[14]

A tradição cultural e folclórica de Diamantina, assim como de outras cidades históricas mineiras que têm festivais, impulsionam a produção de arte local.[14]

Temas e desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

  • 29ª edição, em 1997 - sediada em Ouro Preto, envolveu a realização de 100 cursos, inclusive na cidade de Tiradentes, e cerca de 200 eventos culturais, a maioria com entrada franca.[15]
  • 30ª edição, em 1998 - realizada em Ouro Preto, celebrou o aniversário de 300 anos da cidade com 65 cursos e oficinas, além de 28 espetáculos, mostras e exposições[16]
  • 31ª edição, em 1999 - em Diamantina, ofereceu 51 cursos e oficinas nas áreas de artes cênicas, plásticas e Visuais, assim como em literatura, música e projetos especiais.[17]
  • 32ª edição, em 2000 - realizada em Diamantina com 44 oficinas e cursos, nos quais 993 alunos aprofundaram seus conhecimentos artísticos ou se iniciaram no mundo da arte[18]. Houve shows em lugares públicos, mostra de vídeo de animação canadense, exposição fotográfica, lançamentos de livros, sessões grátis de cinema e palestras[18]
  • 33ª edição, em 2001 - realizada em Diamantina com o tema Arte, Meio Ambiente e Turismo Cultural e 120 oficinas e atividades culturais[19]
  • 34º edição, em 2002 - realizada em Diamantina, teve 56 oficinas e mais de 60 eventos, entre peças de teatro, espetáculos de dança, shows musicais, mostras, palestras e exposições[20]
  • 35ª edição, em 2003 - em Diamantina, com o tema Limites - desdobramentos e rupturas [21] e cinco áreas temáticas e em uma área de projetos especiais, com três palestras diárias e a realização de 16 oficinas[22]
  • 36ª edição, em 2004 - em Diamantina, com o tema Arte: fronteiras contemporâneas, com debates acerca dos limites da arte contemporânea[23]. Foram realizados 44 cursos e oficinas de artes cênicas, artes plásticas, literatura e cultura, mídia arte e música.[24]
  • 37ª edição, em 2005 - em Diamantina, com o tema Diálogos possíveis e a proposição da interlocução transdisciplinar entre os diversos campos das artes e das ciências,[25] além de 49 diferentes atividades, entre oficinas, cursos, simpósios, encontros e seminários[26]
  • 38ª edição, em 2006 - aconteceu em Diamantina com o tema e eixo conceitual Interatividades e 57 oficinas ofertadas[27]
  • 39ª edição, em 2007 - em Diamantina, com o tema Territórios contemporâneos – Linguagens híbridas, pretendeu reafirmar o valor da arte como elemento da integração e de transformação social e humana. Foram oferecidas 42 oficinas nas áreas artes audiovisuais, cênicas, literárias, musicais, plásticas e transdisciplinares, além do festival também ter contado com diversos projetos e apresentações culturais.[28][29]
  • 40ª edição, em 2008 - em Diamantina, com tema Arte: Essencial e apontamentos da essencialidade da arte nos diversos momentos da vida e do cotidiano[8], a edição também teve 50 oficinas para adultos e crianças[30]
  • 41ª edição, em 2009 - com o eixo temático Traduções[31] e realizado em Diamantina, contou com 29 oficinas, cursos e eventos culturais, o seminário Perspectivas da Cultura em um Cenário de Transformações, que reuniu gestores de cultura, artistas e pesquisadores para abordar a inserção dos festivais universitários de arte e cultura[32]
  • 42ª edição, em 2010 - em Diamantina, com o eixo temático Projeções, capturas e processos e produção cinematográfica como eixo estruturador e foco na representação da imagem sob diferentes aspectos.[1]
  • 43ª edição, em 2011 - em Diamantina, Tiradentes, Cataguases e Belo Horizonte.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Página oficial

Referências

  1. a b c d e f g Magioli, Ailton. (20 de junho de 2010). Eterno laboratório. Jornal Estado de Minas. Caderno EM Cultura
  2. a b Universidade Federal de Minas Gerais. (14 de junho de 2010). UFMG abre inscrições para o 42º Festival de Inverno em Diamantina, acesso em 20 de junho de 2010
  3. a b c Universidade Federal de Minas Gerais. (2010). Festival de Inverno da UFMG[ligação inativa], acesso em 20 de junho de 2010
  4. a b c Magioli, Ailton. (20 de junho de 2010). Semador de cultura. Jornal Estado de Minas. Caderno EM Cultura
  5. a b Universidade Federal de Minas Gerais. (2 de junho de 2008), Idealizadores do 1° Festival de Inverno da UFMG relembram história do evento, acesso em 20 de junho de 2010
  6. O Estado de S.Paulo. (8 de junho de 2004). No Brasil, friozinho e programação de primeira, acesso em 20 de junho de 2010
  7. a b c d e f g h Resende, Douglas. (1 de julho de 2007). A origem e a história do Festival-mãe[ligação inativa], acesso em 20 de junho de 2010
  8. a b c d e f g h i Universidade Federal de Minas Gerais. (30 de maio de 2008). UFMG lança o 40º Festival de Inverno, no próximo dia 2, com a participação dos idealizadores do evento em 1967, acesso em 20 de junho de 2010
  9. a b c d e f Revista Diversa. (março de 2005). Quatro festivas décadas. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, ano 2, n.6, acesso em 20 de junho de 2010
  10. a b Estado de Minas. (20 de junho de 2010). Oficinas seminais. Caderno Em Cultura
  11. a b c Universidade Federal de Minas Gerais. (19 de julho de 2009). Em entrevista, Fabrício Fernandino fala sobre a trajetória do Festival e suas perspectivas, acesso em 20 de junho de 2010
  12. «Retorno do Festival de Inverno a Belo Horizonte é destaque no Boletim desta semana». 2 de Junho de 2014. Consultado em 2 de Setembro de 2015 
  13. O Tempo. (4 de junho de 2008). 40º Festival de Inverno divulga tema e oficinas[ligação inativa], acesso em 20 de junho de 2010
  14. a b Caminati, Fernando. (11 de julho de 2002). Oficinas e cursos são a marca dos festivais de inverno mineiros. Folha Online, acesso em 20 de junho de 2010
  15. Santiago, Carlos Henrique. (10 de julho de 1997). Evento hibernal deve levar 2.000 estudantes a Ouro Preto. Folha de S.Paulo, Caderno Ilustrada
  16. Santiago, Carlos Henrique. (6 de julho de 1998). Festival celebra 300 anos de Ouro Preto . Folha de S.Paulo, Caderno Ilustrada
  17. Universidade Federal de Minas Gerais. (1999). Cursos e oficinas do Festival de Inverno oferecem mais de 1200 vagas, acesso em 20 de junho de 2010
  18. a b Universidade Federal de Minas Gerais. (2000). Festival transformará Diamantina em capital cultural de Minas, acesso em 20 de junho de 2010
  19. Universidade Federal de Minas Gerais. (25 de julho de 2002). UFMG lança catálogo do 33º Festival de Inverno, acesso em 20 de junho de 2010
  20. Maia, Carla. (1 de agosto de 2002). Festival de Inverno valoriza cultura local e democratiza acesso a oficinas, acesso em 20 de junho de 2010
  21. Universidade Federal de Minas Gerais. (19 de dezembro de 2002). Festival 2003 quer aprofundar experimentação, acesso em 20 de junho de 2010
  22. Silva Júnior, Maurício Guilherme. (19 de junho de 2003). A nova cara do Festival. Universidade Federal de Minas Gerais, acesso em 20 de junho de 2010
  23. Universidade Federal de Minas Gerais. (24 de maio de 2004). UFMG lança programação de seu 36º Festival de Inverno, acesso em 20 de junho de 2010
  24. Folha Online. (14 de junho de 2004). Festival de Inverno da UFMG abre inscrições para oficinas, acesso em 20 de junho de 2010
  25. Universidade Federal de Minas Gerais. (1 de julho de 2005). 37º Festival de Inverno divulga programação cultural, acesso em 20 de junho de 2010
  26. Universidade Federal de Minas Gerais. (14 de junho de 2005). 37º Festival de Inverno começa a receber inscrições, acesso em 20 de junho de 2010
  27. Universidade Federal de Minas Gerais. (9 de junho de 2006). Festival de Inverno da UFMG muda formato e privilegia a interatividade, acesso em 20 de junho de 2010
  28. Universidade Federal de Minas Gerais. (24 de maio de 2007). UFMG lança programação cultural de seu Festival de Inverno 2007, acesso em 20 de junho de 2010
  29. Universidade Federal de Minas Gerais. (11 de julho de 2007). Site oficial do 39º Festival de Inverno da UFMG traz notícias sobre o evento, acesso em 20 de junho de 2010
  30. Globo Minas. (2 de junho de 2008). UFMG lança programação do 40º Festival de Inverno , acesso em 20 de junho de 2010
  31. Universidade Federal de Minas Gerais. (4 de junho de 2009). Edição 2009 do Festival de Inverno destaca o tema Traduções, relata Boletim UFMG, acesso em 20 de junho de 2010
  32. Universidade Federal de Minas Gerais. (25 de junho de 2009). Inscrições para oficinas com seleção do Festival de Inverno da UFMG terminam hoje, acesso em 20 de junho de 2010
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