Filipe de Bourbon-Duas Sicílias

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Filipe
Príncipe das Duas Sicílias
Conde de Espina
Filipe de Bourbon-Duas Sicílias
Nascimento 12 de agosto de 1847
  Palácio Real, Nápoles, Duas Sicílias
Morte 9 de julho de 1922 (74 anos)
  Paris, França
Sepultado em Cemitério Père-Lachaise, Paris, França
Nome completo  
Filipe Luís Maria Fernando Francisco Januário Raimundo Pascoal Camilo Afonso Pedro de Alcântara Filomena Sabazia Chiara
Esposa Flora Boonen
Casa Bourbon-Duas Sicílias
Pai Luís Carlos, Conde de Áquila
Mãe Januária do Brasil
Religião Catolicismo
Brasão

Filipe, Conde de Espina (Nápoles, 12 de agosto de 1847Paris, 9 de julho de 1922), foi um príncipe e militar ítalo-brasileiro, terceiro filho da princesa Januária do Brasil e do príncipe Luís Carlos, Conde de Áquila. Neto do imperador Pedro I, foi engajado no exército imperial brasileiro, vindo a servir na Guerra do Paraguai, onde subiu ao posto de tenente.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Infância e juventude[editar | editar código-fonte]

Filipe ainda criança

Filipe nasceu no dia 12 de agosto de 1847, no Palácio Real de Nápoles. Era o terceiro filho, segundo menino, do príncipe Luís Carlos, Conde d'Áquila e da princesa Januária do Brasil. Seu pai era o décimo primeiro filho do rei Fancisco I das Duas Sicílias e da infanta Maria Isabel da Espanha. Já sua mãe, era a segunda filha do imperador e rei Pedro I do Brasil e IV de Portugal e da arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria. Era sobrinho da rainha Maria II de Portugal, do imperador Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina do Brasil, do rei Fernando II das Duas Sicílias, e da rainha Maria Cristina da Espanha.[2] Filipe é portanto, aparentado, com a maioria das famílias reais da Europa; sendo ainda primo em primeiro grau do príncipe Henrique, Conde de Chambord, dos reis Francisco II das Duas Sicílias e Luís I de Portugal, da rainha Isabel II da Espanha, dos imperadores Francisco José I da Áustria e Maximiliano I do México; e tio do rei Afonso XII da Espanha.[3]

Filipe recebia, desde seu nascimento uma penção, que era assinada pela Assembleia Geral do Império do Brasil, e paga pelo Tesouro Nacional. Conservava e tinha o direito pela Constituição, de ser um Príncipe do Império Brasileiro.[4]

Criado por seu pai, o Conde de Áquila, segundo as mais puras tradições da realeza, Filipe teve como tutor um padre.

Sofreu, com sua família, as convulsões do Reino das Duas Sicílias causadas pela conquista de Sabóia, com a ascensão do seu primo, Francisco II das Duas Sicílias foi cada vez mais marginalizado pelo círculo de conselheiros ouvidos pelo soberano, em 1860, o pai de Filipe, o Conde d'Áquila criticou duramente a condução das operações militares para conter o avanço de Garibaldi, atraindo a desconfiança de Francisco II que o acusou de ter tramado uma conspiração para destroná-lo, forçando-o ao exílio em agosto, junto com sua esposa D. Januária, e seus dois filhos adolescentes sobreviventes, Luís e Filipe. A família queria chegar ao Brasil como destino de exílio, mas acabou se estabelecendo na França.[5]

Filipe jovem

Lá, seu pai escreveu uma carta ao imperador Napoleão III, na qual lhe pedia que lhe concedesse o direito de residência na França; O imperador, encantado por poder agradar a um Bourbon, apressou-se a dar todas as autorizações necessárias, e a família instalou-se em Paris.

Sob o Império, ele cresce em uma das mais suntuosas residências da capital francesa; os jornais da época estavam cheios de descrições das festas brilhantes que se sucediam ali; suas equipagens rivalizavam em luxo com as dos Metternichs e Madame Musard; em seu estábulos, desfilavam quarenta magníficos cavalos, eram os mais bem cuidados de Paris. No inverno, ele passa o verão em Villers-sur-Mer, em uma vila da família.

Aventureiro, grande corredor de boudoir, desportista emérito e jogador raivoso, seu pai rapidamente engoliu sua imensa fortuna na torre de bilhões da alta vida parisiense. Recorreu então a usurários, cujas complacências se esgotaram rapidamente, e que mandaram confiscar o hotel, os móveis, as obras de arte, as tripulações, sem qualquer respeito pelo prestígio dos Bourbons.

Ida ao Brasil[editar | editar código-fonte]

Filipe no Brasil

Considerando-se arruinado, apesar dos duzentos mil francos por ano que sua mulher lhe paga, seu pai pensou, ao que parece, em livrar-se do filho mais novo e quis que ele tomasse as ordens. O príncipe Filipe Luís teria uma juventude bastante conturbada e irresponsável, com a personalidade de seu avô o imperador Pedro I. O seu pai o Conde d'Áquila, Gostava do luxo e do supérfluo, nunca deu valor ao dinheiro, mesmo com a família destronada e exilada, viveu em considerável luxo. Gastava o que não possuía, seus móveis e objetos foram à penhora pública quando moravam em Londres, literalmente leiloados, o irmão de sua mãe, o imperador Pedro II e a imperatriz viúva D. Amélia, os socorreu, salvando o dinheiro e a reputação de família.[3]

Diante do problema, a princesa Januária pediu auxílio ao irmão o imperador, e assim conseguiu trazer o filho para o Brasil em 1869. A princesa Isabel descreve-o: "só gosta de caçadas e cavalos...não é religioso....não acredita em nada, Paris o deixou assim". O príncipe ficou alojado no Palácio de São Cristóvão, no antigo quarto da princesa Leopoldina. Filipe foi então engajado no exército numa tentativa de reeducação, e recebea grã-cruz da imperial ordem do cruzeiro. Sem vocação para o vestuário, serve como simples soldado.[6][7]

Filipe em uniforme durante a Guerra do Paraguai

Lutou bravamente na Guerra do Paraguai, foi ferido duas vezes e, depois da guerra, subiu ao posto de tenente.

Regresso à Europa[editar | editar código-fonte]

O príncipe logo se cansou da vida de guarnição e em 1876 retornou à Europa e visitou a Itália primeiro como Duque de Bragança e depois como ajudante de campo.

Filipe estava procurando uma noiva de alta linhagem e viajou a Portugal, onde foi admiravelmente recebido por seu primo o rei Luís I, que nada quis ou não pôde fazer por ele, e de lá foi para a Espanha, onde ficou com seu parente, o rei Afonso XII. Este colocou seus palácios, seus cavalos e suas caças à sua disposição, mas não achou que deveria abrir sua bolsa para ele; mas por outro lado prometeu nomeá-lo diretor do cadastro.[3]

Entretanto, para viver, o príncipe recorre à bolsa de alguns amigos íntimos e limita-se a pintar aguarelas que, vende bastante. Além disso, seus pais lhe davam uma pensão de 400 francos por mês, quantia mais do que escassa para um príncipe de sangue real e de tão alta linhagem.

Potencial casamento[editar | editar código-fonte]

Graças ao seu nascimento, ela recebeu várias propostas de casamentos, entre um deles, o da princesa Amália de Saxe-Coburgo-Koháry, mas acabou não tendo continuidade.

Planejando ficar rico do casamento de seu filho, um dia o Conde de Áquila apresenta seu filho à Sra. Marie Charlotte Blanc, dona do Casino de Monte Carlo em Mônaco. Ele havia brincado com a ideia de casar Filipe com Marie-Félix Blanc; mas assim que o príncipe soube dos planos do pai, declarou abertamente que não se considerava suficientemente maduro para o casamento, e Marie-Félix Blanc tornou-se a princesa Roland Bonaparte.[3]

Este casamento fracassado exasperou o Conde de Áquila, que contava com essa aliança para restaurar sua imagem e pagar suas dívidas, que somavam vários milhões.

Conflitos[editar | editar código-fonte]

Aflito por ver todas as suas combinações falharem, o Conde de Áquila teve a ideia de dirigir-se ao rei Humberto I da Itália e, em nome de toda a sua família, submeter-se, de renunciar aos direitos ao trono das Duas Sicílias. O rei Humberto aceitou sua homenagem. Recebeu admiravelmente o Conde de Áquila, que está prestes a ser reintegrado ao seu posto e às suas funções de Grande Almirante; além disso, ele recuperará a posse da propriedade que lhe foi confiscada em 1862 e, finalmente, obteve uma acusação na corte para seu filho mais velho, Luís, que foi o herói de uma retumbante aventura alguns anos atrás.[3]

Mas essa capitulação não foi apreciada por Filipe, que declarou em voz alta que seu pai não tinha o direito de negociar em seu nome e de desfazer as tradições de sua família. Ao que o Conde de Áquila respondeu proclamando solenemente que doravante o príncipe Filipe foi afastado da família e, ao mesmo tempo, retirou sua modesta pensão.

Filipe então não apenas exigiu que sua pensão fosse devolvida a ele, mas também que ela fosse aumentada à taxa que foi paga ao seu irmão mais velho, o príncipe Luís.[8][9]

Casamento[editar | editar código-fonte]

Com a mudança de seus pais para Londres, Filipe casou-se morganáticamente, em 1882, com Flora Maria Boonen (1847-1912), viúva de Antonin Jankow, nascida na Catalunha e falecida no Castelo de Guran. Flora foi nomeada Condessa d'Espina pelo chefe da Casa Real das Duas Sicílias. O casal não teve descendência.

Morte[editar | editar código-fonte]

Últimos anos[editar | editar código-fonte]

O Castelo de Guran, proriedade de Filipe

Filipe viveu muito na França, na sua propriedade de Guran em Haute-Garonne, fazendo frequentes estadias em Paris e San Sebastian, na altura em que a família real de Espanha residia nesta estação, e em particular a rainha Maria Cristina, que gostava muito dele.[10]

Morte[editar | editar código-fonte]

Em 1857

Filipe morreu em 9 de julho de 1922 em Paris, onde estava hospedado por duas semanas, após uma curta doença. Morreu com 74 anos, e foi sepultado no Cemitério Père-Lachaise em Paris na França.

Títulos e honrarias[editar | editar código-fonte]

Títulos e estilos[editar | editar código-fonte]

  • 12 de agosto de 1847 — 23 de setembro de 1882: Sua Alteza Real, o Príncipe Filipe de Áquila, Príncipe do Brasil [11]
  • 23 de setembro de 1882 – 9 de julho de 1922: Sua Alteza Real, o Príncipe Filipe, Conde de Espina

Honrarias[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Filippo di Borbone». www.wikidata.org (em inglês). Consultado em 23 de outubro de 2021 
  2. a b «Filippo, Prince of The Two Sicilies : Genealogics». www.genealogics.org. Consultado em 23 de outubro de 2021 
  3. a b c d e Le Voltaire, 2 de junho de 1883, pág. 1
  4. Silva Maya, José Antônio (1846). Apontamentos de legislação para uso dos procuradores da Corôa e Fazenda Nacional. Rio de Janeiro: Typographia Americana de I.P. da Costa. p. 116. 214 páginas. Consultado em 5 de Outubro de 2017
  5. «Two Sicilies». www.angelfire.com. Consultado em 23 de outubro de 2021 
  6. «IHP » DONA JANUÁRIA DE BRAGANÇA, A PRINCESA DA INDEPENDÊNCIA – O CONDE D'AQUILA E A LUTA FAMILIAR CONTRA GARIBALDI». Consultado em 23 de outubro de 2021 
  7. historiaregni (20 de março de 2020). «Lo strano caso dei Borbone di Roccaguglielma». HistoriaRegni (em italiano). Consultado em 23 de outubro de 2021 
  8. Planta, Perfil Da (6 de agosto de 2010). «Perfil da Planta - Orquídeas, Histórias e Plantas Notáveis: As Orquídeas e a Princesa Isabel - parte I - Biografia». Perfil da Planta - Orquídeas, Histórias e Plantas Notáveis. Consultado em 23 de outubro de 2021 
  9. BRAGANÇA, Carlos Tasso de Saxe-Coburbo e. A intriga, pp. 290-1.
  10. Le France (Paris), 1921, pág. 1
  11. «bourbon-sicilie». www.royaltyguide.nl. Consultado em 9 de janeiro de 2022 
  12. a b «Filippo di Borbone». stephane-thomas.pagesperso-orange.fr. Consultado em 23 de outubro de 2021