Pai Rivas Neto
Francisco Rivas Neto (São Paulo[1], julho de 1950 - Itanhaém, 25 de maio de 2018[2]) foi um médico e religioso brasileiro.[3] Fundou a Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino (OICD), instituição que dirigiu de 1970 a 2018, após o que a sucessão foi passada a Mãe Maria Elise Rivas[4]. Era conhecido como babalorixá Rivas Ty Ògìyàn no candomblé e Mestre Arhapiagha na umbanda e na encantaria.
Teólogo afro-brasileiro, teve várias obras publicadas, com reedições e reimpressões, principalmente sobre a umbanda. Foi também o fundador da primeira faculdade de teologia com ênfase em religiões afro-brasileiras, a Faculdade de Teologia Umbandista (FTU)[5][6][7][8][9] - um um marco para a sociedade acadêmica e o povo afro-brasileiro, além de organizador do "Congresso Brasileiro de Umbanda do Século XXI", evento anual que ocorreu durante cinco anos consecutivos (2008-2012).
Exerceu sua vida sacerdotal principalmente em Itanhaém, mantendo três terreiros em locais diferentes, que cultuavam respectiva e independentemente o candomblé, a umbanda e a encantaria. Mantinha também um terreiro de candomblé de caboclo na cidade de São Paulo.[carece de fontes]
Marco no âmbito acadêmico das religiões afro-brasileiras
[editar | editar código-fonte]Em meados de 2012, fruto de pesquisa e atuação por dentro das religiões afro-brasileiras, F. Rivas Neto lança o conceito de escolas para denominar os até então denominados cultos afro-brasileiros. Tal ocorre com a obra Escolas das religiões afro-brasileiras: tradição oral e diversidade. Nela, o autor demonstra como ocorrem influências assimétricas das matrizes africana e indo-europeia na composição do cenário religioso afro-brasileiro, culminando, por exemplo, em umbandas, conceito plural. Destarte, por exemplo, aquela umbanda mais influenciada pela matriz indo-europeia, com sua cosmovisão própria e mais atrelada ao modelo judaico-cristão, denomina-se "umbanda branca", ao passo que aquela mais influenciada pela cosmovisão negro-africana teria outra denominação: a "umbanda omolocô". Concorrem para a composição de uma escola religiosa a epistemologia, a ética e o método próprios.
Em 2015, F. Rivas Neto desenvolve e aprofunda as reflexões ao cunhar os conceitos de núcleo duro e zonas de diálogo, por meio dos quais demonstra como e por que há, dentro das umbandas, encantarias e candomblés, diversos pontos de convergência, semelhança, contato e, da mesma forma, diferenças e afastamentos.
Em 2017 lançou a obra Candomblé - Teologia da Saúde que traz pela primeira vez conceitos, explicações e reflexões oriundos de mais de 50 anos de sacerdócio nas religiões afro-brasileiras à luz do Candomblé. No livro, entre outros temas, apresenta a inédita teologia do transe, com a discussão sobre manifestação e incorporação, conceito basilar que desenvolve e explica os processos de transe de manifestação e de incorporação - internos e externos, respectivamente, bem como a teologia do aṣè, princípio de realização. Apresenta a espiritualidade como inerente a todo ser humano e investiga o consciente, o inconsciente o arqui-inconsciente, reduto do orixá e todas as decorrências na economia orgânica, psíquica e social. Perpassa reflexões sobre religiosidade e culmina na Teologia da Saúde, com novos enfoques sobre equilíbrio e estabilidade para a compreensão de saúde e doença, entre corpo e pessoa, tendo nos terreiros agências promotoras de saúde para o indivíduo biopsicossocial.
Livros
[editar | editar código-fonte]- Umbanda – A Proto-Síntese Cósmica, Livraria Freitas Bastos Editora, 1989.
- Umbanda – O Elo Perdido, Ed. do Círculo Cruzado, 1990.
- Lições Básicas de Umbanda, Livraria Freitas Bastos Editora, 1991.
- Exu – O Grande Arcano, Ícone Editora, 1993.
- Umbanda – O Arcano dos 7 Orixás, Ícone Editora, 1993.
- Fundamentos Herméticos de Umbanda, Ícone Editora, 1996.
- Sacerdote, Mago e Médico – Cura e Autocura Umbandista, Ícone Editora, 2003.
- Escolas das religiões afro-brasileiras: tradição oral e diversidade, Arché Editora 2012.
- Teologia da tradição oral, Arché Editora, 2014.
- Teologia do ori-bará, Arché Editora, 2015.
- Exu e pombagira (Org.), Arché Editora, 2015.
- Candomblé - Teologia da Saúde, Aláfia, 2017.
- Doutrina do Tríplice Caminho, Aláfia, 2020 (publicação post-mortem).
Artigos de destaque
[editar | editar código-fonte]- "O pai de santo no estado de São Paulo: estudo piloto". F. Rivas Neto, Maria Elise Rivas, Elizabeth A. U. Cristofaro, Fernanda L. Ribeiro. In Revista Teologia de Síntese, n. 1, nov/2010.
- "Teologia e FTU - Faculdade de Teologia Umbandista". F. Rivas Neto. In Revista Teologia da Convergência (antiga Teologia de Síntese), n. 2, mar/2011 (exemplar on line aqui).
- "Religiões Afro-Brasileiras, religiões de transe: dirimindo questões sociais". F. Rivas Neto e José Flávio Pessoa de Barros. In Revista Teologia da Convergência, n. 3, ago/2011 (exemplar on line aqui).
- "Ervas nas religiões afro-brasileiras". Francisco Rivas Neto, Maria Elise Machado Rivas, José Luis Rojas Vuscovich, Yuri Tavares Rocha. Revista Triplov de Artes, Religiões e Ciências, n. 28, jun/2012.
Referências
- ↑ Érica Jorge Carneiro. «Francisco Rivas Neto e a constituição do campo teológico afro-brasileiro». Consultado em 3 de maio de 2021 line feed character character in
|titulo=
at position 21 (ajuda) - ↑ Rádio Vinha de Luz. «Notícia: Falecimento de Pai Rivas Neto». Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «Pai Rivas». OICD - Pai Rivas. Consultado em 28 de janeiro de 2021
- ↑ «Histórico de Fundação». OICD - Pai Rivas. Consultado em 28 de janeiro de 2021
- ↑ Rodrigo Cardoso (21 de novembro de 2007). «Dr. Pai de Santo». ISTOÉ. Consultado em 21 de fevereiro de 2013
- ↑ Monica Weinberg (29 de setembro de 2004). «Fé na educação». Veja. Consultado em 21 de fevereiro de 2013
- ↑ Greice Rodrigues, Leonel Rocha e Rita Moraes (29 de abril de 2004). «Saber do outro mundo». ISTOÉ. Consultado em 21 de fevereiro de 2013
- ↑ Puff, Jefferson. «Por que as religiões de matriz africana são o principal alvo de intolerância no Brasil?». BBC News Brasil. Consultado em 25 de julho de 2018
- ↑ Histórico da Implantação e Desenvolvimento da FTU.